sábado, 3 de dezembro de 2022

3 de Dezembro - Dia mundial da luta contra agrotóxicos - Diga Não ao Pacote de venenos

 

Hoje, 03 de dezembro comemoramos o Dia Internacional da Luta contra os Agrotóxicos.



Esse ano temos um motivo especial para lembrar desse dia. Está em tramitação no Senado Federal o PL 1459/22, também conhecido como Pacote Do Veneno, que pretende flexibilizar ainda mais a liberação de agrotóxicos no país. 

Órgãos que são CONTRA O PACOTE DO VENENO: 
  • INCA – Instituto Nacional do Câncer
  • Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
  • Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
  • ONU - Organização das Nações Unidas 
  • CNS - Conselho Nacional de Saúde 
  • Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz
  • Abrasco- Associação Brasileira de Saúde Coletiva
  • MPF- Ministério Público Federal
  • MPT- Ministério Público do Trabalho
  • Conselho Federal de Nutricinistas e os Conselhos Regionais de Nutrição
Você, consumidor, confiará nesses órgãos e nessas instituições sérias e comprometidas ou nos ruralistas, que querem lucrar muito com o PacoteDoVeneno?

Você pode ajudar a barrar esse Projeto de Lei absurdo no Senado Federal. Vamos dizer #NãoAoPacoteDoVeneno!

Quase 2 milhões de pessoas já assinaram a petição pela Política Nacional de Redução de Agrotóxicos e Contra o #PacoteDoVeneno. Assine você também: www.chegadeagrotoxicos.org.br 


Para saber mais, visite www.contraosagrotoxicos.org.br e baixe gratuitamente o dossiê “Contra o Pacote de Veneno e em Defesa da Vida”.

Perguntas e respostas sobre agrotóxicos

Pergunta 1: Por que o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos do mundo?

Essa vergonhosa condição tem origem em 1965, quando o governo brasileiro criou o Sistema Nacional de Crédito Rural, que vinculava a obtenção do crédito agrícola à obtenção de insumos químicos pelos agricultores. Ou seja, os agricultores eram obrigados a comprar os venenos.

Além disso, em 1975 foi criado o Programa Nacional de Defensivos Agrícolas, no âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que proporcionou recursos financeiros para a criação de empresas nacionais e a instalação no país de subsidiárias de empresas transnacionais de insumos agrícolas. Outro fator a colaborar de forma marcante para a enorme disseminação da utilização dos agrotóxicos no Brasil foi o marco regulatório defasado e pouco rigoroso que vigorou até 1989 (quando foi aprovada a Lei 7.802), que facilitou o registro de centenas de substâncias tóxicas, muitas das quais já proibidas em outros países.

Vale lembrar  que a introdução das sementes transgênicas no Brasil no fim dos anos 1990 e início dos 2000  fez com que o uso de agrotóxicos aumentasse no país. A maioria das sementes transgênicas  é adaptada para ser resistente a algum tipo de agrotóxico. Atualmente o Brasil é o segundo maior produtor mundial de grãos transgênicos, que dependem de muitas aplicações de agrotóxicos.

Outro fator importante é a vergonhosa estrutura fundiária do país. De acordo com o Censo Agropecuário do IBGE, 1% dos proprietários de terra detêm 45% das terras do país. Ou seja, são fazendas enormes pertencentes a um único dono, onde o cultivo de uma só cultura (normalmente soja) só é possível através do uso de muito agrotóxico. Em 2015, 75% da área agricultável do país foi plantada com apenas 3 culturas: soja, milho e cana-de-açúcar. O monocultivo é uma forma de produção que contraria todas as leis da natureza, e por isso só funciona com uso de agrotóxicos.]

Pergunta 2: O aumento da utilização de agrotóxicos é decorrente do aumento da produção agrícola?

Levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) apresentam o crescimento de 47% da área cultivada no período entre 2000 e 2014, e aumento de 41% na produtividade (produção/área). Por outro lado, a quantidade agrotóxico vendida no mesmo período subiu 191%. E os números não levam em conta a enorme quantidade de agrotóxico contrabandeado para o país. Dessa forma vemos que o aumento do uso de agrotóxicos não tem nada a ver com o aumento da área plantada e muito menos com a produtividade.

Portanto, ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo está diretamente relacionado com a opção feita pelo governo em adotar o agronegócio como modelo hegemônico de produção para a agricultura brasileira. O agronegócio é o resultado da aliança feita pelas empresas transnacionais com os bancos e os latifundiários, apoiados fortemente pela mídia burguesa. Esse modelo de agricultura se baseia na produção de commodities com uso intensivo de agrotóxicos máquinas pesadas que degradam o meio ambiente, em forma de monocultivos com base na grande propriedade da terra.

Pergunta 3: A utilização de agrotóxicos não é garantia de maior capacidade de produção de comida para a população?

No Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) de 2013 mostrou que se que pouco mais de 25% da população vive em situação de insegurança alimentar, ou seja, cerca de 52 milhões de pessoas consomem apenas 1/3 dos legumes, frutas e verduras necessários para uma alimentação saudável. Destes,

7,2 milhões vivem em situação de insegurança alimentar grave, e já passaram fome alguma vez;
10,3 milhões estão sofrendo insegurança alimentar moderada (quando existe limitação de acesso quantitativo aos alimentos); e
34,5 milhões estão em situação de insegurança alimentar leve.
Portanto, mesmo sendo um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, não solucionamos o problema da fome no país. É necessário lembrar que, de acordo com o Sindiveg, 79% do agrotóxico usado no país vai somente para a soja, milho, algodão e cana-de-açúcar. Destas culturas, apenas o milho faz parte do cardápio cultural brasileiro. No entanto, apenas 1% do milho produzido no Brasil se destina ao consumo humano.

De acordo com o relatório do Institution of Mechanical Engineers intitulado Global Food: Waste not, Want not (2013), entre 30% e 50% dos alimentos produzidos no mundo por ano, ou seja, entre 1,2 bilhão e 2 bilhões de toneladas, nunca são ingeridos. Este é apenas um pequeno exemplo que mostra que a fome no mundo não é causada por falta de produção de alimentos.

Pergunta 4: Quais os efeitos dos agrotóxicos na saúde humana?

As doenças causadas pelos agrotóxicos na saúde são chamadas de intoxicações, pois são reações do corpo humano (ou animal) a uma substância tóxica. Além de agrotóxicos, intoxicações podem ser causadas por medicamente, outras substâncias químicas ou animais peçonhentos.

As intoxicações por agrotóxicos são divididas em dois tipos: intoxicações crônicas e agudas. As intoxicações agudas são perceptíveis nas primeiras 24 ou 48 horas após o contato direto com o agrotóxico. Elas são mais visíveis e mais facilmente relacionadas aos agrotóxicos. Os sintomas mais comuns envolvem espasmos musculares, alterações respiratórias, náuseas, vômitos, desmaios, convulsões, fraqueza, cólicas abdominais, vertigens, tremores musculares, cefaléia (dor de cabeça), hipertermia, conjuntivites, dermatites, alergias de contato e outros.

Já as intoxicações crônicas são aquelas cujos efeitos aparecem depois de um longo período de exposição, inclusive em outras gerações. Estas são mais difíceis de serem relacionadas aos agrotóxicos. Os sintomas da intoxicação crônica envolvem efeitos neurotóxicos, alterações cromossômicas, lesões hepáticas, arritmias, lesões renais, neuropatias periféricas, asma, alergias, Mal de Parkinson, cânceres, teratogenia, fibrose pulmonar, distúrbios hormonais (hormônios da tireóide e sexuais). Estes efeitos são causados pelo contato rotineiro com os produtos agrotóxicos, seja através do uso (aplicação e manuseio) ou pela ingestão de alimentos contaminados.

As publicações mais recentes da Organização Internacional do Trabalho e da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que, entre trabalhadores de países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam anualmente setenta mil intoxicações agudas e crônicas que evoluem para óbito, e pelo menos sete milhões de casos doenças agudas e crônicas não fatais.

No Brasil as intoxicações por agrotóxicos já ocupam o segundo lugar entre as intoxicações exógenas. No período de 2006 a 2010, cerca de 73% dos casos de intoxicação por agrotóxicos envolveu o grupo dos inseticidas organofosforados, piretróides e carbamatos, segundo o SINITOX.

Existe ainda um processo de subnotificação, ou seja, grande parte das pessoas que são contaminadas por agrotóxicos terminam fazendo o tratamento sem procurar um centro médico, de forma que estas pessoas não entram nas notificações de contaminação por agrotóxicos. Segundo a OMS, para cada notificação, estima-se que existem 50 outros casos de intoxicação que não são notificados.

Dentre os problemas de saúde causados, o que mais chama atenção é o câncer. Segundo o Instituto Nacional do Câncer – INCA, teremos cerca de 1 milhão de novos casos e câncer entre os anos de 2012 e 2013, e deste total 40% irão a óbito. Ou seja, 400 mil pessoas vão morrer, e muitos desses cânceres estão diretamente relacionados à contaminação por agrotóxicos. Exemplo disso são as regiões com alto uso de agrotóxicos que apresentam a incidência de câncer bem acima da média nacional e mundial. Em Unaí – MG, por exemplo, ocorrem cerca de 1.260 casos ao ano para cada 100 mil pessoas. A maior taxa mundial é de 365 casos por 100 mil habitantes, para homens na Austrália, segundo o IARC/OMS.

Os riscos são altos porque são inerentes à própria natureza química dos agrotóxicos.


Pergunta 5: Qual o impacto ambiental do uso de agrotóxicos?

Os agrotóxicos contaminam a terra, o ar, as águas, e até os animais. Pesquisa feita pela UFMT, na cidade de Lucas do Rio Verde (MT), encontrou resíduos de agrotóxicos, no ar, na água dos poços, na água das chuvas e animais com má formação causada por agrotóxicos.

Recente relatório produzido pela Embrapa aponta a contaminação de cursos d’água e aquíferos em todas as regiões do Brasil. Já há registro de contaminação por agrotóxicos nos maiores reservatório de água do país, o aquífero Guarani.

