segunda-feira, 30 de maio de 2022

'Anamnese espiritual', 'saúde psicológica', 'escuta compassiva': a espiritualidade no contexto clínico

 Há dois anos, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) incluiu o tópico “Espiritualidade e Fatores Psicossociais em Medicina Cardiovascular” na atualização de suas diretrizes. Passados os anos, fica a dúvida: “Já temos evidências suficientes para inserir espiritualidade no plano terapêutico?”

Essa e outras perguntas foram debatidas no colóquio sobre espiritualidade, realizado em 11 de maio no 39º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj).

Os debatedores esclareceram que não se trata de abordar a religiosidade ou interferir na religião dos pacientes. “É preciso entender que o médico não vai orar com o paciente, não vai ‘prescrever religião’”, afirmou o Dr. Sergio Lívio Menezes Couceiro, cardiologista, intensivista e presidente do Departamento de Espiritualidade e Medicina Cardiovascular (DEMCA) da Socerj. Segundo ele, o objetivo é despertar o entendimento de que o indivíduo precisa ressignificar a sua existência e o seu comportamento.

“De forma muito robusta, os estudos já comprovam o benefício da espiritualidade na [redução da] mortalidade e de eventos cardiovasculares. Um deles é [a declaração científica] da American Heart Association (AHA), publicada em 2021 [no periódico] Circulation,[1] que aborda a chamada conexão entre mente, coração e corpo. O trabalho fala muito claramente sobre a importância da anamnese e indica que inclua a avaliação da chamada ‘saúde psicológica negativa’, que inclui fatores como depressão, ansiedade e raiva, bem como da chamada ‘saúde psicológica positiva’, incluindo fatores como resiliência, senso de propósito e gratidão”, afirmou o Dr. Júlio César Tolentino, professor adjunto de clínica médica e espiritualidade da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Mas como isso funciona na prática? Como deve ser essa abordagem com os pacientes? Ricardo Bedirian, professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), explicou que existem intervenções sendo estudadas e que a proposta inclui um cuidado integral do paciente, a chamada medicina comportamental, cuja nomenclatura está sendo atualizada para medicina de estilo de vida.

“Temos que aplicar a ‘anamnese espiritual’, identificar se os pacientes têm demandas [especificas,] para que consigam fazer as modificações e [então] aderir ao tratamento. Sabemos que alguns aspectos relacionados ao sofrimento espiritual impactam negativamente, levando a maior adoecimento cardiovascular. Temos que pensar em um contexto de prevenção primária e prevenção secundária”, disse o professor, citando meditação e outras práticas que estimulam a psicologia positiva, como a “intervenção da gratidão” e a “intervenção do perdão”, que estão sendo estudadas e testadas por cardiologistas.

Como entender “a anamnese espiritual”? Quais benefícios sustentam esse tipo de estratégia? Tais questões foram levantadas pelo moderador da sessão, Dr. Roberto Esporcatte, médico e coordenador do DEMCA.

Neste sentido, o Dr. Sergio falou sobre a importância do conceito de enfermidade moral. Segundo ele, este é um termo que ainda está em construção e apresenta poucas (mas algumas) diferenças entre a literatura nacional e a estrangeira. O ponto central reside no entendimento de que é importante voltar aos mecanismos causadores da doença: “Quando começou? Qual é a doença?”. Para o Dr. Sergio, as atitudes e o comportamento do paciente podem explicar se há um processo de enfermidade moral

“Não se trata de discutir moral e ética, mas a forma como esse paciente está tendo uma conexão com o mundo que o cerca e com o seu mundo interior. A enfermidade moral não é observada por meio de exames de imagem ou laboratoriais, mas pode ser avaliada através de escalas e questionários. Já fazíamos isso antes, mas não tínhamos dado um nome à prática. Sabemos hoje que o perdão está associado a melhor evolução da doença arterial coronariana e a gratidão à melhora da insuficiência cardíaca. E que a raiva influencia na insuficiência ventricular esquerda. Temos os exemplos da síndrome de Takotsubo, da doença de minoca (myocardial infarction and nonobstrutive coronary arteries) e dos transtornos de ansiedade e depressão. A enfermidade está na forma como estamos percebendo o mundo e absorvendo o estresse que o mundo nos traz”, disse Dr. Sergio.

O Dr. Julio Tolentino lembrou que a Escala FACIT-Sp-12 de Bem-estar Espiritual, por exemplo, é muito usada nas suas três dimensões: paz, fé e sentido, aspectos importantes tanto para a estratégia terapêutica como para ensaios clínicos (observacionais e de intervenção), contribuindo assim para o procedimento científico, conforme vem sendo verificado a partir de artigos e colaborações em periódicos internacionais. “É uma retomada da ciência em construção, temos que ficar atentos. O desafio é entender o conceito de enfermidade e ter estratégias mais bem definidas”, disse.

Também há dificuldades na esfera clínica. Afinal, como avançar na obtenção dessas informações e no entendimento de enfermidade moral no contexto clínico (p. ex., ambulatórios e hospitais) diante da complexidade apresentada por tais questões, que são de foro privado? Para o cardiologista do Hospital da Força Aérea do Galeão e professor da Universidade de Vassouras, Dr. Vitor Moreira Alvarenga, o segredo está na escuta.

“Devemos sempre buscar a escuta compassiva ao paciente, deixá-lo falar. Ele vai manifestar emoções e conflitos. É verdade que temos questionários, que podem ajudar a avaliar, porém, mais do que tudo, necessitamos ouvir sem julgamentos e entender o sofrimento espiritual. Entender a dor física e o acometimento orgânico [é importante], mas não apenas, e sim também levar nossa compreensão ao estresse social e de suas relações, às dificuldades financeiras e ao estresse psicológico, como ansiedade e depressão. Temos que estar atentos quando os pacientes demonstram emoções negativas que traduzem isso”, ressaltou o Dr. Vitor.

O Dr. Ricardo concordou e completou, sinalizando que os questionários são mais apropriados para efeito de pesquisa, que o médico precisa saber o que está buscando. “Eu gosto do modelo de Fisher, dos quatro domínios da espiritualidade: pessoal, interpessoal, ambiental e o transcendental. Tendo em mente esses aspectos, vamos apurar como isso impacta no processo de adoecimento e no tratamento do paciente. É uma abordagem de múltiplos aspectos”, disse.

O Dr. Sergio concordou que o padrão-ouro continua sendo o estudo randomizado, mas alertou que as escalas e os questionários contribuem para a mensuração da enfermidade espiritual que, a partir de então, pode ser classificada como leve, moderada ou severa. Segundo ele, “essa é a proposta do Departamento de Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da Socerj, braço integrante da iniciativa da Sociedade Brasileira de Cardiologia, do ponto de vista nacional, e que caminha na vanguarda a nível internacional”.

domingo, 29 de maio de 2022

Ácido fítico x gases x diminuição da absorção dos nutrientes

 


sexta-feira, 27 de maio de 2022

Pacientes que tomam medicamento experimental para obesidade perderam mais de 22 quilos, afirma fabricante

Os dados ainda não foram revisados ​​por pares ou publicados.  Mas especialistas disseram que a droga pode dar às pessoas com obesidade uma alternativa à cirurgia bariátrica.

Um medicamento experimental permitiu que pessoas obesas ou com sobrepeso perdessem cerca de 22,5% de seu peso corporal, cerca de 22 quilos em média, em um grande teste, anunciou o fabricante do medicamento na quinta-feira.

A empresa, Eli Lilly, ainda não enviou os dados para publicação em uma revista médica revisada por pares ou os apresentou em um ambiente público. Mas as alegações, no entanto, surpreenderam os especialistas médicos.

“Uau (e um duplo Uau!)” Dr. Sekar Kathiresan, executivo-chefe da Verve Therapeutics, uma empresa focada em medicamentos para doenças cardíacas, escreveu em um tweet. Drogas como a de Eli Lilly, ele acrescentou, “realmente vão revolucionar o tratamento da obesidade!!!”

Dr. Kathiresan não tem vínculos com a Eli Lilly ou com a droga.

Dr. Lee Kaplan, especialista em obesidade do Hospital Geral de Massachusetts, disse que o efeito da droga “parece ser significativamente melhor do que qualquer outro medicamento anti-obesidade atualmente disponível nos EUA”. Os resultados, acrescentou, são “muito impressionantes”.

Dr. Kaplan, que presta consultoria para uma dúzia de empresas farmacêuticas, incluindo a Eli Lilly, disse que não estava envolvido no novo teste ou no desenvolvimento desta droga.

