domingo, 27 de novembro de 2022

Sintomas de anemia: como a alimentação pode ajudar?

A anemia é um grave problema de saúde pública global, que afeta principalmente crianças e mulheres grávidas. Com sintomas que vão desde fadiga até frequência cardíaca elevada, a doença deve ser rapidamente diagnosticada e tratada. A alimentação pode contribuir para este tratamento: continue lendo para descobrir como.

O que é anemia?

A anemia é a condição patológica na qual o número de glóbulos vermelhos ou a concentração de hemoglobina (Hb) dentro deles é menor do que o esperado. Como os glóbulos vermelhos são responsáveis pelo transporte de oxigênio para os tecidos corporais, a anemia dificulta esse transporte, ocasionando diversas consequências para a saúde.

Mundialmente, estima-se que 42% das crianças com menos de 5 anos de idade e 40% das mulheres grávidas são anêmicas. As causas da anemia são múltiplas, incluindo carências alimentares, fatores  hormonais, genéticos e imunológicos.

Tipos de anemia

Os tipos mais comuns de anemia são:
  • Anemia ferropriva: causada por perda de sangue ou falta de ferro na dieta.
  • Anemia megaloblástica: causada por baixa ingestão ou dificuldade de absorção de vitamina B12 ou ácido fólico.
  • Anemia falciforme: distúrbio hereditário em que os glóbulos vermelhos assumem o formato de foice, podendo obstruir o fluxo sanguíneo.
  • Anemia hemolítica: quando o corpo destrói os glóbulos vermelhos mais rápido do que os produz.
  • Anemia por doenças crônicas: surge como resultado de câncer, HIV/AIDS, doença de Crohn e outras condições crônicas que interferem na produção de glóbulos vermelhos.
  • Anemia aplástica: incapacidade da medula óssea de produzir glóbulos vermelhos.

Quais os sintomas de anemia?

Na anemia, os sintomas são decorrentes da menor distribuição de oxigênio para os tecidos corporais. A queda da hemoglobina leva à mobilização de mecanismos compensatórios, tais como aumento do débito cardíaco, redistribuição do fluxo sanguíneo para órgãos vitais, aumento do influxo de líquido do espaço extravascular  para  o  intravascular,  dentre  outros.

As manifestações clínicas irão depender da etiologia, da gravidade, da velocidade de instalação, das eventuais comorbidades e dos mecanismos compensatórios que o paciente foi capaz de mobilizar.

De modo geral, os principais sinais e sintomas de anemia são:
  • Fadiga
  • Fraqueza (astenia)
  • Falta de ar (dispneia)
  • Frequência cardíaca aumentada
  • Tontura
  • Palpitações
  • Dor de cabeça (cefaleias)
  • Zumbidos
  • Cãibras
  • Falta de apetite
  • Palidez da pele e mucosas (olhos, gengiva)
  • Dificuldade de aprendizagem
  • Queixas específicas também  podem  ocorrer  em  diferentes  tipos  de  anemia. Na anemia megaloblástica, por exemplo, podem haver sintomas neurológicos, glossite (língua avermelhada) e parestesia (sensação de formigamento).

Diagnóstico de anemia

O diagnóstico da anemia é feito através da avaliação dos exames laboratoriais. Dentre eles, o hemograma completo é o mais importante, pois permite  classificar a anemia de acordo com sua intensidade e com o volume corpuscular médio (VCM) dos glóbulos vermelhos, além de mostrar as contagens de leucócitos e plaquetas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define anemia como a concentração de Hb inferior a 12 g/dL para mulheres pré-menopausa, e inferior a 13,0 g/dL para homens e para mulheres pós-menopausa.

O que comer quando se está com anemia?

O tratamento para anemia através da alimentação é muito importante, devendo ser incentivado por todos os profissionais de saúde. A depender da causa, algumas estratégias devem ser mais ou menos empregadas. A seguir, confira as principais dicas para tratamento da anemia através da alimentação.

1. Aumentar ingestão de ferro e vitamina C

Na anemia ferropriva, o foco deve ser o aumento da ingestão dietética de ferro, através dos seguintes alimentos:
  • Carnes brancas e vermelhas (fígado, coração, moela)
  • Cereais, pães e farinhas fortificadas com ferro
  • Vegetais folhosos verde-escuros (agrião, couve, taioba)
  • Feijões e leguminosas (ervilha, lentilha, grão de bico)
  • Tofu
  • Nozes, sementes e oleaginosas (chia, amêndoas, etc)
  • Frutas secas (uva passa, ameixa, tâmara, damasco)
Para aumentar a absorção de ferro, recomenda-se o consumo de alimentos ricos em vitamina C junto às refeições, tais como kiwi, laranja, limão, acerola, tangerina, goiaba e abacaxi.

Atenção: uma exceção para esta recomendação é a anemia falciforme, uma vez que as transfusões podem gerar uma sobrecarga de ferro.

2. Evitar alimentos que diminuem a absorção do ferro

Durante refeições ricas em ferro, deve-se evitar o consumo de alimentos que prejudicam o aproveitamento deste micronutriente. São exemplos de alimentos a serem evitados:
  • Chás
  • Café
  • Leite
  • Queijos
  • Sorvete
  • Iogurte
  • Pudim
  • Chocolate e cacau
  • Refrigerantes
  • Vinho tinto
  • Aveia
  • Linhaça
  • Nos chás e café, há presença de taninos e outros compostos fenólicos que se ligam ao ferro, diminuindo sua absorção. Por isso, recomenda-se o consumo 1 hora antes ou depois das refeições, para que não atrapalhe a absorção deste mineral.
3. Aumentar a ingestão de vitamina B12 e ácido fólico

Em casos de anemia megaloblástica, a vitamina B12 e o ácido fólico são os principais micronutrientes que merecem atenção.

Para aumentar a ingestão de vitamina B12, produtos de origem animal devem ganhar foco: carnes vermelhas e brancas, vísceras (fígado, coração moela), peixes (sardinha, atum salmão), frutos do mar, ovos, leites e derivados. Para o paciente vegetariano, a suplementação será necessária.

Já uma alimentação rica em ácido fólico deve incluir os seguintes alimentos:
  • Hortaliças verde-escuras: espinafre, agrião, acelga, caruru, brócolis, cheiro verde, coentro, couve, taioba, pimentão.
  • Farinhas fortificadas.
  • Leguminosas: feijões, grão de bico, soja.
  • Oleaginosas e sementes: amendoim, nozes, avelã, castanha de caju, semente de girassol.
  • Frutas cítricas: abacaxi, acerola, caju, laranja, limão, morango, pêssego, romã, tangerina, uva, dentre outras.
  • Além disso, deve-se atentar aos níveis de zinco deste paciente, uma vez que o baixo nível contribui para a diminuição da absorção intestinal do folato.
Conclusão

Em alguns casos, a anemia pode ser uma condição intimamente relacionada com a deficiência de micronutrientes, tais como ferro, ácido fólico e vitamina B12. Sendo assim, de modo a reduzir seus sintomas e promover seu tratamento, as estratégias alimentares que visem aumentar a ingestão destes nutrientes são bem-vindas.

Referências

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Como se dá o diagnóstico da intolerância à lactose?

 Excelente postagem feita pelos meus colegas do Nutritotal: https://nutritotal.com.br/pro/intolerancia-a-lactose-como-diagnosticar/

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Dieta anti-estresse ou dieta psicobiótica

A alimentação pode modular a microbiota, trazendo efeitos positivos no humor.

O estresse do dia-a-dia pode acarretar em diversas consequências para a saúde mental humana. Como forma de revertê-lo, diversas terapêuticas podem ser empregadas, inclusive algumas estratégias alimentares. Em um recente estudo, o objetivo foi investigar  o potencial da dieta psicobiótica para modular a microbiota intestinal, e assim gerar efeitos positivos no humor. Continue lendo para entender essa associação.

O que é Dieta Psicobiótica?

A dieta psicobiótica ou “dieta dos psicobióticos”  é o termo cunhado para descrever intervenções alimentares que visem um impacto na função cerebral mediado por bactérias intestinais.

