domingo, 17 de julho de 2022

Dica de livro: A fábrica de cretinos digitais - Os perigos das telas para nossas crianças - Por Michel Desmurget

 

Por que os grandes gurus do Vale do Silício proíbem seus filhos de usar telas? Você sabia que nunca na história da humanidade houve um declínio tão acentuado nas habilidades cognitivas? Você sabia que apenas trinta minutos por dia na frente de uma tela são suficientes para que o desenvolvimento intelectual da criança comece a ser afetado?

O uso da tecnologia digital - smartphones, computadores, tablets, etc. - pelas novas gerações tem sido absolutamente astronômico. Para crianças de 2 a 8 anos de idade, o consumo médio é de cerca de três horas por dia. Entre 8 e 12 anos, a média diária gira em torno de cinco horas. Na adolescência, esse número sobe para quase sete horas, o que significa mais de 2.400 horas por ano, em plena fase de desenvolvimento intelectual.

Ao contrário do que a imprensa e a indústria da tecnologia costumam difundir, o uso das telas, longe de ajudar no desenvolvimento de crianças e estudantes, acarreta sérios malefícios à saúde do corpo (obesidade, problemas cardiovasculares, expectativa de vida reduzida), ao estado emocional (agressividade, depressão, comportamentos de risco) e ao desenvolvimento intelectual (empobrecimento da linguagem, dificuldade de concentração e memória).

O neurocientista Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, propõe a primeira síntese de vários estudos que confirmaram os perigos reais das telas e nos alerta para as graves consequências de continuarmos a promover sem senso crítico o uso dessas tecnologias.

“O livro do neurocientista Michel Desmurget apresenta, com dados concretos e de forma conclusiva, como os dispositivos digitais estão afetando seriamente – e para o mal – o desenvolvimento neural de crianças e jovens.” BBC News Brasil

“Se não quisermos uma geração de idiotas, vamos ler este especialista com atenção... e desconectar nossos filhos a tempo.” La Razón (Espanha)

“Um livro de saúde pública." France Inter

Fonte: https://www.amazon.com.br/f%C3%A1brica-cretinos-digitais-perigos-crian%C3%A7as/dp/6586551528/ref=mp_s_a_1_2?crid=IXN8NXUNJ3BH&keywords=a+fabrica+de+cretinos+digitais&qid=1658105676&sprefix=A+fabrica%2Caps%2C341&sr=8-2

A evolução da Nutrologia


Tenho passado os últimos 4 meses elaborando as aulas do Curso de Nutrologia para acadêmicos de Medicina e três aulas em especial me chamaram a atenção.

Sou responsável pela aula introdutória, na qual explanarei sobre a Antropologia da Nutrologia nos últimos 100 anos e pela aula de Necessidades Nutricionais básicas. Na verdade darei outras aulas, mas essas duas, em especial, me fizeram refletir sobre a evolução da Nutrologia.

Quando fui elaborar a primeira, peguei um capítulo que escrevi para o livro de uma amiga. O capítulo contava a história da Nutrologia e quando fui reunir o material para escrevê-lo li muito sobre o médico argentino Pedro Escudero. Como se deu o surgimento da Nutrologia na América Latina e como surgiram os Nutriólogos (Nutrólogos em Espanhol). 

Naquela época, alguns médicos brasileiros se inspiravam no Dr. Pedro Escudero e estudavam as descobertas das ciências nutricionais. 

Da Década de 20 até a década de 50 os pesquisadores estavam com os olhos voltados para o descobrimento de uma série de substâncias indispensáveis à vida, cuja a carência ocasionava doenças: com repercussões em vários sistemas. Exemplo: descoberta de várias vitaminas e suas hipovitaminoses. Toda a ciência nutricional na América latina era focada em prevenir déficits nutricionais: desnutrição, hipovitaminoses. 

Então por quase meio século os cientistas focaram muito nesse tema. Políticas de saúde pública para prevenção de deficiências de calorias, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais. O governo tentavam definir um tipo de dieta normal para a população. Eram assessorados por médicos como o Dr. Josué de Castro, que traçava o mapa da fome e respaldava as políticas sanitárias relacionadas à área de Nutrição. Nessa época foram surgindo os cursos de graduação de Nutrição e em 1973 surgiu a Associação Brasileira de Nutrologia.

Vejam só, a Nutrologia nasceu em um ambiente hospitalar, já que os casos de desnutrição eram geralmente hospitalizados. Poucos médicos entendiam daquelas deficiências. Dentre os principais profissionais que decidiram estudar as ciências nutricionais no Brasil e foram pioneiros, temos:
  • Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira
  • Dr. Dan Waitzberg
  • Dra. Clara Sambaqui Evangelista
  • Dr. José Evangelista
  • Dr. Ênio Vieira Cardillo
  • Dr. Luiz Oliveira Ferreira Montenegro
  • Dr. Camilo Martins Viana
  • Dr. Nelson Ferreira de Castro Chaves
  • Dr. Yaro Ribeiro Gandra
  • Dr. Franklin Augusto de Moura Campos

Ou seja, nessa primeira aula ficou claro a evolução da Nutrologia. De ciência atrelada a casos de desnutrição, com o passar das décadas, passou a ser vista, pelo público leigo, como especialidade que trata de portadores de Obesidade. Um grande reducionismo para uma especialidade tão abrangente.

Na atualidade poucos médicos (assim como profissionais da área da saúde) conhecem o real papel do Nutrólogo e a sua importância. Vemos diariamente Nutricionistas (profissão que surgiu na América Latina das mãos de um médico) desmerecendo por pura ignorância o papel do médico Nutrólogo. Uma vergonha e falta de respeito com a história da Nutrologia.

Na aula de necessidades nutricionais básicas, vi como a necessidade de nutrientes foi mudando ao longo das décadas. Na década de 50, a maioria dos estudos eram feitos pela Food and Agriculture Organization (FAO), e eles procuravam estabelecer as necessidades energéticas e de proteína a nível populacional, ou seja, populações teoricamente saudáveis. 

Com o passar dos anos, experts da Food and Nutrition Board (FNB), Institute of Medicine (IOM) e da Agência Health Canadá, procuraram determinar a Ingestão dietética de referência (DRI – Dietary reference intake) para planejamento e avaliação de dieta de indivíduos e populações saudáveis.

Nas últimas 3 décadas, o que temos visto na ciência é que não basta determinar apenas as necessidades populacionais, mas também individualizar para portadores de doenças específicas. Exemplos: grupos de risco para alguns déficits. Assim vai caminhando a Nutrologia e a Nutrição. 

As ciências nutricionais saíram do lugar de área superficial e ignorada pelos médicos em décadas passadas, para o pódio das áreas mais procuradas na atualidade. 

A Nutrologia saiu do posto de especialidade desconhecida até então, para o de área mais invadida da Medicina. No qual todo mundo quer atuar, palpitar e/ou se especializar.

A ciência avança e arrasta com ela milhares de estudos na área nutricional. Traz resposta e/ou incertezas quando se trata de compreensão acerca da interferência dos nutrientes na saúde humana. 

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

sexta-feira, 15 de julho de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos e nutricionistas] Posicionamento sobre o tratamento nutricional do sobrepeso e da obesidade

Ao longo dos últimos meses, o Departamento de Nutrição da Abeso se dedicou à elaboração de um documento que é, provavelmente, o mais amplo já publicado sobre estratégias para o emagrecimento.

Na coordenação da publicação, as nutricionistas Renata Bressan Pepe, Ana Maria Pita Lottenberg, Clarissa Tamie Hiwatashi Fujiwara e Mônica Beyruti convidaram ainda mais 20 colegas co-autores, todos renomados nas áreas de pesquisa e clínica, para analisar os resultados dos principais estudos controlados e randomizados, além de revisões sistemáticas e metanálises publicadas em revistas de alto impacto que focaram em intervenções nutricionais para o tratamento da obesidade.

O olhar crítico e minucioso desse grupo possibilitou inclusive a criação de tabelas de classes de recomendações e níveis de evidência.

Contudo, não se deixou de lado estudos que até possuem baixa evidência científica, mas que se tornaram populares — afinal, justamente porque têm popularidade, seria preciso se posicionar sobre eles também! 

Do mesmo modo,  os autores abordam temas como inflamação, nutrigenômica, microbiota intestinal, sempre no contexto do excesso de peso. 

Finalmente, não podiam faltar capítulos dedicados ao comportamento alimentar e às estratégias que vêm sendo usadas para a mudança de hábitos.

O resultado são 260 páginas de informações confiáveis para todos os profissionais que cuidam de pessoas com sobrepeso e obesidade. 

Quem já é sócio da Abeso receberá logo mais a edição impressa em seu endereço. E quem se associar até o dia 12 de agosto também ganhará o exemplar da publicação.

Mas você pode baixar a versão digital desse material valioso de atualização científica clicando aqui.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Café causa gastrite ?



Não existem evidências científicas demonstrando que o consumo MODERADO de café possa causar gastrite, condição clínica bastante comum no consultório!

As principais causas de gastrite é a infecção pela bactéria Helicobacter pylori, ingestão excessiva de álcool, tabagismo, uso de medicamentos como os anti-inflamatórios, corticóides, além de determinadas doenças autoimunes.