 Em média, os participantes do estudo pesavam 105 quilos no início e tinham um índice de massa corporal, ou IMC.  — uma medida comumente usada de obesidade — de 38. (A obesidade é definida como um IMC de 30 e superior.)

No final do estudo, aqueles que tomaram as doses mais altas do medicamento Eli Lilly, chamado tirzepatide, pesavam cerca de 82 quilos e tinham um IMC. pouco abaixo de 30, em média.

Os resultados excedem em muito aqueles geralmente vistos em ensaios de medicamentos para perda de peso e geralmente são vistos apenas em pacientes cirúrgicos.

Alguns participantes do estudo perderam peso suficiente para cair na faixa normal, disse o Dr. Louis J. Aronne, diretor do programa abrangente de controle de peso do Weill Cornell Medical Center, que trabalhou com Eli Lilly como investigador principal do estudo.

A maioria das pessoas no estudo não se qualificou para a cirurgia bariátrica, que é reservada para pessoas com IMC. mais de 40, ou aqueles com um B.M.I. de 35 a 40 com apnéia do sono ou diabetes tipo 2.

O risco de desenvolver diabetes é muitas vezes maior para pessoas com obesidade do que para pessoas sem ela.

Uma porta-voz da Eli Lilly disse que a empresa não tem um cronograma público para buscar a aprovação do medicamento junto à Food and Drug Administration.

Como a obesidade é uma condição médica crônica, os pacientes precisariam tomar tirzepatide por toda a vida, como fazem com medicamentos para pressão arterial ou colesterol, por exemplo.

Dr. Robert F. Kushner, especialista em obesidade da Faculdade de Medicina Feinberg da Northwestern University e consultor pago da Novo Nordisk, disse que o novo medicamento, juntamente com um similar, mas menos eficaz, da Novo Nordisk, pode fechar a chamada lacuna de tratamento.

Dieta e exercício, combinados com medicamentos anteriores para obesidade, geralmente produzem uma perda de peso de cerca de 10% nos pacientes. Isso é suficiente para melhorar a saúde, mas não o suficiente para fazer uma grande diferença na vida das pessoas obesas.

O único outro tratamento é a cirurgia bariátrica, que pode resultar em perda de peso substancial. Mas muitas pessoas são inelegíveis ou simplesmente não querem a cirurgia.

Com a droga da Eli Lilly e a semaglutida da Novo Nordisk, que foi recentemente aprovada, “estamos realmente à beira de uma nova forma de tratamento”, disse Kushner.

Mas os preços podem ser uma barreira. As seguradoras geralmente não pagam por medicamentos para perda de peso. O medicamento da Novo Nordisk, cuja marca é Wegovy, tem um preço de tabela de US$ 1.349,02 por mês.

Especialistas temem que a tirzepatide, se aprovada, possa ter um preço na mesma faixa. Muitas pessoas que mais poderiam se beneficiar da perda de peso podem não ter condições de pagar esses medicamentos caros.

O estudo da Eli Lilly durou 72 semanas e envolveu 2.539 participantes. Muitos se qualificaram como obesos, enquanto outros estavam acima do peso, mas também apresentavam fatores de risco como pressão alta, níveis elevados de colesterol, doenças cardiovasculares ou apneia obstrutiva do sono.

Eles foram divididos em quatro grupos. Todos receberam aconselhamento dietético para reduzir a ingestão de calorias em cerca de 500 por dia.

Um grupo foi aleatoriamente designado para tomar um placebo, enquanto os outros três receberam doses de tirzepatide variando de 5 miligramas a 15 miligramas. Os pacientes se injetavam com a droga uma vez por semana.

Aqueles que tomaram a dose mais alta perderam mais peso, descobriram os pesquisadores. Os participantes que tomaram placebo perderam 2,4% de seu peso, uma média de 2,5 quilos, típico de um estudo de dieta.

A Dra. Nadia Ahmad, diretora médica sênior do programa de obesidade da Eli Lilly, disse que ver os resultados foi um momento emocionante para ela.

“Acho que nunca imaginei que poderíamos atingir esse grau de perda de peso com um remédio”, disse ela. “Só chegamos até aqui com a cirurgia.”

Durante décadas, as pessoas com sobrepeso ou obesidade foram informadas de que resolver o problema dependia delas. Dieta e exercício eram as prescrições, e simplesmente não funcionavam para muitas pessoas. A maioria tentou dieta após dieta, apenas para recuperar o peso perdido.

No ano passado, a situação começou a mudar quando a Novo Nordisk recebeu aprovação da Food and Drug Administration para comercializar a semaglutida. A droga pode provocar uma perda de peso de 15% a 17% em pessoas com obesidade.

Os medicamentos estão entre uma nova classe de drogas chamadas incretinas, que são hormônios naturais que retardam o esvaziamento do estômago, regulam a insulina e diminuem o apetite. Os efeitos colaterais incluem náuseas, vômitos e diarréia.  Mas a maioria dos pacientes tolera ou não se incomoda com esses efeitos.

As incretinas elevam o padrão para o tipo de perda de peso possível com drogas. Mas elas também  colocam questões difíceis sobre se a cirurgia bariátrica está se tornando uma relíquia do passado. Já existem novas versões de incretinas em desenvolvimento que podem ser ainda mais poderosas do que a droga Eli Lilly.

Mesmo sem elas, disse o Dr. Aronne, as reduções observadas com o medicamento Eli Lilly estão “quase na faixa da perda de peso cirúrgica”.

Alguns pacientes que fizeram cirurgia bariátrica descrevem resultados mistos. Sarah Bramblette, membro do conselho da Obesity Action Coalition, fez uma cirurgia bariátrica apenas para recuperar o peso.

Agora com 44 anos, ela pesava 226 quilos quando foi operada há 20 anos, o que lhe permitiu chegar a 115 quilos. Ao longo dos anos, porém, seu peso voltou para 222 quilos. Ela precisava de cirurgia cardíaca, mas era muito pesada para a mesa de operação. Dietas – e ela as tentou repetidamente – não ajudaram.

A semaglutida da Novo Nordisk permitiu que ela chegasse a 195 quilos. Agora, disse a Sra. Bramblette, ela gostaria de experimentar a droga Eli Lilly se ela estiver disponível.

"Confie em mim, eu não escolheria ser desse tamanho", disse Bramblette. "Eu preciso perder peso."


quinta-feira, 26 de maio de 2022

Você realmente precisa de hormônios para ganhar massa muscular?

 


Bacon e gorduras saturadas à vontade ?

Muitas pessoas que seguem a estratégia lowcarb ou dieta cetogênica aumentam por conta própria a frequência e a quantidade do consumo de bacon 🥓, principalmente pela crença de que seria algo "saudável" (por se tratar de um alimento mais "natural") e que traria menor ganho de peso do que os carboidratos.

Mas saiba que o fato de você consumir em excesso e em grande frequência, assim como qualquer outro alimento, fará com que você tenha prejuízos à saúde, a médio e longo prazo.

O bacon é um alimento considerado embutido e, como qualquer outro alimento classificado nesse grupo, as recomendações com evidências científicas orientam consumir com cautela. Por exemplo, há estudos demonstrando que o consumo de 50g ou mais por dia desse grupo de alimentos (embutidos) pode aumentar significativamente a incidência de alguns tipos de cânceres, como o de cólon. 

Além disso, trata-se de um alimento com elevado teor de gorduras saturadas, o que também deve ser considerado portadores de:
  • Hipercolesterolemia 
  • Hipertensão arterial
  • Doença coronariana
  • Doenças neurodegenerativas
  • Diabetes mellitus tipo 1 e 2
  • Doença de Crohn
  • Retocolite ulcerativa
  • Supercrescimento bacteriano do intestino delgado
  • Supercrescimento fúngico
  • Gastrite
  • Doença do refluxo
  • Câncer do trato digestivo
  • Diarréia crônica
  • Síndrome do intestino irritável
  • Pancreatite crônica
  • Depressão, ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia
Ou seja, condições em que o consumo de gordura saturada pode piorar o quadro clínico. 
 
Então, cuidado para não acreditar que o carboidrato é o vilão e que o bacon é sinônimo de saúde! Tenha moderação no seus hábitos alimentares.