Basicamente, ela é composta por alimentos que influenciam fortemente o microbioma, como grãos integrais, frutas e vegetais prebióticos, alimentos fermentados e leguminosas. Além disso, desencoraja-se o consumo de doces, fast food, bebidas açucaradas, etc.

Na ciência, diferentes mecanismos têm sido propostos como subjacentes à comunicação microbiota-intestino-cérebro, incluindo o sistema imunológico, metabólitos microbianos ou o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA).

Sendo a microbiota um canal chave para processos cerebrais, humor e comportamento, essas estratégias alimentares poderiam beneficiar a saúde mental das populações, inclusive a parcela resistente às terapias tradicionais.

Metodologia: 45 adultos foram analisados

Para investigar a influência da dieta psicobiótica na microbiota e no estresse, 45 adultos (18 a 59 anos) foram randomizados no grupo de intervenção (n = 24) e no grupo controle (n = 21), durante 4 semanas.

A dieta psicobiótica foi composta por:
  • Legumes: 3 a 4 porções por semana;
  • Alimentos fermentados (chucrute, kefir, kombucha…): 2 a 3 porções ao dia;
  • Grãos: 5 a 8 porções ao dia;
  • Frutas e vegetais ricos em fibras prebióticas (cebola, alho-poró, repolho, maçã, banana, aveia…): 6 a 8 porções ao dia.
  • Os participantes do grupo de intervenção também foram instruídos a manterem atividade física e permanecer numa ingestão calórica de 2.000 a 2.200 kcal/dia para mulheres ou 2.400 a 2.800 kcal/dia para homens.

Níveis de estresse, saúde geral e sono foram avaliados por meio de questionários validados, pré, durante e pós-intervenção. Também foi realizado o perfil metabólico de amostras de plasma, urina e fezes. A composição e a função da microbiota fecal foram caracterizadas usando sequenciamento de espingarda.

O estresse diminuiu

Durante a intervenção, houve uma diminuição de 32% do estresse percebido no grupo sob a dieta psicobiótica, contra uma diminuição de apenas 17% no grupo controle. A análise de regressão revelou que a maior adesão à dieta resultou nas menores pontuações de estresse. Apesar disso, não houve diferenças significativas entre os grupos no pós-intervenção.

Em relação às mudanças na microbiota intestinal, foram observadas mudanças sutis na função e composição microbiana no grupo de intervenção, tal como o aumento da Blautia wexlerae, uma bactéria comensal que é inversamente correlacionada com obesidade e diabetes mellitus tipo 2.

Os autores sugerem que a curta duração do estudo, o baixo número da amostra e a insuficiente quantidade de alimentos fermentados foram fatores que prejudicaram alterações microbianas mais estruturadas.

Mudanças nos metabólitos microbianos

Apesar de não se ter encontrado alterações significantes na microbiota, foi observado um impacto importante nos metabólitos fecais: um total de 40 metabólitos lipídicos foram significativamente afetados no grupo da dieta, o que não foi observado no grupo controle.

Embora essas mudanças possam ser atribuídas à redução da ingestão de alimentos ricos em gordura, outras investigações revelaram que vários micróbios probióticos podem induzir alterações nos metabólitos lipídicos, o que pode ter consequências para a saúde periférica.

A análise metabolômica também revelou que os metabólitos da urina foram alterados no metabolismo do triptofano, que já demonstrou ser estreitamente regulado pela microbiota, e pode servir como importantes mensageiros bioativos na comunicação microbiota-cérebro.

Por fim, a intervenção dietética também reduziu o metabólito da via da quinurenina, cujos efeitos neurotóxicos podem interromper a neurotransmissão em altas concentrações.

Conclusão: mais estudos são necessários

Em conclusão, a dieta psicobiótica melhorou o estresse nos participantes, enquanto provocava mudanças metabólicas específicas na microbiota intestinal.

No entanto, os resultados devem ser interpretados com cautela: não foi possível associar as alterações nos metabólitos com as alterações no estresse. Além disso, embora as melhorias no estresse tenham sido observadas no grupo de intervenção, não houve diferenças significativas entre os grupos após o fim da pesquisa.

Embora o estudo forneça dados importantes sobre a interação entre dieta, microbiota e saúde mental, as mudanças sutis e o tamanho limitado da amostra destacam a necessidade de mais investigações para confirmar o efeito de alívio do estresse da dieta psicobiótica.


Referência: BERDING, Kirsten et al. Feed your microbes to deal with stress: a psychobiotic diet impacts microbial stability and perceived stress in a healthy adult population. Molecular Psychiatry, p. 1-10, 2022.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos e nutricionistas] - O valor calórico das carnes de gado, porco, frango e peixe são iguais?

Por definição, “carne” é o produto advindo das porções comestíveis de animais domésticos, selvagens ou de criação, que servem de alimento ao homem. No Brasil, os tipos de carne mais consumidos incluem as carnes de aves, bovinas e suínas, além dos pescados. Neste artigo, você irá entender as diferenças entre os valores calóricos e nutricionais das carnes mais consumidas em nosso país.

Valor calórico e nutricional dos tipos de carne
Basicamente, a estrutura das carnes envolve a presença de três tecidos distintos: o muscular, o conjuntivo e o adiposo. Já os órgãos internos, normalmente chamados de vísceras, também podem ser classificados como carne.

Em geral, as carnes são fontes de proteínas de alto valor biológico (10 a 20%), gorduras (5 a 30%), vitaminas (principalmente A, complexo B, D, e K) e minerais (principalmente ferro, cálcio, sódio e potássio).

Contudo, a composição de cada carne varia de acordo com a raça do animal, tipo de ração ingerida, condições climáticas, corte e preparo culinário. Esses fatores conferem uma diferença considerável em suas propriedades nutricionais e sensoriais.

O valor calórico fornecido pelas carnes depende principalmente da quantidade de proteínas e gorduras, uma vez que a quantidade de carboidratos nas carnes é irrelevante. Cortes diferentes do mesmo animal possuem valor calórico diverso.

A seguir, você encontra o teor calórico e nutricional dos diferentes tipos e preparos de carne consumidos pela população brasileira.

Carne bovina

As carnes bovinas fazem parte do grupo de carnes vermelhas, e são obtidas a partir das musculaturas dos bovinos, principalmente do gado doméstico.

Estes produtos fornecem ótimos níveis de proteína, além de micronutrientes como zinco, ferro,  fósforo, potássio, magnésio, e vitaminas do completo B. Porém, é preciso tomar cuidado com a alta quantidade de gorduras saturadas e colesterol.

Diferentes músculos bovinos fornecem corte de carne com características sensoriais distintas. As regiões mais ricas em gordura fornecem carnes mais macias, sendo consideradas “carnes gordas” (quando a quantidade de gordura excede em 50% o valor calórico). Picanha e acém são exemplos.

Já as musculaturas submetidas a maiores esforços fornecem carnes mais duras, com maior conteúdo de tecido conectivo: são as “carnes magras”, como lagarto, filé-mignon e patinho. Neste caso, a quantidade de gordura não excede em 50% o valor calórico proveniente desta gordura.

Na tabela a seguir, estão apresentados os teores de calorias dos diferentes tipos de carnes bovina, da menos calórica para a mais calórica. Níveis de proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas e colesterol também foram incluídos, para melhor orientar a prescrição nutricional.


Carne suína

A carne suína, ou carne de porco, também integra o grupo das carnes vermelhas. Muito comum em preparações regionais (como feijoada, virado à paulista ou feijão tropeiro), a carne suína possui quantidades de colesterol similares às da carne bovina. Além da proteína, também contém níveis consideráveis de vitaminas A e B2, cálcio, ferro e fósforo.

É uma carne rosada, firme, com gordura branca e consistente, mais macia do que a gordura da carne bovina. Se for de qualidade inferior, apresenta muita gordura; porém, depende do corte.

Novamente, por integrar o grupo das carnes vermelhas, é preciso ter cautela com seu consumo: em uma metanálise recente, o consumo destes produtos foi positivamente associado ao aumento do câncer gástrico.

A tabela abaixo expressa o teor de nutrientes a cada 100 g de diferentes cortes suínos (em ordem crescente para o teor calórico).