No entanto, caso você apresente algum desconforto gástrico com frequência e/ou um diagnóstico fechado de gastrite e esofagite feito por um Médico, o consumo do café e de outras bebidas que contenham cafeína devem ser EVITADAS (além de outros alimentos). 

E isso se dá pelo fato de que o café possa desempenhar um papel irritante no estômago que já está "inflamado", além de uma possível ação no aumento da produção de ácido e de relaxamento do esfíncter entre o esôfago e o estômago, podendo agravar os sintomas e até agravar uma possível esofagite.

Lembre-se: o tratamento nutricional da gastrite e esofagite é de extrema importância, visto que essa lesão não cuidada a médio/longo prazo pode predispor outras doenças mais graves, inclusive câncer!

Autores
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

Manga com leite faz mal ?

Esse mito é sensacional e a resposta é não. E pense comigo… se fizesse mesmo mal, imagine só quantas pessoas já não teriam sido hospitalizados por beberem vitamina de manga, não é mesmo?

Mas como surgiu esse mito ? 

Ele parece ter surgido na época do brasil colonial, em que a manga era uma fruta abundante e muito consumida por escravos, enquanto o leite era considerado algo raro e muito caro, exclusivo para consumo dos "patrões" da época.

Para tentar "amedrontar" os escravos e desencorajá-los a consumir o leite, eles inventaram essa #lenda que perdura até os dias de hoje. Para vocês verem o quanto existem informações enraizadas em nossa cultura e que precisam, sim, serem desmistificadas.

Manga crua - 1 unidade de 300g tem:
Valor energético (kcal): 202kcal
Proteína: 2.76g
Gorduras totais: 1.28g
Carboidratos (por diferença): 50.33g
Fibra alimentar 5.4g
Monossacarídeos 45.9g
Minerais
Cálcio37mg
Ferro 0.54mg
Magnésio 34mg
Fósforo 47mg
Potássio 564mg
Sódio 3mg
Zinco 0.3mg
Vitamina C 122.3mg
Tiamina 0.094mg
Riboflavina 0.128mg
Niacina 2.248mg
Vitamina B6 0.4mg
Ácido fólico 144mg 
Vitamina A  3636ui
Vitamina E (alfatocoferol) 3.02mg
Vitamina K (filoquinona) 14.1µg
Gorduras saturadas 0.309g
Gorduras monoinsaturadas 0.47g
Gorduras poliinsaturadas 0.239g

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Nutrólogo por plano de saúde

A dúvida mais comum das pessoas que ligam aqui no consultório é se atendo por plano de saúde. Infelizmente não consigo atender por planos de saúde, devido o tempo da minha consulta e do retorno. Entretanto, a maioria dos pacientes que possuem plano de saúde conseguem reembolso do plano. 

Planos que sei que reembolsam meus pacientes de forma parcial ou total:
  • Bradesco
  • Amil
  • Amil One
  • SulAmérica
  • Omint
  • Careplus
  • Porto Seguro
  • Notredame Intermédica
  • Allianz
  • Mediservice
  • Itaú seguros
  • Cassi
Como funciona o reembolso? 

A lei 9656/98, assegura a qualquer beneficiário o direito de restituição com despesas médicas e hospitalares. Entretanto, não estabelece os valores ou percentuais fixados para isto. Dessa forma, o reembolso é calculado de acordo com o valor que a operadora paga aos profissionais credenciados ao convênio.

Para saber o quanto o seu plano cobre de reembolso, entre em contato com ele, antes de agendar a sua consulta. Verifique quais documentos são necessários para o ressarcimento das despesas. Geralmente solicitam: Relatório médico e o recibo da consulta constando os dados da clínica e do médico.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Expectativa X realidade

Montando a aula de Anamnese nutrológica do curso de Nutrologia para acadêmicos de Medicina elaborei essa imagem. Nela há vários elementos que cabem uma reflexão. 

A solicitação demasiada de exames, de forma irracional, o que gera uma sobrecarga dos planos de saúde/SUS, exames caros e muitas vezes sem validação científica. Exames que muitas vezes o médico indica laboratório específico, por motivos... 

O Slide é para explicar qual o correto em uma avaliação médica nutrológica. Ou seja, fazemos inicialmente uma anamnese, posteriormente exame físico, postulamos o diagnóstico e os exames são complementares à consulta. Ou seja, tem função de confirmar o que o médico nutrólogo já suspeita. 

Essa é a expectativa. O que temos visto são profissionais solicitando exames previamente à consulta, o que pode configurar uma infração ética. Eu e uma amiga nutróloga e  conselheira do CRM-ES já escrevemos sobre isso, neste texto. 

Com uma anamnese bem feita, associada a um exame físico completo, chegamos a uma boa parte dos diagnósticos. Foi assim durante boa parte da história da Medicina. Com a judicialização da Medicina presenciamos uma inversão disso. Infelizmente. Com isso a solicitação de exames ocorre muitas vezes de forma irracional. Na Nutrologia não é diferente. Para chegarmos ao diagnóstico nutricional e nosológico dependemos primeiramente de escutar o paciente e do ato de extrair dele as informações cruciais para esse diagnóstico.

Uma consulta nutrológica além da anamnese deve englobar:
  • Aferição do peso, 
  • Altura, 
  • Pressão arterial , 
  • Frequência cardíaca, 
  • Saturação de oxigênio, 
  • Força de preensão palmar com dinamômetro, 
  • Exame da face
  • Checagem de coloração das mucosas
  • Checagem da hidratação
  • Checagem de sinais na língua
  • Checagem de sinais nas unhas
  • Palpação de tireoide
  • Ausculta pulmonar e cardíaca
  • Exame de pulsos periféricos
  • Exame do abdome
  • Exame do membros superiores e inferiores: aparelho locomotor
  • Circunferência abdominal
  • Circunferência da panturrilha
  • Circunferência do pescoço
Uma minoria dos nutrólogos hoje em dia fazem isso. Consideram perda de tempo. Infelizmente. Essa é a boa e velha semiologia, na qual conseguimos chegar a diagnósticos mais certéiros.


Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

Disparada nos casos de obesidade infantil - Obesidade na geração tik tok por Camile Lichotti

A Revista Piauí fez uma reportagem bastante interessante sobre a disparada dos casos de obesidade entra a faixa etária pediátrica. Para acessar os gráficos e tabelas acesse: https://piaui.folha.uol.com.br/fome-na-geracao-tiktok/

att

Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

Taxa de crianças obesas ou acima do peso cresce 70% no Brasil e convive com a fome persistente entre a população mais vulnerável do país, revela levantamento inédito

Esta é a reportagem de apresentação da série Má alimentação à brasileira, sobre a fome e a epidemia de obesidade que afetam a população mais pobre do país. Participaram Camille Lichotti e Rubens Valente (reportagem), Plínio Lopes (checagem), Fernanda da Escóssia (edição) e José Roberto de Toledo (coordenação).

Na porta de um pequeno mercado localizado entre dois terrenos baldios, em uma rua poeirenta do interior do Maranhão, pacotes de salgadinho brilham sob o implacável sol das 10 horas da manhã. A temperatura passa dos 30° C em Trizidela do Vale, região central do estado, quando um menino de 11 anos, descalço e vestindo apenas uma bermuda azul, entra na loja para comprar um adoçante a pedido da mãe. Antes de pagar, agarra um dos pacotes brilhantes: um salgadinho de milho sabor calabresa acebolada – que de calabresa só tem o aroma artificial –, vendido a 50 centavos. Uma banana custa 75 centavos, mas o garoto nem chega perto das frutas guardadas no refrigerador no corredor mais distante da porta. As prateleiras de destaque destinam-se aos salgadinhos de pacote. “É para chamar as crianças”, explica o atendente.

O salgadinho de pacote é ingrediente central do cardápio de má nutrição das crianças brasileiras. Mas não é o único vilão. A fome persistente convive com a crescente epidemia de obesidade, e os dois fenômenos atingem a população mais vulnerável. Dados compilados pela piauí e pela agência de dados públicos Fiquem Sabendo, com base no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde, mostram que a proporção de crianças de 5 a 10 anos acima do peso explodiu nos últimos treze anos. A taxa de crianças com obesidade subiu 70% de 2008 a 2021. Praticamente uma em cada cinco crianças atendidas pelo sistema público de saúde está obesa.

Crianças obesas têm mais chance de se tornarem adultos obesos – e podem adquirir ao longo da vida uma série de doenças relacionadas ao excesso de peso, como hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares. Enquanto a obesidade infantil traz uma nova carga de vulnerabilidade aos mais pobres, o Brasil caminha para ter uma população doente. “A consequência disso é a mortalidade prematura”, explica a nutricionista Daniela Neri, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP. 


Do outro lado da balança, a taxa de crianças abaixo do peso adequado para a idade parou de cair em 2021, interrompendo a tendência de queda registrada desde 2008. Em nove estados, a taxa de crianças de 5 a 10 anos em situação de magreza ou magreza acentuada aumentou nos últimos dois anos. No caso do Distrito Federal, o salto na proporção de crianças abaixo do peso adequado foi de 23% – e o índice voltou a um patamar semelhante ao de 13 anos atrás. 