De acordo com a cientista Ana Primavesi, as chamadas “pragas” são apenas sinais de desequilíbrio ecológico. O uso continuado de agrotóxicos e fertilizantes químicos acaba com a vida do solo, e o uso de máquinas pesadas o torna compactado, impedindo assim que a água penetre e possa alcançar as raízes das plantas. Assim forma-se a espiral química: plantas cada vez mais doentes, e o uso cada vez mais intensivo de adubos químicos e agrotóxicos.

Assim, o agronegócio destrói a natureza, que dá o troco: super populações de insetos, plantas resistentes a herbicidas, secas e enchentes.

Dificilmente os agrotóxicos conseguem eliminar toda a população de “pragas”, permitindo que os indivíduos sobreviventes se tornem resistentes a esses produtos. Esse ciclo, bastante comum na “moderna” agricultura, vem provocando desde o final dos anos 60 uma série de impactos aos agroecossistemas.

Espécies que não são o alvo principal do produto em uso também sofrem os efeitos indesejáveis do agrotóxico. Mamíferos, peixes, aves e insetos sofrem diferentes níveis de toxidade de tais produtos, ainda que não sejam o alvo principal do agrotóxico.

Pergunta 6: Existem impactos econômicos gerados pelo uso de agrotóxicos?

Os problemas gerados pelos agrotóxicos afetam diretamente a economia brasileira. Uma pesquisa feita recentemente no Paraná aponta que para cada U$1 dólar gasto com agrotóxicos no estado, são gastos no SUS U$1,28 para cuidar de casos de intoxicação agudas (Soares 2010). O estado brasileiro é quem paga a conta pela contaminação gerada, enquanto as empresas produtoras de agrotóxicos ficam apenas com os lucros.

Há ainda as isenções fiscais e tributárias concedidas, até hoje, ao comércio destes produtos. Através do Convênio ICMS 100/97, o governo federal concede redução de no mínimo 60% da alíquota de cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) a todos os agrotóxicos.

Além disso, o Decreto 6.006/06 isenta completamente da cobrança de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) os agrotóxicos fabricados a partir de uma lista de dezenas de ingredientes ativos.

O Decreto 5.630/053 isenta da cobrança de PIS/PASEP (Programa de Integração Social/ Programa de Formação do Patrimônio do Servidor) e de COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) os “defensivos agropecuários classificados na posição 38.08 da NCM e suas matérias-primas”. A posição 3808 da NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul) compreende produtos diversos das indústrias químicas como inseticidas, fungicidas e herbicidas.

Além das isenções federais, há as isenções complementares determinadas por alguns estados. No Ceará, por exemplo, a isenção de ICMS, IPI, COFINS e PIS/PASEP para atividades envolvendo agrotóxicos chega a 100%.

Recentemente, o PSOL questionou as isenções de impostos no STF.

Além disso, tais empresas têm muitos benefícios aqui no Brasil: para se registrar um novo ingrediente ativo nos EUA, o custo é de 630 mil dólares; aqui, este valor varia de 53 dólares a mil dólares. É muito barato registrar agrotóxicos no país, e não há taxa de manutenção anual como em outros países.

A produção e comercialização de agrotóxicos são um elemento central na luta contra as transnacionais: são elas as responsáveis pelo envenenamento das pessoas e do planeta, e são elas que ficam com o lucro privado em decorrência do prejuízo social.

Soares WL. Uso dos agrotóxicos e seus impactos à saúde e ao ambiente: uma avaliação integrada entre a economia e a saúde pública, a ecologia e agricultura [tese de doutorado]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fiocruz; 2010.

Pergunta 7: Quem controla o mercado de agrotóxicos e quais os lucros que ele gera?

No momento, seis companhias (chamadas das ‘6 grandes’) controlam o mercado global de agrotóxicos e biotecnologias: BASF, Bayer, DuPont, Dow Chemical, Monsanto, e Syngenta. No entanto, há 3 propostas de fusão em curso: Bayer e Monsanto anunciaram a fusão em 2016 no valor de U$66 bilhões; Dow Chemical e a DuPont anunciaram em dezembro de 2015 uma fusão de U$130 bilhões, enquanto no início de 2016, a Syngenta negociou sua compra pela China National Chemical Corp por U$43 bilhões. A Monsanto também tentou (e falhou) por diversas vezes fundir-se com a Syngenta.

Caso alguma destas fusões atualmente sobre a mesa seja aprovada pelos reguladores internacionais, as ‘6 grandes’ se tornariam as ‘3 enormes’.

Estas empresas lucraram 12,2 bilhões de dólares em 2014, e em 2015 esse número caiu para 9,6 bilhões de dólares. Tais somas são remetidas paras as empresas sede, de forma que o Brasil fica apenas com a contaminação e os custos sociais e ambientais.

Pergunta 8: Dá para produzir alimentos sem agrotóxicos?

A humanidade já desenvolveu ao longo de sua história práticas de produção alternativa que não necessitam de agrotóxicos e são altamente produtivas. Além de diminuir os custos de produção, também garantem um alimento saudável, sem agrotóxico e sem transgênico, e ainda ajudam a preservar o meio ambiente.

Não só é possível produzir alimentos sem agrotóxico, como é extremamente necessário. Se seguirmos por muito mais tempo com modelo de produção baseada no latifúndio, no monocultivo, nos transgênicos e agrotóxicos, rumaremos para uma catástrofe social e ambiental.

Apontamos a Agroecologia como modelo de produção alternativo e que responde às necessidades de produção de alimentos saudáveis para atender a demanda mundial. O relator especial da ONU para o direito à alimentação, Olivier de Schutter, divulgou em dezembro de 2010 um relatório em que afirma que a agroecologia é capaz de produzir alimentos de qualidade e em quantidade suficiente para alimentar a população mundial, e que para isso os governos devem investir nesse modelo de produção de alimentos em convívio com o meio ambiente.

Pergunta 9: Existem exemplos de agroecologia com produtividade equivalente aquela dos cultivos com uso de agrotóxicos?

Hoje temos dados cada vez mais sólidos sobre a capacidade de produção da agroecologia, que muitas vezes alcança o dobro produtividade da produção convencional. Segundo a FAO e a Universidade de Sussex na Inglaterra, programas de agricultura alternativa elevam a produção em média em 100% (Gliesman, 1997).

No Brasil não é diferente. No Paraná, as produtividades são em média superiores aos convencionais: 9 ton/ha milho (sendo o convencional de 3ton/ha) ; 3 ton/ha feijão ( sendo o convencional de 0,5ton/há); 3,3ton/ha para a soja, sendo o convencional de 2,80ton/ha. (Fonte: AS-PTA , Agricultures network 2009)

Madagascar é o maior no mundo com o arroz que chegou a 22 ton/ha, a média convencional de arroz é 5,5ton/ha (Fonte: AS-PTA , Agricultures network 2009)

A própria ONU em 2010 afirmou que a agroecologia é necessária para a sobrevivência do mundo, em um relatório de Olivier de Schutter é apresentado um trabalho do Jules Pretty, et al. que comparou os efeitos de 286 projetos vindos da agricultura sustentável, aplicados em 57 países pobres em uma superfície de 37 milhões de hectares.

Esse estudos concluíram que essas intervenções agroecológicas haviam aumentado a produtividade em uma média 79%. Os dados indicam um aumento médio de 1,7 toneladas anuais (73% de aumento) para cada pequeno agricultor que cultivava cereais em 3,6 milhões de hectares. Para 146.000 agricultores que cultivavam tubérculos (cenoura, batata,etc) em 542.000 ha, aumentou a produtividade em 17 toneladas anuais (aumento de 150%) (Referência: ONU Jules Pretty et al., “Resource-conserving agriculture increases yields in developing countries”, Environmental Science and Technology, 40:4, 2006, págs. 1.114 a 1.119).

Todos esses dados demonstram que a humanidade já desenvolveu ao longo da sua historia práticas suficientes para se alimentar e viver harmonicamente com o meio ambiente que são altamente produtivas, tem baixos custos de produção e também garantem um alimento saudável, sem agrotóxico nem transgênico.

Pergunta 10: Por que alimentos orgânicos são mais caros?

Os alimentos produzidos em um sistema ambientalmente equilibrado têm um custo de produção menor que no sistema convencional; deviam, portanto, chegar mais baratos nas gôndolas dos supermercados. Porém na sociedade capitalista em que vivemos, o mercado se apropriou da agricultura orgânica para fazer disso uma mercadoria, que se transformou em nicho de mercado, ou seja, é um privilégio de poucos. É mais uma jogada do mercado capitalista para seguir mantendo suas taxas de lucro.

Além disso, os processos de certificação são caros, e isso faz com que muitos agricultores queiram tirar proveito da condição de orgânico na hora de comercializar.

Outro fator é o subsídio dados aos agrotóxicos, como visto anteriormente. Portanto, que defendemos que o Estado brasileiro, assim como na década de 60 e 70 destinou recursos federais para a imposição do pacote da revolução verde (que criou o ciclo vicioso dos agrotóxicos), deve agora fazer um investimento financeiro grande para a construção de um processo massivo de transição para a agroecologia, de forma que redes locais de comercialização e outros mecanismos populares possam ser criados. Assim, os alimentos sem veneno poderão chegar à mesa da população a um preço justo, sem especulação.

Pergunta 11: Existe uso segundo de agrotóxicos?

Os agrotóxicos são substancias tóxicas e que matam. Não existe uso seguro de agrotóxicos. Os níveis aceitos de ingestão diárias apenas evitam uma intoxicação aguda (imediata), mas as pequenas quantidades de agrotóxicos que vão se acumulando no organismo irão gerar ao longo dos anos problemas para a saúde das pessoas. É justamente por esse caráter nocivo que os agrotóxicos são tratados como tal pela Lei 7.802/89, que inclusive afirma o nome de agrotóxico, e não defensivo agrícola, como alguns propagam.

Os equipamentos de proteção individual (EPI) podem até proteger o agricultor do contato direto com o veneno. Mas a contaminação do solo e da água usada na lavagem do EPI não é evitada. Além disso, esses equipamentos são inadequados ao clima tropical do nosso país, e por conta disso é quase impossível usar equipamentos de acordo com as normas.

Sobre esse assunto recomendamos o vídeo: Uso (In)seguro de Agrotóxicos:


Pergunta 12: Acabar com uso de agrotóxicos não traria impactos na balança comercial?

