quinta-feira, 21 de abril de 2022

Tapioca, pão francês ou pão integral ? Qual escolher ?



A grande maioria dos pacientes saudáveis que iniciam uma reeducação alimentar por conta própria e sem auxílio profissional, principalmente focando em "saúde" e emagrecimento, começa ERRONEAMENTE com a exclusão de inúmeros alimentos. 

Um exemplo que vejo com maior frequência, é a exclusão total do pão francês e integral e a troca pela tapioca, que ocorre pela crença de que os pães são ruins à saúde e que "engordariam" mais.

E será que isso realmente vai favorecer a saúde e o emagrecimento?

Bom, é importante considerar os hábitos e preferências alimentares de alguém antes de responder essa questão. Porém, classificando na ordem do mais nutritivo para o menos nutritivo a resposta seria o PÃO INTEGRAL, PÃO FRANCÊS e, por último, a TAPIOCA.

A tapioca ficou por último nesta lista por ser um carboidrato mais refinado, com poucos nutrientes e ausência de fibras e proteínas. Veja a relação nutricional aproximada abaixo:
  • 100g de #pão integral (4 fatias tradicionais), há aproximadamente 253kcal, sendo 50g de carboidratos, 9,5g de proteínas, 3,5g de lipídios e 6,4g de fibras.
  • 100g de pão francês (2 unidades médias), há aproximadamente 300kcal, sendo 58,6g de carboidratos, 8g de proteínas, 3,5g de lipídios e 2,3g de fibras.
  • 100g de #tapioca (5 colheres de sopa em média), há aproximadamente 336kcal, sendo 82g de carboidratos, 2g de proteínas e 0g de lipídios.
Ou seja: o problema não é o pãozinho, mas sim as quantidades que você ingere dele. Lembre-se sempre que antes de querer excluir qualquer alimento que faça parte do seu #hábito alimentar, é importante analisar muito bem o seu contexto e também quais os prós e contras de uma #estratégia como essa.

Um bom Nutricionista pode te auxiliar com isso!

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Consumo de proteínas: será que quanto mais melhor ?



Muitas pessoas acreditam - principalmente na #nutrição #esportiva - que quanto maior o #consumo de proteínas, melhores seriam os #resultados nutricionais. 

No entanto, esse é um grande EQUÍVOCO, uma vez que o consumo excessivo apenas fará com que você desvie as proteínas para a produção/armazenamento de #energia e faça um xixi mais caro.

Os estudos demonstram que a depender da idade, objetivo, individualidades clínicas e hábitos alimentares em geral, a recomendação proteica pode variar de 1.2 a 2.4g/kg/peso por dia.

O consumo além dessas quantidades não trazem nenhum resultado adicional e pode até atrapalhar os seus resultados, principalmente pelo fato de o metabolismo das proteínas demandar um pouco mais de "esforço" e gasto de energia do nosso organismo, quando comparado aos outros nutrientes.

Portanto, não precisa ficar tão preocupado em colocar proteínas de forma exagerada durante todo o dia no seu plano alimentar. Inclusive, não fique gastando rios de dinheiro em suplementos proteicos sem planejamento. 

Procure um Nutricionista para te auxiliar na quantidade ideal, no timing das refeições/proteínas e no uso apenas de suplementos que realmente sejam efetivos (quando necessários).

Seus resultados provavelmente serão muito melhores e mais baratos.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

sexta-feira, 8 de abril de 2022

[Divulgação] Evento para Médicos nutrólogos e Nutricionistas

 


Ganepão 2022 - 10º International Conference of Nutritional Oncology / Congresso Brasileiro de Nutrição em Câncer / (ICNO/CBNC) e o 4º Congresso Internacional de Nutrição, Exercício e Saúde (NEXSA).

Data: de 08 a 11 de junho de 2022, sendo dias 8 e 9 de junho presencial, em São Paulo/SP e dias 10 e 11 de junho, 100% Online.

Quatro dias de intensa atividade científica e didática, dividida por áreas de interesse que chamamos de “trilhas de sucesso da nutrição”, que são: nutrição clínica, consultório, nutrição oncológica (ICNO) e nutrição em atividade física (NEXSA), sob responsabilidade do nosso corpo docente multiprofissional composto por renomados professores nacionais e internacionais da América Latina, Estados Unidos e Europa. Conteúdo científico e prático relevante, networking e uma nova forma de experiência em eventos serão os grandes destaques dessa edição.

Informações, programação e inscrições: www.ganepao.com.br

E-mail: secretaria@ganepao.com.br

Fone: (11) 97879.0664

A visão preconceituosa que alguns médicos possuem da nutrologia

Se por um lado, a população busca cada vez mais o auxílio de nutrólogos, por outro, profissionais da saúde AINDA possuem uma visão preconceituosa da especialidade. Mas por que isso acontece? Muitas vezes julgamos por puro pré-conceito, mas no caso da Nutrologia existem algumas explicações bem plausíveis e que justificam esse pré-conceito. 

Fiz a minha pós em 2014 na ABRAN e naquela época a Nutrologia ainda não tinha estourado, como a especialidade "da moda". 

De lá pra cá, a especialidade cresceu muito. O número de vagas de residência quase dobrou, sinal de que mais médicos buscam a especialidade. Mas afinal, quais seriam essas explicações para a má fama dos nutrólogos perante os demais colegas?

Sempre falo para colegas que na Nutrologia temos 4 grandes problemas.

Primeiro problema: escassez de vagas de residência, mesmo sendo uma especialidade desde 1978 e tendo surgido na América latina antes mesmo da Nutrição, pelas mãos do médico argentino Pedro Escudero. 

Se há escassez de vagas, quem deseja se especializar e não consegue ou não quer fazer a residência, acaba recorrendo às pós-graduações (aula 1 vez por mês aos finais de semana). 

Com isso a formação sai bastante deficitária, já que fazer uma pós-graduação lato sensu não se compara à formação dada por uma residência. Experiência própria de quem fez pós, mas convive diariamente com quem fez residência. 

Dá para se formar bons profissionais com pós-graduação? Sim, mas é bem mais difícil. Dependerá de inúmeros fatores, dentre eles a vivência da especialidade, disciplina e empenho do médico. 

Pois, quando se está em serviços grandes (leia-se SUS), recebemos uma variedade grande de patologias. Quando o médico se restringe ao consultório, essa variedade reduz substancialmente. Na residência se aprende pela repetição diária. Isso sedimenta o conhecimento e forma melhores profissionais. 

Segundo problema: quantidade exorbitante de médicos que atuam sem serem especialistas

No Brasil se uma pessoa deseja atuar em uma especialidade, ela como médica pode atuar. Não existe impedimento legal, ou seja, mesmo sem a formação padrão-ouro (leia residência) ela pode atuar.

Porém, se der algum tipo de problema na justiça, o juiz e o médico perito (caso ela não seja titulada ou tenha feito a residência) reconhecerão que o ela foi imperita. 
imperito
adjetivo substantivo masculino
1. que ou aquele que não sabe; ignorante.
"(aluno) i. em questões gramaticais"
2. que ou aquele que é inábil ou imperfeito na sua profissão ou arte.

Nesse contexto, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM) em seu site, somos pouco mais de 1200 Nutrólogos ativos no Brasil. 

A conta não bate !

Em um passeio por redes sociais, encontramos 01 nutrólogo a cada metro quadrado da web, exageros à parte... seriam "nutrólogos" mesmo? Não. A grande maioria que se diz, na verdade não é. São o que denominamos de "nutrólogos sem RQE", ou seja, não são Nutrólogos.

E eles sabem que não podem propagar que fizeram pós-graduação, pois isso configura infração ética. 

E eles também sabem que não podem induzir o paciente a pensar que são especialistas. 

Mas na realidade é que a grande faz isso, mesmo sabendo que não é o correto. 

Resultado: o segundo problema! Uma grande quantidade de profissionais que atuam, se dizem "Nutrólogos" e não são. 

Então te faço uma pergunta: Isso é ou não é um prato cheio para a Nutrologia ser malvista? Entende que as vezes o preconceito é justificável?

Poucas áreas na medicina tem tantos profissionais sem registro de qualificação de especialista (RQE) como a Nutrologia, Endocrinologia, Dermatologia. 

Terceiro problema: acréscimo de práticas não respaldadas pela ABRAN

Condutas dentro da Nutrologia podem ser controversas. O que mais há no mundo das ciências nutricionais são controvérsias e incertezas. 

Há quem defenda utilização de hormônios para fins estéticos, implantes hormonais, soros endovenosos desnecessariamente, nutrientes injetáveis mesmo com trato digestivo funcionante. 