O Sisvan registra peso e altura de crianças que chegam à rede de atenção primária do sistema público de saúde, a maioria atendida por programas sociais. Como os dados se referem prioritariamente a crianças em situação de vulnerabilidade social, o sistema serve de guia para todas as estratégias e ações do Ministério da Saúde na área de alimentação e nutrição.

No país onde 125 milhões de pessoas não sabem se vão conseguir se alimentar adequadamente todo dia – e das quais 33 milhões passam fome, segundo pesquisa da rede Penssan –, a obesidade está conectada à pobreza. Especialistas ouvidos pela piauí concordam que o aumento da obesidade infantil também é produto do empobrecimento e da insegurança alimentar. “A obesidade está se tornando uma marca da população mais pobre”, diz a endocrinologista Maria Edna de Melo, professora da Universidade de São Paulo. Hoje quem tem dinheiro pode escolher com mais folga o tipo de alimento que vai comer e optar por pratos mais saudáveis e diversos. Quem não tem, come o mais barato – que quase sempre é também o mais calórico ou de qualidade nutricional inferior. 

Relatório publicado pelo Unicef no final de 2021 revelou um alto consumo de ultraprocessados entre crianças integrantes do programa Bolsa Família (substituído em novembro passado pelo Auxílio Brasil). Esses produtos são basicamente uma mistura de sal, açúcar, gordura e conservantes e sequer são considerados comida de verdade. Recebem uma série de aditivos industriais para alterar seu gosto e prazo de validade, o que os torna mais palatáveis, baratos, práticos e acessíveis – apesar de não terem valor nutricional. “As pessoas sentem uma falsa sensação de saciedade porque na verdade não estão se alimentando quando comem esses produtos”, diz a endocrinologista Zuleika Halpern, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Em metade dos domicílios pesquisados pelo Unicef, as crianças com menos de 6 anos consomem salgadinho de pacote, macarrão instantâneo e refrigerante de uma a três vezes por semana. O estudo concluiu que a vulnerabilidade socioeconômica das famílias é um fator que influencia no consumo de ultraprocessados, e a maior dificuldade para melhorar os hábitos alimentares foi o alto custo dos alimentos saudáveis. “O preço de uma salsicha pouco aumentou, enquanto o da cenoura disparou. As pessoas mais pobres estão comendo comida de baixa qualidade porque é mais barato”, diz o economista Arnoldo de Campos, ex-secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Um levantamento feito por ele mostra que, das 20 maiores altas de preços acumuladas este ano até o mês de abril, 19 foram de alimentos in natura. 

Uma série de estudos já investigou a relação entre a falta de recursos para a compra de alimentos saudáveis e o ganho de peso. Algumas dessas pesquisas mostram que, por mais contraintuitivo que pareça, a epidemia de obesidade no Brasil não é oposta à insegurança alimentar, mas uma consequência dela. “Antes as crianças pobres morriam porque não tinham acesso à comida. Agora elas comem, mas vão desenvolver uma série de doenças porque comem mal”, diz Zuleika Halpern. 

A obesidade já vinha avançando entre as crianças vulneráveis de todos os estados brasileiros e, com o início da pandemia, teve um salto em 2020 em relação ao ano anterior. Os casos mais críticos são os estados do Rio Grande do Sul, onde um quarto das crianças de 5 a 10 anos eram obesas (25% dos pesados), Ceará (23%) e Rio Grande do Norte (23%). O problema atinge estados com perfis socioeconômicos diferentes. No Rio, que tem o segundo maior produto interno bruto (PIB) do país, a obesidade infantil subiu de 11% em 2008 para 18% em 2021. Mas o aumento mais acentuado aconteceu em Rondônia, que tem um dos menores PIBs, saltando de 7% para 15%. A obesidade infantil aumentou em todos grupos raciais, mas as crianças brancas apresentaram o índice mais alto em 2021 – 21% delas tinha obesidade ou obesidade grave, ante 18% entre crianças pretas e 16% entre pardas, que por sua vez tiveram índices maiores de magreza e magreza acentuada.

A proporção de crianças com obesidade grave pode crescer ainda mais nos próximos anos, já que também tem aumentado a taxa de sobrepeso na faixa etária de 5 a 10 anos de idade – 16% dos pesados em 2021, ante 14% no início da série histórica. Somando com os obesos, pode-se dizer que cerca de um terço das crianças acompanhadas pela pesquisa no Brasil estava com excesso de peso em 2021 – taxa que, em alguns estados, como o Rio Grande do Sul, chegava a quase metade das crianças pesadas. 

Os dados do Sisvan também mostram a consequência direta da má alimentação ao longo dos anos. Mais de 8% das crianças de 5 a 10 anos têm altura baixa ou muito baixa para a idade. O crescimento infantil é usado como um indicador de saúde das crianças. Até os 5 anos de idade, se as necessidades de saúde e nutrição das crianças são atendidas, o padrão de crescimento médio é semelhante. O déficit na altura é a característica mais representativa do quadro de desnutrição crônica no Brasil. Enquanto o baixo peso é um problema que pode ser revertido, o potencial de crescimento perdido na infância não pode ser recuperado. A proporção de crianças abaixo da altura ideal vinha caindo e atingiu o menor índice da série histórica em 2019 – 8% das crianças de 5 a 10 anos medidas – mas voltou a subir no ano seguinte. 

“A deficiência de estatura é muito mais preocupante do que a do peso. É o que se chama fome crônica, quando a criança cresce menos do que deveria porque não se alimentou direito”, diz o professor Rodrigo Vianna, do departamento de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “ No caso da estatura, quem comeu menos e ficou magro começa a crescer menos. A magreza é rápida, temporária e pode ser revertida. Já a estatura é a fome crônica, é ela que mostra o grande atraso do desenvolvimento do país”.

Na base de dados do Sisvan, o sudoeste do Amazonas aparece como a pior mesorregião do país em termos de estatura abaixo do esperado entre crianças dos 5 aos 10 anos de idade. A insegurança alimentar na região desafia o senso comum de que na Amazônia não se passa fome porque os recursos naturais são abundantes. O município de Atalaia do Norte (AM), perto da fronteira com a Colômbia – que ganhou notoriedade nas últimas semanas após o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips – detém o mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre os 62 municípios do estado do Amazonas, segundo os dados de 2010. De um total de 1.027 crianças de 0 a 5 anos pesadas em Atalaia em 2021, 89 tinham “magreza acentuada” (5% do total, portanto acima dos 3% da média nacional no período) ou “magreza” ( 4%, também acima dos 3,4% da média nacional).

Estado brasileiro com maior proporção de pobres, o Maranhão é um exemplo da dupla carga de má alimentação que atinge o Brasil. Tem taxas acima da média nacional de crianças abaixo do peso e também abaixo da altura esperada para a idade. Enquanto isso, a proporção de crianças acima do peso – embora não seja a mais alta no país – cresce ano a ano. Em Trizidela do Vale, onde os salgadinhos de pacote brilham sob o sol nos mercadinhos, o índice de obesidade (somando a moderada e a grave) mais do que triplicou: subiu de 4% em 2008 para 16% em 2021 entre as crianças de 5 a 10 anos. Já o índice de crianças abaixo do peso, que vinha caindo nos últimos anos, voltou em 2021 ao mesmo patamar de 2008. Ou seja: levando em conta o início da série histórica de dados do Sisvan e a situação atual, a desnutrição deixou de ser o principal problema nutricional em Trizidela do Vale – mas não porque deixou de existir. Agora desnutrição e a obesidade são problemas que se somam.

Na penúltima semana de junho, Anajara Guimarães levou o filho caçula, Marcos, de 6 anos, a uma consulta médica. Era uma campanha da igreja do bairro Aeroporto, região afastada do centro de Trizidela do Vale, onde a paisagem já começa a ganhar características rurais. No projeto social, as crianças são pesadas, medidas e os voluntários calculam o Índice de Massa Corporal (IMC) usando um programa de computador. Marcos estava pesando 15 kg. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o peso ideal para um menino da sua idade é de 20 a 23 kg. Além do baixo peso, que, de acordo com os critérios do projeto da igreja, configura um quadro de desnutrição, os exames do garoto também mostraram uma anemia severa. “Nesse dia eu voltei para casa chorando igual criança”, lembra a mãe, que passou a tomar remédios para conseguir dormir. 

Anajara Guimarães com o filho Marcos, de 6 anos, desnutrido. O garoto pesa 15 kg e está abaixo do peso considerado adequado para a idade - Foto: Camille Lichotti

A casa que Anajara Guimarães divide com os três filhos fica escondida num matagal do bairro. É uma construção de pau a pique, na qual o único vão foi dividido em dois quartos, separados por lençóis, sala e cozinha. Como ela está desempregada, o único dinheiro que entra regularmente na casa são os 400 reais do Auxílio Brasil. Mas o valor não é suficiente para garantir a alimentação da família, especialmente com a alta do preço dos alimentos. No fim de junho passado, por exemplo, só havia água na geladeira. No armário, meio saco de arroz e um punhado de feijão. “Não resta quase nada para comer”, diz Guimarães, apontando para o pequeno armário instalado na parede. Ela calcula que a família não come carne de gado há cerca de seis meses. As compras do mês costumam durar duas semanas – nas outras duas, é preciso “dar um jeito”. Guimarães conta que, quando ninguém aparece para ajudar, ela passa dias sem comer para garantir a acanhada alimentação dos filhos. 