Não. Em primeiro lugar, o agronegócio não é tão lucrativo quanto dizem. Temos um PIB agrícola de 205 bilhões de reais. Destes, 147 bilhões são controlados pelo agronegócio e as empresas transnacionais, no entanto estão concentrados em apenas cinco culturas: soja, cana, milho, café e laranja. Nenhuma destas é fundamental para os hábitos alimentares do povo brasileiro.

Por outro lado, temos a agricultura camponesa com um PIB de 57 bilhões, equivalente a 28% do total, que por sua vez produz as 15 principais culturas do mercado interno e 70% dos alimentos que consome o povo brasileiro. Os camponeses detêm apenas 24% das terras cultivadas e acessam apenas 14% dos créditos, porém mesmo assim são responsáveis por 1/3 das exportações agropecuárias. (Fonte: IBGE 2006)

Os dados do último Censo Agropecuário apontam ainda que as grandes propriedades do agronegócio são as principais responsáveis pelo uso abusivo de agrotóxicos.

Sendo assim, acabar com os agrotóxicos no país e adotar um modelo de produção que tenha uma matriz que possa produzir e conviver com o meio ambiente – como é o caso da agroecologia – possibilitará que continuemos exportando alimentos para o mundo, porém seriam alimentos de qualidade.

O uso de agrotóxicos vai se tornar em um período curto de tempo um problema para as exportações, visto que alguns embargos de produção em função da quantidade de agrotóxicos, como a laranja, já aconteceram. O mesmo vem ocorrendo com os transgênicos, após o estudo (Séralini, 2012) que mostrou tumores em ratos após longo de período de ingestão destes alimentos.

Pergunta 13: De quem é a responsabilidade em relação ao registro de agrotóxicos no país e como é efeita a fiscalização?

No Brasil, o registro de agrotóxicos é feito pelo Ministério da Agricultura, órgão que analisa a eficácia agronômica desses produtos. Porém, a anuência da Anvisa e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é requisito obrigatório para que o agrotóxico seja registrado.

Os agrotóxicos somente podem ser produzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados se possuírem registro prévio nos três órgãos federais ANVISA/MS, MAPA e IBAMA/MMA. As leis estaduais podem restringir mais o registro, como é o caso do RS, que proíbe o uso de agrotóxicos importados que sejam banidos no país de origem.

Atualmente existem 2.195 produtos registrados no país, mas só 900 são comercializados. São cerca de 430 IA (Ingredientes Ativos) registrados sob titularidade de 136 empresas diferentes.

Na Lei n. 7.802/1989 em seu art.13, estabeleceu-se que “a venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita através de receituário próprio, prescrito por profissionais legalmente habilitados” e o Decreto n. 4.074/2002 detalha o funcionamento de receituário agronômico, que infelizmente não tem sido cumprido.

A Lei de agrotóxicos determina, em seu art. 3, que o Registro de Agrotóxicos fica proibido nas seguintes situações:

a) para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus componentes, de modo a impedir que os seus resíduos remanescentes provoquem riscos ao meio ambiente e à saúde pública;

b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;

c) que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, de acordo com os resultados atualizados de experiências da comunidade científica;

d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica;

e) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais, tenham podido demonstrar, segundo critérios técnicos e científicos atualizados;

f) cujas características causem danos ao meio ambiente.

O registro, assim, constitui excelente instrumento de controle estatal e proteção social. Ele é uma ferramenta útil ao princípio da prudência. Antes da venda e consumo final, as autoridades públicas avaliam os potenciais de danos e decidem.

A Lei nº 7.802/89 exige do Poder Público uma ação preventiva quando “organizações internacionais responsáveis pela saúde, alimentação ou meio ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante ou signatário de acordos e convênios, alertarem para riscos ou desaconselharem o uso de agrotóxicos, seus componentes e afins, caberá à autoridade competente tomar imediatas providências, sob pena de responsabilidade”.

Conforme explicitado pela Agência, desde 2001, 31 ingredientes ativos tiveram os aspectos toxicológicos reavaliados. A partir dessa análise, nove foram banidos (quatro estão em fase de descontinuidade de comercialização) e treze sofreram restrições severas. Ainda existem nove reavaliações em processo.

A estrutura que o Estado brasileiro tem para fiscalizar é extremamente insuficiente, basta ver que entre os três órgãos competentes para o registro de agrotóxicos, temos um quadro técnico de apenas 46 profissionais, sendo 23 na Anvisa, 15 no Ibama e 8 no Mapa. Como comparação, só um dos órgãos federais envolvidos com fiscalização nos EUA tem 850 técnicos atuando na fiscalização de agrotóxicos.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos] Uso de análogos de GLP-1 e ocorrência de distúrbios da tireoide: uma meta-análise de ensaios controlados randomizados

A associação entre os agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e o risco de vários tipos de distúrbios da tireoide permanece incerta.

Nosso objetivo foi avaliar a relação entre o uso de agonistas do receptor GLP-1 e a ocorrência de 6 tipos de distúrbios da tireoide.  

Pesquisamos PubMed (MEDLINE), EMBASE, Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) e Web of Science desde o início do banco de dados até 31 de outubro de 2021 para identificar ensaios clínicos randomizados (RCTs) elegíveis.

Realizamos meta-análise usando um modelo de efeitos aleatórios para calcular as razões de risco (RRs) e intervalos de confiança de 95% (ICs).

Um total de 45 estudos foram incluídos na meta-análise.  

Comparado com placebo ou outras intervenções, o uso de agonistas do receptor de GLP-1 mostrou uma associação com um risco aumentado de distúrbios gerais da tireoide (RR 1,28, IC 95% 1,03-1,60).  

No entanto, os agonistas do receptor GLP-1 não tiveram efeitos significativos na ocorrência de câncer de tireoide (RR 1,30, IC 95% 0,86-1,97), hipertireoidismo (RR 1,19, IC 95% 0,61-2,35), hipotireoidismo (RR 1,22, IC 95%  0,80-1,87), tireoidite (RR 1,83, IC 95% 0,51-6,57), massa tireoidiana (RR 1,17, IC 95% 0,43-3,20) e bócio (RR 1,17, IC 95% 0,74-1,86).  

Análises de subgrupos e análises de meta-regressão mostraram que as doenças subjacentes, o tipo de controle e a duração dos ensaios não estavam relacionados ao efeito dos agonistas do receptor de GLP-1 nos distúrbios gerais da tireoide (todos os subgrupos P > 0,05).

Em conclusão, os agonistas do receptor GLP-1 não aumentaram ou diminuíram o risco de câncer de tireoide, hipertireoidismo, hipotireoidismo, tireoidite, massa tireoidiana e bócio.

No entanto, devido à baixa incidência dessas doenças, esses achados precisam ser aprofundados.

• Introdução

As doenças da tireoide são comuns em alguns distúrbios metabólicos, como diabetes mellitus (DM) e obesidade.

A disfunção da tireoide (DT) e o DM estão intimamente ligados. Uma alta prevalência de DT foi relatada entre pacientes com DM tipo 1 (DM1) e DM tipo 2 (DM2).

Embora o mecanismo seja desconhecido, estudos epidemiológicos indicaram que a obesidade e o DM2 estão associados a riscos aumentados de vários tipos de câncer, incluindo câncer de tireoide.

Além disso, a resistência à insulina e a hiperinsulinemia podem levar a bócio, proliferação de tecidos da tireoide e aumento da incidência de doença nodular da tireoide.

Além dos efeitos da própria doença, alguns medicamentos antidiabéticos podem afetar o eixo hipotálamo-hipófise-tireoide (HPT) e a função da tireoide.

Por exemplo, vários estudos demonstraram que a metformina pode inibir o crescimento de células da tireoide e diferentes tipos de células de câncer de tireoide, e a terapia com metformina tem sido associada a uma diminuição nos níveis séricos de hormônio estimulante da tireoide (TSH).

As tiazolidinedionas podem induzir oftalmopatia associada à tireoide. Recentemente, a relação entre os agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e o câncer de tireoide tem atraído atenção, mas ainda há controvérsias.

O GLP-1 é um hormônio peptídico de aminoácidos secretado pelas células L da mucosa gastrointestinal que promove a secreção de insulina, suprime a secreção de glucagon e retarda o esvaziamento gástrico.

Estudos em roedores mostraram que o agonista do receptor GLP-1 liraglutida pode ativar o receptor GLP-1 nas células C da tireoide, levando à liberação de calcitonina com efeito dose-dependente na patologia das células C.

Alguns modelos animais provaram que o tratamento com exenatida ou liraglutida está relacionado ao aparecimento anormal de células C da tireoide, com desenvolvimento gradual de hiperplasia e adenomas.

Além disso, um estudo descobriu que pacientes tratados com exenatida tinham um risco aumentado de câncer de tireoide examinando o banco de dados de eventos adversos relatados da Food and Drug Administration dos EUA.

No entanto, os resultados do estudo A Long Term Evaluation (LEADER) que se seguiu por 3,5-5 anos não mostraram nenhum efeito da ativação do receptor GLP-1 nos níveis de calcitonina sérica humana, proliferação de células C ou malignidade de células C.

No entanto, os agonistas do receptor GLP-1 não são recomendados em pacientes com história pessoal ou familiar de câncer medular de tireoide ou neoplasia endócrina múltipla tipo 2.

Agonistas do receptor GLP-1, um novo tipo de droga antidiabética para o tratamento do DM2 nos últimos anos, com benefícios adicionais de perda de peso e redução da pressão arterial.

Embora muitos grandes ensaios clínicos randomizados (RCTs) de agonistas do receptor GLP-1 tenham identificado os benefícios óbvios dos agonistas do receptor GLP-1 sobre os resultados cardiovasculares e renais em pacientes com DM ou obesidade, a associação entre o receptor GLP-1  agonistas e vários distúrbios da tireoide permanece controverso.  

Além disso, considerando que os distúrbios da tireoide são comuns em algumas doenças metabólicas, como DM e obesidade, realizamos este estudo.

Assim, comparando os agonistas do receptor GLP-1 com placebo ou outras drogas antidiabéticas, realizamos uma meta-análise de todos os dados de RCT disponíveis para avaliar a relação entre o uso de agonistas do receptor GLP-1 e a ocorrência de vários tipos de distúrbios da tireoide.