Quando falo Nutrologia, englobo somente aqueles que possuem RQE. A Nutrologia clássica, defendida pela ABRAN não tem dentro do seu roll de procedimentos esse tipo de prática, conforme consta no próprio site da ABRAN. 

Essas práticas não possuem respaldo da ABRAN. Ou seja, podemos considerá-las práticas paralelas à Nutrologia. Muitas delas também não possuem a chancela do Conselho Federal de Medicina. 

E como eu disse, estão sendo praticadas por médicos Nutrólogos, ou seja, médicos com RQE de Nutrologia. 

Isso, aos olhos das outras especialidades, esses Nutrólogos também são malvistos. Esta aí o terceiro problema e que justifica o preconceito.

Quarto problema: a grande má fama que os demais médicos possuem da Nutrologia

Quando decidi realizar o curso básico de Nutrologia para acadêmicos de medicina,  preparei um questionário pré-inscrição e nele acrescentei uma série de perguntas. Dentre elas a seguinte afirmação:

Qual a visão que os médicos que você convive (professores, amigos, colegas) possuem dos Nutrólogos? 
Opção 1: Meus professores e colegas médicos possuem uma boa visão acerca da Nutrologia. Ou seja, visão positiva.
Opção 2: Meus professores e colegas médicos possuem uma visão preconceituosa sobre a Nutrologia. Acreditam ser uma área envolta em charlatanismo e com práticas não baseadas em evidência. Ou seja, visão negativa.
Opção 3: Ainda não sei qual a visão meus professores e colegas possuem da Nutrologia.
Opção 4: Outro.

Obviamente, não preciso dizer que a maioria dos alunos (mais de 130) responderam a opção 2. 

Ou seja, aqui o quarto problema nos revela outras questões.

Esse preconceito existe em decorrência do desconhecimento do que é a real Nutrologia? 

Afinal, pouquíssimos médicos tiveram contato com a Nutrologia durante a graduação. Sequer sabem fazer orientações nutricionais básicas. 

Esse preconceito decorre de experiências ruins que esses profissionais tiveram com "nutrólogos", ou até mesmo com Nutrólogos com RQE?

Esse preconceito advém das condutas controversas citadas acima?

Esse preconceito existe fruto da ignorância de alguns médicos em sequer saberem o real papel do nutrólogo e muitas vezes confundirem com a atuação do nutrólogo com a do nutricionista?

É triste falar, mas Nutrólogos são nutricionistas de luxo, na visão de alguns profissionais ignorantes. 

Para vários médicos, o Nutrólogo é o profissional que fez uma pós de fim de medicina, não achou o seu lugar na medicina, resolveu atirar para todos os lados. 

É o profissional que ostenta em redes sociais. É aquele que propaga fake news e práticas com baixo nível de evidência. É o médico que lucra em uma tarde o que os demais levam uma semana para ganhar. 

É essa infeliz visão que percebo na prática e se confirma no questionário aplicado. 

Os problemas foram gerados, mas há soluções? Sim, porém, demanda tempo e consiste em um trabalho árduo, que poucos querem pagar o preço.

Eu e nem meus colegas do movimento Nutrologia Brasil, por mais que façamos postagens esclarecedoras sobre o que é a Nutrologia, dificilmente convenceremos os atuantes na Nutrologia a agirem dentro do que acreditamos ser a real Nutrologia (defendida pela ABRAN).

Porém, se agirmos na base, nos acadêmicos de medicina, podemos mostrar, ensinar e direcioná-los para um caminho que acreditamos ser o correto. 

Como consequência disso, levaremos à graduação de medicina grandiosidade da nossa especialidade e a real forma de atuação da Nutrologia. 

Esse é o objetivo do nosso curso, mostrar para o acadêmico de medicina:
Quando a Nutrologia surgiu
O que faz um Nutrólogo
A infinidade de áreas ele pode atuar
A diferença entre o nutrólogo e o nutricionista, bem como a importância de um na atuação do outro.
A diferença entre o nutrólogo e o endocrinologista, o que é competência de cada um. 
O que faz parte do roll de procedimentos nutrológicos.
O que segundo a ABRAN não faz parte da real Nutrologia.
O que segundo o CFM é vetado ao médico praticar. 
Que Nutrologia não é sinônimo de tratamentos caros e sequer precisa incluir medicações manipuladas.
Quais as indicações para utilizar a via parenteral.
Como a nutroterapia pode agir na prevenção e tratamento de diversas doenças. 
Que dá para ser um profissional de sucesso, praticando uma Nutrologia séria, ética, baseada em evidências. 

Temos muito chão pela frente. Como diz uma grande professora de Nutrologia (Dra. Sandra Lúcia Fernandes): "não desanimemos diante das adversidades, mostremos o nosso real valor, lutemos pela especialidade, conquistemos nosso espaço". 

Sigamos avante em nossa missão.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915


quinta-feira, 7 de abril de 2022

O que se esperar de um acompanhamento nutricional ?

Muitos acreditam que a ida ao Nutricionista tem um único objetivo: pegar um cardápio nutricionalmente perfeito e adeus acompanhamento. Mas fique sabendo que não é bem assim que funciona e o plano alimentar não é a salvação/prevenção para todos os problemas!

O acompanhamento com o nutricionista visa melhorar muito mais do que apenas seus hábitos alimentares, pois na anamnese visualizamos erros gerais e traçamos metas atingíveis para tentar melhorar seu estilo de vida como um todo. 

O tratamento visa melhorar seu hábito intestinal, humor, sono, sinais e sintomas específicos que possam ter relação com a Nutrição, consumo de água, sedentarismo e, inclusive, algum possível olhar errado que você tenha acerca da alimentação (é só dar uma leve pesquisada para ver os inúmeros mitos alimentares existentes).

Para que seja possível atingir bons resultados é preciso que o paciente confie no nosso trabalho e saiba que há períodos que os resultados possam ser menores ou maiores do que os esperados. É necessário muito foco, determinação e, também, que a melhora dos hábitos gerais pode ter altos e baixos, como tudo na vida, mas que a persistência deve se sobressair nesses períodos. 

As metas/objetivos traçados podem ser alcançadas em meses ou anos, a depender do quadro do paciente e do seu histórico.

Não há fórmulas mágicas, suplementos, atalhos, cápsulas ou super tratamentos para que consigamos bons resultados, mas sim fazer o básico bem feito e ter paciência.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Omeprazol e o perigo do uso crônico e irracional dos IBPS

Ele é conhecido por ter mil e uma utilidades: O famoso Omeprazol, faz parte da família dos IBP’s (inibidores de bomba de prótons) - classe que atua reduzindo entre 80-95% da produção diária de ácido gástrico. Essa classe é uma das mais prescritas no mundo, por vezes usadas de forma crônica e sem acompanhamento médico. 

Atualmente dispõe-se dos seguintes IBP’s: omeprazol, lansoprazol, dexlansoprazol, rabeprazol, pantoprazol e esomeprazol. São indicados para tratamento de: Doença do Refluxo Gastroesofágico, Doença ulcerosa péptica, erradicação de H. pylori (associado a antibióticos). 

Qual o grande problema de seu crônico? Nada existe por acaso no nosso corpo e com o seu estômago não seria diferente. O ácido gástrico funciona, principalmente, como um mecanismo de defesa contra microorganismos , podendo aumentar a suscetibilidade do paciente a inúmeras infecções entéricas, incluindo sobrecrescimento bacteriano no intestino delgado. Pode gerar reações adversas como: disbiose, gastrite atrófica, diarreia, náuseas, exantema, tontura, dores musculares, tontura e ginecomastia. 

Além disso, podemos ter algumas deficiências nutrológicas diretas como déficit na absorção de vitamina B12, ferro e magnésio. Pode também interferir na absorção de cálcio - metabolismo ósseo, aumentando risco para osteopenia, osteoporose e fraturas ósseas. Grande estudo do JAMA publicado em 2014, estudou a relação do uso crônico dos inibidores de bomba de prótons com déficit de vitamina B12, podendo contribuir para sintomas demenciais em idosos. 

Existem também estudos incipientes, tentando relacionar o uso crônico dos IBP’s com o aumento da incidência de neoplasias gástricas, principalmente pela hipergastrinemia (estimula a produção de ácido gástrico). A hipergastrinemia, a curto prazo, pode causar acidez rebote e, a longo prazo, hiperplasia de células carcinoides. Porém, esses mesmos estudos, apresentam vieses e fatores confundidores, o que faz com que questionemos suas reais validades.