A igreja forneceu algumas vitaminas e sulfato ferroso para tratar a anemia do filho mais novo, mas nenhum comprimido substitui a comida. E é justamente ela, a comida, que está em falta. A alimentação de Marcos é basicamente leite em pó e bolacha recheada, diz a mãe. Ele não come arroz e feijão, que é o que sobra no fim do mês, e na escola só toma sopa (a outra opção é arroz com sardinha, que ele não come). O menino gosta mesmo é das frutas: maçã, banana, mamão. Mas elas estão caras demais e a mãe deixou de comprá-las. “Aqui a gente mal tem o básico”, explica, resignada. 

A poucos minutos dali, num outro bairro pobre da mesma Trizidela do Vale, Maria de Fátima Nery, de 27 anos, mora com as três filhas, o namorado e a mãe. Ela diz se lembrar até hoje de quando a filha Maria Clara, de 6 anos, comeu o primeiro pacote de macarrão instantâneo, aos 9 meses de idade. Assim que terminou a refeição ultraprocessada, começou a ter febre e convulsões que duraram vinte dias. Hoje o macarrão instantâneo é uma de suas comidas favoritas. “Não sei que gosto tem, só sei que é bom”, explica a menina. Na última vez em que foi pesada, Maria Clara – que tem a mesma idade de Marcos –, estava com 45 kg. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o peso ideal para meninas nessa idade é de 20 a 23 kg.

Quando recebe algum dinheiro dos pais ou da avó, Maria Clara percorre os mercadinhos próximos à sua casa atrás dos pacotes de salgadinhos de milho, doces e biscoitos recheados – 4 reais garantem uma farra. Dentro de casa, a alimentação não costuma ser melhor. Verduras e legumes, já escassos, são os primeiros a desaparecer quando o orçamento aperta. Maria Clara não sabe, por exemplo, o que é couve. “É uma folha parecida com alface”, disse a mãe ao seu lado, ensaiando uma explicação. A menina também nunca comeu inhame ou beterraba. “É aquela vermelhinha”, a mãe teve que explicar mais uma vez. 

Maria de Fátima Nery com a filha Maria Clara, de 6 anos, e, abaixo, um dos mercados onde as crianças de Trizidela do Vale compram salgadinhos - Fotos: Joaquim Cantanhêde

A família recebe 400 reais por mês do Auxílio Brasil. Só o aluguel da casa onde moram custa 250 reais, e a conta de luz fica em torno de 150 reais por mês. “Para comer, a gente vai se ajeitando como dá”, conta a dona de casa. Nery não consegue planejar a alimentação das crianças porque não faz compras de mês – vai comprando a comida conforme o namorado, ajudante de pedreiro, recebe dinheiro. Às vezes o pai das duas filhas mais velhas paga a pensão de 150 reais ou a avó das meninas manda algum alimento. Mas quando manda, é sempre algo do agrado das netas: pacotes de macarrão instantâneo ou biscoitos recheados. A carne sumiu do prato. Para substituir, Nery agora compra salsicha – uma proteína ultraprocessada com alto teor de gordura –, ovo ou alguma outra mistura. “Estamos acostumados a comer o que aparecer”, diz.

Às vezes o que aparece à noite é o macarrão instantâneo. Maria Clara, a filha mais nova, prepara a refeição ultraprocessada sozinha e come assistindo televisão com a irmã. Também gosta de abrir algum pacote de salgadinho para beliscar enquanto assiste a vídeos no TikTok – fica acordada até quase 2 horas da manhã, diz a mãe. A exposição a telas, especialmente as digitais, durante as refeições é um dos piores hábitos alimentares dessa geração – e também está relacionada ao sedentarismo e aumento dos níveis de obesidade entre as crianças. Maria Clara não costuma passar por exames de rotina, mas a mãe percebe que ela está ficando cada vez mais cansada e às vezes reclama de fadiga quando sai para brincar. “Não considero nossa alimentação saudável porque a gente só vive comendo salsicha, macarrão, essas coisas. Eu nem gosto muito, mas a gente tem que fazer como dá. E não tem outra opção. Ou come isso, ou…”, diz Nery, sem completar a frase.

A endocrinologista Maria Edna de Melo acompanha de perto a transição nutricional no Brasil. Desde 2007 ela chefia a Liga de Obesidade Infantil da Faculdade de Medicina da USP, um grupo que acompanha pacientes da instituição ou casos indicados por outros especialistas. Nos últimos anos, Melo começou a notar uma diferença no padrão de atendimento de crianças com obesidade: elas chegam ao hospital mais jovens e com quadros cada vez mais graves. Há pouco tempo atendeu um menino de 7 anos que sentava no chão porque não conseguia subir na cadeira e tinha dificuldade até para se locomover. Também se tornou assustadoramente comum atender meninas e meninos que têm colesterol alto, hipertensão e diabetes antes de chegar à adolescência. “Eu nunca tinha visto isso antes”, diz a especialista. 

Além das doenças crônicas relacionadas ao excesso de peso, muitas crianças com obesidade – incluindo os níveis mais severos – não escapam da desnutrição. Não porque elas não têm o que comer, mas porque suas dietas costumam ser pobres em nutrientes essenciais. Assim como dividem o mesmo país, desnutrição e obesidade podem dividir a mesma cidade, a mesma casa e até o mesmo corpo. Exames de sangue dos pacientes atendidos no ambulatório da USP mostram deficiências de todos os tipos: de ferro, de vitaminas, de minerais. “Até a década de 1990, a fome era nossa principal preocupação quando falávamos sobre saúde nutricional das crianças. Mas agora temos esse outro problema”, explica Melo. Para ela, a tendência é que aumente o número de pessoas com excesso de peso, mas desnutridas, graças à má qualidade dos alimentos ingeridos. “Hoje não vejo luz no fim desse túnel”, diz.  

Quando o programa Fome Zero foi criado pelo governo federal em 2003, no primeiro ano do primeiro mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o principal desafio do Brasil no campo da nutrição era acabar com a fome. Depois da implementação de uma série de programas, a desnutrição entre crianças caiu mais de 70%, a mortalidade infantil despencou e o país finalmente saiu do Mapa da Fome. O passo seguinte era avaliar a população de forma mais detalhada e organizar ações específicas para resolver problemas pontuais e mais complexos.

Em 2013, na gestão de Dilma Rousseff (PT), o governo federal começou a desenhar o programa Brasil Saudável e Sustentável, uma iniciativa da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan), no guarda-chuva do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan). O objetivo era articular políticas públicas para enfrentamento do sobrepeso e obesidade. “Hoje nem se fala mais nesse programa, está abandonado”, diz a economista Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome durante o governo de Dilma Rousseff, de 2011 a 2016. 

O problema da fome entre os povos indígenas era outro passo a ser dado. “Essa situação não se resolve com Bolsa Família, tem que ter um conjunto de políticas específicas”, defende Campello. Os indígenas no Rio Grande do Sul, por exemplo, são completamente diferentes de povos mais distantes dos centros urbanos da região Norte. Certas comunidades têm problemas gravíssimos de carência de vitamina A – o que não significa que o governo precise distribuir vitamina A a toda a população. “A gente já estava chegando nesse nível de detalhamento, de fazer busca ativa em contextos específicos”, lembra Campello. “Agora não, agora voltamos a ter uma coisa massiva, uma Inglaterra inteira passando fome”. Com o retrocesso no quadro da fome, o Brasil precisa novamente apagar um incêndio de proporções gigantescas – mas dessa vez, com o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional desmantelado. 

Em seu primeiro dia de governo, o presidente Jair Bolsonaro extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), comitê que reunia representantes da sociedade civil e da administração pública para pautar e monitorar as políticas de segurança alimentar e nutricional. O conselho era a cabeça do sistema de segurança alimentar no Brasil. Do dia para a noite, a área ficou acéfala. “O Sisan ainda era um embrião, toda a articulação entre os programas ainda estava sendo construída, mas o processo foi minado na origem”, explica Campello. “É como se tivessem destruído o SUS em 1990.”

Como o sistema é transversal e não se restringe a um ministério, há iniciativas em vários braços do governo. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), um dos mais importantes para a segurança alimentar do país, é responsabilidade do Ministério da Educação. Durante a pandemia, o PNAE ficou à deriva, o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) foi esvaziado e substituído pelo Alimenta Brasil, que teve o orçamento quase zerado em 2021. O Programa de Cisternas também foi praticamente extinto. O Brasil passou pela maior crise sanitária do século – justamente os anos em que aumentaram a fome e a obesidade infantil – sem um Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Até hoje, o governo Bolsonaro não apresentou o documento que deveria orientar as políticas nutricionais entre os anos de 2020 e 2023. E não existe mais Consea para cobrá-lo. 