Carne de frango

As carnes de aves integram as carnes brancas, sendo as mais consumidas mundialmente, em especial o frango. Contudo, carnes de outros animais (como peru, codorna e chester) também são apreciados por muitos.

Quanto ao valor nutritivo, possuem conteúdo protéico semelhante às outras carnes, com menos gordura e menos colesterol, além de serem fontes de cálcio, ferro, fósforo, potássio e zinco. Recomenda-se a retirada da pele para reduzir ainda mais a quantidade de gordura existente.

Os cortes de peito tem menor teor de gordura, enquanto a coxa, sobrecoxa e asa são partes um pouco mais gordurosas. Além disso, miúdos como fígado, coração e moela também são consumidos, além de pé e pescoço.

Compare o teor calórico dos cortes de aves (a cada 100 g) na tabela abaixo:




Carne de peixe

Os pescados são todos os animais aquáticos que servem de alimento para o homem, obtidos de água doce ou salgada, por diferentes processos de captura ou pesca. São divididos entre os peixes e os frutos do mar.

Os peixes, por sua vez, podem ser  gordurosos e de músculo escuro (como atum, sardinha, bagre ou salmão), ou peixes de carne clara (como bacalhau, carpa e dourado). De forma geral, são fontes de proteínas de alto valor biológico e de ômega 3. Os peixes de água salgada são ótimas fontes de iodo e cálcio, além do óleo de fígado ser uma excelente fonte de vitaminas A e D.

Abaixo, apresentamos o teor calórico e nutricional dos peixes mais consumidos a cada 100 g.


Conclusão

Como visto, o valor calórico dos diferentes tipos de carne não é igual. Cortes mais gordurosos, como picanha, alcatra e costela suína, costumam ter mais calorias. No plano nutricional, esse fator deve ser considerado, principalmente para pacientes que estão em busca do emagrecimento.

Leia também:

Quais são as diferenças nutricionais entre as carnes bovina, suína, de frango e de peixe? https://nutritotal.com.br/pro/o-valor-cala-rico-das-carnes-de-gado-porco-frango-e-peixe-sa-o-iguais/

Consumo de carne vermelha e processada aumenta risco de câncer colorretal: https://nutritotal.com.br/pro/consumo-de-carne-vermelha-e-processada-aumenta-risco-de-cancer-colorretal/

Consumo de peixe durante a gestação beneficia o desenvolvimento neurológico do feto: https://nutritotal.com.br/pro/consumo-de-peixe-durante-a-gestaa-a-o-beneficia-o-desenvolvimento-neurola-gico-do-feto/

Referências
  • AHMAD, Rabia Shabir; IMRAN, Ali; HUSSAIN, Muhammad Bilal. Nutritional composition of meat. Meat science and nutrition, v. 61, n. 10.5772, 2018.
  • Domene. Técnica Dietética – Teoria e Aplicações. Guanabara: Rio de Janeiro, 2018.
  • KIM, Seong Rae et al. Effect of red, processed, and white meat consumption on the risk of gastric cancer: an overall and dose–response meta-analysis. Nutrients, v. 11, n. 4, p. 826, 2019.
  • McGee, H. Comida e cozinha: Ciência e cultura da culinária. Martins Fontes: São Paulo, 2016.
  • MOREIRA, Leise Nascimento. Técnica Dietética. Estácio, Rio de Janeiro: SESES, 2016
  • TBCA – Tabela Brasileira de Composição de Alimentos.

Nutritotal Cast - Como as fakenews prejudicam nossa saúde?

 Podcast excelente com a minha grande amiga Dra. Karol Calfa: 


Clique aqui: https://www.buzzsprout.com/703893/11494738

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Conheça o movimento Zero Fake News na Nutrição - Por Dr. Dan Waitzberg

 


Fake News no Vegetarianismo | Zero Fake News na Nutrição


 

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Nutrologia - uma especialidade médica que vai muito além de emagrecimento e ganho de massa

Ontem ouvi uma frase de uma paciente: "pensava que nutrólogo era só pra emagrecimento e ganho de músculo". Isso me fez refletir e conclui que daria um ótimo post. Então esse post é sobre isso. 

Primeiramente devemos compreender que a fala dessa paciente tem que ser analisada com outras perguntas:
  1. Por que as pessoas associam a Nutrologia a obesidade e hipertrofia?
  2. Será que as pessoas (isso inclui profissionais da saúde e leigos) sabem o real papel do nutrólogo?
  3. As pessoas sabem diferenciar o papel do nutrólogo e do nutricionista?
Para facilitar a compreensão e ser mais didático, este post será sob a forma de perguntas e respostas.

Pergunta 01: Por que as pessoas associam a Nutrologia a obesidade e hipertrofia?

R: Em 1973 três médicos (Dr. Dutra de Oliveira, Dra. Clara Sambaquy, Dr. José Evangelista) criaram a associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). cinco anos mais tarde (1978) a área foi reconhecida como uma especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). 

Por muitos anos o médico nutrólogo ficou restrito ao ambiente hospitalar, mas nos últimos 15 anos, com a ascensão da Indústria da obesidade, na busca de novas alternativas para o emagrecimento, o nútrólogo foi colocado em cena, ao lado de endocrinologistas. 

Nas últimas décadas, a endocrinologia foi a especialidade automaticamente associada ao tratamento da obesidade e sobrepeso. Porém, o endócrino não é o único profissional habilitado para tratar a obesidade. É o mais habilitado para manejo de desordens hormonais, mas a obesidade não é apenas desordem hormonal (aliás, as causas endócrinas correspondem a uma minoria dos casos). 

Assim como o endócrino, o nutrólogo tem capacidade para diagnosticar e instituir o tratamento do paciente portador de obesidade e sobrepeso. Ele entende mais que o endocrinologista sobre alimentação, sobre composição de alimentos. E assim como o endócrino, ele é habilitado para prescrever medicações antiobesidade e indicar o tratamento cirúrgico da obesidade. Alias, o nutrólogo é mais habilitado para manejar complicações pós-operatórias de uma cirurgia bariátrica que o endócrino. Isso faz parte do cotidiano do nutrólogo, mas não da endocrinologia. 

Então diante da "necessidade" de "novidades" na abordagem do paciente portador de obesidade, "emergiu" a figura do nutrólogo. Na verdade os nutrologos sempre trataram obesidade, desde a década de 70 atuaram, mas ficaram conhecidos pela atuação no ambiente hospitalar, mais precisamente na UTI.
Como o mercado de emagrecimento precisa "inovar", inovaram colocando o tratamento nutrológico como algo "superior" no tratamento da obesidade e aí muita gente lucrou, principalmente os nutrólogos. Então, nos últimos 15 anos entrou na moda procurar o médico nutrólogo para emagrecer. 

Parece piada, mas alguns veem a ida ao nutrólogo como status. É chique falar que vai ao nutrólogo. Na cabeça de algumas pessoas, ir ao endócrino ou nutricionista é coisa do passado. E assim surgiu a fama de que nutrólogo é o médico que trabalha como obesidade e ganho de massa muscular. 
A fama é errada? Não, mas a especialidade Nutrologia vai muito além disso. 

No gráfico abaixo, mostro parte da imensidão da especialidade. Reparem que o tratamento da obesidade corresponde a menos de 15% do que existe de conteúdo da especialidade. 




Pergunta 02: Será que as pessoas (isso inclui profissionais da saúde e leigos) sabem o real papel do nutrólogo?

R: Infelizmente não. A especialidade apesar de ser reconhecida desde 1978, ainda é nova no imaginário popular, principalmente quando comparado a especialidades clássicas como a cardiologia, endócrino, nefro. Ainda é vista como um tratamento caro, elitista, justamente por ter poucos serviços no SUS e até mesmo em planos de saúde. Enxergam como o médico que trata obesidade, solicita inúmeros exames, prescreve hormônios para fins estéticos e melhora a performance de atletas. Ou seja, além de não saberem a real atuação do nutrólogo, incorporam à especialidade, práticas que sequer são reconhecidas como parte do rol de procedimentos em Nutrologia. 