Autora: Dra. Edite Magalhães - Médica especialista em Clínica Médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351
Revisores: 
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
Dr. Leandro Houat - CRM-SC 27920 - RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de família e comunidade

Cranberry e Infecções do trato urinário: o que temos de relevante?

 

As infecções do trato urinário (ITUs) são o segundo tipo mais comum de infecções bacterianas em todo o mundo, atrás apenas da otite média aguda. Os picos de incidência de ITUs estão no início dos 20 anos e após os 85 anos. O risco ao longo da vida de adquirir uma ITU sintomática é de cerca de 12% em homens e 50% em mulheres, com uma taxa de recorrência após seis meses de cerca de 40%. Aproximadamente 20 a 30% das mulheres jovens terão ITUs recorrentes. 

Embora a maioria dos pacientes tenha apenas uma gama variada de sintomas dolorosos e incômodos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relata que as ITUs contribuem com 13.000 mortes a cada ano. Dessa forma, a ITU é um problema de saúde significante que reduz a qualidade de vida de homens e mulheres. 

Diante desse cenário, aumentou-se a busca e o interesse por métodos alternativos de prevenção e terapia, como por exemplo o uso da fruta cranberry (Vaccinium macrocarpon), planta nativa da América do Norte, conhecido como oxicoco no Brasil. 

O cranberry vermelho é rico em vários grupos de flavonóides, particularmente proantocianidinas, antocianidinas e flavonóis, juntamente com ácidos fenólicos e benzoatos.

Estudos científicos sugerem que as proantocianidinas (PAC) do tipo A ajudam na prevenção de ITU, principalmente, em mulheres com histórico de recorrências, pois ela interfere na aderência da E. coli (responsável por 75-80% dos casos de ITU) às células que revestem o trato urinário e a bexiga, aumentando a probabilidade de serem eliminadas durante a micção, prevenindo assim a colonização bacteriana. 

Metodologias de cultura de células também evidenciaram capacidade antiadesiva nos flavonóides presentes no cranberry e seus metabólitos em amostras de urina coletadas após o consumo de extratos de cranberry.

Embora o consumo de cranberries (Vaccinium macrocarpon) tenha sido amplamente recomendado para profilaxia de ITUs e alívio de sintomas, a atividade preventiva do cranberry nas ITUs tem sido debatida na literatura e numerosos estudos clínicos foram realizados, incluindo algumas meta-análises recentes. Vários estudos mostraram um efeito protetor do cranberry contra ITUs; no entanto, outros não encontraram efeitos significativos. 

Essa controvérsia atual sobre os resultados conflitantes da eficácia clínica e de custo dos suplementos de cranberry tem sido atribuída a diferentes produtos e doses fabricados à base de cranberry, bem como à falta de protocolo sistemático para a seleção de sujeitos e ensaio clínico. Portanto, as evidências ainda são insuficientes para definir uma alegação formal de saúde. Além das diferenças na composição e nas doses dos produtos à base de cranberry usados nos estudos de intervenção, as diferenças entre os estudos foram atribuídas à diferente suscetibilidade das cepas UPEC aos efeitos preventivos do cranberry. 

Atualmente, a suplementação de cranberry pode ser sugerida com segurança como terapia complementar em mulheres com ITUs recorrentes, mas a falta de custo-benefício para a suplementação de cranberry foi destacada. 

Evidências emergentes mostram que a microbiota intestinal tem um papel fundamental na homeostase, regulando a saúde e a doença em locais distais em todo o corpo. Embora os perfis microbianos e os metabólitos microbianos do intestino e de outros órgãos possam influenciar a microbiota urinária, a relação entre esses organismos que metabolizam ativamente e a saúde urogenital ainda não foi completamente elucidada. 

Agora é amplamente aceito que o trato urinário abriga uma rede microbiana complexa que é substancialmente diferente das populações intestinais. Qualquer desequilíbrio em comunidades bacterianas específicas provavelmente terá um efeito profundo na saúde urológica devido à sua produção metabólica e outras contribuições.

Autora: Dra. Edite Magalhães - Médica especialista em Clínica Médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351
Revisores: 
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915
Dr. Leandro Houat - CRM-SC 27920 - RQE 20548 - Médico especialista em Medicina de família e comunidade

quinta-feira, 31 de março de 2022

Cirurgia bariátrica como solução para a obesidade ?

Na prática clínica não foi apenas uma ou duas vezes que escutamos alguns pacientes relatarem que fariam bariátrica como um atalho para alcançar o peso saudável. 

A cirurgia bariátrica em si, tem SIM sua aplicabilidade e salva MUITAS vidas, principalmente daqueles pacientes com obesidade e outras comorbidades relacionadas, que já passaram por todas as tentativas possíveis (combinação de mudança de hábitos alimentares, estilo de vida, prática de exercícios, psicoterapia e tratamento farmacológico) antes de chegarem nessa decisão e orientação médica. 

O problema é quando o paciente decide pular todas essas fases citadas acima e buscar imediatamente a cirurgia bariátrica como atalho, acreditando ser a "cura" do excesso de peso.

Se você pensa assim, saiba que a cirurgia bariátrica isolada NÃO é e está longe de ser a solução da obesidade.

Na prática vemos um alto índice de reganho de peso nos pacientes que:
1) Não aceitam que terão que praticar atividade física por toda vida e aumentar a intensidade com o passar do tempo. 
2) Não priorizam o consumo de proteína de boa qualidade nas 3 principais refeições. Alcançar a meta protéica (quantidade satisfatória de proteína) é um dos maiores determinantes para evitar o reganho de peso e para manutenção da massa magra. 
3) Negam a importância da psicoterapia no tratamento da obesidade.
4) Não mantém a vigilância: principalmente pesando e mantendo acompanhamento pelo menos de duas vezes por ano com o médico. 
5) Não fazem a suplementação de nutrientes corretamente e não fazem os exames periódicos (3 vezes ao ano) para ajuste da suplementação ou detecção de déficits. 

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

domingo, 27 de março de 2022

Entidade filantrópica - Filhos de SR

Hoje divulgarei aqui, uma entidade filantrópica de Goiânia que auxilia pessoas em situação de rua e em insegurança alimentar. Para conhecerem o trabalho deles visitem: https://filhosdesr.blogspot.com/

quinta-feira, 24 de março de 2022

Fitoterápicos para emagrecimento - O que são? Onde nascem? O que fazem no nosso corpo?



Será que realmente existe algum fitoterápico para emagrecimento?

Em 2008 quando me formei, fui morar na Chapada dos Veadeiros, mais precisamente em Alto Paraíso de Goiás. Um sonho de adolescência, que tomou força durante os últimos 2 anos de faculdade. Então fui, com a cara e a coragem. Nunca tinha pisado na cidade. Foi uma ótima experiência, principalmente do ponto de vista médico. 

Sempre gostei de plantas, principalmente de estudar os benefícios dos vegetais na saúde humana. Aos 15 anos comprei meu primeiro livro de plantas. Na época já sabia que faria medicina, porém não via o livro com um ar médico/científico. Era algo meio místico, afinal era um livro de Paracelso. O título por si só já era algo nada científico: As plantas mágicas - botânica oculta.

Afinal para um adolescente, filho de um reumatologista cartesiano, falar em "poder das plantas" em 1998, era uma heresia. Meu pai era prescritor de corticóides, antiinflamatórios, imunonusupressores. Plantas como agente farmacológico era algo nebuloso no meu lar, pior ainda um livro de Paracelso. 

Lá fui eu, ler o livro. Gostei, mas sentia que se um dia eu quisesse prescrever plantas, aquele não era o caminho. A planta não podia ser mística, a planta obrigatoriamente deveria ser um amontoado de substâncias orgânicas, com ação em órgãos e tecidos. Ou seja, a planta deveria ser um fitoterápico, no qual o princípio ativo idealmente seria extraído e então entregue ao consumidor. 

Comprei outros livros e ao longo da faculdade fui lendo. Ainda leio e quanto mais eu leio, mais medo eu tenho de prescrever plantas. Hoje, aos 39 anos, não as enxergo como mágicas, inofensivas. Hoje eu sou prescritor, tenho um olhar médico. Por isso, afirmo categoricamente, quanto mais estudo fitoterapia, mais medo eu tenho. Mais percebo que preciso me aprofundar no tema e esperar que a ciência progrida nos estudos. 

Veneno de cobra, cocaína são naturais. Assim como plantas. Nem por isso deixam de ter seus riscos. A diferença entre o remédio e o veneno está na dose, já dizia Paracelso, (1493-1541) aquele médico, alquimista e filósofo suíço, autor do livro que li aos 15 anos. 