Para Ana Maria Segall, médica epidemiologista e especialista em saúde coletiva, o país está perdendo a liderança no combate à fome porque as coisas estão sendo feitas “de forma improvisada”. “Nós entramos numa situação terrível de retrocesso das políticas sociais e agora estamos no pior dos mundos”, diz ela, que foi membro do extinto Consea até 2014. Na avaliação da ex-ministra Tereza Campello, o enfraquecimento da rede assistencial e a perda de direitos trabalhistas também contribuíram para a volta da insegurança alimentar. “Para fome não há vacina. Se a população perde renda, a fome volta”, resume. “Se as pessoas não têm acesso à alimentação saudável, pode não voltar a fome, mas vai voltar a desnutrição. E logo em seguida também volta a mortalidade infantil. É um escândalo.”

As duas faces da má alimentação no Brasil entraram no radar das organizações internacionais que há anos atuam no combate à fome. O Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), agência humanitária ligada à Organização das Nações Unidas, já considera o duplo fardo da desnutrição como um desafio sem precedentes. A “fome oculta” – ou seja, a deficiência de vitaminas e minerais –, a obesidade e a desnutrição andam juntos. E embora aparentemente não relacionados, “esses problemas têm as mesmas causas: pobreza, desigualdade e dietas pobres”, diz o site da WFP. “O que as crianças comem precisa ser suficiente para uma vida saudável, para que elas possam se desenvolver”, afirma Daniel Balaban, representante da agência no Brasil e diretor do Centro de Excelência Contra a Fome. “Não basta só dar comida. Para zerar a fome precisamos pensar também no tipo de comida que chega para as crianças.”

Balaban acompanhou de uma posição privilegiada a infame trajetória do Brasil, que deixou de ser exemplo para o mundo para se tornar o caso a não ser seguido. Como diretor do Centro de Excelência Contra a Fome, ele estava acostumado a receber comitivas internacionais para tratar de boas notícias. Seu trabalho era justamente ensinar outros países a combaterem a fome tomando como exemplo as ações brasileiras. “Nosso escritório recebeu mais de cinquenta países diferentes, ajudamos mais de trinta nações a criarem políticas in loco. Levamos a ideia do Consea a esses países, as políticas públicas, tudo”, lembra Balaban. Agora, quando recebe visitas internacionais, o economista se vê numa saia justa diplomática. Todos perguntam o que aconteceu com o Brasil, e ele diz que fica até sem graça: “Esse sempre é o momento mais triste.”

[Conteúdo exclusivo para médicos] O que está nos impedindo de conter a crise da obesidade?

No início de junho de 2022, quando o estudo SURMOUNT-1 relatou uma perda de peso de mais de 20% com tirzepatide, uma explosão de postagens de mídia social rotulou os resultados como "sem precedentes", "fenomenais" e "mudança de jogo". À medida que as taxas de obesidade continuam a aumentar em todo o mundo e a carga de doenças para indivíduos e sistemas de saúde atingiu níveis alarmantes, a expansão do portfólio de medicamentos voltados para a obesidade é essencial.

A tirzepatide já havia acumulado muita excitação nas comunidades de diabetes e obesidade, após a publicação dos ensaios clínicos de fase 3 do SURPASS. Coletivamente, esses ensaios mostraram melhorias significativas no controle glicêmico em pessoas com diabetes tipo 2, levando à aprovação da FDA para essa indicação, e também atenderam aos seus desfechos secundários de perda de peso.

A tirzepatida é um agonista de receptor duplo do polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP) e do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), dois hormônios incretinais intestinais que estimulam a secreção de insulina após a ingestão de alimentos. Sabe-se que os agonistas do receptor GLP-1 facilitam a perda de peso, retardando o esvaziamento gástrico, criando assim uma sensação de plenitude e reduzindo a ingestão de alimentos. O SURMOUNT foi construído com base no programa experimental STEP, que levou à aprovação por vários órgãos reguladores do agonista do receptor GLP-1 semaglutida (NovoNordisk) para obesidade como adjuvante de uma dieta de baixas calorias e aumento da atividade física.

A semaglutida foi o primeiro medicamento aprovado para controle crônico de peso em adultos com obesidade ou excesso de peso desde 2014 e Eli Lilly está supostamente trabalhando com a FDA em um cronograma para aprovação da tirzepatide para obesidade.

Tratamentos que intervêm em mais de uma via regulatória, como a tirzepatide, podem aumentar a eficácia por meio de respostas sinérgicas ou aditivas e ser de grande valor em doenças complexas; de fato, os resultados promissores do SURMOUNT-1 corroboram essa visão. Se os resultados da perda de peso sob tirzepatide, ou semaglutida, são realmente duradouros, ainda precisa ser testado. Independentemente disso, esses sucessos farmacológicos, sem dúvida, ajudarão as pessoas com obesidade, mas não devem ser vistos, como nenhum tratamento deveria, como uma bala mágica para a obesidade.

A obesidade é uma condição multifatorial, decorrente de uma combinação de fatores biológicos, de estilo de vida, socioeconômicos e ambientais, e é exacerbada por determinantes comerciais e políticos. Além da genética, todos os outros fatores de risco para obesidade são potencialmente modificáveis. A responsabilidade pessoal é importante, mas as ações do governo são primordiais. O acesso equitativo a dietas saudáveis e acessíveis continua sendo um problema global. Medidas para minimizar a exposição a ambientes obesogênicos enfrentam desafios persistentes de implementação. Por exemplo, em maio de 2022, o governo do Reino Unido atrasou a proibição de anunciar certas categorias de alimentos e bebidas ricas em gordura, sal ou açúcar.

Longe está a noção de que a obesidade é um problema exclusivo de países de alta renda. Mais de um terço dos países de baixa e média renda (LMICs) documentaram taxas crescentes de obesidade ao lado da desnutrição. Na China, historicamente um país com uma população magra em geral, metade dos adultos agora vive com sobrepeso ou obesidade. Mesmo que houvesse uma cura para a obesidade, para quem ela estaria disponível? Os agonistas do receptor GLP-1 e os inibidores do SGLT2 estão frequentemente fora de alcance de pessoas em LMICs e até mesmo em países de alta renda, devido aos seus custos. Como a obesidade ainda é considerada um resultado de más escolhas de estilo de vida, as pessoas enfrentam barreiras ao tratamento e cuidados, e as companhias de seguros podem fornecer menos cobertura para a obesidade do que para o diabetes. 

Se aprovada para o tratamento da obesidade, a tirzepatide, que potencialmente precisaria ser tomada ao longo da vida, poderia ser outra droga de elite, disponível apenas para os mais ricos e aqueles que têm a sorte de viver em um país com um sistema de saúde robusto. 

Em vários países, incluindo os EUA e a Austrália, onde a semaglutida ainda não foi aprovada para obesidade, um aumento inesperado na demanda do consumidor e na prescrição off-label levou à escassez de suprimentos.

O desenvolvimento de novas drogas empolgantes deve ser comemorado, mas é apenas um dos muitos esforços necessários para combater a obesidade. "Prevenir é melhor do que remediar" não é um mantra controverso, mas em um mundo que anseia por gratificação imediata, a prevenção muitas vezes ocupa o segundo lugar. Os resultados das estratégias de prevenção, pelo menos em doenças crônicas, são incertos e difíceis de medir, e acontecem em um cronograma que raramente se alinha com as agendas políticas. Mas não é necessário ensaios clínicos randomizados para entender que a prevenção é fundamental para neutralizar o aumento da obesidade e das comorbidades associadas - o que precisamos é de uma mudança de mentalidade, o que requer uma boa dose de bom senso, engajamento público e vontade política.

“Compartilhar é se importar”
EndoNews: Lifelong Learning
Inciativa premiada no Prêmio Euro - Inovação na Saúde
By Alberto Dias Filho 
twitter: @albertodiasf

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Estudo PREVIEW: mudança no estilo de vida não funciona para todos

Sobrepeso e obesidade estão associados a um maior risco de desenvolver comorbidades como diabetes, dislipidemias e doenças cardiovasculares. E para prevenir essas doenças, a perda de peso está entre as principais recomendações dos órgãos e associações de saúde.

As mudanças no estilo de vida têm um espaço de destaque na perda de peso, visto que, promovem adaptações que intervém não somente na saúde cardiometabólica, mas também na qualidade de vida e bem estar do paciente. Porém, alguns estudos demonstram que as diferenças de idade e sexo podem fornecer resultados distintos a essa intervenção.

Buscando analisar os resultados de uma dieta hipocalórica seguida de mudanças no estilo de vida em idosos e adultos, avaliando também os possíveis desfechos distintos em homens e mulheres, uma pesquisa utilizou os dados de 2.223 pacientes com sobrepeso e pré-diabetes no estudo multicêntrico de prevenção do diabetes: PREVIEW.

Dieta e intervenções no estilo de vida
Esse estudo foi realizado em oito centros de intervenção na Dinamarca, Finlândia, Holanda, Reino Unido, Espanha, Bulgária, Austrália e Nova Zelândia. E para essa observação secundária, 2.223 indivíduos atendiam aos critérios e foram classificados em: jovens (n = 783; 25 a 45 anos), adultos de meia-idade (n = 319; 46 a 54 anos) e idosos (n = 1.121; 55 a 70 anos), sendo 1.503 mulheres e 720 homens.

A primeira fase do estudo foi uma dieta hipocalórica (≈ 813 kcal/dia) durante 8 semanas para perda de peso e a segunda de 148 semanas para manutenção do peso com dieta hiperproteica (25% proteínas e 45% carboidratos) e de baixo índice glicêmico (< 50) ou dieta moderada em proteínas (15% proteínas e 55% carboidratos) e moderado índice glicêmico (56 – 70), ambas combinadas com atividade física de intensidade alta (75 min/semana) ou moderada (150 min/semana).