Autores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

Chip da beleza pode causar malefícios para as mulheres

É crescente o número de pessoas que ligam aqui na clínica perguntando:
"Quanto custa o chip da beleza"
"Qual o valor do implante hormonal"
"Como faz para colocar chip hormonal"
"Quem indicamos para implantes hormonais em Goiânia"

Primeiramente, quero frisar pela milésima vez nesse blog, que eu abomino implantes hormonais. Atendo praticamente toda semana pacientes que tiveram complicações decorrente do uso do chip e com isso preciso encaminhar para amigos endocrinologistas e dermatologistas. Acne, queda de cabelo, virilização são os efeitos que mais tenho recebido no consultório.

Segundo, quero deixar claro, que a própria Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) em seu site, não recomenda terapias hormonais para fins estéticos, modulação hormonal, terapia antienvelhecimento. Ou seja, para as pessoas que pensam que isso faz parte da Nutrologia, a própria ABRAN deixa claro que não faz parte: https://abran.org.br/2018/03/14/rol-de-procedimentos/ e https://abran.org.br/2018/03/04/posicionamento-sobre-a-modulacao-hormonal/
E aqui na clínica exercemos Nutrologia e Nutrição baseado no que a ABRAN, CFM, CFN recomendam. Ou seja, não trabalhamos com implantes hormonais, nem indicamos quem o faça.

att

Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13.192 - RQE 11915
Dr. Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da educação física. 


Desde a publicação do estudo Women's Health Initiative (WHI)[1], em 2002, muitos médicos passaram a ter receio em prescrever terapia hormonal para mulheres no climatério. Além disso, é comum que as próprias pacientes tenham medo do tratamento. Mas, segundo especialistas, quando bem indicada e individualizada, a reposição hormonal pode trazer grandes benefícios, principalmente com relação às queixas vasomotoras.

Isso difere do que acontece com o chamado “chip da beleza”, que embora esteja sendo cada vez mais utilizado, é contraindicado por várias entidades médicas, entre elas, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), alertaram especialistas durante colóquio do 39° Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), realizado de forma virtual em maio deste ano.

Na sessão científica intitulada “Terapia de reposição hormonal no homem e mulher – O que o cardiologista precisa saber?”, moderada pelo Dr. Luiz Antonio de Almeida Campos, médico cardiologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Hupe/Uerj) e do Hospital Pró-Cardíaco, um time multidisciplinar de debatedores abordou desde os riscos e benefícios da terapia hormonal (TH) na menopausa até temas ainda mais espinhosos, como o "chip da beleza" e efeitos do abuso da testosterona na mulher e no homem.

Terapia hormonal na menopausa: quando e para quem?

A TH é o tratamento ideal para os sintomas vasomotores característicos do climatério que, segundo a Dra. Clarissa Antunes Thiers, médica cardiologista do Instituto Nacional de Cardiologia e do Hospital Samaritano e professora da Universidade Estácio de Sá, são um indício de disfunção endotelial.

"Sabemos que a mulher que tem sintoma vasomotor precocemente tende a ter esses sintomas com mais frequência, mais intensidade e por mais tempo. Então, se ela não tiver nenhuma contraindicação à reposição hormonal, vai se beneficiar muito", corroborou a Dra. Flávia Lúcia Conceição, médica endocrinologista, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O ideal é iniciar a TH em mulheres até 60 anos de idade ou nos primeiros dez anos após a menopausa (janela de oportunidade). Segundo a Dra. Flávia, não é uma recomendação tratar menopausa para diminuir o risco cardiovascular, porém as mulheres que usam TH porque têm sintomas vasomotores talvez se beneficiem também com relação ao risco cardiovascular, além de se beneficiarem no aspecto ósseo, com redução do risco de fraturas.

A Dra. Clarissa disse que, em algumas situações, a TH é amplamente preconizada, por exemplo, nas mulheres com menopausa precoce (antes dos 45 anos) e com insuficiência ovariana prematura. “Se não fizermos a reposição hormonal, aumentamos o risco cardiovascular dessa mulher”, destacou.

A individualização do tratamento é algo importante. Os profissionais devem lançar mão de ferramentas de estratificação de risco cardiovascular e fazer uma anamnese ampla, reunindo informações desde a história gestacional. "Quanto mais alto o risco cardiovascular da mulher, menor a probabilidade de prescrever terapia combinada oral, por exemplo", disse a Dra. Clarissa, lembrando que, para aquelas que apresentam risco cardiovascular intermediário, é importante buscar marcadores de aterosclerose. Já, no caso daquelas com alto risco, isto é, que já tiveram algum evento, a TH é contraindicada.

Manter um protocolo de acompanhamento também é importante para a mulher que passa pelo processo do climatério. Segundo a Dra. Célia Regina Silva, médica ginecologista e obstetra, professora da UFRJ, segunda vice-presidente do Cremerj e vice-presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro (SGORJ), esse protocolo envolve desde a avaliação do lipidograma e do hepatograma até o monitoramento com mamografia, principalmente se a mulher fizer uso de TH.

No caso de mamas densas, deve-se associar ultrassonografia mamária. Para pacientes com útero, também deve ser feito o controle endometrial anual. A densitometria óssea geralmente é iniciada a partir dos 65 anos, porém pode ser antecipada em situações especiais, por exemplo, nas mulheres que passaram por cirurgia bariátrica ou com fatores de risco para osteoporose.

Reposição hormonal com testosterona

Segundo o Dr. Paulo Roberto Magalhães Bastos, médico urologista, membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), não existe indicação, salvo em situações extremamente especiais, para reposição de testosterona em mulheres. "Essa febre de reposição de testosterona, ‘chip da beleza’, é uma falácia e, até certo ponto, criminoso", ressaltou. Isso porque o implante desse hormônio pode causar malefícios que, de acordo com a Dra. Clarissa, incluem aumento do risco de infarto, de insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC). Outro problema é a incerteza quanto à real composição desses implantes.

Os médicos lembraram que não se dosa testosterona na mulher. Na verdade, mesmo quando há indicação de TH na menopausa, não se deve dosar hormônios nas mulheres para ajustar doses. A adequação da dosagem da TH é orientada pelo alívio dos sintomas.

No caso dos homens, explicou o Dr. Paulo, as diretrizes e as sociedades médicas recomendam a reposição da testosterona apenas quando há sintomas claros de déficit desse hormônio, acompanhados de duas dosagens inferiores a 200 ng/dL, que tenham sido realizadas de forma adequada, pela manhã e com intervalos de 7 a 15 dias. A Dra. Flávia acrescentou que pacientes com hipogonadismo precisam de reposição.

Um aspecto que ainda causa dúvida em muitos profissionais é com relação ao risco de câncer de próstata. No entanto, o Dr. Paulo destacou que a reposição de testosterona não aumenta o risco desse tipo de câncer. “Hoje, o urologista está autorizado – todos os guidelines mostram isso – a repor testosterona em pacientes tratados e curados de câncer de próstata”, disse, explicando que é o caso daqueles que tem dois anos de prostatectomia radical ou de radioterapia e com antígeno prostático específico (PSA) normal. No entanto, vale lembrar que pacientes na faixa dos 50 anos de idade devem ser estratificados para risco de câncer de próstata antes de iniciar reposição com testosterona.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Com que frequência o pré-diabetes em idosos se transforma em doença completa?

 Com que frequência o pré-diabetes em idosos se transforma em doença completa?
 — Estudo encontra taxa de progressão anual estimada para diabetes de 5,3%

Cerca de um em cada 20 adultos com 65 anos ou mais com pré-diabetes progredirá para diabetes clínico no ano seguinte, mostraram dados do estudo Longitudinal Epidemiologic Assessment of Diabetes Risk (LEADR).

Dos mais de 50.152 idosos no estudo com diagnóstico confirmado de pré-diabetes pelo teste de HbA1c, 14,3% progrediram para diabetes em um período médio de acompanhamento de 2,3 anos, de acordo com Alain K. Koyama, ScD, do CDC em Atlanta e colegas.

Isso resultou em uma taxa de progressão anual estimada (APR) de 5,3% (IC 95% 5,1-5,4), eles escreveram em uma carta de pesquisa do JAMA Network Open.

Vários fatores clínicos foram preditivos de quais pacientes progrediriam de pré-diabetes (HbA1c dentro de um intervalo de 5,7% a 6,4%) para diabetes (HbA1c de 6,5% ou superior), sendo os preditores mais fortes o índice de massa corporal (IMC) e o nível inicial de HbA1c.