Quando morei na Chapada, um dos meus intentos era aprender com os nativos do cerrado, um pouco sobre fitoterapia. Então, já médico, eu me despi dos meus preconceitos e me permiti ouvir os nativos, em especial os ensinamentos dos Quilombolas Kalungas. Conhecimentos passados de geração para geração. Algo que contrastava com o que eu tinha estudado nos últimos 6 anos de faculdade. Aprendi bastante, mas, prescrever são outros 500, afinal, tenho amor ao meu CRM rs.

Final de 2008 quando retornei para Goiânia, comecei a atender em uma empresa e recebia visita dos representantes farmacêuticos. Foi meu primeiro contato com a indústria magistral (manipulação). Lembro que tinha uma pastinha sanfonada e nela guardava as lâminas que recebia de inúmeras farmácias. 

TODO DIA era uma lâmina diferente, principalmente com fitoterápicos. Promessas e mais promessas de efeito no emagrecimento. De 2008 a 2022 eu vi muita coisa, a diferença é que hoje eu rio na cara dos propagandistas. Eles tentam me "vender" o peixe deles, por educação ouço, mas depois faço algumas perguntas difíceis. Infelizmente, não sabem responder. Nem quando são farmacêuticos, quem dirá quem não tem formação na área (que é a maioria). 

A história se repete, ano após ano. Elegem alguma substância, financiam estudos repletos de falhas metodológicas, manipulam os resultados e está feito o bolo. Novo fitoterápico altamente promissor no emagrecimento. O médico recém-formado, assim como nutricionistas, acreditam e começam a prescrever. A farmácia lucra. E o ciclo recomeça, talvez no próximo ano, ou até mesmo no próximo semestre. 

Hoje olho e acho uma piada, sinto até compaixão da credulidade dos meus coleguinhas. A falta de crivo combinada a ingenuidade e muitas vezes uma vontade de prescrever algo inovador pro paciente. 

Então hoje, no meu globo repórter falaremos sobre os fitoterápicos de emagrecimento. 

O que são?
Onde nascem?
O que fazem no nosso corpo?
Como nos fazem perder gordura, emagrecer e sustentar essa perda de peso?

Primeiramente, devemos falar sobre o que seria uma substância ideal quando se trata de emagrecimento?

O remédio ideal deve:
1 - Estimular a quebra da gordura
2 - Induzir a queima da gordura
3 - Reduzir o apetite
4 - Aumento do gasto energético
5 - Ter o mínimo de efeitos colaterais ou adversos
6 - Ter bom custo benefício
7 - Evitar o reganho do peso eliminado
8 - Manter o peso do paciente dentro da meta recomendada de acordo com as comorbidades existentes 
9 - Evitar a progressão e surgimento de outras condições crônicas

Existe remédio (medicamento) com todos esses requisitos? Não.

Você acha que existirá um fitoterápico? Se existe, corra e conte pra Indústria farmacêutica. Eu te garanto que você ficará bilionário, ganhará um Nobel, entrará para os anais da medicina. 

Você acha mesmo, que se existisse algum fitoterápico com ação no emagrecimento a própria indústria farmacêutica já não teria patenteado e estaria por aí vendendo? 

A indústria gasta bilhões para investigar uma droga e o que até o momento consegue produzir são drogas que até conseguem inibir o apetite, estimular o gasto energético, mas com um custo alto ou com efeitos colaterais muitas vezes intoleráveis. 

Mas na crença de alguns, a farmácia de manipulação da esquina, tem uma plantinha ótima para te ajudar a emagrecer.

Teremos:
  • Um médico ou nutricionista "ingênuo" para te prescrever.
  • Você disposto a pagar, iludido achando que emagrecerá graças à plantinha.
  • E um outro profissional que em breve você recorrerá. 
  • O ciclo recomeçará. 
Deixa eu te contar uma coisa bem básica? Para que haja o emagrecimento, deve-se estimular a quebra dos triglicerídeos (lipólise) que estão dentro do adipócito e utilização de gordura como fonte de energia (beta-oxidação). 

Se houver apenas a lipólise sem a beta-oxidação, essa gordura não é utilizada para produção de energia e é armazenada no fígado.

Mas o processo de emagrecimento vai muito além de lipólise e beta-oxidação. A gênese da obesidade é multifatorial e o bom profissional está ciente disso. 

Existe fitoterápico que age na lipólise? Sim. 
Existe  fitoterápico que pode agir na beta-oxidação? Sim.
Que age nos 2 mecanismos de forma eficaz ? Não.
Existe fitoterápico que pode reduzir levemente o nível de ansiedade? Sim.
Existe fitoterápico que pode melhorar a insônia? Sim.
Existe fitoterápico que pode aumentar a disposição ou adaptar a pessoa a situações de estresse? Sim.
Existe fitoterápico que pode melhorar a saciedade? Sim.
Existe fitoterápico que pode auxiliar na motilidade intestinal? Sim.
Existe fitoterápico que pode reduzir levemente a retenção hídrica? Sim. 

Para a lipólise

Os alcalóides (compostos orgânicos extraído de algumas plantas) da família das metilxantinas, atuam na lipólise (via inibição de fosfodiesterase em adipócitos).

Mas o efeito clínico disso é bem pequeno. Diferente de drogas noradrenérgicas (anfempramona, femproporex) que tem efeitos mais proeminente na lipólise e também na inibição da fome.

As metilxantinas são alcalóides com alto poder estimulador do sistema nervoso central, encontradas principalmente no café, chá, guaraná e cacau), como a cafeína, teobromina e teofilina

No que tange a betaoxidação

Por exemplo, as catequinas, presentes na Camellia sinensis (chá verde, branco), capsinoides (como o capsiato presente em algumas pimentas), capsaicinóides (como a capsaicina presente nas pimentas), quercetina (cebola, brócolis, maçã) e resveratrol (uvas, vinho tinto, amendoim) possuem ações relativas a aumento da expressão mitocondrial. Ou seja, há indícios de aumento da beta-oxidação com o consumo deles. 

Isso é mensurado a partir do aumento de marcadores urinários de oxidação dos ácidos graxos, mas sem efeito clínico significativo. Por isso a gente pede para o paciente incluir esses alimentos na dieta. 

Tem fitoterápico que vai isoladamente te fazer emagrecer? Não.

Resumindo: fitoterápico para emagrecimento existe em Nárnia. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915

O mito do arroz no emagrecimento

Quando o assunto é emagrecimento, arroz é um dos alimentos mais "temidos", tanto que é bastante comum nos atendimentos relatos como "já cortei totalmente o arroz e mesmo assim não estou emagrecendo".

Contudo, será mesmo que o arroz é um grande vilão durante o processo de perda de peso?

A resposta é: na maioria dos casos, NÃO!

Para que você tenha uma ideia, segundo a Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos (TACO), cada 100g de arroz branco cozido possui aproximadamente 128kcal, o que não é uma densidade calórica excessiva como muitos acreditam. 

Veja bem, caso você consuma 100g de arroz no almoço e 100g de arroz no jantar, somará um total de 256kcal, o que representa aproximadamente 13% da necessidade calórica diária de alguém que precise ingerir 2.000kcal.

Com isso você deve pensar: "mas o arroz possui alto índice glicêmico"!

Sim, é verdade! Porém, há estudos demonstrando que a resposta glicêmica aos alimentos pode variar, E MUITO, entre os indivíduos. Além disso, raramente alguém ingere o arroz sozinho.

Geralmente é refogado com algum tipo e óleo (isso já muda a carga glicêmica da refeição) e pra completar a falácia do índice glicêmico, ele acaba sendo comumente consumido com carnes, leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico) e saladas/vegetais (abundância em fibras), o que muda totalmente o índice glicêmico, reduzindo-o significativamente (na prática consideramos a carga glicêmica da refeição).

Portanto, caso você queira emagrecer, procure o auxílio de um Nutrólogo e posteriormente de um Nutricionista para te auxiliarem na mudança de hábitos. Não saia cortando e eliminando os alimentos habituais da sua dieta de forma aleatória, pois essa ação pode dificultar a perda de peso e gerar transtornos alimentares no futuro. 


Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

terça-feira, 22 de março de 2022

Agronegócio, ultraprocessados, destruição ambiental e doenças crônicas: tudo a ver ou nada a ver?