Foram realizadas visitas de aconselhamento para melhorar a alimentação e a conformidade com a atividade física, com diminuição da frequência à medida que o estudo progredia. Os desfechos foram coletados a cada sete dias de investigação clínica (nas semanas 0, 8, 26, 52, 78, 104 e 156).

Será que foram encontradas diferenças?
Resultados significativamente diferentes não foram encontrados entre idosos e adultos de meia idade. E após a primeira fase, com intervenção hipocalórica, jovens adultos e idosos, também tiveram perda de peso semelhante.

No entanto, na segunda fase do estudo, os idosos tiveram melhora superior na glicose plasmática e na pressão arterial sistólica e maior perda de peso após a intervenção de estilo de vida, porém, essa perda de peso nos idosos foi de massa magra.

Quando comparados, homens e mulheres apresentaram diferenças na perda de peso e nos fatores de saúde cardiometabólica. As mulheres tiveram menor perda de peso com maior perda de massa magra e menor melhoria na hemoglobina glicada, colesterol LDL e pressão arterial diastólica na primeira intervenção.

Na segunda fase, esses resultados se mantiveram, mas as mulheres demonstraram melhorias superiores na glicemia em jejum, triglicerídeos e colesterol HDL.

Conclusão
Nessa análise, idosos e mulheres apresentaram benefícios reduzidos nas intervenções de estilo de vida e dieta hipocalórica, respectivamente.

Referência: Zhu, R., Craciun, I., Bernhards-Werge, J. et al. Age- and sex-specific effects of a long-term lifestyle intervention on body weight and cardiometabolic health markers in adults with prediabetes: results from the diabetes prevention study PREVIEW. Diabetologia (2022). https://doi.org/10.1007/s00125-022-05716-3

Fonte: https://nutritotal.com.br/pro/estudo-preview-mudanca-no-estilo-de-vida-nao-funciona-para-todos/?utm_campaign=quin_nutrimail_07-07-22&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

Meio ambiente, produção agrícola e o papel dos profissionais de saúde

Todas as atividades humanas na Terra produzem algum impacto ao meio ambiente e com a alimentação não seria diferente. Desde o plantio da semente até o consumo, existe um longo caminho e uma relação intrínseca com os recursos naturais. No entanto, é possível produzir alimentos saudáveis e acessíveis de forma sustentável, desde que haja colaboração e ação dos setores público, privado e a social, além do investimento em ciência e inovação.

Com o aumento exponencial da população e as mudanças climáticas, é necessário investir em ciência e inovação para gerar soluções tecnológicas que ajudem a aumentar a produção de alimentos, enquanto preservamos o meio ambiente. Nesse contexto, por exemplo, surgiu a agricultura moderna que oferece soluções ao agricultor para otimizar a produção de cultivos e vencer seus desafios.

Como a agricultura moderna auxilia na redução dos impactos causados ao meio ambiente?

Como a agricultura moderna auxilia na redução dos impactos causados ao meio ambiente?
A biotecnologia, por exemplo, uma das técnicas empregadas na agricultura moderna, contribui para a produção alimentar necessária para atender a demanda populacional na limitada terra disponível, bem como ajuda a mitigar os efeitos do aquecimento global. Ela propicia um rápido e preciso melhoramento genético de plantas, resultando em soluções tecnológicas seguras e benéficas.

As plantas geneticamente modificadas (GM) são cruciais para aumentar a produtividade reduzindo a necessidade de expansão das áreas de cultivo e o uso de insumos agrícolas, evitando desmatamento e ainda promovendo o sequestro de carbono no solo. Além disso, as culturas GM diminuem a necessidade do uso de maquinários e, portanto, seus combustíveis, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

E qual o papel dos profissionais de saúde na preservação dos recursos ambientais?

Além do investimento em ciência e inovação, para minimizar os efeitos ao meio ambiente, precisamos da colaboração e ação de todos. Apesar das soluções agrícolas atuais permitirem uma produção alimentar mais farta e sustentável, ainda existe uma parcela significativa da população que passa fome, ao mesmo tempo em que outra parcela apresenta sobrepeso e obesidade. Garantir a segurança alimentar é um dos grandes desafios atuais.

Sendo assim, o impacto não está somente na produção de alimentos, mas também em quem consome. E é nesse sentido que os profissionais de saúde podem contribuir. O consumo alimentar desenfreado e rico em alimentos ultraprocessados provoca piora na saúde, além de prejuízos ao meio ambiente.

Por serem mais baratos e acessíveis, produtos ultraprocessados vêm ganhando lugar, substituindo o espaço que as frutas, legumes, verduras, grãos, sementes e cereais deveriam ocupar na alimentação do povo brasileiro. É por esse motivo que devemos indicar a feira: os alimentos convencionais são igualmente nutritivos aos orgânicos, porém costumam ser mais acessíveis.

Além dos benefícios a saúde, um estudo realizado no Reino Unido demonstrou que quando os indivíduos optam por dietas com variedade de frutas, verduras e legumes, seguindo a recomendação de ingestão dos órgãos de saúde do país, eles podem contribuir para a redução dos impactos ambientais. O que é compreensível, já que quando se reduz o consumo de alimentos ultraprocessados – que geralmente vêm em embalagens plásticas – reduz-se a produção de lixo não orgânico.

Então, é importante que os profissionais de saúde, em especial nutricionistas, entendam que, ao recomendarem um consumo alimentar mais equilibrado – rico em frutas, verduras e legumes e, se possível, sem o uso de ultraprocessados – os efeitos vão além do indivíduo. A orientação de hábitos alimentares mais saudáveis influencia diretamente no equilíbrio do ecossistema, contribuindo para a preservação do meio ambiente.

Referências
  1. Boettcher Paul J., Hoffmann Irene, Baumung Roswitha, Drucker Adam G., McManus Concepta, Berg Peer, Stella Alessandra, Nilsen Linn B., Moran Dominic, Naves Michel, Thompson Mary C. Genetic resources and genomics for adaptation of livestock to climate change. Frontiers in Genetics, Vol. 5, 2015
  2. Corcino, Cícero Oliveira et al. Avaliação do efeito do uso de agrotóxicos sobre a saúde de trabalhadores rurais da fruticultura irrigada. Ciência & Saúde Coletiva. v. 24, n. 8, pp. 3117-3128. https://doi.org/10.1590/1413-81232018248.14422017.
  3. Guipeng Hu, Yin Li, Chao Ye, Liming Liu, Xiulai Chen, Engineering Microorganisms for Enhanced CO2 Sequestration, Trends in Biotechnology, Volume 37, Issue 5, 2019, Pages 532-547. https://doi.org/10.1016/j.tibtech.2018.10.008.
  4. Martinelli, Suellen Secchi e Cavalli, Suzi Barletto. Alimentação saudável e sustentável: uma revisão narrativa sobre desafios e perspectivas. Ciência & Saúde Coletiva. v. 24, n. 11, pp. 4251-4262. https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.30572017.
  5. Montoya, Marco Antonio e Finamore, Eduardo Belisário. Os recursos hídricos no agronegócio brasileiro: Uma análise insumo-produto do uso, consumo, eficiência e intensidade. Revista Brasileira de Economia 74 (2021): 441-464.
  6. Ramankutty, N. et al. Trends in Global Agricultural Land Use: Implications for Environmental Health and Food Security. Annual Review of Plant Biology, (2018).
  7. Ribeiro, Helena, Jaime, Patrícia Constante e Ventura, Deisy. Alimentação e sustentabilidade. Estudos Avançados. 2017, v. 31, n. 89, pp. 185-198. https://doi.org/10.1590/s0103-40142017.31890016.
  8. Willett, Walter et. al. Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems, The Lancet, Volume 393, Issue 10170, 2019, Pages 447-492, https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31788-4.
Fonte: https://nutritotal.com.br/pro/meio-ambiente-producao-agricola-e-o-papel-dos-profissionais-de-saude/?utm_campaign=quin_nutrimail_07-07-22&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Intolerância histaminérgica e síndrome de ativação mastocitária - Aspectos nutrológicos

Em 2014 postei no meu instagram sobre FODMAPS, que os médicos ainda ouviriam falar muito sobre aquela dieta. Na época eu fazia a pós de Nutrologia da ABRAN e pouquíssimos profissionais estavam antenados sobre o que estava ocorrendo na universidade de Monash na Austrália. Hoje é uma abordagem mundialmente reconhecida, mas poucos nutrólogos e nutricionistas sabem trabalhar da forma correta. 

Hoje venho trazer para vocês um tema que vocês ouvirão falar muito nos próximos anos. Intolerância histaminérgica e síndrome de ativação mastocitária. São condições que comumente ocorrem em indivíduos com hipermobilidade articular e/ou com Taquicardia postural, e/ou disautonomia.  Para ler mais acesse: https://www.ecologiamedica.net/2022/07/intolerancia-histaminergica-e-sindrome.html


Dentro da Ativação mastocitária (SAM), pode existir a intolerância à histamina (IH). Nos próximos meses falarei mais sobre o tema e o que se tem visto na literatura. Hoje trago uma postagem do pessoal do Ganep sobre a microbiota e a intolerância histaminérgica.