Aprendam então que a Nutrologia é:
1) Uma especialidade Médica reconhecida pelo CFM desde 1978.
2) Uma especialidade para todos, ou seja, o conhecimento Nutrológico é universal e o tratamento também deveria ser universal. Existe no SUS em várias capitais.
2) Área na qual para o médico se intitular Nutrólogo, ele deve ter feito residência de clínica médica ou clínica cirúrgica e depois mais 2 anos de residência de Nutrologia, ou ter sido aprovado na prova de título de Nutrologia.
3) Uma especialidade que trata de doenças nutricionais, porém, o manejo dessas doenças pode ter intersecção com outras especialidades, como por exemplo Endocrinologista e Medicina do esporte, ambos tratam obesidade. Ou ainda, Nutrologia x Gastroenterologia, ambos tratam intolerâncias alimentares. Ou, Nutrologia e Geriatria, ambos tratam sarcopenia. 
4) Uma ciência na qual o médico é responsável por: 
a) Ensinar hábitos saudáveis de vida
b) Ensinar qual a dieta para adequada para cada indivíduo
c) Diagnosticar quais hábitos de vida podem favorecer doenças nutricionais
d) Diagnosticar doenças
e) Instituir o tipo de tratamento dessas doenças: clínico? Cirúrgico?
f) Ressaltar que a doença pode recidivar se não tomadas as devidas medidas nutropreventivas. 
g) Reabilitar o paciente. 
h) Não consta no seu rol de procedimentos: Modulação hormonal, implantes hormonais, ortomolecular, terapia antienvelhecimento, uso de hormônios quando não há deficiência, soroterapia quando o trato digestivo está funcionante. 





Existe uma interface da Nutrologia com praticamente todas as especialidades médicas. Ou seja, ano após ano, estudos são publicados diariamente mostrando o impacto de hábitos alimentares no desencadear ou perpetuação de diversas doenças.  Dentre as áreas que o nutrólogo pode atuar temos:
  • Nutrologia hospitalar: paciente internado na enfermaria ou no centro de terapia intensiva.
  • Nutrologia pediátrica
  • Nutrologia geriátrica
  • Nutrologia esportiva
  • Nutrologia oncológica
  • Nutroterapia no paciente cirúrgico
  • Nutroterapia materno-fetal
  • Nutroterapia de doenças hepáticas
  • Nutroterapia de doenças gastrintestinais
  • Nutroterapia de doenças renais
  • Nutroterapia de doenças pulmonares
  • Nutroterapia de doenças cardíacas e vasculares
  • Nutroterapia de doenças neurológicas
  • Nutroterapia de doenças reumatológicas
  • Nutroterapia de doenças osteomusculares
  • Nutroterapia de doenças ginecológicas
  • Nutroterapia de doenças hematológicas
  • Nutroterapia de doenças alérgicas.
Resumindo: o nutrólogo pode atuar em todas as áreas da medicina, já que existe uma interface entre a maioria das doenças e aspectos nutricionais. Isso não quer dizer que ele tratará todas as doenças dessas especialidades, mas sim que atuará com o suporte nutrológico desses pacientes.

Quais doenças e situações tratamos?

1) Pacientes críticos e internados em UTI, necessitando de suporte nutricional para melhorar o prognóstico e evitar complicações (ex. sarcopenia) após a alta.
2) Pacientes restritos ao leito hospitalar (internados) e que necessitam de suporte nutricional adequado (enteral ou parenteral).
3) Pacientes que foram/serão submetidos a cirurgias, principalmente as do aparelho digestivo.
4) Pacientes saudáveis que desejam verificar os níveis de nutrientes: vitaminas, minerais. Colesterol, triglicérides, ácido úrico, glicemia.
5) Pacientes que não conseguem ingerir comida por via oral (pela boca) e necessitam de sonda nasogástrica/nasoenteral ou por via endovenosa (na veia). Gastrostomia ou jejunostomia.
6) Pacientes com Baixa massa magra (sarcopenia) ou com baixo peso (desnutrição).
7) Portadores de Sobrepeso ou Obesidade.
8) Síndrome metabólica.
9) Esteatose hepática (gordura no fígado).
10) Pré-diabetes, Diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2.
11) Dislipidemias: aumento do colesterol e/ou dos triglicérides.
12) Acompanhamento Pré e pós-cirurgia bariátrica.
13) Transtornos alimentares, em acompanhamento conjunto com psiquiatras e psicólogos: Compulsão alimentar, Bulimia, Anorexia, Vigorexia, Ortorexia.
14) Alergias alimentares.
15) Intolerâncias alimentares (lactose, frutose, rafinose e sacarose). Intolerância FODMAPS e sensibilidade não-celíaca ao glúten.
16) Anemias carenciais (por falta de ferro, vitamina B12, ácido fólico, zinco, cobre, vitamina A).
17) Pacientes que optam pelo Vegetarianismo, veganismo, Piscitarianismo (consumo de Peixes), Reducitarianismo (redução do consumo de carne).
18) Pacientes com constipação intestinal (intestino preso).
19) Pacientes com quadros diarréicos crônicos (diarreias).
20) Pacientes com Disbiose intestinal, Síndrome de Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO), Síndrome de supercrescimento fúngico (SIFO).
21) Portadores de Síndrome do intestino irritável, gases intestinais, distensão abdominal, empachamento e digestão lentificada.
22) Pacientes com Doenças inflamatórias intestinais: Doença de Crohn e Retocolite ulcerativa
23) Pacientes com Doença diverticular do cólon (divertículo e diverticulite).
24) Gastrite.
25) Doença do refluxo gastroesofágico.
26) Esofagite eosinofílica.
27) Acompanhamento nutrológico pré-gestacional, gestacional e durante a amamentação.
28) Casais com infertilidade (aspectos nutrológicos).
29) Pacientes portadores de doenças cardiológicas em acompanhamento com cardiologista: Hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana, arritmia cardíaca, valvulopatias.
30) Pacientes portadores de doenças pulmonares em acompanhamento com pneumologista: enfisema pulmonar, bronquite crônica, asma, fibrose cística.
31) Pacientes portadores de doenças renais em acompanhamento com nefrologista: insuficiência renal crônica, litíase renal (cálculos renais), cistite intersticial, hiperuricemia (aumento do ácido úrico), gota.
32) Pacientes portadores de doenças no fígado/vias biliares em acompanhamento com hepatologista: insuficiência hepática, hepatites virais ou autoimunes, Síndrome de Gilbert, Litíase biliar (pedra na vesícula).
33) Portadores de Osteoporose ou osteopenia.
34) Pacientes portadores de doenças autoimunes e que estão em acompanhamento com especialista na área, tais como aartrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, doença de hashimoto, psoríase, vitiligo, doença celíaca, espondilite anquilosante.
35) Portadores de doenças neurogenerativas e que estão em acompanhamento com neurologista: esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, atrofia muscular espinhal (AME), doença de Alzheimer (DA) e outras demências, doença de Parkinson, doenças do neurónio motor (DNM), doença de Huntington (DH).
36) Pacientes portadores de cefaléias e enxaquecas, que já estão em acompanhamento com Neurologista.
37) Pacientes portadores de epilepsia, com crises convulsivas refratárias e que por indicação do neurologista pode-se utilizar dieta cetogênica.
38) Pacientes portadores do vírus HIV e que estão em tratamento com terapia antiretroviral sob supervisão de infectologista.
39) Pacientes portadores de câncer em acompanhamento com oncologista.
40) Pacientes portadores de transtornos psiquiátricos e que estão em acompanhamento com psiquiatra e psicoterápico: Transtorno de ansiedade generalizada, Síndrome do pânico, Depressão, Transtorno bipolar, Transtorno do déficit de atenção, Esquizofrenia.
41) Portadores de distúrbios do sono: insônia, apnéia obstrutiva do sono, sonolência diurna, sensação de sono não reparador, que estão em acompanhamento com Médico do sono.
41) Pacientes que apresentam fadiga, cansaço crônico, fraqueza, indisposição. Já que muitas vezes o sintoma pode ser decorrente da privação de algum nutriente, presença de metal tóxico ou de hábitos dietético-higiênicos errados.
42) Pacientes com falta de macronutrientes (carboidratos, proteína e gorduras) ou de micronutrientes (vitaminas, minerais).
43) Pacientes que desejam melhorar a performance na prática desportiva, atletas profissionais ou amadores.
44) Pacientes que desejam ganhar massa magra sem utilização de anabolizantes.
45) Pacientes com alterações dermatológicas, as quais pode existir um componentes nutricional: Acne, rosácea, queda de cabelo, unhas quebradiças.
46) Portadores de candidíase de repetição.
47) Mulheres com Tensão pré-menstrual e que já estão em acompanhamento com ginecologista.
48) Mulheres na menopausa e que apresentam alteração na composição corporal.
49) Pacientes portadores de zumbido e vertigem, que o Otorrinolaringologista ou Neurologista indica adequação dietética.
50) Pacientes com fibromialgia.