• Discussão

Esta meta-análise é o primeiro estudo de grande amostra que foi projetado para avaliar a relação entre o uso de agonistas do receptor de GLP-1 e a ocorrência de vários distúrbios da tireoide.

Como resultado, as duas principais descobertas a seguir foram produzidas.

Primeiro, em comparação com placebo ou outras intervenções, os agonistas do receptor de GLP-1 aumentaram significativamente o risco de distúrbios gerais da tireoide em 28%.

Em segundo lugar, entre os agonistas do receptor de GLP-1, apenas a liraglutida e a dulaglutida mostraram tendências aumentadas nos riscos de distúrbios gerais da tireoide em comparação com placebo e outras drogas antidiabéticas.

Apesar da falta de evidências clínicas e epidemiológicas consistentes, a potencial ligação entre os agonistas do receptor GLP-1 e o câncer de tireoide tem recebido atenção considerável.  

Estudos em roedores mostraram que o tratamento com liraglutida ou exenatida uma vez por semana está associado à proliferação de células C da tireoide e à formação de tumores de células C da tireoide.

Portanto, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA proíbe essas terapias para pacientes com histórico individual ou familiar de carcinoma medular de tireoide (CMT) ou pacientes com síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN2).

No entanto, essas preocupações são controversas em ensaios clínicos.

Uma análise retrospectiva do banco de dados AERS do FDA descobriu que a incidência de câncer de tireoide tratado com exenatida foi 4,7 vezes maior que a do medicamento de controle.

Da mesma forma, a análise de dados do banco de dados EudraVigilance encontrou evidências de relatos espontâneos de que os análogos de GLP-1 estão relacionados ao câncer de tireoide em pacientes diabéticos.

No entanto, uma meta-análise envolvendo 25 estudos mostrou que a liraglutida não teve correlação significativa com o aumento do risco de câncer de tireoide.

Embora nossa meta-análise também tenha mostrado que os agonistas do receptor de GLP-1 não aumentaram o risco de câncer de tireoide em comparação com placebo ou outras intervenções, em combinação com evidências previamente disponíveis, pacientes com risco de câncer de tireoide devem receber agonistas do receptor de GLP-1 com cuidado.

Até o momento, o mecanismo potencial dos efeitos desfavoráveis ​​dos agonistas do receptor de GLP-1 em distúrbios da tireoide não foi completamente claro.

Os mecanismos possíveis são os seguintes.

Primeiro, foi relatado que o mecanismo de transformação de células C em roedores é pela ativação do receptor GLP-1 na célula C, e um estudo mostrou que a estimulação do receptor GLP-1 é um melhor preditor de hiperplasia de células C do que concentrações plasmáticas de exenatida e liraglutida.

Em segundo lugar, além do carcinoma medular da tireoide e da hiperplasia de células C, foi demonstrada a expressão dos receptores GLP-1 no carcinoma papilífero da tireoide (PTC).

Gier et ai. relataram imunorreatividade positiva para receptores de GLP-1 em tecidos PTC, detectados usando um anticorpo policlonal anti-receptores de GLP-1.

Enquanto isso, eles relataram que os receptores GLP-1 foram expressos de forma diferente em tecidos tireoidianos não neoplásicos de acordo com diferentes estados inflamatórios.

Os receptores de GLP-1 foram expressos em tecidos normais da tireoide com inflamação, mas não em tecidos normais da tireoide sem inflamação.

Além disso, outro estudo também confirmou a expressão de receptores GLP-1 em PTC e a taxa de expressão de receptores GLP-1 em PTC, que foi de quase 30%.

Korner et al. verificaram a expressão de receptores GLP-1 em vários tecidos tireoidianos humanos por cintilografia e demonstraram que poucos tecidos tireoidianos normais expressavam receptores GLP-1.  

Portanto, os receptores GLP-1 podem ser anormalmente induzidos em células derivadas de folículos tireoidianos por meio de inflamação, proliferação celular ou tumorigênese.

No entanto, alguns dos estudos mencionados usaram anticorpos do receptor de GLP-1 sem especificidade.

Usando outro método de detecção, Waser et al. descobriram que nem as tireoides humanas normais nem hiperplásicas contendo células C parafoliculares expressam receptores de GLP-1.

Atualmente, a presença e a importância dos receptores GLP-1 na tireoide humana normal permanecem controversas.  

Terceiro, o GLP-1 pode funcionar através da via fosfoinositol-3 quinase/AKT serina/treonina quinase (PI3K/Akt) e/ou via de proteína quinase ativada por mitógeno/quinase regulada por sinal extracelular (MAPK/Erk).

Essas duas vias de sinalização também são críticas na regulação do crescimento e proliferação celular; portanto, estão intimamente relacionados ao câncer, incluindo o PTC.

Essas duas vias de sinalização são vias significativas para regular o crescimento e a proliferação celular e, portanto, estão intimamente relacionadas à formação do câncer.

Finalmente, o receptor GlP-1 pode estar associado aos níveis de triiodotironina (T3).

O GLP-1 estimula a expressão da iodotironina desiodase (D3) tipo 3 através do receptor GLP-1, e a regulação da concentração intracelular (T3) pelo D3 pode estar envolvida na estimulação da secreção de insulina pelo GLP-1.

Além disso, um estudo clínico mostrou que o tratamento com exenatida por 6 meses reduziu significativamente a concentração sérica de TSH em pacientes diabéticos sem doença da tireoide.

Em conclusão, alguns estudos em animais forneceram evidências de que o uso de agonistas do receptor de GLP-1 aumenta o risco de doença da tireoide, mas essa evidência não foi confirmada em humanos.

Portanto, realizamos esta meta-análise para esclarecer a associação de agonistas do receptor de GLP-1 com doenças da tireoide em estudos clínicos e preparação para estudos futuros em humanos.  

Outros estudos prospectivos devem ser realizados para determinar os efeitos potenciais dos agonistas do receptor de GLP-1 na doença da tireoide.

Na análise de diferentes tipos de agonistas do receptor GLP-1, descobrimos que a liraglutida e a dulaglutida estavam significativamente associadas a um risco aumentado de distúrbios gerais da tireoide.

No entanto, a tolerabilidade individual e a segurança ao GLP-1RA podem variar devido a diferenças nas estruturas moleculares.

Além disso, esses diferentes achados podem explicar com um tamanho de amostra desequilibrado.  

Vale a pena notar que o risco significativamente aumentado da liraglutida é em grande parte impulsionado pelo estudo LEADER e o da dulaglutida é amplamente impulsionado pelo teste REWIND, ambos os quais contribuíram com mais de 75% do peso para o total  resultados.

Devido à falta de pesquisas suficientes, não podemos tirar uma conclusão decisiva até que pesquisas adicionais forneçam mais informações.

Entre os estudos incluídos, apenas um estava relacionado à exenatida de ação curta e dois eram exenatida de ação prolongada.

Devido ao pequeno número de estudos, não analisamos separadamente de acordo com a farmacocinética.

Esta revisão tem dois pontos fortes principais.  Em primeiro lugar, esta é a primeira meta-análise a avaliar de forma abrangente os riscos de várias doenças da tireoide associadas ao uso de agonistas do receptor de GLP-1.  Além disso, todos os estudos incluídos eram ECRs.  Em segundo lugar, nenhuma ou apenas uma leve heterogeneidade foi encontrada em nenhuma das metanálises realizadas no presente estudo.

Reconhecemos que nosso estudo tem várias limitações.

Primeiro, quase todos os estudos incluídos não consideraram os eventos tireoidianos como o resultado principal, apenas os consideraram como resultados de segurança e não monitoraram as alterações na função tireoidiana ao mesmo tempo.

Além disso, apenas estudos relatando eventos da tireoide foram incluídos nesta análise, levando a um risco claro de viés de notificação.

Em segundo lugar, embora esta análise tenha incluído 45 estudos com um tamanho de amostra bastante grande, a baixa incidência de eventos tireoidianos resultou em um amplo intervalo de confiança que reduziu a certeza de nossos achados.

Além disso, os grupos de estudo diferem consideravelmente em tamanho (52.600 vs. 41.463).  

Considerando a pequena diferença na taxa de distúrbios da tireoide (0,39 vs. 0,31%), uma influência significativa no desfecho primário não pode ser descartada.

A terceira limitação é que pode haver o potencial para vários efeitos indiretos ou confusão.

Por exemplo, redução no IMC em pacientes obesos, restrição calórica e doença estão todos associados a diferentes alterações no teste de função tireoidiana (TFT).

Os pacientes podem ser rastreados de forma mais rigorosa, particularmente para nódulos/câncer da tireoide em pacientes que recebem agonistas do receptor de GLP-1.

Outra limitação é que, para o câncer de tireoide, relatar especificamente os casos de CMT versus CPT aumentaria o objetivo de elucidar os mecanismos da doença da tireoide.  

No entanto, verificamos que alguns estudos não especificaram o tipo de câncer de tireoide, o que afetaria a precisão dos resultados.

Devido à falta de padronização dos relatos de eventos adversos e dados originais, não podemos fazer comparações de acordo com os diferentes tipos.

Finalmente, embora nossa meta-análise tenha mostrado que os agonistas do receptor GLP-1 aumentaram o risco de distúrbio geral da tireoide, devido à diminuição no tamanho da amostra, não mostrou resultados estatisticamente significativos para distúrbio específico da tireoide.  

Futuros grandes ECRs de longo prazo com resultados primários ou secundários, incluindo distúrbios da tireoide e dados do mundo real, são necessários para elucidar a associação entre os agonistas do receptor de GLP-1 e o risco de vários distúrbios da tireoide, particularmente câncer de tireoide.

• Conclusão

Em conclusão, em comparação com placebo ou outras intervenções, os agonistas do receptor de GLP-1 não aumentaram ou diminuíram o risco de câncer de tireoide, hipertireoidismo, hipotireoidismo, tireoidite, massa tireoidiana e bócio.  

Devido à baixa incidência de vários distúrbios da tireoide, esses achados ainda precisam ser verificados por mais estudos.

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[Conteúdo exclusivo para médicos] Análogos de GLP-1 e o risco de câncer de tireóide

OBJETIVO

Determinar se o uso de agonistas do receptor (RA) do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) está associado ao aumento do risco de câncer de tireoide.