Olhando primeiro para o IMC, a taxa de indivíduos que progrediram para diabetes aumentou em conjunto com um IMC mais alto. A taxa de diabetes incidente foi a mais alta para aqueles com obesidade grave (IMC de 40 ou superior):

• IMC <18,5: 3,9% APR
 • 18,5-24,9: 3,5%
 • 25-29,9: 4,9%
 • 30-34,9: 6,4%
 • 35-39,9: 7,3%
 • ≥40: 7,6%

Quanto aos níveis de HbA1c, houve uma diferença gritante na taxa de pessoas que progrediram para diabetes se estivessem na extremidade inferior da faixa "pré-diabetes" versus a extremidade superior. Por exemplo, pacientes com níveis de HbA1c de 5,7% a 5,9% tiveram um APR de 2,8% (IC 95% 2,7-2,9) versus 8,2% (IC 95% 7,9-8,4) para aqueles com níveis de HbA1c de 6,0% a 6,4%.

Como esperado, aqueles com história familiar de diabetes progrediram a uma taxa maior de pré-diabetes para diabetes, assim como aqueles com diagnóstico de hipertensão versus indivíduos normotensos.

Mas não houve muita diferença entre as faixas etárias quando se trata de progressão do diabetes, com taxas semelhantes observadas entre pessoas nos grupos de 65 a 69, 70 a 74, 75 a 79 e 80 anos ou mais. Da mesma forma, houve APRs geralmente semelhantes entre as raças e etnias diferentes, inclusive para pacientes negros, hispânicos, asiáticos/ilhas do Pacífico e pacientes brancos.

“Nossas descobertas podem fornecer informações importantes para avaliar a relação custo-benefício das intervenções no estilo de vida em idosos com pré-diabetes identificados por testes de HbA1c em ambientes clínicos”, escreveu o grupo de Koyama, embora tenha alertado que “sua amostra baseada em registros eletrônicos de saúde era representativa  de pacientes que compõem as organizações de saúde que contribuem com dados e podem não ser representativos da população geral dos EUA."

Um estudo de 2021 do JAMA Internal Medicine descobriu que, em uma coorte comunitária de idosos, a prevalência de pré-diabetes era alta, mas que durante o período do estudo, a regressão à normoglicemia ou morte ocorreu com mais frequência do que a progressão para diabetes, então os "achados sugerem que o pré-diabetes pode não ser uma entidade diagnóstica robusta na velhice", afirmaram os autores. Ainda assim, há agora uma ênfase maior na prevenção do diabetes, especialmente em uma população pré-diabetes.

Em uma declaração de 2021, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA deu à triagem de pré-diabetes e diabetes tipo 2 em adultos (35 a 70 anos) com sobrepeso ou obesidade uma recomendação de grau "B".

A Força-Tarefa aconselhou os profissionais de saúde a oferecer ou encaminhar pacientes com pré-diabetes para "intervenções preventivas eficazes".

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terça-feira, 24 de maio de 2022

Falácias de uma "medicina mais natural"


Quem me acompanha sabe que sempre primei por tratamentos menos invasivos, quando possível. Menos medicação/suplementação, mais alimentação. Talvez por já ter sido vegetariano. Por gostar de fitoterapia. Por indicar muito acupuntura, homeopatia, psicoterapia. 

Tempos atrás atendi um paciente que me disse que foi em um profissional que viu no instagram. Acompanhando as postagens do dito profissional, acreditou que o mesmo fosse de uma linha "mais natural", já que o mesmo alegava que estudava Ayurveda, falava de meditação, "coisas sobre o céu, a água e o ar", tipo a Mônica, do Renato Russo. 

Então, o natureba foi consultar com o profissional natureba! Que até então ele acreditava ser natureba. Já no agendamento a secretária informou que o Dr. só atendia se o paciente levasse uma lista de exames. Já até escrevi sobre isso aqui no blog, o quão anti-ética é essa prática: http://www.ecologiamedica.net/2020/05/por-que-e-errada-solicitacao-de-exames.html 

Lesiva não só para o paciente que fará exames provavelmente desnecessários, lesiva para o plano de saúde que terá um prejuízo (e não se engane, ele vai repassar isso para o cliente no futuro), lesiva para o meio ambiente (afinal mais resíduo é gerado devido a coleta de sangue). 

Meu paciente então topou. Achou estranho, mas não é todo dia que se acha um profissional natureba, que fala "coisas sobre o céu, a água e o ar". Fez os exames, tirou cerca de 30 tubos de sangue e levou o calhamaço para o Dr. Natureba. 

Consultório luxuoso, nada condizente com quem prega um minimalismo. Consulta obviamente superficial, na qual segundo o paciente, o profissional só ia riscando as páginas e falando que o paciente estava com várias alterações. 

Exame físico? Só foi colocado em uma bioimpedância (sem preparo algum) e verificou-se a pressão. Quase nada esmiuçou as queixas do paciente. Após 30 minutos deu diversos diagnósticos baseado nos exames e prescreveu:
  • 2 páginas de suplementos
  • 1 receita de testosterona
  • 1 receita de Lisdexanfetamina (Venvanse)
  • 10 sessões de soroterapia pro cérebro
  • Encaminhou para a nutricionista que também atua na clínica
Fim da consulta.

Paciente decepcionado. Cadê o céu, a água e o ar? Cadê a meditação? Cadê o poder curativo da alimentação? Cadê a água com limão e gratidão? Cadê o papel social desse médico? Cadê a preocupação com o meio ambiente? 

E assim, mais um paciente foi enganado com a falsa imagem de médico natureba. 

E aí vocês me perguntam, se ele precisava disso tudo?

Bem, ele precisa de:
  • Ser ouvido
  • Ser examinado
  • Ser orientado
  • Água
  • Dormir no mínimo 7 horas por noite, parar de ficar usando o celular antes de dormir.
  • Precisa melhorar a relação com os membros da família e parar de querer controlar os colegas do trabalho.
  • Precisa visitar mais os pais e ter mais momentos de lazer. 
  • Psicoterapia urgentemente.
  • Acupuntura com dois grandes amigos que seguem a mesma linha minha: Dr. Pedro Prudente ou Dr. Rodrigo Suarez. 
  • Contato com a natureza: detalhe, mora em um apartamento de frente a um parque.
  • Atividade física, a que menos odeia. Só gosta de Yoga, então faça yoga. No futuro quando ele tiver mais abertura, quem sabe eu sugiro algum treinamento de força.
  • A ferritina está elevada mas devido o sobrepeso, se praticar atividade física, aumentar a ingestão de fibras, consumir mais alimentos antioxidantes e menos pró-inflamatórios, perder peso, provavelmente essa ferritina diminuirá.
  • A B12 está no limite inferior, já que faz uso crônico de um prazol. Estômago dói, toma o prazol, aí quando pensa que o prazol faz mal, usa espinheira santa... e assim vai levando o estômago. Cadê a endoscopia?
  • Suspensão da autosuplementação de vitamina D, que está 72. 
Exames praticamente todos normais. 

Será que precisava de testosterona? Não. Testosterona total de 380.  

De Lisdexanfetamina? Não. Pai com esquizofrenia e mãe bipolar. História familiar forte para transtornos psiquiátricos. 

Soroterapia? Com o trato digestivo totalmente funcionante? Nem pensar. Desnecessário. 
Duas páginas de suplementos? Cadê a preocupação com os resíduos? Com a ingestão de kilos e mais kilos de dióxido de titânio ao longo de um ano. Cápsulas e mais cápsulas. Sachês e mais sachês. Corantes, conservantes, acidulantes, edulcorantes. 

Anti-natureza. Anti-natural. Talvez esse doutor, só queira o seu mal rs (pensei, mas não falei). É o famoso médico Namastê de instagram e no consultório roubatê!

Conclusão: falei coisas sobre o céu, a água e o ar. 

Eu gostei, ele gostou! E espero que ele se torne um paciente pelas próximas 4 décadas. É assim que as tribos se encontram. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915

sexta-feira, 20 de maio de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos e nutricionistas] Escores poligênicos, qualidade da dieta e risco de diabetes tipo 2: um estudo observacional entre 35.759 adultos de 3 coortes dos EUA

Abstrato

Background

Fatores genéticos e de estilo de vida contribuem para o risco de diabetes tipo 2, mas a extensão em que há um efeito sinérgico dos dois fatores não é clara.

O objetivo deste estudo foi examinar as associações conjuntas de risco genético e qualidade da dieta com diabetes tipo 2 incidente.