Pergunta 03: As pessoas sabem diferenciar o papel do nutrólogo e do nutricionista?

R: Não. Até mesmo médicos, tendem a considerar o nutrólogo como um "nutricionista de luxo", por puro preconceito (com os nutricionistas e com os nutrólogos) e pior ainda, pura ignorância. O nutrólogo está para o nutricionista, assim como o psiquiatra está para o psicólogo. Ou o fisioterapeuta está para o ortopedista. Uma área complementa a outra. Ao longo desses anos percebi que muito desse preconceito também é fomentado por nutricionistas. Vários insistem que o nutrólogo invadem a nutrição e esquecem até mesmo que a nutrição surgiu na América latina através das mãos de um nutrólogo, o Dr. Pedro Escudero. Para ler mais sobre as diferenças entre as duas áreas acesse: https://nutrologojoinville.com.br/a-nutrologia/nutrologo-e-nutricionista/

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo
CRM-GO 13.192 | RQE 11.915 / CRM-SC 32.949 | RQE 22.416 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Papo sério: Os esteroides anabolizantes e o nosso "relógio suíço"

Desde os anos 70, os esteroides anabolizantes vêm sendo usados de forma abusiva por atletas, fisiculturistas e praticantes de atividade física. Os esteroides androgênicos anabólicos (ou anabolizantes) são hormônios representados pela testosterona e seus derivados, cujos efeitos de aumento de massa muscular e óssea e aumento da capacidade de proliferação celular são empregados em situações médicas muito restritas, como nos casos de desnutrição grave causada por câncer e AIDS. 

Essas substâncias hormonais também são empregadas para suprir as necessidades daqueles que as deixam de produzir, como nos casos de hipogonadismo e atraso puberal. Entretanto, o seu uso indiscriminado e crescente, sem indicação clínica, particularmente em adolescentes e adultos jovens, tem chamado a atenção das principais sociedades médicas mundo afora, principalmente aquelas ligadas a programas antidoping, que alertam sobre os riscos à saúde decorrente da exposição de terapias anabolizantes.

De fato, as propriedades “milagrosas” dos esteroides anabolizantes começaram a chamar a atenção a partir dos surpreendente ganho de força e massa muscular de atletas de alto nível, o que garantia um desempenho muito superior quando comparado com aqueles que não usavam. Não demorou muito para essas substâncias alcançarem as academias, as farmácias e alguns consultórios médicos.

Na chamada "medicina estética e antienvelhecimento", hormônios androgênicos esteroides, o hormônio da tireoide e o hormônio do crescimento  (GH), que normalmente são usados somente para reposição em situações de deficiência comprovada, são indicados precoce e erroneamente com intuito de retardar o envelhecimento, aumentar o metabolismo, aumentar a massa muscular, reduzir a gordura corporal, melhorar a textura da pele e a libido. Nesses casos, são usados hormônios sem a real necessidade e em doses muito acima do recomendado. Claro que isso faz mal para o organismo!

Termos como “bio-idêntico” ou “nano-hormônio” são usados inescrupulosamente para criar uma falsa ideia de pureza e segurança, o que obviamente não existe. Disparado, a testosterona e seus derivados (ex. oxandrolona, oximetolona, estanazolol, di-hidrotestosterona) são os líderes em uso justamente por suas fortes propriedades anabolizantes, sua facilidade de encontrar e o seu baixo custo.

Mas você sabe qual o efeito que o uso dessas substâncias terá no seu organismo?

Bem, nosso sistema endócrino é um "relógio suíço", onde tudo funciona da melhor maneira para nos manter em equilíbrio. Nossos hormônios, quando estamos saudáveis e sem doenças, são produzidos na quantidade exata das nossas necessidades, nem um gota a mais. Quando um homem usa um esteroide por estética, para aumento de massa muscular, esse sistema é inibido. Sim, porque o nosso sistema hormonal funciona assim: para tentar evitar o excesso deletério, as glândulas deixam de produzir aquele hormônio que está sendo administrado.

No caso do uso da testosterona, por exemplo, os testículos deixam de produzir a própria testosterona enquanto a pessoa estiver usando. Esse uso, geralmente em doses acima do que o corpo está habituado (para ter uma ideia: a dose de reposição para quem não produz testosterona é 1 injeção a cada 14 dias; em ciclos anabolizantes, tem gente usando 1 injeção ao dia!), cria um "falso ambiente hormonal", o que estimula forçadamente as células do corpo a proliferar e crescer de tamanho. 

Se eu tinha um massa muscular "x" produzindo "y" de testosterona, agora com "4y" de testosterona terei uma massa muscular "4x". Parece maravilhoso! Mas o problema é que isso só se mantém enquanto estivermos usando essas doses altas. 

Quando reduzimos ou interrompemos o uso, que geralmente é o que ocorre quando se termina o chamado ciclo, voltamos a ser o que éramos: "x"! E um "x" que agora não consegue produzir a sua própria testosterona, pois os testículos podem demorar para trabalhar de novo. Esse estado de não produção dos próprios hormônios nós chamamos de hipogonadismo. 

E é nesse período, conforme o tempo que foi usado e retirado o anabolizante, que o organismo sente muito a falta dos hormônios, gerando perda grande da muscular conquistada, cansaço intenso, fraqueza, humor deprimido, impotência e falta de libido.

Esse é um ponto crucial! O que a maioria faz:
1) se convence que é um efeito colateral do tratamento e mata no peito os sintomas;
2) busca atendimento médico para entender os sintomas e tratá-los;
3) volta a usar o anabolizante.

Na minha experiência de consultório, infelizmente a maciça maioria escolhe a opção 3. Voltam a usar e os sintomas imediatamente melhoram; voltam a ficar grandes e potentes, com libido lá em cima. E daí passa ser um ciclo atrás do outro, sempre com alguma alternativa indicada por um amigo ou médico para tentar evitar os efeitos da parada. “Ah, mas eu quero usar uma dose bem baixa, só para dar uma estimulada…” Não adianta, pois só vai ter os efeitos de supressão da testosterona sem ter o resultado de crescimento muscular.

Não importa se você compra na academia ou na farmácia sem receita ou se recebeu receita de um médico. Para ter o efeito anabolizante, você sempre terá que usar doses acima do necessário. Aliás, não se iluda se esse tipo de tratamento estiver sendo feito por um médico que garanta que é seguro. 

O ego de muitos médicos sempre supera (e muito) o bom senso. São pseudo-inovadores, sedutores, manipuladores, super-stars das redes sociais, revolucionários inconsequentes, messiânicos que se colocam acima da boa prática médica e das entidades médicas sérias, oferecendo tratamentos que não tem suporte de segurança pela boa literatura médica. Por favor, não se iluda!