Destruição e doença - o que o agro tem plantado no cerrado



segunda-feira, 21 de março de 2022

[Conteúdo exclusivo para profissionais da área da saúde] Exercinas em saúde, resiliência e doença


Os benefícios para a saúde do exercício são bem reconhecidos e são observados em vários sistemas de órgãos. Esses efeitos benéficos aumentam a resiliência geral, a saúde e a longevidade. Os mecanismos moleculares subjacentes aos efeitos benéficos do exercício, no entanto, permanecem pouco compreendidos. Desde a descoberta em 2000 de que a contração muscular libera IL-6, o número de moléculas de sinalização associadas ao exercício que foram identificadas se multiplicou. As exerquinas são definidas como a sinalização de metades liberadas em resposta ao exercício agudo e/ou crônico, que exercem seus efeitos através de vias endócrinas, parácrinas e/ou autócrinas.

Uma infinidade de órgãos, células e tecidos libera esses fatores, incluindo o músculo esquelético (miocinas), o coração (cardiocinas), fígado (hepatquinas), tecido adiposo branco (adipocinas), tecido adiposo marrom (baptocinas) e neurônios (neurocinas).

As exercinas têm papéis potenciais na melhoria da saúde cardiovascular, metabólica, imunológica e neurológica.

Como tal, as exercinas têm potencial para o tratamento de doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2 e obesidade e, possivelmente, para facilitar o envelhecimento saudável.

Esta revisão resume a importância e o estado atual da pesquisa com exerquinas, os desafios predominantes e as direções futuras.

Pontos-chave

• Embora os benefícios do exercício na melhoria da saúde e no tratamento de doenças sejam bem reconhecidos, os mecanismos moleculares subjacentes aos benefícios associados ao exercício permanecem mal definidos e estão sendo ativamente investigados.

• As "Exerkines" abrangem uma ampla variedade de porções de sinalização liberadas em resposta ao exercício agudo e/ou crônico que exercem seus efeitos através de vias endócrinas, parácrinas e/ou autócrinas.

• As exerquinas podem vir de várias formas, como hormônios, metabólitos, proteínas e ácidos nucleicos; o interesse está aumentando em ir além das mudanças singulares de fatores específicos para traçar o perfil das alterações das exerquinas usando plataformas "ômicas".

• Há um interesse crescente no papel das vesículas extracelulares, que são estruturas membranosas liberadas das células, em servir como importantes portadores de sinais moleculares e impulsionadores de crosstalk interórgãos relacionados ao exercício.

• Vários sistemas de órgãos, incluindo o sistema cardiometabólico, o sistema nervoso e o sistema imunológico, produzem exercinas e são influenciados por exercinas, o que provavelmente contribui para a resposta pleiotrópica e variável ao exercício.

• Pesquisas emergentes sobre exerquinas sugerem vários caminhos promissores para pesquisa translacional e modulação terapêutica para capturar benefícios associados ao exercício; maior rigor no desenho experimental facilitará a comparação entre os estudos.

• Introdução

Evidências irrefutáveis apoiam a importância da atividade física, do exercício e da aptidão cardiorrespiratória na prevenção e tratamento de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes mellitus tipo 2, declínio cognitivo e muitos tipos de câncer, ao mesmo tempo em que melhoram o sistema imunológico, a saúde, a longevidade e a resiliência (Fig. 1).


Por outro lado, a inatividade física representa uma grande ameaça à saúde pública, pois está associada ao aumento da mortalidade2 e a uma notável carga econômica.

Além disso, a pandemia de COVID-19 reforça claramente a relevância da atividade física para a saúde, devido aos efeitos das reduções na atividade física relacionadas à COVID-19 e ao aumento do comportamento sedentário, especialmente devido à quarentena relacionada à COVID-19.

Além disso, a inatividade física está associada ao aumento do risco de desfechos graves da COVID-19.

Embora os termos "exercício" e "atividade física" sejam comumente usados de forma intercambiável, o exercício é tipicamente considerado como atividade física intencional, como treinamento aeróbico, treinamento de resistência ou treinamento intervalado de alta intensidade.

Por outro lado, a atividade física engloba o exercício, bem como a atividade ocupacional e/ou doméstica habitual. A promoção da atividade física continua sendo uma intervenção crítica para reduzir a incidência e a prevalência de doenças metabólicas comuns.

Nos EUA, as diretrizes oficiais para atividade física foram publicadas pela primeira vez em 1995 e recomendaram que todos os adultos dos EUA acumulassem pelo menos 30 minutos de atividade física de intensidade moderada na maioria, de preferência em todos, dias da semana.

Posteriormente, essas diretrizes evoluíram. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde afirmou que todos os adultos devem buscar 150 a 300 minutos de atividade física de intensidade moderada por semana ou 75 a 150 minutos de atividade física de intensidade vigorosa por semana ou uma combinação equivalente de atividade física de intensidade moderada e vigorosa por semana. Apesar dessas recomendações, dados objetivos obtidos com acelerômetros de atividade física na população dos EUA indicaram baixa adesão às diretrizes recomendadas, com apenas 5% dos adultos dos EUA tendo mais de 30 minutos de atividade física de intensidade moderada por dia.

Nesta revisão, nos concentramos no papel potencial das exercinas na condução dos benefícios estabelecidos do exercício, como prevenir e mitigar doenças, promover a saúde e aumentar a resiliência.

O termo exerquina foi cunhado em 2016 (ref.11), embora o conceito de fatores humorais que mediam o benefício do exercício seja reconhecido há muito tempo.

Um excelente exemplo é o ácido láctico; sua secreção do músculo esquelético foi identificada há mais de 100 anos. Em 1961, Goldstein especulou sobre a existência de um fator humoral não insulínico que regula o efeito do exercício na utilização de glicose muscular esquelética e hepática.

Para os fins desta Revisão, definimos uma exerquina como uma fração sinalizadora liberada em resposta ao exercício agudo e/ou exercício crônico, exercendo seus efeitos através de vias endócrinas, parácrinas e/ou autócrinas.

Como o músculo esquelético compreende aproximadamente um terço da massa corporal e tem um papel importante no exercício, os efeitos da atividade física (Fig. 1) foram inicialmente atribuídos a fatores transmitidos pelo sangue, particularmente hormônios secretos musculares (micocinas).

Das mioquinas, a IL-6 tem sido a mais estudada desde a sua descoberta em 2000 (ref.16).

O trabalho subsequente com exerquinas se ampliou para incluir fatores humorais relacionados ao exercício decorrentes do coração (cardiocinas), fígado (hepatoquinas), tecido adiposo branco (WAT; adipocinas) e tecido adiposo marrom (BAT; batokines) e do sistema nervoso (neurocinas), com efeitos autócrinos locais (afetando a célula de origem) e parácrinos (afetando células adjacentes) (Tabela 1)

As exerquinas são cada vez mais reconhecidas por incluir uma ampla gama de metades de sinalização, incluindo citocinas, ácidos nucleicos (microRNA17, mRNA e DNA mitocondrial), lipídios e metabólitos, que são frequentemente impulsionados pela secreção de vesícula extracelular específica da célula.

Compreender o papel das exerquinas na resposta fisiológica e biológica ao exercício é um dos principais objetivos de muitas investigações patrocinadas pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), dados os benefícios demonstrados do exercício no aprimoramento e prolongamento da saúde humana ao longo da vida útil.

Em 2020, o Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue e o Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais convocaram um workshop público virtual de 2 dias convidando 21 especialistas internacionais para discutir "Exerkines in Health, Resilience, and Diseases".

O resumo executivo do workshop foi publicado on-line, lançando as bases para este artigo. Nesta Revisão, resumimos a importância e o estado atual da pesquisa com exerkinas, os desafios predominantes e as direções futuras.

• Variabilidade da resposta ao exercício

• Papel potencial para exerquinas

A maioria das pesquisas sobre exercícios foi limitada a estudos com modelos animais geneticamente homogêneos e/ou um pequeno número de participantes humanos.

Além disso, a resposta fisiológica a um estímulo estruturado de treinamento físico permanece altamente variável em humanos e animais devido a uma infinidade de fatores externos e internos.

Em termos de fatores externos, o contexto do exercício é importante, já que o tempo de exercício em relação aos ritmos circadianos, o estado de jejum alimentado ou a composição dietética pós-exercício podem influenciar os resultados metabólicos 

Essa variabilidade é bem detalhada em um estudo publicado em 2022, que incluiu um atlas descrevendo os efeitos dependentes do tempo do exercício em vários tecidos após uma única sessão de exercício em esteira.

Abordar esses fatores externos exigirá uma consideração cuidadosa da exposição ao exercício, controlar o contexto ambiental da exposição ao exercício e a amostragem seriada de sangue e tecidos antes, durante e após o exercício.

Esse nível de rigor é necessário para "reduzir o ruído" e facilitar a interpretação das assinaturas temporais de exercinas circulantes e específicas do tecido.