Intolerância à histamina pode ser influenciada pela microbiota?

A histamina é uma amina biogênica heterocíclica presente em diversos alimentos ou produzida por atividade da microbiota intestinal. A intolerância à histamina ocorre especialmente pela deficiência de diamina oxidase (DAO), enzima chave para a degradação de histamina no epitélio intestinal. Até o momento, sabe-se que a deficiência de DAO pode estar relacionada a fatores genéticos, farmacológicos ou patológicos (desordens inflamatórias, degenerativas e intestinais). Uma hipótese recente sugere que alterações na diversidade da microbiota intestinal podem contribuir para o desenvolvimento de intolerância à histamina.

Para caracterizar a composição da microbiota intestinal de pessoas com intolerância à histamina e comparar com a microbiota de indivíduos saudáveis, Sánchez-Pérez e colaboradores desenvolveram um estudo recente, com 26 participantes, sendo 12 mulheres. Os participantes foram divididos em 2 grupos: intolerância a histamina (grupo HIT) e controle (sem intolerância). O grupo HIT foi composto por 12 mulheres de 21 a 65 anos e IMC médio de 23,7Kg/m²; enquanto o grupo controle foi composto de 14 participantes homens e mulheres adultos, com IMC médio de 22,2Kg/m².

O diagnóstico do grupo HIT foi realizado pela presença de 2 ou mais sintomas descritos por Maintz e Novak (2007), e por resultados negativos para IgE específica para alérgenos alimentares. Foram avaliadas as características demográficas e os sintomas clínicos, em todos participantes. Para a análise da microbiota intestinal e da concentração de histamina, amostras de fezes foram auto-colhidas em frascos estéreis e armazenadas a -80 ◦C até suas análises. O sequenciamento da microbiota intestinal foi avaliado pela técnica 16S rRNA (região V3-V4) e os dados foram analisados pelo banco de dados EzBioCloud.

No grupo HIT, queixas gastrintestinais e neurológicas foram relatadas por 83% dos participantes, seguidos por queixas dermatológicas (50%) e respiratórias (33%). No geral, os sintomas mais frequentemente relatados foram distensão abdominal e dor de cabeça, seguidos de flatulência, diarreia, azia e dores abdominais, musculares e articulares. A atividade plasmática da DAO foi deficiente (<10 U/mL) em 10 dos 12 participantes do grupo HIT.

A microbiota intestinal dos grupos HIT e controle foi analisada e comparada em termos de filo, família, gênero e espécie. A presença de disbiose intestinal foi observada no grupo HIT, que, em comparação com ao grupo controle, apresentou menor proporção de bactérias relacionadas à saúde intestinal: Prevotellaceae, Ruminococcus, Faecalibacterium e Faecablibacterium prausnitzii. Grupo HIT também apresentou abundância significativamente maior de bactérias histaminogênicas, incluindo os gêneros Staphylococcus e Proteus, gêneros não identificados pertencente à família Enterobacteriaceae, e as espécies Clostridium perfringens e Enterococcus fecalis.

Os autores concluíram que a maior abundância de bactérias histaminogênicas favoreceu o acúmulo de altos níveis de histamina no intestino e foi associado com efeitos adversos da intolerância. Contudo, as limitações do estudo devem ser levadas em conta em estudos futuros que visem elucidar a relação entre disbiose intestinal e intolerância à histamina.

Por Priscila Garla

Referência: Sánchez-Pérez, S.; Comas-Basté, O.; Duelo, A.; Veciana-Nogués, M.T.; Berlanga, M.; Latorre-Moratalla, M.L.; Vidal-Carou, M.C. Intestinal Dysbiosis in Patients with Histamine Intolerance. Nutrients 2022, 14, 1774. https://doi.org/10.3390/nu14091774

REDE PARA A QUAL ENCAMINHO OS PACIENTES PORTADORES DE SED, SAM, IH

Dra. Kaliny Cristine Trevezani de Souza - Médica Pediatra - https://www.instagram.com/kaliny.hiper/ (Atende crianças com SED)

Adultos:

Dra. Maike Heerdt - Médica Fisiatra  - https://www.instagram.com/dramaikeheerdt/ (Atende adultos com SED).

Dra. Joseane Brostel Figueiredo David (Médica SEDiana)
CRM: 18.850.
Especialidade: Clínica Médica e Cardiologia (atende os casos de disautonomia)
No momento está atendendo somente por Telemedicina.
Fone do consultório para agendamento online: (61) 9207-9809.
Instagram: @drajoseane.brostel

Dra. Thania Rossi - Sediana
CRM 141717 SP 
RQE-NCR 57605/ DOR | RQE: 576081
Especialidade: Neurocirurgia/Médica Da Dor. 
Atende presencial na Rua Demóstenes 627 Conj 73, Campo Belo - Sao Paulo - SP. Atende por telemedicina.
Fone do consultório para agendamento online ou presencial: (11) 97784-8639
Redes sociais: @drathaniarossi_neuro

Dr. Björn Erik Peter Dreisbach
CRM-MG 72953
Atende em Belo Horizonte e por telemedicina.
Fone do consultório para agendamento online ou presencial: (31) 8274-4948

Dr. Pedro Paulo Prudente
CRM-GO 12744 RQE 13637/ 9352
Especialidade: Medicina do esporte e Acupuntura. Área de atuação em Dor.
Atende presencial na Av. Assis Chateubriand, na Clinica Supere.
Fone para agendamento online ou presencial: (62) 98132-0244 (clique aqui)
https://tratamentodor.com.br/bio/

Nutricionistas com experiência em Intolerância histaminérgica e SED

Dr. Rodrigo Lamonier - Hashimoto e Celíaco
Instagram: @rodrigolamoniernutri

Dra. Juliana Carneiro - Sediana
Instagram: @julianacarneiro.nutri/

terça-feira, 5 de julho de 2022

Perguntas frequentes pertinentes à Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (CODAME) do CRM-SC

Sempre afilhados ou colegas que estão estudando nutrologia me enviam a seguinte pergunta:
"Posso colocar Nutrologia na biografia do meu perfil do instagram?" ou "Posso escrever Nutrologia no meu carimbo de médico" ou então "Posso falar que sou pós-graduado em Nutrologia". 

Se você não tem registro de qualificação de especialista (RQE) de Nutrólogo, a resposta para todas essas perguntas é NÃO. 

O médico pode ter problemas não só relacionados à infração ética, mas também responder civilmente ou penalmente. 

No caso da responsabilidade civil é preciso que tenha acontecido algum prejuízo ao paciente e o simples fato de ser propaganda enganosa, já pode ser compreendido como um prejuízo ao paciente. E assim o médico pode ter de arcar com indenizações por danos físicos e morais. E como já dito, isso pode vir da alegação de propaganda enganosa. O paciente pode pode solicitar a devolução do valor pago pela consulta, caso tenha sido levada ao erro de acreditar que o médico era nutrólogo.  Nos casos em que houve erro médico, aí o médico pode se complicar ainda mais, pois, a prática irregular da especialidade se tornará um forte argumento de que houve imperícia no ato médico, podendo levar a uma indenização significativa.

Já a responsabilização penal ocorre da seguinte maneira. Suponhamos que o médico se declare gastroenterologista sem ter um RQE. Se durante um procedimento invasivo (endoscopia) ocorrer uma complicação ou uma lesão, há um risco de o paciente judicializar a questão por alegação de erro médico. Mesmo que o médico tenha executado todas as ações dentro do que é estabelecido pelos guidelines, a prática irregular da especialidade pode fortalecer alegações de imperícia. 

Além disso, há uma disposição na Lei das Contravenções Penais que pode punir o médico mesmo que o paciente não tenha sofrido uma lesão. Para se enquadrar no exercício irregular da profissão, basta que a pessoa se enquadre na conduta do artigo 47: Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício. Apesar de ser uma punição leve, podendo resultar em 15 dias a 3 meses de prisão, isso pode representar uma mancha na carreira.

Abaixo um material elaborado pela CODAME do CRM-SC, com as dúvidas mais comuns quando se trata de publicidade médica.

1. Posso anunciar minha especialidade e/ou área de atuação?
Sim. O médico pode anunciar os títulos de especialista ou área de atuação que registrar no Conselho Regional de Medicina local. O profissional, portanto, só poderá divulgar e anunciar no máximo até duas especialidades e duas áreas de atuação.

2. O que é RQE?
RQE é o registro de qualificação de especialista. Você o obtém ao registrar seu título de especialista em um Conselho Regional de Medicina.

3. Posso anunciar que sou membro de uma sociedade?
É possível se apresentar como membro de sociedades que tenham relação com sua especialidade registrada no CRM local.

4. Sou Cardiologista e fiz um mestrado em psiquiatria. Posso fazer referência a este título?
Não. A resolução não permite que você associe títulos acadêmicos à sua especialidade médica quando eles não são da mesma área. O CFM entende que o anúncio desse título confunde o paciente. Com esse tipo de anúncio o paciente pode ser lavado a crer, por exemplo, que o mestrado torna você um psiquiatra ou um cardiologista mais habilitado, o que não é verdade. De qualquer modo, você pode anunciar todos os títulos que possui relacionados a sua especialidade; eles só precisam ser previamente registrados no CRM local.