PROJETO E MÉTODOS DE PESQUISA

Uma análise de caso-controle aninhada foi realizada com o uso do banco de dados do sistema nacional de seguro de saúde francês (SNDS).  

Indivíduos com diabetes tipo 2 tratados com medicamentos antidiabéticos de segunda linha entre 2006 e 2018 foram incluídos na coorte.

Todos os cânceres de tireoide foram identificados por meio de diagnósticos de alta hospitalar e procedimentos médicos entre 2014 e 2018. 

A exposição ao GLP-1 RA foi medida nos 6 anos anteriores a um período de atraso de 6 meses e considerada como uso atual e duração cumulativa de uso com base em  dose diária definida (≤1, 1 a 3, >3 anos).

Os indivíduos do caso foram pareados com até 20 indivíduos de controle em idade, sexo e duração do diabetes com o procedimento de amostragem de conjunto de risco.  

O risco de câncer de tireoide relacionado ao uso de GLP-1 RA foi estimado com uma regressão logística condicional com ajuste para bócio, hipotireoidismo, hipertireoidismo, outras drogas antidiabéticas e índice de privação social.

RESULTADOS

Um total de 2.562 indivíduos com câncer de tireoide foram incluídos no estudo e pareados com 45.184 indivíduos de controle.

O uso de GLP-1 RA por 1 a 3 anos foi associado ao aumento do risco de todos os cânceres de tireoide (taxa de risco ajustada [HR] 1,58, IC 95% 1,27–1,95) e câncer medular de tireoide (HR ajustado 1,78, IC 95% 1,04–3.05).

CONCLUSÕES

No presente estudo, encontramos aumento do risco de todos os cânceres de tireoide e câncer medular de tireoide com o uso de GLP-1 RA, em particular após 1-3 anos de tratamento.

DESTAQUES DO ARTIGO

• Estudos pré-clínicos sugerem que os agonistas do receptor GLP-1 têm efeitos específicos na glândula tireoide, potencialmente envolvendo o desenvolvimento de câncer de tireoide. Estudos sobre este assunto produziram resultados conflitantes, possivelmente devido à falta de poder estatístico.

• Os resultados deste estudo nacional de base populacional sugerem que o uso de agonistas do receptor GLP-1 está associado ao aumento do risco de câncer de tireoide

• O risco aumentado foi maior no caso de 1-3 anos de uso de agonista do receptor GLP-1.

• Os médicos devem estar cientes desse risco potencial ao iniciar um agonista do receptor de GLP-1 e monitorar cuidadosamente os pacientes expostos

INTRODUÇÃO

Os agonistas do receptor (RA) do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1), como exenatida, liraglutida, dulaglutida e semaglutida, são drogas de segunda linha ou de linha superior comumente usadas no tratamento do diabetes tipo 2.

Eles induzem a ativação direta do receptor GLP-1, que estimula a secreção pancreática de insulina de forma dependente de glicose, enquanto também inibe a secreção de glucagon.

Estudos pré-clínicos sugerem que o GLP-1 RA tem efeitos específicos na glândula tireoide, envolvendo potencialmente o desenvolvimento de câncer de tireoide, particularmente de câncer medular de tireoide (carcinoma de células C).  

De fato, os receptores de GLP-1 são expressos em tecidos da tireoide, e estudos de carcinogenicidade em ratos e camundongos demonstraram um risco aumentado de carcinoma medular dependente da dose e do tempo com GLP-1 RA.

Com base nesses achados, a Food and Drug Administration dos EUA (mas não a Agência Europeia de Medicamentos) contra-indica o uso de liraglutida, dulaglutida, exenatida de liberação prolongada e semaglutida em pacientes com história pessoal ou familiar de câncer medular de tireoide e múltiplas doenças endócrinas.  neoplasia tipo 2. 

Ainda assim, a relevância da carcinogenicidade animal para humanos não foi claramente determinada para AR GLP-1.

Um aumento no número de cânceres de tireoide foi relatado no ensaio clínico Liraglutide Effect and Action in Diabetes: Evaluation of Cardiovascular Outcome Results (LEADER) avaliando liraglutida versus placebo, mas o risco não atingiu significância estatística (hazard ratio [HR] 1,66, IC 95% 0,40–6,95), bem como em uma meta-análise de 12 outros ensaios clínicos com liraglutida (odds ratio [OR] 1,54, IC 95% 0,40–6,02).

No entanto, esses estudos não foram desenhados para avaliar o risco de câncer de tireoide, e suspeita-se de falta de poder estatístico.

Em 2012 e 2018, dois estudos observacionais não mostraram aumento do risco de câncer de tireoide com exenatida.

No entanto, no mais recente, com o uso de dois bancos de dados administrativos dos EUA, os pesquisadores encontraram uma tendência não significativa de aumento do risco de câncer de tireoide com exenatida (OR 1,46, IC 95% 0,98-2,19).

Consequentemente, há atualmente incerteza sobre o risco potencial de câncer de tireoide associado à AR por GLP-1.

Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o risco de câncer de tireoide associado ao uso de GLP-1 RA em um cenário nacional do mundo real.

CONCLUSÕES

Neste estudo nacional de base populacional, o uso de GLP-1 RA foi associado a maior risco de câncer de tireoide.

Nossos resultados sugerem que o risco de câncer de tireoide deve ser considerado com AR GLP-1, particularmente em pacientes tratados por 1-3 anos.

A análise complementar de farmacovigilância com o uso do banco de dados mundial de reações adversas a medicamentos forneceu resultados consistentes.

Até onde sabemos, este é o primeiro estudo com investigação do risco de câncer de tireoide com os principais AR GLP-1 em um grande banco de dados administrativo.

Nossos achados não são consistentes com os relatados nos ensaios clínicos randomizados, que não mostraram um aumento no risco de câncer de tireoide com os diferentes AR GLP-1 individualmente ou em uma meta-análise.

No entanto, esses resultados foram baseados em dados de pacientes hiperselecionados de ensaios clínicos com protocolos abrangentes longe de dados da vida real e em muito poucos casos observados de câncer de tireoide (<10).

Em dois outros estudos observacionais, os investigadores não encontraram nenhum risco de câncer de tireoide com exenatida.

No entanto, esses estudos incluíram o uso de bancos de dados comerciais, induzindo um risco de seleção de pacientes e, com muito menos casos expostos do que em nosso estudo, provavelmente não tinham poder estatístico (<100 casos identificados de câncer de tireoide expostos ou não ao GLP1 RA em cada estudo).

Finalmente, os resultados de nossas análises globais complementares de farmacovigilância foram consistentes com os de um estudo de farmacovigilância nos EUA, onde a exenatida foi comparada com outros medicamentos antidiabéticos e foi encontrado um excesso de relatos de câncer de tireoide.

Vários estudos em animais demonstraram que a exposição à exenatida, liraglutida e dulaglutida estava associada ao câncer medular da tireoide em roedores de ambos os sexos.

Acreditava-se que o papel do GLP-1 RA no aumento da liberação de calcitonina e na expressão do gene da calcitonina resultando em hiperplasia de células C era específico para roedores.

Nossas descobertas claramente levantam preocupações sobre a relevância desse risco para os seres humanos.

Encontramos risco aumentado de câncer de tireoide para todos os AR GLP-1 estudados para > 1 ano de uso, exceto para dulaglutida por 1-3 anos de uso, mas a análise foi baseada em apenas 13 casos expostos (provavelmente devido à comercialização posterior),  sugerindo falta de poder estatístico neste grupo.

Embora a expressão do receptor GLP-1 em humanos seja menor do que em roedores, os receptores GLP-1 estão presentes no tecido tireoidiano humano ou células C neoplásicas da tireoide, sugerindo um papel direto da ativação do receptor GLP-1 na  ocorrência de câncer de tireoide em pessoas com diabetes tipo 2.

Em nosso estudo, o uso de inibidores de DPP-4 também foi associado a maior risco de câncer de tireoide, mas com estimativas de risco mais baixas.

Esses resultados podem estar relacionados à hipótese de que a inibição de DPP-4 resulta em aumento dos níveis endógenos de GLP-1, mas proporciona menor ativação do receptor de GLP-1 do que o uso de AR direto resistente a DPP-4.

HRs mais altas foram encontradas para o período de 1-3 anos de uso de GLP-1 RA (especialmente para pacientes do sexo masculino).  

Embora o potencial efeito carcinogênico do GLP-1 RA na tireoide não seja bem compreendido, este achado sugere que cânceres de tireoide induzidos podem se desenvolver após um período relativamente curto de exposição ao GLP-1 RA ou que o GLP-1 RA pode promover lesões pré-cancerosas da tireoide.

A presença de bócio, hipotireoidismo e hipertireoidismo foi maior nos casos do que nos controles; portanto, ajustamos essas variáveis ​​em nossas análises.  

É improvável que outras características levemente desequilibradas, como hipertensão ou tratamento com anti-inflamatórios não esteroides, possam ter confundido a associação.

Importante, não encontramos evidências de um potencial viés de detecção no estudo aqui apresentado.

Se existisse, o risco de tireoidectomia negativa (ou tireoidectomia sem diagnóstico de câncer de tireoide associado) teria sido aumentado com o uso de GLP-1 RA, o que não foi o caso.

Isso permite considerar que o risco aumentado de câncer que relatamos em nossa análise de caso-controle não deve estar relacionado ao achado incidental de câncer em pacientes que teriam maior probabilidade de receber tireoidectomia exploratória.

Além disso, o viés de triagem é esperado especificamente para condições assintomáticas, o que raramente é o caso de cânceres de tireoide, especialmente os medulares.

Semelhante ao viés de detecção, pode ocorrer um viés de notificação na análise do banco de dados de farmacovigilância, que resulta da notificação preferencial de casos de medicamentos para os quais um risco ou risco potencial já foi comunicado.

Como nenhum aviso sobre um potencial sinal associando GLP-1 RA com câncer de tireoide foi emitido no momento em que o período que consideramos para a análise terminou, não há razão para acreditar que tal viés teria afetado 
os resultados da análise complementar de farmacovigilância que realizamos.