Em termos de fatores internos, a genética tem um papel crítico na resposta ao exercício.

O estudo da família Saúde, Fatores de Risco, Treinamento Físico e Genética (HERITAGE) envolveu 20 semanas de treinamento físico aeróbico supervisionado em 481 adultos sedentários, saudáveis e brancos de 98 famílias de duas gerações, e descobriu que a estimativa máxima de hereditariedade para a resposta da capacidade aeróbia foi de cerca de 47%.

Além disso, o treinamento físico crônico provocou uma "não resposta" em termos de melhoria da capacidade aeróbica em ~20% dos indivíduos.

Além disso, 7 a 15% dos indivíduos demonstraram uma "resposta adversa" em relação a alterações na pressão arterial sistólica, bem como nos níveis de jejum de colesterol HDL, triglicérides e insulina.

Para impulsionar a aplicação da medicina de precisão ao exercício, investigações sobre os mecanismos subjacentes à variabilidade de resposta ao exercício são extremamente necessárias.

A contribuição das exerquinas para a variação na resposta ao exercício permanece sob pesquisa ativa e será um foco principal do Consórcio de Transdutores Moleculares de Atividade Física (MoTrPAC; NCT03960827).

Este consórcio de pesquisa apoiado pelo NIH foi projetado para descobrir e caracterizar amplamente a gama de transdutores moleculares subjacentes aos efeitos variáveis do exercício em humanos e animais.

Para os seres humanos, o MoTrPAC tem várias características únicas: seu tamanho (2.280 participantes estimados); seu recrutamento de participantes sedentários que serão submetidos a um programa de 12 semanas de exercício aeróbico, exercício resistido ou sem exercício (controle), com um grupo de comparação de participantes de exercício de resistência altamente ativos ou exercício resistido; e sua análise de curso temporal de alterações no tecido (tecido muscular e adiposo) e metabólitos plasmáticos.

Em animais (~800 estudados), a característica única do MoTrPAC será seu foco na análise detalhada de bioespécime em vários momentos e órgãos, que não podem ser facilmente replicados em humanos, em ratos machos e fêmeas jovens (6 meses) e velhos (18 meses) após uma sessão aguda (sessão única) de exercício em esteira, ou após exercício crônico em esteira (8 semanas) versus ratos controle não exercitados.

A identificação de um exercina ou de um painel de exercinas, que capturam os benefícios do exercício, teria implicações potenciais para melhorar a saúde daqueles que não podem se exercitar, como aqueles com intolerância ao exercício associada ao envelhecimento.

• Influência da exposição ao exercício

As exerquinas são secretadas em resposta ao exercício agudo, que geralmente é um único episódio de exercício aeróbico ou resistido.

O exercício crônico também está associado a fatores humorais alterados, mesmo no estado de repouso, sugerindo que as alterações das exercinas podem refletir os efeitos do treinamento crônico.

A resposta aguda das exerquinas é influenciada pelo tipo de exercício, duração do exercício, aptidão subjacente, estado de jejum alimentado e tempo da amostra após o exercício.

Em um modelo humano, a concentração sanguínea de glicose normalmente permanece estável durante o exercício agudo, com o fígado liberando glicose para uso cerebral e muscular esquelético.

Durante o exercício, o músculo esquelético também usa lipídios como combustível, que se origina dos triglicerídeos armazenados no músculo e dos ácidos graxos livres (FFAs) liberados da WAT.

As exercinas clássicas liberadas durante o exercício agudo, encontradas em modelos humanos e animais, incluem IL-6, IL-8, antagonista do receptor de IL-1 (IL-1RA) e IL-10.

Em um estudo em humanos, no qual amostras de sangue foram coletadas antes e depois de uma maratona, os níveis plasmáticos de várias citocinas (IL-6, IL-1RA, IL-10 e fator de necrose tumoral (TNF)) foram mais altos do que os níveis basais quando coletados imediatamente após o exercício, atingindo um pico de 1-2 horas após o exercício e permanecendo elevados por ~4 horas após o exercício.

Certamente, o tipo e a intensidade do exercício são importantes.

Por exemplo, a resposta da exercina ao treinamento intervalado de alta intensidade depende da intensidade do exercício; maior intensidade do exercício corresponde a níveis plasmáticos mais altos de IL-6, enquanto os níveis de IL-10 permanecem inalterados em comparação com os níveis anteriores ao exercício.

A Tabela Suplementar 1 mostra exemplos de alterações singulares na exercina. Atualmente, a pesquisa com exerquinas está evoluindo da medição das alterações singulares de exerquinas para a caracterização de perfis metabólicos, para os quais permanecem desafios na análise e interpretação (Tabela 2).

Notavelmente, a resposta aguda de exercinas não necessariamente é paralela à resposta crônica de exercinas (Tabela Complementar 1).

Normalmente, a exposição aguda ao exercício está associada a respostas focadas na manutenção da homeostase metabólica, com inflamação aguda equilibrada por mediadores anti-inflamatórios e mudanças acomodadoras na utilização de combustível.

Por outro lado, a exposição crônica ao exercício está associada a respostas focadas em adaptações metabólicas a longo prazo e diminuição da inflamação.

No entanto, ao investigar a exposição crônica ao exercício, as ressalvas do exercício agudo ou composição dietética recente (24-72 horas antes do exercício), aptidão subjacente, status de jejum, tempo circadiano e modalidade de treinamento precisam ser consideradas.

Além disso, os efeitos do exercício também podem ser influenciados por alterações no nível do receptor de exercinas, além de alterações nos níveis plasmáticos de exercinas.

Por exemplo, em humanos, o treinamento físico crônico reduz as concentrações plasmáticas de IL-6; no entanto, esse efeito pode ser parcialmente mitigado pelo aumento da expressão de mRNA do músculo esquelético do receptor de IL-632.

• Exerkines: considerações técnicas

• Técnicas de descoberta

A pesquisa de exerkine está cada vez mais focada em medir mudanças em uma ampla faixa de fatores, em vez de mudanças singulares.

Especificamente, o interesse está aumentando na tecnologia "ômica" para capturar alterações relacionadas ao exercício em lipídios (lipidômicos), metabólitos (metabolômicos), proteínas (proteômicas), expressão gênica (transcriptômicas) e alterações de DNA (epigenômica) (Tabela 2).

Um atigo em 2020 estudou humanos em todo o espectro da sensibilidade à insulina (n = 36, variando de pessoas com alta sensibilidade à insulina a pacientes com diabetes mellitus) que realizaram uma sessão aguda de exercício em esteira para atingir o pico de consumo de oxigênio.

Essa exposição ao exercício alterou >50% das moléculas medidas, abrangendo plataformas baseadas em lipidômica, metabolômica, proteômica, transcriptômica e epigenômica.

A Tabela 2 lista as plataformas comumente usadas para análise de exercinas, incluindo suas vantagens e desvantagens relativas 

A espectrometria de massa é frequentemente usada para análises ômicas direcionadas e não direcionadas, enquanto os imunoensaios são comumente usados para análise de proteínas e metabólitos.

As análises genéticas incluem sequenciamento de RNA, sequenciamento de metilação (Metil-seq) e ensaio de cromatina acessível à transposase com sequenciamento de alto rendimento (ATAC-seq). 

Juntas, essas plataformas fornecem um perfil rico das mudanças moleculares e epigenômicas que ocorrem em resposta ao exercício agudo e crônico. 

Vesículas extracelulares 

No campo das exerquinas, o interesse também está se intensificando no papel das vesículas extracelulares como importantes portadoras de sinais moleculares e impulsionadoras de crosstalk interórgãos relacionados ao exercício. 

As vesículas extracelulares são estruturas membranosas que são liberadas de quase todos os tipos de células, com perfis celulares específicos. 

Elas variam em tamanho, variando de 150 nm a 1.000 nm, e carregam uma variedade de materiais, incluindo proteínas, ácidos nucleicos e lipídios. 

O conteúdo das vesículas extracelulares reflete a composição única e variada das células das quais elas são liberadas. 

Como exemplo de vesículas extracelulares atuando como uma exercina em humanos, o exercício agudo aumenta os níveis plasmáticos de vários microRNAs após o exercício, e o exercício crônico aumenta vários microRNAs no estado de repouso, apoiando a possibilidade de os microRNAs exercerem seus efeitos endócrinos por meio de transporte extracelular baseado em vesícula. 

As vesículas extracelulares podem ser rotineiramente isoladas e perfiladas a partir de meios de cultura celular. Estudar a carga molecular de vesículas extracelulares derivadas do plasma, no entanto, continua sendo excepcionalmente desafiador. 