 Métodos e descobertas

Analisamos dados de 35.759 homens e mulheres nos Estados Unidos que participaram do Nurses' Health Study (NHS) I (1986 a 2016) e II (1991 a 2017) e do Health Professionals Follow-up Study (HPFS; 1986 a 2016) com dados genéticos disponíveis e que não tinham diabetes, doença cardiovascular ou câncer no início do estudo. O risco genético foi caracterizado usando uma pontuação poligênica global que captura o risco genético geral e pontuações poligênicas específicas da via que denotam mecanismos fisiopatológicos distintos.

A qualidade da dieta foi avaliada usando o Índice de Alimentação Saudável Alternativo (AHEI).

Os modelos de Cox foram usados ​​para calcular as razões de risco (HRs) para diabetes tipo 2 após o ajuste para possíveis fatores de confusão.

Com mais de 902.386 pessoas-ano de acompanhamento, 4.433 participantes foram diagnosticados com diabetes tipo 2.

O risco relativo de diabetes tipo 2 foi de 1,29 (intervalo de confiança de 95% [IC] 1,25, 1,32; P <0,001) por aumento do desvio padrão (SD) na pontuação poligênica global e 1,13 (1,09, 1,17; P <0,001) por 10-  diminuição da unidade no AHEI.  

Independentemente do risco genético, a baixa qualidade da dieta, em comparação com a alta qualidade da dieta, foi associada a um aumento de aproximadamente 30% no risco de diabetes tipo 2 (Pinteraction = 0,69).

A associação conjunta de baixa qualidade da dieta e aumento do risco genético foi semelhante à soma do risco associado a cada fator isolado (Pinteraction = 0,30).  

As limitações deste estudo incluem o autorrelato de informações sobre a dieta e possível viés resultante da inclusão de participantes altamente instruídos com dados genéticos disponíveis.

 Conclusões

Esses dados fornecem evidências para associações independentes de risco genético e qualidade da dieta com diabetes tipo 2 incidente e sugerem que uma dieta saudável está associada a menor risco de diabetes em todos os níveis de risco genético.

Resumo do autor

Por que esse estudo foi feito?

• Fatores genéticos e de estilo de vida contribuem para o risco individual de diabetes tipo 2.

• Embora estudos anteriores tenham demonstrado que a adesão a um estilo de vida saudável está associada à redução do risco de diabetes tipo 2, independentemente do risco genético, a caracterização parcial do risco genético e a avaliação predominante das interações na escala multiplicativa podem ter impedido estudos anteriores de identificar perfis genéticos interagindo com exposições dietéticas.

• Portanto, entender como o risco genético e a qualidade da dieta contribuem para o desenvolvimento do diabetes tipo 2 é importante para apoiar intervenções preventivas baseadas em evidências.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

• Em 3 estudos de coorte envolvendo 35.759 homens e mulheres nos EUA, usamos novos escores poligênicos para diabetes tipo 2 para avaliar sistematicamente a presença de interações aditivas e multiplicativas entre risco genético e qualidade da dieta no desenvolvimento de diabetes tipo 2.

• Descobrimos que tanto a baixa qualidade da dieta quanto o aumento do risco genético geral ou específico da via estavam independentemente associados a um maior risco de diabetes tipo 2.

• Documentamos que, em qualquer categoria de risco genético, a alta qualidade da dieta, em comparação com a baixa qualidade, foi associada a um risco quase 30% menor de diabetes tipo 2.

• Além disso, mostramos que o risco de diabetes tipo 2 atribuído à combinação de risco genético aumentado e baixa qualidade da dieta foi semelhante à soma dos riscos associados a cada fator isolado.

O que essas descobertas significam?

• Os resultados deste estudo sugerem que consumir uma dieta mais saudável está associado a um menor risco de diabetes tipo 2, independentemente do risco genético.

• Nossos resultados ressaltam o valor da avaliação de risco genético para identificar indivíduos com risco aumentado de doença e seu potencial para estratificação de risco e vigilância.

• Esse conhecimento pode servir para informar e projetar estratégias futuras para avançar na prevenção do diabetes tipo 2.

“Compartilhar é se importar”
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quinta-feira, 19 de maio de 2022

Abordagem nutricional dos transtornos psiquiátricos

Nos últimos 10 anos foi raro o dia em que não recebi paciente relatando algum sintoma psiquiátrico. No auge da pandemia escrevi um pouco sobre isso e agora, no final da pandemia, percebi que os relatos só aumentaram.

Não sei se é pela parceria que tenho com inúmeros psicólogos e psiquiatras. Se é por um mero acaso do destino, pois sempre gostei de acolher e ouvir esses pacientes (muitas vezes até fugindo do meu papel de nutrólogo e quase que desempenhando um papel de "pseudo-psicólogo"). Ou então se é porque realmente o número de transtornos psiquiátricos aumentou depois da pandemia. Acredito que seja uma confluência dos 3 fatores, o fato é que tenho atendido muitos pacientes com transtornos psiquiátricos.

Mas por que um paciente procuraria um médico nutrólogo para tratar de uma doença/queixa psiquiátrica? Simplesmente, porque há muita informação propagada erroneamente na internet. 

Abaixo, algumas das fake news mais comuns em psiquiatria nutricional:
  • "Você sabia que 90% da sua serotonina é produzida no intestino?"
  • "Você sabia que a falta de vitaminas pode levar a depressão?"
  • "A utilização de nutrientes podem reduzir a ansiedade?"
  • "Dieta low carb pode melhorar TDAH?"
  • "Dieta cetogênica pode curar convulsões e reduzir os sintomas depressivos?"
  • "A suplementação de vitaminas pode melhorar o seu sono?"
  • "Soro com vitaminas e minerais podem melhorar o seu foco, concentração, memorização?"
  • "As bactérias intestinais podem influenciar no seu humor?"
  • "Jejum intermitente pode melhorar sintomas de ansiedade/depressão/bipolaridade?"
  • "Usar melatonina pode curar a insônia?"
Ou seja, uma série de fake news estão publicadas na internet, por pessoas que provavelmente nunca estudaram psiquiatria nutricional. 

Profissionais que sequer conhecem a cascata de formação de neurotransmissores. Que mal sabem solicitar uma polissonografia para avaliar o sono. Gente totalmente despreparada e que vem cometendo iatrogenias a rodo. E o pior, fazendo isso com pessoas altamente fragilizadas, com dor emocional. 

Nisso, esses profissionais acabam vendendo soros, chips, prescrevendo páginas e mais páginas de suplementos. Ou seja, enquanto existir cavalos, São Jorge não andará a pé.

Mas afinal, a Nutrologia pode agregar alguma coisa nos transtornos psiquiátricos? Sim. Mas não é a panaceia que pintam por aí. Alias, é um efeito bem limitado que ainda não compreendemos totalmente. Palavra de quem estuda isso desde 2003, quando perdi meu pai para o transtorno bipolar. 

Noções básicas de Psiquiatria nutricional ou Nutropsiquiatria

Primeiramente, devo explicar pra vocês que existem várias substâncias, denominadas neurotransmissores.

Os neurotransmissores são substâncias químicas produzidas pelas células do nosso sistema nervoso central (os neurônios) e são usadas para transmitir informação entre eles. 

Os neurotransmissores são liberados por um neurônio pré-sináptico para a fenda sináptica (imagine um vale) e causam uma alteração na membrana pós-sináptica ou no neurônio pós-sináptico. Conforme consta na imagem.


Essa membrana pós-sináptica (célula receptora), pode ser um neurônio com receptores especificas para os neurotransmissores, sofrendo uma alteração de potencial (evento elétrico). Mas também pode ser uma célula muscular ou uma célula glandular. 

Define-se por neurotransmissão (ou transmissão sináptica) a conversão de um evento elétrico em num evento químico e posteriormente em evento elétrico.

A reação desencadeada pela liberação desses neurotransmissores pode excitar ou ativar o neurônio pós-sináptico, ou inibir ou bloquear sua atividade. Ou seja, o neurotransmissor pode ter uma ação Excitatória ou Inibitória. Isso que poderá gerar os sintomas psiquiátricos ou neurológicos. 

Os neurotransmissores podem se dividir em:

1) Aminas biogênicas:
  • Acetilcolina
  • Histamina
  • Monoaminas: Serotonina e Catecolaminas (Dopamina, Noreprinefrina, Epinefrina)
2) Aminoácidos com ação neurotransmissora:
  • Ácido-gama-aminobutírico (GABA)
  • Glutamato
  • Glicina
  • Taurina
3) E podemos ter também os neuropeptideos que possuem ação no sistema nervoso central e periférico:
  • Substância P
  • Vasopressina
  • Peptídeo inibidor Vasoativo
  • Endorfinas e beta-endorfinas
  • Ocitocina
  • Neurotensina
Mas há mais de 100 neurotransmissores estudados. Nesse texto vamos nos ater a alguns somente.