Este estudo tem vários pontos fortes, incluindo o uso de um banco de dados de saúde nacional do mundo real, permitindo a representatividade da prática clínica atual (todos os pacientes franceses elegíveis expostos a medicamentos antidiabetes de segunda linha foram considerados) e a exaustividade dos dados  em termos de exposição (todas as dispensações são capturadas no banco de dados), diagnósticos de internação e procedimentos clínico-cirúrgicos.  

Além disso, a combinação de casos e controles e o ajuste de nossos modelos permitiram considerar importantes fatores de confusão potenciais, como idade, sexo, duração do diabetes, índice de privação social, bócio, hipotireoidismo, hipertireoidismo e exposição a outros medicamentos antidiabéticos.

Os pacientes incluídos tinham pelo menos 8 anos de histórico no banco de dados antes da data do índice, permitindo otimizar a avaliação da duração do diabetes.

Por fim, os resultados permaneceram consistentes nas análises estratificada e de sensibilidade.

No entanto, este estudo tem algumas limitações.

Primeiro, a definição de eventos e condições com uso de diagnósticos e procedimentos codificados em bancos de dados de hospitalização não pode excluir erros de classificação de desfecho e potenciais fatores de confusão.  

Além disso, não havia código específico disponível para câncer medular de tireoide.

Assim, para este desfecho, usamos uma definição que combina o diagnóstico de câncer de tireoide com vários testes de calcitonina, teste de CEA ou um tratamento específico (vandetanibe) para melhorar a validade da identificação do caso.

Em segundo lugar, as informações sobre os diagnósticos de internação não distinguem eventos recorrentes com internações sucessivas de várias internações relacionadas a um único evento incidente.

No entanto, a exclusão de pacientes com câncer nos 8 anos anteriores à entrada na coorte provavelmente evitou a classificação errônea dos eventos incidentes.

Terceiro, a exposição a medicamentos avaliada por meio de bancos de dados de assistência à saúde está sujeita a erros de classificação, uma vez que não se pode determinar se um medicamento dispensado é realmente administrado ao paciente.  

No entanto, várias prescrições sucessivas provavelmente estão associadas ao uso real de drogas.  

Os estudos farmacoepidemiológicos de risco de câncer são frequentemente sujeitos a viés protopático.

Em nosso estudo, adicionar um tempo de defasagem e analisar suas mudanças nas análises de sensibilidade reduziu o impacto desse potencial viés.

Por fim, potenciais confundidores como histórico familiar de câncer de tireoide e exposição à radiação ambiental estavam faltando no banco de dados, levando à possibilidade de confusão residual, inerente aos estudos observacionais.

• Conclusão

Em resumo, os resultados deste estudo nacional de base populacional sugerem que o uso de GLP-1 RA está associado ao aumento do risco de câncer de tireoide e câncer medular de tireoide em particular.

O risco aumentado foi maior para 1-3 anos de uso de GLP-1 RA e permaneceu elevado por > 3 anos de uso.

Os médicos devem estar cientes desse risco potencial ao iniciar uma AR GLP-1 e monitorar cuidadosamente os pacientes expostos, especialmente na presença de outros fatores de risco para câncer de tireoide.

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

O que é e para que serve a dieta Low FODMAP ?

A sigla FODMAP nada mais é do que a abreviação em inglês de Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides and Polyols. 

Ou seja, traduzindo de forma mais simples e resumida, é um conjunto de carboidratos que podem ter uma digestão mais dificultada, além de apresentarem uma alta capacidade em "puxar" água para o intestino e aumentar a produção de gás pelas bactérias presentes nesse órgão (microbiota intestinal).

📣Mas para que serve essa estratégia "low/baixa" em FODMAPs?

Vários estudos demonstram que essa dieta reduz de forma bem significativa a produção de gases e distensão abdominal nos pacientes, sendo uma alternativa muito válida para ser aplicada nas doenças inflamatórias intestinais (Retocolite ulcerativa e Crohn), quadros de síndrome do intestino irritável e supercrescimento bacteriano do intestino delgado. 

Há casos de intolerâncias alimentares que a low FODMAP pode ser a dieta de escolha para realizar uma investigação mais minuciosa.

Portanto, essa estratégia é excelente quando bem prescrita. Mas lembre-se, por ser uma dieta bem restritiva, não deve ser feita sem a orientação profissional. Além disso, a duração da dieta não deve ser superior a 2-3 meses, já que piorar de forma significativa a microbiota intestinal e o risco nutricional.

Autor: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisores: 
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

Infecção pelo vírus HIV e aspectos nutrológicos da AIDS

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera 1 de Dezembro, como o dia mundial de Combate à Aids. O Objetivo é alertar as pessoas sobre essa doença. A data foi escolhida pela OMS e é celebrada anualmente desde 1988 no Brasil, um ano após a Assembleia Mundial de Saúde que fixou a data de comemoração.

A AIDS é uma doença ocasionada pelo Human Immunodeficiency Virus  (HIV) ou vírus da imunodeficiência humana, que leva a uma depleção imunológica.

Durante a infecção inicial, o indivíduo que se contamina com o HIV passará por um breve (as vezes menos de 14 dias) período doente, com sintomas semelhantes aos da gripe. Normalmente isto é seguido por um período prolongado sem qualquer outro sintoma.

À medida que a infecção progride, ela interfere gradativamente no sistema imunológico, tornando a pessoa muito mais propensa a ter outros tipos de doenças, como infecções oportunistas e câncer, que geralmente não afetam as pessoas com um sistema imunológico saudável.

Antes de tudo faz-se necessário compreender, que HIV e AIDS são diferentes. Nem todo paciente  vivendo com o HIV (PVHIV) tem AIDS mas todo paciente com AIDS convive com o HIV.

A AIDS é a depleção imunológica ocasionada pelo vírus. Ela se manifesta através de infecções por agentes (vírus, fungos, bactérias) que quando presentes em um indivíduo imunocompetente (sadio) o organismo conseguiria resolver o processo infeccioso.

Ou seja, o indivíduo fica vulnerável a agentes que normalmente não são “tão patogênicos” para alguém que esteja com o imunológico saudável.

Para ler o texto completo que escrevi sobre o tema acesse: https://nutrologojoinville.com.br/infeccao-por-hiv-e-nutrologia/

terça-feira, 29 de novembro de 2022

O ciclo circadiano do recém-nascido e o aleitamento materno

A crononutrição tem como objetivo ajustar a qualidade da nutrição e a ingestão para coordenar o relógio biológico de um indivíduo, de modo que se consuma o tipo e a quantidade de alimentos na hora do dia mais ideal. A maior parte da compreensão atual da crononutrição surgiu de estudos em adultos e, portanto, não abrange o tempo de vida dos bebês.

No útero, o feto é exposto por aproximadamente 9 meses aos ritmos circadianos, fisiológicos, metabólicos e comportamentais da mãe. Este meio circadiano é abruptamente interrompido após o nascimento, mas a natureza desenvolveu a substituição perfeita, o leite materno, cuja composição muda de acordo com os ritmos circadianos da mãe. Não surpreendentemente, em humanos, o recém-nascido ingere leite durante o dia e a noite, e os componentes nutritivos e não nutritivos mudam de acordo com esses horários.

Após o nascimento, o recém-nascido é exposto a uma variedade de manipulações e mudanças ambientais e o tempo de estabelecimento dos ritmos circadianos de glicocorticoides, melatonina, repouso diurno/noturno e o ritmo do sono variam amplamente dos 3 aos 6 meses de idade. Em um estudo em que a criança foi amamentada sob livre demanda durante o dia e a noite e exposta à luz apenas durante o dia, os ritmos circadianos de temperatura, sono/vigília e melatonina foram detectados durante a primeira semana e aos 30 e 45 dias de vida, respectivamente, sendo mais cedo do que a maioria dos estudos. O acúmulo de evidências revela os benefícios das mudanças nos componentes do leite e nas condições ambientais para o bebê.

Estudos que avaliaram a relação do leite materno, ciclo circadiano e seu impacto no bebê e concluíram que:
  • O triptofano, guanosina, uridina e melatonina presentes no leite humano durante a noite melhoraram o sono infantil e ajudaram a consolidar seu ciclo sono/vigília;
  • A vitamina B12 pode melhorar o sono em crianças;
  • Existem substâncias cronobióticas no leite que contribuem para o estabelecimento do ciclo sono-vigília do lactente;
  • Os bebês amamentados exclusivamente tiveram melhores parâmetros de sono em comparação com bebês alimentados com fórmula;
  • Os bebês com 2 meses de idade que foram amamentados, em contraste com bebês alimentados com fórmula, tiveram uma frequência significativamente menor de ataques de cólica e gravidade dos ataques de irritabilidade, o que foi associado ao consumo noturno de melatonina através do leite;
  • Os ritmos circadianos são importantes para o bem-estar dos lactentes e afeta severamente a sobrevida;
  • Os bebês que foram expostos à variação da condição claro/escuro e alimentados com leite materno apresentaram maior ganho de peso, melhor saturação de oxigênio, desenvolveram mais rapidamente um ritmo de melatonina e menor tempo de internação.
Esses estudos são exemplos da importância dos ritmos circadianos após o nascimento do bebê. 

Felizmente, a evidência convincente dos benefícios da exposição de bebês prematuros a um ciclo claro/escuro está levando as sociedades de cuidados neonatais a recomendar essa prática para aplicações clínicas.

Além disso, considerando que estamos no novembro roxo, mês de conscientização sobre o nascimento prematuro, vale destacar que a amamentação desde o nascimento é eficaz na prevenção da morte de bebês prematuros, em contraste com as práticas convencionais de cuidado.


Referência: Caba-Flores MD, Ramos-Ligonio A, Camacho-Morales A, Martínez-Valenzuela C, Viveros-Contreras R, Caba M. Breast Milk and the Importance of Chrononutrition. Front Nutr. 2022 May 12

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Quando o meio não se adequa ao portador de obesidade

 Essa semana, a digital influencer e modelo plus size Juliana Nehme divulgou em seu instagram que foi impedida de embarcar em um voo da Qatar Airways no Líbano por ser considerada "gorda demais".

A brasileira já chegou ao Brasil, mas esse caso levanta dúvidas sobre quais são as regras das empresas para passageiros considerados obesos. As companhias devem oferecer extensores de cinto de segurança para os passageiros que não consigam fechar os seus em torno da cintura. Em assentos localizados em saídas de emergência, entretanto, mesmo com mais espaço, os extensores são negados por questões alegadas de segurança.