Mas mesmo assim quer usar? Saiba então os efeitos adversos do uso dos esteroides anabolizantes:

  1. alterações dermatológicas (acne, lipodistrofia – atrofia da gordura, abscessos musculares, hematomas, calvície, estrias, excesso de pelos corporais), 
  2. hematológicas (aumento do número dos glóbulos vermelhos, sangue mais viscoso), 
  3. alterações sexuais (impotência, ginecomastia, atrofia testicular, infertilidade), 
  4. osteo-musculares (hérnia de disco, lesões meniscais, rabdomiólise-dano muscular grave), 
  5. hepáticas (hepatite, colestase, icterícia -amarelão, esteatose, nódulos, câncer de fígado), 
  6. renais (insuficiência renal, glomerulonefrite), 
  7. cardiovascular (redução do colesterol HDL, AVC, hipertensão arterial, aumento do volume do coração, insuficiência cardíaca, arritmia, infarto, morte súbita)
  8. comportamentais (agressividade, comportamento imprudente e compulsivo, dependência, síndrome de abstinência, depressão, pensamentos suicidas, percepção alterada da forma corporal, maior consumo de álcool e outras drogas, transtornos alimentares tipo vigorexia, bulimia, anorexia, prática de sexo inseguro). 
Além disso, existem vários relatos de câncer associado ao uso de anabolizantes, como câncer de fígado, de pâncreas, miossarcoma, osteossarcoma, linfoma e leucemia.

Em mulheres, os efeitos hormonais são resultado da exposição do organismo a um hormônio caracteristicamente masculino e em quantidades muito altas. O resultado é que a testosterona passa a modificar o corpo feminino trazendo traços masculinos, que é o que chamamos de virilização (ou masculinização). Aumento exagerado da massa muscular, acne, redução anormal da gordura corporal, lipodistrofia, atrofia das mamas, excesso de pelos no rosto e no corpo, aumento do gogó, voz masculinizada, parada da menstruação, engrossamento da pele, aumento do clitóris e infertilidade. Além de todos os efeitos colaterais já citados.

A saúde não é brincadeira. Respeite o seu "relógio suíço". Não se exponha a tratamentos que podem trazer riscos desnecessários. E principalmente, não coloque a sua saúde nas mãos de inconsequentes, seja um amigo, o cara da academia ou da farmácia, o cara que traz da fronteira, um médico. Ninguém se responsabilizará por você se algo der errado.

Referências:
1 - Eberhard Nieschlag, Elena Vorona. Doping with anabolic androgenic steroids (AAS): Adverse effects on non-reproductive organs and functions. Rev Endocr Metab Disord 2015. DOI 10.1007/s11154-015-9320-5
2 - WADA worldwide antidoping network (www.wada.org).

Autor: Dr. Eduardo Guimarães Camargo
Médico Endocrinologista
CREMERS 23.404 - RQE 17.086
www.dreduardocamargo.com.br

Leite é inflamatório ? Nutricionista Rodrigo Lamonier


quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Dor de cabeça e alimentação: qual é a relação?

Muita gente não sabe, mas existe uma forte associação entre a alimentação e alguns tipos de cefaleias (dores de cabeça), em que determinados alimentos ou hábitos alimentares funcionam como um "gatilho" para início das crises ou como fator intensificador das dores. 

E essas crises de cefaleia podem estar relacionadas a múltiplos fatores, incluindo o excesso de peso, distúrbios gastrointestinais, depressão, ansiedade, intolerâncias e alergias alimentares, dentre outros.

No geral, as crises podem iniciar ou agravar com:

✅Restrição de carboidratos e/ou calorias da dieta de forma excessiva; e/ou jejum intermitente;

✅Consumo de queijos, chocolate, frutas cítricas, álcool, nozes, carnes processadas (embutidos), café (redução brusca do consumo ou ingestão excessiva), tomate, alimentos fermentados, temperos industrializados, adoçantes artificiais, sorvetes e vinho tinto.

Ou seja, vários alimentos podem favorecer ou agravar os episódios de cefaleia. Mas, isso não significa que você precise parar de consumir todos esses alimentos.

O ideal é procurar um nutricionista para iniciar estratégias de exclusão e exposição para descobrir quais são os possíveis alimentos problemáticos no SEU caso.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Não existe saúde humana sem saúde animal e ambiental, artigo de Willian Barbosa Sales

 Em setembro de 2004, especialistas da área da saúde se reuniram globalmente para um simpósio em New York, organizado pela Wildlife Conservation Society e The Rockefeller University. Esse evento estava focado nos movimentos atuais e potenciais de doenças emergentes e reemergentes relacionadas a homens, animais e meio ambiente.

Os representantes presentes nesse simpósio faziam parte de organizações mundiais da saúde, além de organizações globais relacionadas com a agricultura e a vida selvagem. Como resultado, apresentaram os “12 princípios de Manhattan”, ou seja, recomendações para estabelecer uma abordagem mais holística para prevenir doenças epidêmicas/epizoóticas e para manter a integridade dos ecossistemas para benefício mútuo entre humanos, animais e meio ambiente.

A pandemia do novo coronavírus (covid-19), causada pelo vírus SARS-CoV-2 de origem zoonótica, com os surtos recentes do vírus do Nilo Ocidental, febre hemorrágica do Ebola, SARS, Monkeypox, doença da vaca louca, gripe aviária, nos fazem quebrar paradigmas, ver a saúde na totalidade, como “Saúde Única” ou “One Health”, como usado internacionalmente. A globalização nos impõe uma conversão de leitura de mundo, incluindo a Saúde Única, tendo uma visão holística entre a saúde humana, saúde animal e saúde ambiental.

Os “12 princípios de Manhattan” começam a ser evidenciados e entraram em prática de forma veemente diante de todas as consequências ocasionadas pela covid-19. Muitos desses princípios já são aplicados, contudo, outros infelizmente, em nosso país, estão distantes de serem alcançados, mas temos esperança de um futuro melhor.

Fenômenos como a perda de espécies, degradação de habitats, poluição, espécies exóticas invasoras estão alterando fundamentalmente a vida em nosso planeta, do nível micro ao macro, ou seja, desde as grandes florestas, as profundezas dos oceanos até as cidades mais densamente povoadas.

O aumento de doenças infecciosas emergentes e reemergentes ameaça não apenas seres humanos com seus suprimentos de alimentos e economias, mas também a fauna e flora que compõem a biodiversidade necessária que sustenta a infraestrutura homeostática da vida em nível global.

Não podemos priorizar a saúde humana, entendendo apenas uma parte, quando estamos cercados por um todo. Sendo assim, não existe saúde humana sem saúde animal e ambiental. Quando o equilíbrio entre essa tríade é quebrado, abre-se espaço para o surgimento de doenças emergentes e reemergentes.

A saúde única é uma perspectiva hologramática de pensar em saúde dentro de um mundo globalizado. O convívio harmônico entre homens, animais e meio ambiente se coadunam, sendo fundamental para uma existência saudável e indissociável de um planeta saudável.

Os 12 princípios de Manhattan

  1. Reconhecimento do vínculo essencial entre a saúde humana, animais e ambiental.
  2. Reconhecimento que as decisões sobre o uso da terra e da água impactam a saúde.
  3. Inclui a ciência da saúde da vida selvagem como um componente essencial para prevenção, vigilância, monitoramento, controle e mitigação de doenças em nível global.
  4. Reconhecimento do impacto dos programas relacionados com a saúde humana e sua contribuição para esforços de conservação ambiental.
  5. Elaboração de abordagens adaptativas, holísticas e prospectivas para prevenção, vigilância, monitoramento, controle e mitigação de doenças emergentes e reemergentes que possuem interconexões entre diferentes espécies.
  6. Oportunidades para integrar plenamente as perspectivas de conservação da biodiversidade e as necessidades humanas ao desenvolver soluções para ameaças de doenças infecciosas.
  7. Reduzir a demanda e regular o comércio internacional de animais silvestres vivos e carne de caça, tanto para proteção de animais silvestres quanto para diminuição dos riscos de doenças com relação patógeno-hospedeiro.
  8. Restringir o abate em massa de espécies selvagens de vida livre para controle de doenças a situações em que haja um consenso científico internacional multidisciplinar de que uma população de vida selvagem representa uma ameaça urgente e significativa à saúde humana, segurança alimentar ou saúde da vida selvagem.
  9. Aumentar o investimento na infraestrutura global de saúde humana e animal compatível com a gravidade das ameaças de doenças emergentes e reemergentes.
  10. Formar relacionamentos colaborativos entre governos, população local e setores públicos e privados.
  11. Fornecimento de recursos adequados e apoio às redes globais de vigilância da saúde da vida selvagem.
  12. Investir na educação e conscientização das pessoas do mundo e em influenciar o processo político para aumentar o reconhecimento de que devemos entender melhor as relações entre saúde e integridade do ecossistema.
*Willian Barbosa Sales é biólogo, doutor em Saúde e Meio Ambiente, coordenador dos cursos de pós-graduação área da Saúde do Centro Universitário Internacional Uninter.