Os neurotransmissores também podem ser classificados de acordo com a sua função: Excitatória,  Inibitória ou Modulatória.

Neurotransmissores excitatórios: esses neurotransmissores têm efeitos excitatórios no neurônio, o que significa que aumentam a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores excitatórios incluem epinefrina e norepinefrina.

Neurotransmissores inibitórios: já esses, têm efeitos inibitórios sobre o neurônio. Eles diminuem a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores inibidores incluem a serotonina e o ácido gama-aminobutírico (GABA).

Neurotransmissores mistos: A acetilcolina e dopamina podem criar efeitos tanto excitatórios quanto inibitórios, dependendo do tipo de receptores que estão presentes.

Neurotransmissores modulatórios: Esses neurotransmissores, frequentemente denominados neuromoduladores, são capazes de afetar um número maior de neurônios ao mesmo tempo. Esses neuromoduladores também influenciam os efeitos de outros mensageiros químicos. 

E onde entra a Nutrologia ?

Já dizia Lavoisier, "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, Essa é a lei da conservação das massas. Um neurotransmissor até ser formado, começou com um aminoácido. Mas até virar o neurotransmissor, ele sofreu reações enzimáticas (co-fatores = vitaminas, minerais). Depoís de uma série de reações, eis que surge um neurotransmissor. Ou seja, para chegar a ser um neurotransmissor, ele precisou de algumas substâncias interferindo na estrutura química do aminoácido. Quem catalisou essas reações ? Nutrientes. Aqui entra na Nutrologia. 

Aminoácidos são compostos orgânicos, formados por um carbono, um grupo carboxila, um grupo amino (por isso AMINO-acido) e por um radical. Quando se junta vários aminoácidos eles forma proteínas. 

Mas por que voltar no segundo grau? Simplesmente, porque esses aminoácidos é que darão origem aos 4 principais neurotransmissores. A imagem abaixo exemplifica isso. Ou seja:
  • Serotonina se forma a partir do aminoácido triptofano
  • Dopamina se forma a partir do aminoácido tirosina, que por sua vez se forma da Fenilalanina
  • Noradrenalina também se forma do aminoácido tirosina
  • Gaba se forma através da junção de 3 aminoácidos: ácido glutâmico, taurina e glicina. 


Ou seja, pela lógica, se eu consumo mais aminoácido precursor de serotonina, eu formarei mais serotonina? Não necessariamente. Essa é uma das fake news propagandas por aí. O corpo se autorregula. Para esse triptofano entrar no cérebro ele precisa atravessar uma barreira chamado Hematoencefálica. Pra complicar, ele sofre competição com outros aminoácidos, como por exemplo os BCAAs, Fenilalanina, Tirosina. E pra complicar ainda mais, ele só virará serotonina após uma série de reações enzimáticas, que são dependentes de bons níveis de vitaminas, minerais. E quais seriam essas fontes de triptofano? A tabela abaixo é de um artigo que aborda justamente o L -Triptofano: Funções Metabólicas Básicas, Pesquisa Comportamental e Indicações Terapêuticas ( https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2908021/)


Importante salientar que apesar do teor de triptofano no alimento ser importante, também é importante conhecer o teor dos outros aminoácidos que competirão com o triptofano para atravessar a barreira. Então existe um índice que mostra a real biodisponibilidade desse triptofano. A necessidade diária de ingestão de triptofano é de 3,5 a 6,0 mg/kd de peso. 


E como ocorre a conversão até chegar em serotonina? Primeiro tem a conversão do triptofano em 5-hidroxitriptofano. O 5-hidroxitriptofano (5-HTP) é, em seguida, descarboxilado em serotonina. 

A quantidade de triptofano no sangue influencia a síntese de serotonina? Sim, há uma relação entre maior ingestão de triptofano aumentando a concentração de serotonina cerebral. 

No entanto, esta serotonina se manterá reservada em vesículas no neurônio pré-sináptico e somente serão liberadas na fenda sináptica para o processo de ativação neuronal pós-sináptico no 𝐦𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐜𝐞𝐫𝐭𝐨. 

Elevação da síntese de serotonina não significa aumento da ativação das vias neuronais serotoninérgicas.  Esta modulação não é realizada pela concentração de triptofano ou serotonina. 

Sendo assim, aumentar produção de serotonina, pelo aumento da ingestão de triptofano, não levará a um aumento da função neuronal de vias de serotonina imediatamente. 

Se todo alimento que possui triptofano promovesse bem-estar, ocorreria de maneira independente do paladar ou escolha individual. O bem-estar é aqui emocionalmente determinado na relação com a comida e não pelo triptofano.
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É importante lembrar que deficiência de serotonina cerebral só existirá em quadros de desnutrição severa ou lesões neurológicas específicas. 

A disfunção serotoninérgica da depressão ou outros transtornos psiquiátricos (assim como de outros neurotransmissores) não se correlacionam com deficiência na produção de serotonina e sim uma disfunção das vias de transmissão neurônio à neurônio (fenda sináptica), na despolarização da membrana neuronal, na disponibilidade de receptores, entre outros. 

Difícil de compreender? Sim, é complexo. 

Entenderam agora a fake news da serotonina intestinal ? De que adianta serotonina no intestino se ela não consegue atravessar essa barreira? 

Entenderam também a fake news "come banana, é rica em triptofano e forma mais serotonina", ou "coma aveia, é rica em serotonina". 1 banana média fornece só 11mg de Triptofano e nenhum alimento possui serotonina. Aveia tem triptofano? Sim,  1 xícara fornece 147mg, mas não é serotonina. 

Então, o senhorzinho que está com rebaixamento do humor, triste, com oscilação do humor, assiste um videozinho no YouTube que fala sobre "os efeitos transformadores dos nutrientes na depressão" e resolve marcar com o Nutrólogo. 

O que tem de real nisso tudo ?

A serotonina é uma monoamina que  desempenha um papel importante na regulação e modulação do humor, sono, ansiedade, sexualidade e apetite.

Seu déficit pode levar a aumento da ansiedade, aumento do apetite e até exacerbação da libido (ou o oposto).

A classe de medicamentos denominada "inibidores seletivos da recaptação da serotonina ou ISRSs" são um tipo de medicação antidepressiva comumente prescrita para tratar depressão, ansiedade, transtorno do pânico e ataques de pânico. Eles agem tentando equilibrar os níveis de serotonina, bloqueando a recaptação de serotonina no cérebro, o que pode ajudar a melhorar o humor e reduzir sentimentos de ansiedade.

Muitas vezes um dos efeitos colaterais dessas medicações é a redução do apetite e também da libido. Justamente por interferência em outros dois neurotransmissores: a Dopamina e a Noradrenalina.

Pra formar serotonina precisa do aminoácido triptofano? Sim. Mas quantidades mínimas já conseguem suprir isso. E não adianta dosar serotonina no sangue. Serotonina no sangue ou no intestino provavelmente não influenciará na serotonina cerebral, mais precisamente a serotonina na fenda pós-sináptica. Ingestão habitual de carnes, oleaginosas, lácteos, leguminosas já consegue fornecer a necessidade diária de triptofano. E não é você tomando L-triptofano que essa serotonina subirá. E graças a Deus que não é assim. Imagina: come e faz "pico de serotonina". Que loucura seria o mundo. 

Vitaminas podem influenciar nessa produção de serotonina? Sim. Em especial a vitamina B12, o ácido fólico e vitamina B6. As 3 são co-fatores e entram na cascata de produção de serotonina. Ou seja, a deficiência dessas vitaminas podem levar a menor produção de serotonina? Sim, principalmente a B12 e o ácido fólico. Por isso na atualidade vemos tantos psiquiatras e neurologistas dosando a vitamina B12. 

Minerais também podem influenciar? Sim. Magnésio e ferro podem também interferir na produção de serotonina. 

Então vamos lá, se eu tomar  L-triptofano, B6, B12, ácido fólico, magnésio, ferro formarei mais serotonina e com isso reduzir os sintomas depressivos? Não necessariamente. As coisas não são tão simples e matemáticas como se parece. Os transtornos psiquiátricos são multifatoriais, complexos. 