Nas empresas nacionais, a maioria dos assentos gira em torno de 43,2 e 45,8 cm de largura por 76,2 a 86,4 cm de distância entre o encosto e o da frente. Nem sempre essa medida é confortável para quem vai viajar. Entretanto, como essa é uma questão mais ligada ao volume, e nem só com o peso, às vezes, espaço extra para as pernas permite uma melhor acomodação. Caso não, talvez possa ser necessário reservar um assento extra, dependendo da situação e da política da empresa

domingo, 27 de novembro de 2022

Sintomas de anemia: como a alimentação pode ajudar?

A anemia é um grave problema de saúde pública global, que afeta principalmente crianças e mulheres grávidas. Com sintomas que vão desde fadiga até frequência cardíaca elevada, a doença deve ser rapidamente diagnosticada e tratada. A alimentação pode contribuir para este tratamento: continue lendo para descobrir como.

O que é anemia?

A anemia é a condição patológica na qual o número de glóbulos vermelhos ou a concentração de hemoglobina (Hb) dentro deles é menor do que o esperado. Como os glóbulos vermelhos são responsáveis pelo transporte de oxigênio para os tecidos corporais, a anemia dificulta esse transporte, ocasionando diversas consequências para a saúde.

Mundialmente, estima-se que 42% das crianças com menos de 5 anos de idade e 40% das mulheres grávidas são anêmicas. As causas da anemia são múltiplas, incluindo carências alimentares, fatores  hormonais, genéticos e imunológicos.

Tipos de anemia

Os tipos mais comuns de anemia são:
  • Anemia ferropriva: causada por perda de sangue ou falta de ferro na dieta.
  • Anemia megaloblástica: causada por baixa ingestão ou dificuldade de absorção de vitamina B12 ou ácido fólico.
  • Anemia falciforme: distúrbio hereditário em que os glóbulos vermelhos assumem o formato de foice, podendo obstruir o fluxo sanguíneo.
  • Anemia hemolítica: quando o corpo destrói os glóbulos vermelhos mais rápido do que os produz.
  • Anemia por doenças crônicas: surge como resultado de câncer, HIV/AIDS, doença de Crohn e outras condições crônicas que interferem na produção de glóbulos vermelhos.
  • Anemia aplástica: incapacidade da medula óssea de produzir glóbulos vermelhos.

Quais os sintomas de anemia?

Na anemia, os sintomas são decorrentes da menor distribuição de oxigênio para os tecidos corporais. A queda da hemoglobina leva à mobilização de mecanismos compensatórios, tais como aumento do débito cardíaco, redistribuição do fluxo sanguíneo para órgãos vitais, aumento do influxo de líquido do espaço extravascular  para  o  intravascular,  dentre  outros.

As manifestações clínicas irão depender da etiologia, da gravidade, da velocidade de instalação, das eventuais comorbidades e dos mecanismos compensatórios que o paciente foi capaz de mobilizar.

De modo geral, os principais sinais e sintomas de anemia são:
  • Fadiga
  • Fraqueza (astenia)
  • Falta de ar (dispneia)
  • Frequência cardíaca aumentada
  • Tontura
  • Palpitações
  • Dor de cabeça (cefaleias)
  • Zumbidos
  • Cãibras
  • Falta de apetite
  • Palidez da pele e mucosas (olhos, gengiva)
  • Dificuldade de aprendizagem
  • Queixas específicas também  podem  ocorrer  em  diferentes  tipos  de  anemia. Na anemia megaloblástica, por exemplo, podem haver sintomas neurológicos, glossite (língua avermelhada) e parestesia (sensação de formigamento).

Diagnóstico de anemia

O diagnóstico da anemia é feito através da avaliação dos exames laboratoriais. Dentre eles, o hemograma completo é o mais importante, pois permite  classificar a anemia de acordo com sua intensidade e com o volume corpuscular médio (VCM) dos glóbulos vermelhos, além de mostrar as contagens de leucócitos e plaquetas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define anemia como a concentração de Hb inferior a 12 g/dL para mulheres pré-menopausa, e inferior a 13,0 g/dL para homens e para mulheres pós-menopausa.

O que comer quando se está com anemia?

O tratamento para anemia através da alimentação é muito importante, devendo ser incentivado por todos os profissionais de saúde. A depender da causa, algumas estratégias devem ser mais ou menos empregadas. A seguir, confira as principais dicas para tratamento da anemia através da alimentação.

1. Aumentar ingestão de ferro e vitamina C

Na anemia ferropriva, o foco deve ser o aumento da ingestão dietética de ferro, através dos seguintes alimentos:
  • Carnes brancas e vermelhas (fígado, coração, moela)
  • Cereais, pães e farinhas fortificadas com ferro
  • Vegetais folhosos verde-escuros (agrião, couve, taioba)
  • Feijões e leguminosas (ervilha, lentilha, grão de bico)
  • Tofu
  • Nozes, sementes e oleaginosas (chia, amêndoas, etc)
  • Frutas secas (uva passa, ameixa, tâmara, damasco)
Para aumentar a absorção de ferro, recomenda-se o consumo de alimentos ricos em vitamina C junto às refeições, tais como kiwi, laranja, limão, acerola, tangerina, goiaba e abacaxi.

Atenção: uma exceção para esta recomendação é a anemia falciforme, uma vez que as transfusões podem gerar uma sobrecarga de ferro.

2. Evitar alimentos que diminuem a absorção do ferro

Durante refeições ricas em ferro, deve-se evitar o consumo de alimentos que prejudicam o aproveitamento deste micronutriente. São exemplos de alimentos a serem evitados:
  • Chás
  • Café
  • Leite
  • Queijos
  • Sorvete
  • Iogurte
  • Pudim
  • Chocolate e cacau
  • Refrigerantes
  • Vinho tinto
  • Aveia
  • Linhaça
  • Nos chás e café, há presença de taninos e outros compostos fenólicos que se ligam ao ferro, diminuindo sua absorção. Por isso, recomenda-se o consumo 1 hora antes ou depois das refeições, para que não atrapalhe a absorção deste mineral.
3. Aumentar a ingestão de vitamina B12 e ácido fólico

Em casos de anemia megaloblástica, a vitamina B12 e o ácido fólico são os principais micronutrientes que merecem atenção.

Para aumentar a ingestão de vitamina B12, produtos de origem animal devem ganhar foco: carnes vermelhas e brancas, vísceras (fígado, coração moela), peixes (sardinha, atum salmão), frutos do mar, ovos, leites e derivados. Para o paciente vegetariano, a suplementação será necessária.

Já uma alimentação rica em ácido fólico deve incluir os seguintes alimentos:
  • Hortaliças verde-escuras: espinafre, agrião, acelga, caruru, brócolis, cheiro verde, coentro, couve, taioba, pimentão.
  • Farinhas fortificadas.
  • Leguminosas: feijões, grão de bico, soja.
  • Oleaginosas e sementes: amendoim, nozes, avelã, castanha de caju, semente de girassol.
  • Frutas cítricas: abacaxi, acerola, caju, laranja, limão, morango, pêssego, romã, tangerina, uva, dentre outras.
  • Além disso, deve-se atentar aos níveis de zinco deste paciente, uma vez que o baixo nível contribui para a diminuição da absorção intestinal do folato.
Conclusão

Em alguns casos, a anemia pode ser uma condição intimamente relacionada com a deficiência de micronutrientes, tais como ferro, ácido fólico e vitamina B12. Sendo assim, de modo a reduzir seus sintomas e promover seu tratamento, as estratégias alimentares que visem aumentar a ingestão destes nutrientes são bem-vindas.

Referências

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Como se dá o diagnóstico da intolerância à lactose?

 Excelente postagem feita pelos meus colegas do Nutritotal: https://nutritotal.com.br/pro/intolerancia-a-lactose-como-diagnosticar/

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Dieta anti-estresse ou dieta psicobiótica

A alimentação pode modular a microbiota, trazendo efeitos positivos no humor.

O estresse do dia-a-dia pode acarretar em diversas consequências para a saúde mental humana. Como forma de revertê-lo, diversas terapêuticas podem ser empregadas, inclusive algumas estratégias alimentares. Em um recente estudo, o objetivo foi investigar  o potencial da dieta psicobiótica para modular a microbiota intestinal, e assim gerar efeitos positivos no humor. Continue lendo para entender essa associação.

O que é Dieta Psicobiótica?

A dieta psicobiótica ou “dieta dos psicobióticos”  é o termo cunhado para descrever intervenções alimentares que visem um impacto na função cerebral mediado por bactérias intestinais.

Basicamente, ela é composta por alimentos que influenciam fortemente o microbioma, como grãos integrais, frutas e vegetais prebióticos, alimentos fermentados e leguminosas. Além disso, desencoraja-se o consumo de doces, fast food, bebidas açucaradas, etc.

Na ciência, diferentes mecanismos têm sido propostos como subjacentes à comunicação microbiota-intestino-cérebro, incluindo o sistema imunológico, metabólitos microbianos ou o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA).

Sendo a microbiota um canal chave para processos cerebrais, humor e comportamento, essas estratégias alimentares poderiam beneficiar a saúde mental das populações, inclusive a parcela resistente às terapias tradicionais.

Metodologia: 45 adultos foram analisados

Para investigar a influência da dieta psicobiótica na microbiota e no estresse, 45 adultos (18 a 59 anos) foram randomizados no grupo de intervenção (n = 24) e no grupo controle (n = 21), durante 4 semanas.

A dieta psicobiótica foi composta por:
  • Legumes: 3 a 4 porções por semana;
  • Alimentos fermentados (chucrute, kefir, kombucha…): 2 a 3 porções ao dia;
  • Grãos: 5 a 8 porções ao dia;
  • Frutas e vegetais ricos em fibras prebióticas (cebola, alho-poró, repolho, maçã, banana, aveia…): 6 a 8 porções ao dia.
  • Os participantes do grupo de intervenção também foram instruídos a manterem atividade física e permanecer numa ingestão calórica de 2.000 a 2.200 kcal/dia para mulheres ou 2.400 a 2.800 kcal/dia para homens.