O pós-ciclo que não te contaram

O texto abaixo foi elaborado por mim em conjunto com diversos amigos (nutrólogos e endocrinologistas). 

Tem se tornado cada vez mais comum nos consultórios de endocrinologistas e nutrólogos, pacientes que estão com algumas sequelas metabólicas e hormonais após a utilização de esteróides anabolizantes (gel, intramuscular, comprimido).

Os efeitos mais comuns que temos observado são:
  • Aumento do hematócrito (maior risco de eventos tromboembólicos). 
  • Piora da apnéia do sono ou do ronco. 
  • Agravamento da queda de cabelo (mesmo naqueles que utilizam finasterida durante o ciclo).
  • Acne. 
  • Nas mulheres, aumento de oleosidade da pele, crescimento de pelos na face e engrossamento da voz.
  • Sintomas psiquiátricos: irritabilidade, agressividade, nervosismo, ansiedade, oscilação do humor, assim como tristeza, insônia, fadiga. 
  • Em adolescentes interrupção do processo de crescimento, limitando o mesmo. 
  • Ginecomastia (desenvolvimento de glândulas mamarias no sexo masculino ). 
  • Infertilidade, impotência e aumento da próstata. 
  • Alterações metabólicas e hormonais  como: alterações do TSH, baixíssimos níveis de LH e FSH por supressão do eixo, levando a hipogonadismo, níveis baixos de testosterona, baixíssimos níveis de HDL, elevação dos níveis de TGP. Hipertensão arterial e retenção hídrica. 
  • Tendinites e lesões em ligamentos, por desproporcionalidade do aumento de força com a capacidade da adaptação ligamentar e tendínea ou por uso de inibidores da aromatase (anastrazol).
Tudo isso ainda pode ser agravado dependendo da via de administração,tempo de uso, das dosagens usadas, da idade, da higidez do usuário, e associação desnecessária de hormônios tiroidianos, GH , HCG, insulina e corticóides.

Infelizmente pessoas saudáveis muitas vezes usando pela primeira vez, em dose baixa ou achando que é um gel inocente ou comprimido fraquinho, acaba sendo vítima  estes efeitos descritos acima e às vezes com conseqüências seríssimas, como esterilidade, insuficiência hepática ou renal. Hipoglicemia, hipotireoidismo, hipertiroidismo, resistência insulinica, arritmias cardíacas e outros bloqueios de eixo podem acompanhar quanto mais hormônios a pessoa usa desnecessariamente.

O que sempre orientamos: O profissional mais habilitado para avaliação das alterações hormonais e metabólicas  é o endocrinologista. Caso alguém  tenha utilizado anabolizante por conta própria  e/ou outros hormônios sem necessidade ou acompanhamento médico, suspenda o uso. Procure imediatamente o especialista, para que o mesmo te avalie, realize exames e te oriente adequadamente para que não sofra danos à sua saúde.

Bibliografia

BAILLARGEON, J; et al. Risk of Myocardial Infarction in Older Men Receiving Testosterone Therapy. Ann Pharmacother. Set/2014, vol.48, p.1138-1144.

BASARIA, S; et al. Adverse Events Associated with Testosterone Administration. N Engl J Med. Jul/2010, vol.363; p.109-22.

BHASIN, S. Testicular disorders. In: Williams textbook of endocrinology. 11ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier. 2008. p. 645-679.

 HOYOS, CM; et al. Effects of testosterone therapy on sleep and breathing in obese men with severe obstructive sleep apnoea: a randomized placebo-controlled trial. Clinical Endocrinology. 2012, vol.77, p.599–607.

RHODEN, Ernani Luis; AVERBECK, Márcio Augusto. Câncer de próstata e testosterona: riscos e controvérsias. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009, vol.53, n.8, p. 956-962.

VIGEN, T; et al. Association of Testosterone Therapy With Mortality, Myocardial Infarction, and Stroke in Men With Low Testosterone Levels. JAMA. 2013, vol.310, n.17, p.1829-1836.

Sal rosa do Himalaya - Quebrando mitos e te ajudando a encomomizar

Frequentemente vemos pacientes contando que estão utilizando o sal do Himalayaa. Qual a minha opinião? Uma perda de dinheiro. Pagar 100 vezes em 300g de sal, sendo que não existe nenhum tipo de vantagem ? Vá comprar comida de verdade (orgânica de preferência e de produtores locais) que você ganha mais saúde. Mas porque pensamos assim? É achismo, implicância com as pedrinhas rosa ou temos alguma base científica para afirmar isso ?

Desde 2008 estamos buscando artigos sobre o tema. Passaram-se CATORZE anos e até agora, não encontramos NENHUM artigo na Pubmed mostrando vantagens em se consumir o tal sal do Himalaia. 

O que estão em jogo aqui não é achismo (-Ah mas comigo eu usei e gostei), somos médicos, alguns pesquisadores com mestrado e doutorado e o que estamos buscando são evidências científicas. É injusto fazer terrorismo nutricional com a população. Pessoas que tem um orçamento limitado e acabam acreditando que tem obrigação de comprar Sal do Himalaia pois alguns profissionais vendem a ideia de que é mais saudável.

Enfim, compramos o bendito, fizemos uso e não vimos diferença alguma.

Mas será que esses sais diferentes são mais saudáveis ? 

No mercado temos o sal marinho, sal de cozinha refinado e iodado, sal kosher, sal aromatizado, fleur de sel (flor do sal ou sal cinza), Hiwa Kai, sal negro, Hawaiian Sea Salt, Kala Namak, “sal orgânico” e o famoso sal rosa do Himalaia. Todos são o mesmo produto: cloreto de sódio. Apenas as quantidades ínfimas (traços) de minerais variam de um para outro. Primeira ilusão de quem consome esse sal. Não há minas de sal no Himalaia. Como diz a culinarista Pat Feldman "é sal demais para "Himalaia de menos". As maiores minas de "sal do Himalaia" ficam no Paquistão, a quase 500 km do Himalaia.

Uma dúvida, o sal rosa do Himalaia é tão puro que não recebe iodação, sendo comercializado sem iodo ? Mas se isso é uma política de saúde pública e a falta de iodação pode gerar repercussões metabólicas, o consumo do mesmo estaria ligado a um maior risco de deficiência de iodo? 

Há alguns produtos com o nome Sal do Himalaia que é iodado, mas os importados não são. O sal de mesa (o tão mal falado sal refinado) é enriquecido com iodo e é uma forma altamente eficaz para prevenir a deficiência de iodo (que pode levar ao bócio, um aumento do volume da glândula tireóide). A política de saúde pública (que consiste na iodação do sal) acaba prevenindo o bócio por déficit de Iodo, tão comum em décadas passadas, no interior do Brasil.

A maior desculpa apresentada para se propagar os benefícios com o uso do sal do Himalaia é que ele contém 84 minerais traços e esses promovem saúde e bem-estar. Existe um site interessantíssimo que seguimos: https://www.sciencebasedmedicine.org que visa desvendar alguns mitos. Recentemente postaram sobre o sal do Himalaia e provaram que não há UM único estudo comparando o sal do Himalaiaa com os demais.

Mas suponhamos que esses 84 minerais presentes realmente estejam na composição. Isso justificaria a sua utilização ? Não. São traços, ou seja, quantidades tão ínfimas que você adquire consumindo 200ml de água natural.

Não há nenhuma evidência publicada em revistas ou jornais ligados a área, mostrando que a substituição de sal branco por sal do Himalaya traga benefícios para a saúde. Na lista de minerais citados, você notará que uma série deles são radioativos, como Rádio, Urânio e Polônio. Também compõem a lista, minerais tóxicos, como o Tálio. Seria arriscado então consumir Sal do Himalaya ? Não, já que são traços, ou seja, quantidades ínfimas. Uma pergunta inversa aos defensores do seu uso: então se os vestígios de 84 minerais presentes são benéficos, porque não acreditar que os vestígios de minerais radioativos e tóxicos possam ser prejudiciais?