Há envolvimento de fatores genéticos (polimorfismos genéticos que interferem na fenda sináptica, no neurônio pós-sináptico, na recaptação dessa serotonina e até mesmo na formação das formas ativas de ácido fólico (metilfolato), B12 (metilcobalamina), B6 (piridoxal-5-fosfato)). 

Há influência de outros neurotransmissores sobre a serotonina.

Doenças de base podem interferir na produção de neurotransmissores, assim como uso de substâncias, drogas, álcool, privação de sono, sedentarismo.

Entenderam a complexidade?

E é importante salientar que nem todo quadro de ansiedade envolve comente serotonina, as vezes pode ter outro neurotransmissor deficiente. E o profissional mais habilitado para investigar isso não é o Nutrólogo e sim o Psiquiatra. Se você apresenta sintomas de déficit de serotonina: procure um psiquiatra e posteriormente um psicólogo. Pode procurar o nutrólogo? Só depois que for nesses dois. Eu não atendo pacientes com sintomas psiquiátricos que não estejam em acompanhamento com psiquiatra e com psicólogo. 

Mas e os outros neurotransmissores?

GABA: o ácido gama-aminobutírico (GABA) age como o principal mensageiro químico inibidor do corpo. O GABA contribui para a visão, controle motor e desempenha um papel na regulação da ansiedade. 

Os benzodiazepínicos, usados ​​para ajudar no tratamento da ansiedade, funcionam aumentando a eficiência dos neurotransmissores GABA, o que pode aumentar a sensação de relaxamento e calma. Assim como o anticonvulsivamente topiramato e o fitoterápico Passiflora incarnata. 

O glutamato é o neurotransmissor mais abundante encontrado no sistema nervoso, onde desempenha um papel em funções cognitivas, como memória e aprendizagem. Quantidades excessivas de glutamato podem causar excitotoxicidade resultando em morte celular. Essa excitotoxicidade causada pelo acúmulo de glutamato está associada a algumas doenças e lesões cerebrais, incluindo a doença de Alzheimer, derrame cerebral e convulsões epilépticas. O Magnésio pode reduzir a excitação neuronal e por isso tem se pesquisado cada vez mais sobre sua ação em algumas doenças neurológicas e psiquiátricas. 

Existem algumas vias que explicam como os nutrientes podem interferir na produção, liberação ou recaptação dos neurotransmissores.

Via estresse oxidativo: ou seja, uma produção excessiva de radicais livres ou baixa ingestão de antioxidantes, pode favorecer o estresse oxidativo a nível cerebral. Com isso alteração os neurotransmissores e favorecer doenças psiquiátricas. Ou seja, uma dieta rica em antioxidantes (veja bem, dieta, não suplementos) de acordo com vasta literatura mostra correlação com menor incidência de doenças neurológicas e psiquiátricas. Dessas dietas, a que melhor mostra essa correlação é a com padrão mediterrâneo. 

Via Intestinal: Não se sabe ainda ao certo, como funciona essa relação cérebro com intestino, mas alguns trabalhos mostram que indivíduos com depressão ou transtorno de ansiedade apresentam um padrão de microbiota com redução de algumas cepas, como o L. helveticus e o Longum. Então, na teoria a reposição dessas cepas, poderia ajudar a reduzir sintomas. Pensando nisso a indústria farmacêutica tem apostado no lançamento dos "psicobióticos". Nível de evidência? Ainda muito baixa. Um dica: consuma lactofermentados e tenha uma dieta rica em fibras. 
De acordo com alguns trabalhos publicados nas últimas 2 décadas, acredita-se que as bactérias intestinais possan afetar o comportamento humano e tem sido implicada em varias vias neurobiológicas como:
Neurotransmissão da serotonina
Função imunológica
Resposta ao estresse do Eixo hjipotalamo-hipófise-adrenal
Se isso resalmente tem relevância ( e eu acredito que sim), só o tempo dirá.

Via Inflamação: A Inflamação crônica de baixo grau (IBG) fteoricamente avoreceria depressão, TAG, esquizofrenia e TAB. Dentre os fatores desencadeantes da inflamação crônica de baixo grau temos o estilo de vida: estresse, tabagismo, obesidade, privação de sono, alimentação pró-inflamatória. Para minimizar essa inflamação, teoricamente poderíamos adotar uma dieta "antiinflamatória" (padrão mediterrâneo ou dieta MIND) rica em ômega 6, ômega 3, ômega 9, fibras, frutas, vegetais

Via modificações epigenéticas: Consiste na capacidade que o corpo humano desenvolveu de ativar ou ativar alguns genes de acordo com o ambiente, estilo de vida, porém, sem alterar a sequência do DNA
Tratamento para isso seria a adoção de um estilo de vida mais saudável. 

Via neuroplasticidade: Consiste na capacidade que o cérebro tem de mudar ou de se adaptar por meio de alterações fisiológicas resultantes da interação com o meio ambiente

Então vamos tratar ansiedade com magnésio? Não. Essa é mais uma fake news. 

Temos ainda as monoaminas catecolaminas, que são uma classe de neurotransmissores e que engloba: Dopamina, noradrenalina e adrenalina

A dopamina desempenha um papel importante na coordenação dos movimentos do corpo. Talvez os seus efeitos mais estudados na atualidade são por estar relacionados ao sistema de recompensa, motivação e acréscimos. 

Vários tipos de drogas viciantes aumentam os níveis de dopamina no cérebro, redes sociais também. A doença de Parkinson, que é uma doença degenerativa que resulta em tremores e prejuízos no movimento motor, é causada pela perda de neurônios geradores de dopamina no cérebro.

A epinefrina é considerada tanto um hormônio quanto um neurotransmissor. Geralmente, a epinefrina (adrenalina) é um hormônio do estresse que é liberado pela glândula adrenal. No entanto, funciona como um neurotransmissor no cérebro.

A noradrenalina é um neurotransmissor que desempenha um papel importante no estado de alerta que está envolvido na resposta de luta ou fuga do corpo. Seu papel é ajudar a mobilizar o corpo e o cérebro para agir em momentos de perigo ou estresse. Níveis deste neurotransmissor são tipicamente mais baixos durante o sono e mais altos durante períodos de estresse.

Como citei acima, todos esses neurotransmissores são oriundos de algum aminoácido e possuem vitaminas e minerais como co-fatores para a sua produção. talvez por isso as pessoas estejam buscando o consultório de Nutrólogos. Porém, é errado afirmarmos que a suplementação de nutrientes, de forma isolada irá tratar sintomas psiquiátricos. 

O tratamento é multidisciplinar e engloba acompanhamento com:
  • Psiquiatra
  • Psicólogo
  • Mudança do estilo de vida. 
O slide abaixo faz parte da explicação que dou para os pacientes que procuram o meu consultório devido esses sintomas.





Ao longo desses quase 13 anos de consultório, o que vejo dando resultado no tratamento dessas patologias é justamente a transdisciplinaridade e principalmente mudanças no estilo de vida. Portanto, não pense que o Nutrólogo irá curar a sua depressão ou sua ansiedade. Vá consciente das limitações da especialidade. 

E os probióticos para transtornos psiquiátricos?

Uma dúvida muito comum é sobre o real papel dos probióticos para os transtornos psiquiátricos, os chamados Psicobióticos.

Na última década, alguns trabalhos tem mostrado que pode existir uma diferença na microbiota de indivíduos saudáveis e dos pacientes portadores de depressão, transtornos de ansiedade de generalizada. Daí surgem extrapolações que a suplementação com probióticos, ou psicobióticos como alguns preferem denominar, pode ser benéfica na Psiquiatria nutricional.

Apesar de alguns estudos pequenos evidenciando melhora de sintomas ansiosos em pacientes que utilizaram algumas cepas específicas (Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum R0175), ainda não temos evidências robustas para a prescriçãoMuitas pesquisas sobre os psicobióticos são baseadas em modelos de roedores, que usam induções de estresse e testes comportamentais para avaliar motivação, ansiedade e depressão.

Os estudos até o momento tentaram intervenções diferentes (baixa comparabilidade) e as meta-análises agrupam as diferentes cepas como se tivesse um mecanismo de ação único (o que não tem, já que cada cepa tem as suas particularidades). 

Até o presente momento há 10 meta-análises sobre o tema e apenas 4 mostraram resultados promissores com a intervenção nos pacientes com sintomas depressivos.