Crítica para a análise de vesículas extracelulares é a consideração cuidadosa das etapas pré-analíticas, incluindo coleta e isolamento adequados. 

As técnicas de isolamento incluem ultracentrifugação (usando um gradiente de densidade diferencial), ultrafiltração, cromatografia de exclusão de tamanho, espectrometria de massa de alta resolução, eletroforese capilar, fracionamento de fluxo-fluxo assimétrico e captura de imunoafinidade. Além disso, a contaminação no momento da coleta precisa ser considerada, pois as vesículas extracelulares podem surgir da ativação plaquetária ex vivo. 

Um artigo de 2021 apresentou um método otimizado de cromatografia por exclusão de tamanho para análise proteômica de vesículas extracelulares derivadas do plasma de plasma pobre em plaquetas; esta técnica tem maior precisão do que as técnicas convencionais de vesícula extracelular e demonstra um perfil distinto de carga de proteína exossomal após exercício agudo em humanos. 

• Efeitos autócrinos, parácrinos e/ou endócrinos 

Inicialmente, a pesquisa com exercinas se concentrou em alterações nos níveis plasmáticos de citocinas, especialmente antes e depois de uma exposição aguda ao exercício. 

As exercinas clássicas são citocinas, das quais a IL-6 tem sido a mais estudada desde a sua identificação como miocina em 2000 (ref.16). 

Posteriormente, o campo evoluiu para examinar os efeitos endócrinos das exerquinas, onde moléculas secretadas do tecido de origem, tradicionalmente vistas como músculo esquelético, afetam tecidos distantes. 

Especialmente nos últimos 15 anos, o interesse tem aumentado nos efeitos locais das exerquinas, seja no tecido secretor (autócrino) ou no ambiente adjacente (parácrino)(Tabela 1), fontes de exercinas não musculares (Tabela suplementar 1) e no perfil de exercinas, em vez de alterações singulares de exercinas. 

Uma percepção comum entre a comunidade científica em geral é a visão das exerquinas como uma citocina que exerce seus efeitos de forma endócrina, afetando tecidos distantes do tecido originário. As exercinas não são apenas citocinas, no entanto, como hormônios, neurotransmissores ou metabólitos associados ao exercício, como catecolaminas, lactato ou FFAs, também podem servir como exercinas com potencial de sinalização endócrina. 

Do ponto de vista autócrino, as exercinas afetam suas células de origem, acoplando o balanço energético local ao crescimento tecidual e à homeostase metabólica (Tabela 1). 

Por exemplo, no músculo esquelético, os miócitos secretam fatores como lactato,,musclin e miostatina que acoplam o exercício a alterações na biogênese mitocondrial e na utilização de substrato de miócitos. 

Músculos e outros tecidos altamente metabólicos também podem secretar exerquinas que exercem efeitos locais (parácrinos). 

Por exemplo, o músculo secreta fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), angiopoietina 1 (ref.47) e IL-8 (ref.48) para regular a angiogênese tecidual, modular o fluxo sanguíneo e aumentar a disponibilidade de nutrientes para apoiar o crescimento tecidual (Tabela 1). 

Efeitos parácrinos relacionados ao exercício também são observados no sistema nervoso, no tecido adiposo, osso, cartilagem, matriz extracelular e sistema imunológico.

 Relações de exercinas específicas do tecido 

• O sistema cardiovascular 

A atividade física reduz o risco de doença cardiometabólica e mortalidade. Embora o exercício mitigue os fatores de risco cardiovascular tradicionais, como obesidade e dislipidemia, esses benefícios explicam incompletamente os efeitos do exercício na saúde cardiometabólica.

 Estudos em modelos humanos e animais apoiam um papel para as exerquinas que potencialmente melhoram a saúde cardiometabólica (Fig. 2; Tabela 3; Tabela Suplementar 1). 

As exercinas também podem se opor a vários mecanismos associados a doenças cardiovasculares, como inflamação sistêmica persistente, balanço energético desregulado e utilização de combustível. 

Além disso, o aumento da angiogênese associada a certas exercinas pode mitigar a isquemia. 

Notavelmente, o exercício pode melhorar a função endotelial. 

Como o endotélio vascular está na interface entre o sangue e o tecido, sua ampla distribuição e posicionamento estratégico apoiam seu papel potencial como iniciador e receptor de efeitos relacionados a exercinas. 

Por exemplo, a interação entre o endotélio e exercinas estabelecidas, como o óxido nítrico e o VEGF, demonstrou influenciar o tônus vascular, a inflamação, a regeneração e a trombose, e tem um papel importante na resiliência cardiovascular e geral. 

A contração do músculo esquelético produz muitas moléculas que podem melhorar o sistema cardiovascular. 

Estudos em humanos e modelos animais mostraram que as exerquinas angiopoietina 1 (refs49,68,69), fractalkina70,71, fator de crescimento de fibroblastos 21 (FGF21), IL-6, como mostrado na Tabela 3 e na Tabela Suplementar 1, os exemplos incluem angiopoietina, FGF21 (refs73,77), fractalkina70, IL-6 (refs30,78) e IL-8 (refs50,74). 

Músculo esquelético 

Exercinas originárias de vários tecidos demonstraram a capacidade de melhorar a função e o crescimento do músculo esquelético (Tabela 3; Tabela Suplementar 1). 

A apelina é um exemplo de miocina que afeta a função muscular. Em modelos humanos e animais, o exercício aumenta os níveis de mRNA muscular de apelina e possivelmente os níveis séricos de apelina. Em um modelo animal, o músculo esquelético serviu como fonte de secreção de apelina, o que melhorou a função muscular esquelética no cenário do envelhecimento, apoiando o potencial da apelina como terapêutica para combater a sarcopenia relacionada à idade. 

Especificamente em camundongos velhos, o aumento da exposição à apelina (por injeção diária ou superexpressão muscular esquelética) estimulou a biogênese mitocondrial muscular, a síntese de proteínas musculares e o aprimoramento das células-tronco musculares para estimular a regeneração muscular. 

12,13-diHOME é um exemplo de uma batoquina com efeitos tanto em humanos quanto em ratos, o exercício facilita a secreção MTD de 12,13-diHOME, o que aumenta a captação e a oxidação do músculo esquelético AF91. 

As hepatocinas folistatina e fetuína-A também afetam a função muscular. Por exemplo, em humanos e em ratos, o exercício agudo e o exercício crônico aumentam a folistatina secretada no fígado, o que foi relatado para antagonizar os efeitos da miostatina. A diminuição da função da miostatina aumenta o crescimento muscular esquelético e melhora o controle glicêmico de corpo inteiro. 

Além disso, a fetuína-A piora a resistência periférica à insulina, reduzindo a sinalização de insulina e o tráfico de transportador de glicose tipo 439. Embora o exercício agudo em humanos não altere os níveis plasmáticos de fetuína-A97, o exercício crônico pode diminuir os níveis plasmáticos de fetuína-A72. 

Exercinas adicionais envolvidas no crescimento e desenvolvimento muscular incluem o seguinte: IL-7 (ref.102), IL-15 (ref.99), folistatina, fator inibidor da leucemia, syndecano 4 (ref.104) e miostatina. 

O fígado e o intestino 

O exercício reduz a esteatose hepática independentemente da perda de peso. 

O fígado é reconhecido como uma fonte de muitas proteínas circulantes, com ~2.500 proteínas secretadas do fígado identificadas usando modernas tecnologias de cromatografia líquida e espectroscopia de massa. 

Não é de surpreender que o fígado seja a fonte de muitas citocinas agudas responsivas ao exercício (Tabela Complementar 1). 

Essas exercinas afetam o metabolismo da glicose e/ou lipídico (por exemplo, proteína 4 semelhante à angiopoietina em modelos humanos e animais), o escurecimento da WAT (FGF21 em um modelo de camundongo), a lipólise (FGF21 em humanos e um modelo de camundongo) e a manutenção da homeostase celular (proteína de choque térmico em humanos).

O exercício também altera o microbioma intestinal. O exercício crônico em modelos humanos e animais altera a composição e a capacidade funcional da microbiota intestinal, independentemente da dieta; essas mudanças dependentes do exercício na microbiota podem ser independentes do peso, dependendo da intensidade, modalidade e sustentação do exercício. 

Em humanos, o exercício crônico alterou o microbioma intestinal para aumentar a disponibilidade de ácidos graxos de cadeia curta, particularmente butirato. Uma vez que esses participantes cessaram o treinamento, as alterações induzidas pelo exercício na microbiota foram amplamente revertidas quando remedidas após um período sedentário de 6 semanas. 