O site fluoridedetective.com alerta que a análise do sal extraído da maior mina de "sal do Himalaya" do mundo, no Paquistão, demonstrou concentração gigantesca de flúor, de 231 ppm (231mg de fluor por quilo de sal). http://www.poisonfluoride.com/pfpc/html/analysis.html E isso é arriscado, ou seja, já temos evidências de que o seu uso tenha potencial efeito tóxico.

Resumindo: a alegação de que sal rosa do Himalaya contém 84 minerais pode ATÉ ser verdade, mas a alegação de que “promove a saúde e bem-estar” é falsa até que se prove o contrário, com estudos clínicos.

Enquanto esperamos por evidências, continuaremos utilizando o sal marinho iodado. Pelo menos sabemos que eles não contém urânio.

Caso nos perguntem qual sal ideal? O sal refinado é puramente Cloreto de Sódio com iodo, sem traços de outros minerais. O sal marinho por não ser refinado, mantém alguns traços de minerais. A questão é: traços de minerais terão impacto na nossa saúde ? Não, pois a quantidade que utilizamos é ínfima.

O que devemos adotar é uma dieta saudável, com mais alimentos in natura e menos alimentos processados. Dar preferência a vegetais (folhagens, legumes, leguminosas, cereais integrais) orgânicos, beber basta água filtrada, praticar atividade física regularmente, ter contato com a natureza, dormir bem, manter os pensamentos em ordem e cultivar bons sentimentos. Isso é infinitamente superior que qualquer traço de minerais.

Assinam o post acima os seguintes perfis no instagram:

Dr. Frederico Lobo (Médico Nutrólogo de Goiânia/Joinville) @drfredericolobo

Dra. Tatiana Abrão (endocrinologista e nutróloga de Sorocaba – SP) @tatianaabrao,

Dr. Daniella Costa (nutróloga de Uberlândia – MG) @dradaniellacosta,

Atualização: 30/05/2017

A USP fez uma análise e não achou superioridade no consumo do Sal Rosa, segundo as pesquisadoras do Laboratório de Alimentos da USP. “Em 1g de sal você tem 400 mg de sódio, no sal refinado. Nos gourmets, tem 312 mg, 360 mg, varia inclusive entre eles, mas não passa, não é abaixo de 300 mg”, explicou a pesquisadora Eliana Bistriche Giutini. 


Um estudo de 2010 analisou 45 tipos de sal e o brasiliense João Gabriel Marques, nutricionista e mestre em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília (UnB) analisou o estudo, criando até uma tabela para fins comparativos. 


Considerando os 45 tipos de sal avaliados, ficaremos apenas com aqueles mais interessantes para a nossa análise, ou seja, aqueles mais facilmente encontrados para consumo: sal refinado, sal marinho*, sal grosso e sal rosa do Himalaia. *O sal marinho escolhido, a partir das diversas opções de sal marinho do estudo, foi o que pode ser obtido a partir do Oceano Atlântico (litoral brasileiro).

Para facilitar a visualização, montei uma tabela com a concentração dos minerais avaliados pelo estudo: cálcio, potássio, magnésio, ferro, zinco e sódio. Além disso, coloquei, na última coluna, os valores de referência de ingestão (DRIs) — para mulheres jovens adultas* — de cada um desses nutrientes.

*Escolhi os valores para mulheres jovens adultas porque eles são iguais ou inferiores aos de homens, idosos ou gestantes; a única exceção foi o ferro, que possui valor de referência mais baixo para homens do que para mulheres (8 x 18 mg). Assim, essas escolhas foram determinadas para que houvesse a possibilidade de a ingestão desses minerais, a partir dos sais, pudesse ser minimamente importante pelo menos para o grupo populacional com as menores necessidades absolutas de minerais.

Todos os minerais abaixo estão representados em miligramas (mg) e referem-se à quantidade presente em 10 g de sal, que é próxima à média de ingestão diária da população brasileira:

É possível perceber, claramente, que o consumo de nenhum sal, nem mesmo o rosa do Himalaia, nem mesmo o azul de Urano, representará uma fonte expressiva de minerais — com exceção do sódio, é claro. 

A concentração de minerais no sal rosa é bastante superior à dos demais sais? Sim, chegando a ser 300% superior para o cálcio e mais de 7400% superior para o magnésio, por exemplo, quando comparada à do sal refinado. Mas de que adianta se, na prática, essas quantidades de minerais encontradas no sal rosa ainda são muito pequenas em relação às necessidades diárias? Nada. 

Considerando nossas necessidades nutricionais, o mineral mais importante no sal rosa seria o ferro. Mesmo assim, a ingestão de 10 g/dia desse tipo de sal não seria capaz de suprir nem 5% das recomendações de ferro. Além disso, diferentemente do que algumas pessoas dizem e do que alguns sites informam, o sal rosa do Himalaia não possui menor concentração de sódio quando comparado ao sal refinado. E sódio à parte, nenhum sal será uma fonte minimamente importante de minerais. Além desse artigo científico que analisamos, existe também um site em inglês que apresenta a concentração de todos os minerais que supostamente são encontrados no sal rosa. 

Porém, como o site não diz muito bem como esses dados foram obtidos, não é possível afirmar que essas informações são confiáveis. Mesmo assim, se alguém quiser confirmar que o sal rosa não se configura como uma fonte importante de nenhum desses nutrientes, basta comparar os minerais apresentados pelo site às necessidades nutricionais de cada mineral segundo as DRIs.

ATUALIZAÇÃO: 06/12/2021

Um grupo de estudos aqui da Universidade Federal de Goiás publicou um artigo  comparando os efeitos do Sal Rosa versus sal de mesa comum sobre a pressão arterial.

O sal do Himalaia (SH) tornou-se uma alternativa popular para o sal de mesa (SM) devido às suas alegações de benefícios à saúde, principalmente para indivíduos com hipertensão arterial. Porém, apesar do aumento do consumo de SH, ainda faltam evidências clínicas que sustentem a recomendação de seu consumo por profissionais de saúde. 

Objetivo do trabalho: Este estudo teve como objetivo comparar o impacto da ingestão de SH e SM sobre a pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD) e concentração de sódio urinário em indivíduos com PA. 

Metodologia do trabalho: Este estudo recrutou 17 pacientes do sexo feminino com hipertensão arterial que comiam fora de casa no máximo uma vez por semana. Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos, para receber e consumir SH ou SM. Antes e depois de cada intervenção, os participantes tiveram sua pressão arterial medida e urina coletada para análise mineral. Um valor de p <0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

Resultados: Não houve diferenças estatisticamente significativas antes e depois da intervenção SH para PAD (70 mmHg vs. 68,5 mmHg; p = 0,977), PAS (118,5 mmHg vs. 117,5 mmHg; p = 0,932) e concentração urinária de sódio (151 mEq / 24h vs. 159 mEq / 24; p = 0,875). Além disso, a análise entre os grupos não mostrou diferenças significativas após a intervenção em relação a PAS (117 mmHg vs 119 mmHg; p = 0,908), PAD (68,5 mmHg vs 71 mmHg; p = 0,645) ou concentração urinária de sódio (159 mEq / 24h vs 155 mEq / 24h; p = 0,734).

Conclusão: Este estudo sugere que não há diferenças significativas no impacto do consumo de SH em relação ao SM na PA e concentração urinária de sódio em indivíduos com hipertensão arterial. A troca de um pelo outro não foi uma medida eficaz a ponto de alterar a pressão arterial.

Além disso, o sal do Himalaia utilizado custou 30x mais que o sal de mesa. Também observamos o sal do Himalaia liberado para comercialização no Brasil e utilizado no estudo, tem 6x menos iodo que o sal comum. O que significa? Risco de bócio na população exposta ao uso à longo prazo pois todo sal do Brasil é acrescido de Iodo como medida de saúde pública.

Palavras-chave: Pressão Arterial; Hipertensão; Doenças Cardiovasculares; Fatores de Risco; Cloreto de Sódio; Sódio na Dieta; Urinalise.