Em contrapartida alguns trabalhos sugerem que muitos transtornos mentais graves e a própria Síndrome do Intestino irritável sejam caracterizados por um excesso de abundância de lactobacillus

Na minha opinião, as pesquisas estão engatinhando e o eixo cérebro-intestino é uma área promissora no mundo da Psiquiatria nutricional, porém, mais ensaios clínicos randomizados duplo-cegos controlados por placebo são necessárias para determinar a eficácia no alívio dos sintomas psiquiátricos, bem como a duração ideal do tratamento, dosagem e cepa probiótica para alcançar efeitos positivos nas doenças psiquiátricas.

Sendo assim, até o presente momento, o uso de probióticos não encontra respaldo na literatura, como parte do tratamento de depressão/ansiedade/esquizofrenia e a melhor forma de se "modular' a micorbiota intestinal na população com doenças psiquiátricas é através do estímulo  de:
1) Adoção de uma alimentação rica em fibras prebióticas e com o mínimo de alimentos ultraprocessados ou que tenham impacto negativo na microbiota, isso inclui evitar corantes, edulcorantes, acidulantes. Redução da ingestão de gorduras saturadas, já que alguns trabalhos mostram impacto negativo da variabilidade das cepas. Nos pacientes com intolerância a FODMAPS, iniciar uma dieta low fodmap.
2) Pática regular de atividade física
3) Sono de qualidade e com pelo menos 7 horas de duração. 
4) Menor exposição a disruptores endócrinos, agrotóxicos e substâncias com potencial ação deletéria sobre a nossa microbiota. 
5) Manejo do estresse, já que existe uma relação entre maiores níveis de estresse e alteração na microbiota intestinal. 
6) Manutenção de bons níveis de Vitaminas e minerais, proteínas, carboidratos e lipídios.

Para quem deseja ler mais sobre o assunto, acesse outros textos aqui postados sobre saúde mental:




Bibliografia: 






Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo Goiânia / Joinville
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915
CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

Existe cerveja que engorda menos ?

Sabe aquela cervejinha do happy hour (que agora é feito em casa rsrs)? Então, ela pode ser um "problema" se o seu objetivo for perder peso nos próximos dias.

Sabe por que? Bom, além dos efeitos nocivos que o álcool em excesso traz ao organismo, a grande tolerância que parte das pessoas têm em beber grandes volumes resulta em uma ingestão significativa de calorias.

Por exemplo:

1 cerveja long neck comum (355ml) tem aproximadamente 170kcal. 

Vamos supor que você decida aproveitar para tomar 10 unidades para passar o tempo. 

Só nessas 10 unidades você já vai ingerir 1700kcal. Agora acrescente nessa conta alguns petiscos. Aí a situação já dá uma "baqueada" e a perda de peso então... rsrs. 

Mas, será que existe cerveja que engorda menos?

Avaliamos várias marcas dos produtos COMUNS com álcool, inclusive aquela "verdinha" que o pessoal fala que engorda menos. A faixa de calorias de todas as cervejas comuns estão na média de 120 a 180 kcal por long neck. 

Por outro lado, cervejas do tipo "light" OU sem álcool, possuem entre 100 e 130 calorias por long neck, o que acaba não sendo uma "solução" ideal.

Logo, mesmo tendo essas diferenças calóricas mínimas entre as bebidas, não vejo que haja uma cerveja que engorde MENOS.

"Ah, mas então eu preciso parar totalmente de beber para perder peso?" Não necessariamente, mas é preciso que esse volume calórico seja considerado no cálculo do seu plano alimentar, para que seja realizada uma redução gradativa do volume e da frequência em que se bebe, principalmente quando as quantidades ingeridas são MUITO excessivas.

Viu só? Não precisa parar de beber 100% para conseguir perder peso, mas sim adequar a frequência e quantidade que essa "gelada" será consumida.

Uma outra estratégia é o intercalamento entre tipos de cerveja. 

Exemplo: 10 copos de cerveja (300ml cada = 130kcal) totaliza em 1.300Kcal. Se adotarmos uma política de redução de danos, a pessoa ingeriria: 6 copos de cerveja (300ml cada = 780cal) + 4 cervejas zero álcool (1 litro = 420kcal). O Álcool apresenta a segunda maior densidade calórica, 1 grama de álcool fornece 7kcal. 1 grama de gordura fornece 9kcal. Ao passo que 1grama de carboidratos ou proteínas fornecem 4kcal. 

Sendo assim, quando você bebe álcool, as duas variáveis mais importantes são: frequência (número de vezes que você beberá) e o volume (quantidade de bebida que você ingerirá). 

Outra estratégia é o intercalamento com copos de água, pois o álcool por si só, tem ação inibindo o ADH (hormônio antidiurético = que inibe que você urina). Ou seja, além de estar bebendo líquido (o que por si só já estimula a diurese) há também a ação na inibição do hormônio. Resultado: você fará mais xixi e se desidratará. Portanto, intercale com 1 copo de água (200ml) a cada 200ml de álcool. 

Por último é importante lembrar que o álcool pode causar hipoglicemia. Então ingira carboidratos enquanto estiver bebendo. A ingestão alimentar em conjunto, tende a reduzir o volume de álcool ingerido. 


Autores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Depressão atinge mais da metade dos adolescentes obesos

Mais de 50% dos adolescentes obesos preencheram os critérios de depressão, que também foi associada a vários componentes da síndrome metabólica, com base em dados de 160 indivíduos.

Pesquisas anteriores mostram que as consequências metabólicas da obesidade pioram com a coexistência da depressão em adultos, mas uma relação semelhante em adolescentes obesos não foi explorada, de acordo com Nisha Gupta, estudante de medicina do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, Houston, e colegas.

"Essa relação é explicada por uma resposta hiperativa ao estresse e adoção de hábitos de vida não saudáveis", ambos os quais aumentaram durante a pandemia de COVID-19, observaram os pesquisadores em seu resumo.

Em um estudo apresentado na reunião anual das Sociedades Acadêmicas Pediátricas, os pesquisadores revisaram dados de 160 adolescentes obesos atendidos em uma clínica pediátrica de controle de peso entre 1o de julho de 2018 e dezembro. 3 de 2021. Os dados incluíram informações antropométricas, clínicas e laboratoriais. A depressão foi avaliada usando o Questionário de Saúde do Paciente-9 (PHQ-9). O objetivo do estudo foi comparar a prevalência de componentes da síndrome metabólica em jovens obesos com e sem depressão diagnosticada.

No geral, 46% dos pacientes tinham escores PHQ-9 inferiores a 5, o que foi definido como nenhuma depressão clinicamente significativa. 

Um total de 26% tinha diagnósticos atuais ou anteriores de depressão, e 25% preenchiam os critérios de depressão moderada a grave, com escores PHQ-9 de 10 ou mais. 

Notavelmente, 18% dos indivíduos sem história prévia de depressão preencheram os critérios de depressão moderada a grave, escreveram os pesquisadores.

Adolescentes que relataram fadiga diurna ou dificuldade para dormir, e aqueles que relataram comer fora sete ou mais vezes por semana tiveram pontuações mais altas do que aqueles sem esses relatos.

Em análises laboratoriais, escores mais altos do PHQ-9 foram significativamente associados ao aumento de peso, índice de massa corporal, porcentagem de gordura corporal, pressão arterial diastólica e insulina sanguínea em jejum (P < 0,02 para todos).

Os achados do estudo foram limitados pelo tamanho relativamente pequeno da amostra, observaram os pesquisadores. 

No entanto, os resultados sugerem que a depressão é comum, mas muitas vezes subdiagnosticada em adolescentes obesos, e o rastreamento da depressão deve fazer parte do controle da obesidade.

• Estudo Destaca a Necessidade de Rastreamento

O presente estudo é importante por causa do aumento geral da obesidade nos Estados Unidos, que se estende a crianças e adolescentes, disse Tim Joos, MD, um clínico com sede em Seattle com uma combinação de medicina interna/prática pediátrica, em uma entrevista.

"Com o aumento das taxas de obesidade entre crianças e adolescentes nas últimas décadas, estamos vendo mais doenças 'adultas' se infiltrarem nas idades mais jovens, incluindo diabetes tipo 2, pressão alta e agora, depressão", disse ele.

"Os resultados são um alerta para a necessidade de uma melhor prevenção e manejo da obesidade em todo o sistema em adolescentes e a importância do rastreamento e gerenciamento da depressão em adolescentes obesos", enfatizou ele.

O estudo não recebeu financiamento externo. Os pesquisadores não tinham conflitos financeiros para divulgar. Joos não tinha conflitos financeiros para divulgar e faz parte do conselho consultivo editorial da Pediatric News.

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