5. Fiz pós-graduação lato sensu em uma área que não é considerada especialidade médica pelo CFM. Posso anunciar?
Não. Por terem potencial para confundir o paciente, esses títulos não devem ser anunciados.

6. Tenho uma pós-graduação em geriatria, mas não tenho título de especialista. Posso inserir a palavra “geriatria” em meu carimbo?
Não. Para se apresentar como geriatra ou como profissional de geriatria é preciso ter o título de especialista em geriatria adquirido por meio programa de residência médica ou por meio de avaliação de sociedade de especialidade reconhecida pelo CFM. O paciente deve ter clareza sobre a formação do médico que o atende.

7. Sou psiquiatra. A medicina do sono é uma área de atuação da psiquiatria. Não tenho título de sociedade, mas fiz uma pós-graduação lato sensu neste campo – posso anunciá-la?
Não. Para anunciar-se como profissional de determinada área de atuação é necessário ter título adquirido por meio programa de residência médica ou por meio de avaliação de sociedade de especialidade reconhecida pelo CFM. Este título deve ser registrado no CRM local.

8. Na localidade onde atuo, haveria melhor comunicação com os pacientes se eu pudesse dizer que sou um especialista em coração, por exemplo, ao invés de dizer que sou cardiologista. Isso é possível?
Sim. Se você é especialista, pode anunciar que cuida dos sistemas, órgãos e doenças relacionados a sua especialidade.

9. Os treinamentos que realizei que não resultaram em um título acadêmico, relacionados com minha especialidade, podem ser anunciados?
Sim. Antes de anunciá-los, no entanto, você deve registrá-los no CRM local.

10. Em cartões de visita posso fazer referência ao endereço na internet do currículo que mantenho em plataformas científicas?
Sim. Os títulos indicados no currículo devem ser registrados no CRM local.

11. A clínica pode distribuir um catálogo no qual apresenta seu corpo clínico e o currículo de cada profissional?
Em um material desse tipo devem ser apresentadas apenas as informações relacionadas à especialidade de cada profissional. Títulos acadêmicos não relacionados à especialidade do médico podem confundir os pacientes quanto ao campo de atuação do profissional que o atenderá; não devem ser divulgados, portanto.

12. Para resguardar sua privacidade, alguns pacientes preferem que eu não indique minha especialidade em atestados médicos. Há alguma restrição quanto a isso?
Não. Não há qualquer problema em apresentar-se apenas como médico.

13. É permitido usar fotos de pacientes para demonstrar o resultado de tratamentos ou para algum outro fim promocional?
Não. O uso da imagem de pacientes é expressamente proibido, mesmo quando há a autorização do paciente.

14. Vou apresentar um artigo em um congresso; gostaria de usar fotos. A resolução permite?
Quando imprescindível, o uso da imagem em trabalhos e eventos científicos é permitido, desde que autorizado previamente pelo paciente.

15. Existe uma orientação técnica sobre como a resolução deve ser aplicada?
Sim. O anexo I à resolução CFM 1974/11 estabelece critérios que permitem o perfeito cumprimento das regras. Há orientações, por exemplo, sobre cores, tipo e tamanho de letras e especificações para rádio e televisão.

16. Deverei ajustar o material do consultório ou da clínica?
Documentos médicos devem conter nome do profissional, especialidade e/ou área de atuação registrada no CRM (quando for o caso), número de inscrição no CRM local e número de registro de qualificação de especialista (RQE; também quando for o caso). Pessoas jurídicas devem apresentar em seus documentos nome e número de registro em CRM do diretor-técnico médico da instituição. As regras também valem para instituições vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). O CFM recomenda que todos os médicos leiam a resolução CFM 1974/2011, em cujos anexos existem explicações, detalhamentos e exemplos. O documento está disponível em www.cfm.org.br.

17. No material publicitário, posso fazer referência aos aparelhos de que a clínica dispõe?
Sim. Não é permitido, entretanto, insinuar que o equipamento é a garantia de que determinado tratamento alcançará bom resultado, ou que ele dá capacidade privilegiada à instituição ou ao profissional que o utiliza.

18. Posso contratar atores e outras pessoas célebres para atuar na publicidade dos meus serviços?
Sim, pessoas leigas em medicina podem participar dos anúncios, desde que não afirmem ou sugiram que utilizam os serviços ou recomendem seu uso. A peça publicitária deve se limitar a apresentar o serviço do profissional ou estabelecimento.

19. As regras alcançam diretores-técnicos de estabelecimentos de saúde?
Sim. O diretor-técnico deve zelar pelo cumprimento da resolução na instituição que dirige, fazendo constar em todas as peças de comunicação e papelaria seu nome e número de registro no CRM local.

20. Minha clínica pode agendar consultas por meio de e-mail e outros mecanismos de comunicação?
Sim. As restrições quanto ao uso desses mecanismos se aplicam apenas à orientação médica. A administração de clínicas e consultórios pode se valer dessas ferramentas.

21. O bloco de notas de minha empresa deve ter nome e número de registro do diretor-técnico no CRM? E a placa que mantenho no interior da clínica?
Todo e qualquer material que apresente o nome da empresa deve indicar nome e número de registro do diretor-técnico no CRM.

22. Em minha cidade há um evento anual em que são homenageados os profissionais mais destacados no ano, inclusive médicos. Posso receber a homenagem?
Não. A resolução veda ao médico a participação em concursos ou eventos cuja finalidade seja escolher, por exemplo, o “médico do ano” ou o “melhor médico”, ou conceder títulos de caráter promocional. As homenagens acadêmicas e aquelas oferecidas por entidades médicas e instituições públicas são permitidas. Dúvidas a esse respeito podem ser esclarecidas com a Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (CODAME) do CRM local.

23. Trabalho em uma região que dispõe de poucos médicos. Eu poderia oferecer serviços a distância, prestando auxílio por telefone a pacientes que residem em municípios vizinhos?
Não. A resolução proíbe o médico de oferecer consultoria a pacientes e familiares em substituição à consulta médica presencial. O médico pode, porém, orientar por telefone pacientes que já conhece, aos quais já prestou atendimento presencial, para esclarecer dúvidas em relação a um medicamento prescrito, por exemplo.

24. Posso participar de anúncios que deem aval ao uso de determinados produtos?
Não. O médico não deve participar de ações publicitárias de empresas ou produtos ligados à medicina. Esta proibição se estende a entidades sindicais e associativas médicas.

25. De tempos em tempos sou procurado pela imprensa para dar entrevistas sobre assuntos médicos. Há alguma restrição?
O médico pode conceder entrevistas ou colaborar com mídia somente para oferecer esclarecimentos à sociedade. Estas colaborações não podem ser usadas para autopromoção, aferição de lucro ou para angariar clientela – não é permitido, por exemplo, permitir nessas oportunidades a divulgação de endereço ou telefone de consultório.

26. Como devo me portar em entrevistas?
O médico deve ter uma postura de esclarecimento, que exclua o sensacionalismo, a autopromoção, a concorrência desleal, a sugestão de que trabalha com técnicas exclusivas e a defesa de interpretações ou procedimentos que não tenham respaldo científico.

27. O médico não deve veicular informações que causem intranquilidade à sociedade. O que fazer se meus estudos me levam a crer que há razões para se chamar a atenção, para um problema de saúde pública?
Neste caso, o médico deve transmitir às autoridades competentes e aos Conselhos Regional e Federal de Medicina as razões de sua preocupação. Esse comunicado deve ser protocolado em caráter de urgência, para que sejam tomadas providências.

28. Tenho um blog. Posso disponibilizar informações sobre saúde por meio dele?
Sim. Não é permitido, porém, prestar consultoria por meio desta ferramenta.

29. O que devo informar no carimbo médico?
No carimbo médico deverá constar o nome completo do médico, número do CRM e a sigla do estado da respectiva inscrição e o número do registro de qualificação de especialista- RQE, caso divulgue a especialidade.

Fontes:

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Beterraba é bom para anemia ?

  
Você provavelmente já deve ter presenciado e/ou até mesmo sido exposto ao tratamento de anemia ferropriva (por deficiência de ferro) através do consumo de beterraba (suco, cozida, purê e outras formas) . Um "tratamento" passado e repassado entre nossos avós, mães e outros familiares.

Mas, será que consumir beterraba trata mesmo a anemia?

A resposta é: NÃO, esse é um grande MITO!

Para que você tenha uma ideia:

100g de beterraba tem apenas 0.2mg de ferro do tipo NÃO heme (que é bem menos absorvido que o ferro heme da carne vermelha, por exemplo).

Ou seja, caso você consuma 1kg de beterraba, você estará ingerindo apenas 2mg de ferro, sendo que a recomendação diária é de aproximadamente ~8mg/dia homens e 18mg/dia mulheres, logo, não faz nem cócegas em um possível tratamento de anemia, que pode ser recomendado doses bem superiores a essas (inclusive através da suplementação).

Sendo assim, que tal buscar o acompanhamento nutricional adequado para tratar seu déficit de ferro? Os resultados serão melhores e mais rápidos!

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.