Níveis de estresse, saúde geral e sono foram avaliados por meio de questionários validados, pré, durante e pós-intervenção. Também foi realizado o perfil metabólico de amostras de plasma, urina e fezes. A composição e a função da microbiota fecal foram caracterizadas usando sequenciamento de espingarda.

O estresse diminuiu

Durante a intervenção, houve uma diminuição de 32% do estresse percebido no grupo sob a dieta psicobiótica, contra uma diminuição de apenas 17% no grupo controle. A análise de regressão revelou que a maior adesão à dieta resultou nas menores pontuações de estresse. Apesar disso, não houve diferenças significativas entre os grupos no pós-intervenção.

Em relação às mudanças na microbiota intestinal, foram observadas mudanças sutis na função e composição microbiana no grupo de intervenção, tal como o aumento da Blautia wexlerae, uma bactéria comensal que é inversamente correlacionada com obesidade e diabetes mellitus tipo 2.

Os autores sugerem que a curta duração do estudo, o baixo número da amostra e a insuficiente quantidade de alimentos fermentados foram fatores que prejudicaram alterações microbianas mais estruturadas.

Mudanças nos metabólitos microbianos

Apesar de não se ter encontrado alterações significantes na microbiota, foi observado um impacto importante nos metabólitos fecais: um total de 40 metabólitos lipídicos foram significativamente afetados no grupo da dieta, o que não foi observado no grupo controle.

Embora essas mudanças possam ser atribuídas à redução da ingestão de alimentos ricos em gordura, outras investigações revelaram que vários micróbios probióticos podem induzir alterações nos metabólitos lipídicos, o que pode ter consequências para a saúde periférica.

A análise metabolômica também revelou que os metabólitos da urina foram alterados no metabolismo do triptofano, que já demonstrou ser estreitamente regulado pela microbiota, e pode servir como importantes mensageiros bioativos na comunicação microbiota-cérebro.

Por fim, a intervenção dietética também reduziu o metabólito da via da quinurenina, cujos efeitos neurotóxicos podem interromper a neurotransmissão em altas concentrações.

Conclusão: mais estudos são necessários

Em conclusão, a dieta psicobiótica melhorou o estresse nos participantes, enquanto provocava mudanças metabólicas específicas na microbiota intestinal.

No entanto, os resultados devem ser interpretados com cautela: não foi possível associar as alterações nos metabólitos com as alterações no estresse. Além disso, embora as melhorias no estresse tenham sido observadas no grupo de intervenção, não houve diferenças significativas entre os grupos após o fim da pesquisa.

Embora o estudo forneça dados importantes sobre a interação entre dieta, microbiota e saúde mental, as mudanças sutis e o tamanho limitado da amostra destacam a necessidade de mais investigações para confirmar o efeito de alívio do estresse da dieta psicobiótica.


Referência: BERDING, Kirsten et al. Feed your microbes to deal with stress: a psychobiotic diet impacts microbial stability and perceived stress in a healthy adult population. Molecular Psychiatry, p. 1-10, 2022.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

[Conteúdo exclusivo para médicos e nutricionistas] - O valor calórico das carnes de gado, porco, frango e peixe são iguais?

Por definição, “carne” é o produto advindo das porções comestíveis de animais domésticos, selvagens ou de criação, que servem de alimento ao homem. No Brasil, os tipos de carne mais consumidos incluem as carnes de aves, bovinas e suínas, além dos pescados. Neste artigo, você irá entender as diferenças entre os valores calóricos e nutricionais das carnes mais consumidas em nosso país.

Valor calórico e nutricional dos tipos de carne
Basicamente, a estrutura das carnes envolve a presença de três tecidos distintos: o muscular, o conjuntivo e o adiposo. Já os órgãos internos, normalmente chamados de vísceras, também podem ser classificados como carne.

Em geral, as carnes são fontes de proteínas de alto valor biológico (10 a 20%), gorduras (5 a 30%), vitaminas (principalmente A, complexo B, D, e K) e minerais (principalmente ferro, cálcio, sódio e potássio).

Contudo, a composição de cada carne varia de acordo com a raça do animal, tipo de ração ingerida, condições climáticas, corte e preparo culinário. Esses fatores conferem uma diferença considerável em suas propriedades nutricionais e sensoriais.

O valor calórico fornecido pelas carnes depende principalmente da quantidade de proteínas e gorduras, uma vez que a quantidade de carboidratos nas carnes é irrelevante. Cortes diferentes do mesmo animal possuem valor calórico diverso.

A seguir, você encontra o teor calórico e nutricional dos diferentes tipos e preparos de carne consumidos pela população brasileira.

Carne bovina

As carnes bovinas fazem parte do grupo de carnes vermelhas, e são obtidas a partir das musculaturas dos bovinos, principalmente do gado doméstico.

Estes produtos fornecem ótimos níveis de proteína, além de micronutrientes como zinco, ferro,  fósforo, potássio, magnésio, e vitaminas do completo B. Porém, é preciso tomar cuidado com a alta quantidade de gorduras saturadas e colesterol.

Diferentes músculos bovinos fornecem corte de carne com características sensoriais distintas. As regiões mais ricas em gordura fornecem carnes mais macias, sendo consideradas “carnes gordas” (quando a quantidade de gordura excede em 50% o valor calórico). Picanha e acém são exemplos.

Já as musculaturas submetidas a maiores esforços fornecem carnes mais duras, com maior conteúdo de tecido conectivo: são as “carnes magras”, como lagarto, filé-mignon e patinho. Neste caso, a quantidade de gordura não excede em 50% o valor calórico proveniente desta gordura.

Na tabela a seguir, estão apresentados os teores de calorias dos diferentes tipos de carnes bovina, da menos calórica para a mais calórica. Níveis de proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas e colesterol também foram incluídos, para melhor orientar a prescrição nutricional.


Carne suína

A carne suína, ou carne de porco, também integra o grupo das carnes vermelhas. Muito comum em preparações regionais (como feijoada, virado à paulista ou feijão tropeiro), a carne suína possui quantidades de colesterol similares às da carne bovina. Além da proteína, também contém níveis consideráveis de vitaminas A e B2, cálcio, ferro e fósforo.

É uma carne rosada, firme, com gordura branca e consistente, mais macia do que a gordura da carne bovina. Se for de qualidade inferior, apresenta muita gordura; porém, depende do corte.

Novamente, por integrar o grupo das carnes vermelhas, é preciso ter cautela com seu consumo: em uma metanálise recente, o consumo destes produtos foi positivamente associado ao aumento do câncer gástrico.

A tabela abaixo expressa o teor de nutrientes a cada 100 g de diferentes cortes suínos (em ordem crescente para o teor calórico).


Carne de frango

As carnes de aves integram as carnes brancas, sendo as mais consumidas mundialmente, em especial o frango. Contudo, carnes de outros animais (como peru, codorna e chester) também são apreciados por muitos.

Quanto ao valor nutritivo, possuem conteúdo protéico semelhante às outras carnes, com menos gordura e menos colesterol, além de serem fontes de cálcio, ferro, fósforo, potássio e zinco. Recomenda-se a retirada da pele para reduzir ainda mais a quantidade de gordura existente.

Os cortes de peito tem menor teor de gordura, enquanto a coxa, sobrecoxa e asa são partes um pouco mais gordurosas. Além disso, miúdos como fígado, coração e moela também são consumidos, além de pé e pescoço.

Compare o teor calórico dos cortes de aves (a cada 100 g) na tabela abaixo:




Carne de peixe

Os pescados são todos os animais aquáticos que servem de alimento para o homem, obtidos de água doce ou salgada, por diferentes processos de captura ou pesca. São divididos entre os peixes e os frutos do mar.

Os peixes, por sua vez, podem ser  gordurosos e de músculo escuro (como atum, sardinha, bagre ou salmão), ou peixes de carne clara (como bacalhau, carpa e dourado). De forma geral, são fontes de proteínas de alto valor biológico e de ômega 3. Os peixes de água salgada são ótimas fontes de iodo e cálcio, além do óleo de fígado ser uma excelente fonte de vitaminas A e D.

Abaixo, apresentamos o teor calórico e nutricional dos peixes mais consumidos a cada 100 g.


Conclusão

Como visto, o valor calórico dos diferentes tipos de carne não é igual. Cortes mais gordurosos, como picanha, alcatra e costela suína, costumam ter mais calorias. No plano nutricional, esse fator deve ser considerado, principalmente para pacientes que estão em busca do emagrecimento.

Leia também:

Quais são as diferenças nutricionais entre as carnes bovina, suína, de frango e de peixe? https://nutritotal.com.br/pro/o-valor-cala-rico-das-carnes-de-gado-porco-frango-e-peixe-sa-o-iguais/

Consumo de carne vermelha e processada aumenta risco de câncer colorretal: https://nutritotal.com.br/pro/consumo-de-carne-vermelha-e-processada-aumenta-risco-de-cancer-colorretal/

Consumo de peixe durante a gestação beneficia o desenvolvimento neurológico do feto: https://nutritotal.com.br/pro/consumo-de-peixe-durante-a-gestaa-a-o-beneficia-o-desenvolvimento-neurola-gico-do-feto/

Referências
  • AHMAD, Rabia Shabir; IMRAN, Ali; HUSSAIN, Muhammad Bilal. Nutritional composition of meat. Meat science and nutrition, v. 61, n. 10.5772, 2018.
  • Domene. Técnica Dietética – Teoria e Aplicações. Guanabara: Rio de Janeiro, 2018.
  • KIM, Seong Rae et al. Effect of red, processed, and white meat consumption on the risk of gastric cancer: an overall and dose–response meta-analysis. Nutrients, v. 11, n. 4, p. 826, 2019.
  • McGee, H. Comida e cozinha: Ciência e cultura da culinária. Martins Fontes: São Paulo, 2016.
  • MOREIRA, Leise Nascimento. Técnica Dietética. Estácio, Rio de Janeiro: SESES, 2016
  • TBCA – Tabela Brasileira de Composição de Alimentos.

Nutritotal Cast - Como as fakenews prejudicam nossa saúde?

 Podcast excelente com a minha grande amiga Dra. Karol Calfa: 


Clique aqui: https://www.buzzsprout.com/703893/11494738

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Conheça o movimento Zero Fake News na Nutrição - Por Dr. Dan Waitzberg

 


Fake News no Vegetarianismo | Zero Fake News na Nutrição