Os mecanismos pelos quais o exercício pode alterar o microbioma intestinal permanecem numerosos, incluindo alterar a expressão gênica de linfócitos intraepiteliais para um perfil inflamatório mais favorável, influenciar o fluxo sanguíneo no intestinoou alterar a excreção de ácido biliar. 

O sistema endócrino 

Como o exercício estabeleceu benefícios na melhoria da disglicemia, esta seção se concentra especificamente em exercinas que afetam a homeostase da glicose (Tabela 3; Tabela Suplementar 1). 

Em humanos, os níveis circulantes de ácido β-aminoisobutírico (BAIBA) aumentaram com o treinamento crônico e se correlacionaram inversamente com a resistência à insulina. 

Em camundongos do tipo selvagem, o tratamento com BAIBA reduziu a resistência à insulina e suprimiu a inflamação. 

Em outro estudo usando miócitos de camundongo C2C12 e um modelo de camundongo do tipo selvagem (exposição a palmitato ou dieta rica em gordura), o tratamento com BAIBA atenuou a resistência à insulina, reduziu a inflamação e aumentou a oxidação de ácidos graxos através da proteína quinase ativada por AMP (AMPK) e uma via dependente de AMPK-PPARδ no músculo esquelético. 

Dados humanos limitados mostram que uma luta aguda de exercício aumenta os níveis de expressão plasmática e muscular de fractalkina (codificada pela CX3CL1)70, que é uma quimiocina que regula favoravelmente a secreção de insulina estimulada pela glicose, melhorando a função das células β. 

O exercício crônico em humanos também reduz os níveis circulantes de fetulina-A. 

Foi demonstrado que a fetulina-A prejudica a detecção de células β, reduzindo a secreção de insulina estimulada pela glicose. 

Em humanos, tanto o exercício agudo quanto o exercício crônico aumentam os níveis circulantes de folistatina. 

A medida em que a folistatina pode melhorar as medidas glicêmicas permanece controversa. 

Após a cirurgia bariátrica, foram observadas melhorias na HbA1c no cenário de níveis reduzidos de folistatina. 

Além disso, a inativação da folistatina hepática em um modelo de camundongo melhorou a sensibilidade ao WAT e reduziu a produção hepática de glicose. 

In vitro, a irisina preveniu a lipogênese excessiva de ilhotas de camundongos sob condições glicolipotóxicas, resultando em melhora da secreção de insulina, inibição da apoptose e restauração da expressão gênica relacionada à função das células β. 

A mioquina IL-6 também está associada a alterações favoráveis na homeostase da glicose. 

Em humanos, a infusão de IL-6 retarda o esvaziamento gástrico e reduz os níveis de glicose pós-prandial. 

Em roedores, o aumento da IL-6 por exercício ou por injeção de IL-6 aumenta a produção do peptídeo 1 semelhante ao glucagon pelas células L intestinais e células α pancreáticas para aumentar a secreção de insulina estimulada pela glicose. 

Esses benefícios da IL-6 no aumento da secreção de insulina foram observados em vários modelos de roedores do DM2. 

Em humanos saudáveis, a infusão de IL-6 em níveis semelhantes aos observados com exercícios extenuantes aumenta a captação de glicose estimulada pela insulina, mas não altera a lipólise de corpo inteiro ou a oxidação lipídica. 

No entanto, outro estudo sobre a infusão de IL-6 em humanos descobriu que a IL-6 estimula a lipólise e a oxidação lipídica. 

Mais pesquisas sobre essas descobertas aparentemente conflitantes são necessárias para estabelecer o efeito das exercinas no metabolismo da glicose. 

• O sistema nervoso 

O exercício é uma estratégia não farmacológica promissora para manter e melhorar a função cerebral. 

A Figura 4 apresenta uma visão geral dos supostos efeitos do exercício no sistema nervoso (Tabela Complementar 1). 

Vale ressaltar que as evidências para os benefícios do exercício na cognição permanecem variáveis, provavelmente devido à falta de ensaios clínicos randomizados ao longo da vida com intervenções padronizadas de exercício e métodos comparáveis para avaliação cognitiva. 

Os efeitos do exercício no cérebro são mais aparentes no hipocampo, uma parte do cérebro envolvida no aprendizado e na memória. 

Em idosos (de 55 a 80 anos), a participação em um programa de caminhada aeróbica aumentou o volume do hipocampo e melhorou a memória. 

Além disso, evidências acumuladas sugerem que a atividade física, como mostrado em estudos pré-clínicos, observacionais e intervencionistas em humanos, pode prevenir ou retardar o aparecimento de condições neurodegenerativas. 

Em humanos, o exercício agudo aumenta os níveis plasmáticos de fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), enquanto o treinamento físico crônico mostrou não alterar, aumentar ou até mesmo diminuir os níveis plasmáticos de BDNF. 

Em roedores, o exercício crônico regula positivamente o BDNF no hipocampo, o que é essencial para a neurogênese hipocampal adulta e a plasticidade neural. 

O exercício crônico em roedores também aumenta a plasticidade sináptica do hipocampo, a neurogênese adulta e os níveis de neurotrofina, bem como a função da memória. 

Além disso, o funcionamento voluntário de rodas em roedores aumenta o número de novos neurônios do hipocampo, aumenta a maturação morfológica, como ramificação dendrítica e densidade da coluna vertebral, e altera o circuito dos neurônios nascidos em adultos. 

Há um reconhecimento crescente de que fatores periféricos podem desencadear os efeitos do exercício no cérebro. Nos últimos 20 anos, os pesquisadores começaram a testar a hipótese de que metabólitos, peptídeos e proteínas liberados do fígado, adipócitos, células sanguíneas (particularmente plaquetas) e músculos podem influenciar o sistema nervoso central. 

Desde 2020, vários estudos transferiram plasma de animais exercitados para animais sedentários, com melhorias subsequentes na função cognitiva, apoiando a presença de um fator transferível na melhoria da função cognitiva. 

Atualmente, estão se acumulando evidências de que fatores liberados do tecido não neuronal e entregues pela vasculatura ao cérebro podem ter papéis importantes na plasticidade sináptica, na função da memória e na regulação do humor. 

A adiponectina é uma proteína secretada por adipócitos que parece ter efeitos neuroprotetores, além de seus efeitos sensibilizantes à insulina, anti-inflamatórios e antiaterogênicos. 

Em camundongos, foi demonstrado que a adiponectina passa pela barreira hematoencefálica e foi associada ao aumento da neurogênese e à redução de comportamentos semelhantes à depressão. 

Curiosamente, podem existir discrepâncias entre os níveis plasmáticos de adiponectina e os níveis no líquido cefalorraquidiano. 

Por exemplo, em humanos, o exercício agudo aumenta os níveis plasmáticos de adiponectina, mas diminui os níveis de adiponectina no líquido cefalorraquidiano. 

Os mecanismos subjacentes aos efeitos benéficos do exercício na estrutura e função cerebral continuam sendo uma área ativa de investigação. 

Conclusões 

Embora o exercício exerça muitos efeitos benéficos em vários sistemas de órgãos, nossa compreensão dos mecanismos que impulsionam os benefícios do exercício e a variabilidade nesses benefícios permanece rudimentar. 

Grande parte da pesquisa inicial de exerquinas foi focada no músculo esquelético; no entanto, a pesquisa contemporânea está agora se expandindo rapidamente para incluir fontes e alvos baseados em músculos não esqueléticos para exercinas que contribuem para manter e restaurar a saúde. 

As exerquinas são cada vez mais reconhecidas como mediadoras críticas de mudanças relacionadas ao exercício e benefícios para a saúde, particularmente em seu papel na comunicação e coordenação interórgãos e sistêmicas. 

No entanto, ainda há muito a ser feito. Para melhorar a tradução dos resultados, a heterogeneidade entre os estudos precisa ser minimizada reduzindo a variabilidade da exposição e usando medidas de desfecho padronizadas e consistentes. 

Estudos estruturados em larga escala serão recursos-chave para fornecer um ambiente estruturado para buscar futuras questões relacionadas a exerquinas. 

Em resumo, as exerquinas são uma direção altamente promissora para futuras iniciativas de pesquisa, com alto potencial como biomarcadores para prever resultados, facilitar programas de exercícios personalizados para melhorar a saúde, reduzir doenças e promover resiliência ao longo da vida. 

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Artigo original:
Chow, L.S., Gerszten, R.E., Taylor, J.M. et al. Exerkines in health, resilience and disease. Nat Rev Endocrinol (2022). https://doi.org/10.1038/s41574-022-00641-2