quarta-feira, 10 de maio de 2023

10/05 - Dia mundial do Lúpus

 

O Lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, multissistêmica, de causa desconhecida e de natureza autoimune, caracterizada pela presença de diversos autoanticorpos.  Além dos aspectos específicos relacionados ao tratamento medicamentoso, algumas medidas de suporte, como orientação sobre a doença, apoio psicossocial, atividade física e, de forma particular, a abordagem dietética, são essenciais para um atendimento integral dos pacientes com LES.

Tenho uma forte história com o  LES. Não possuo mas convivi boa parte da minha vida com pacientes portadoras. Amigas, tias, primas, além do fato do meu pai ser reumatologista e ter sido o responsável por diagnosticar minha melhor amiga, durante a faculdade. 

De fato, a dieta pode auxiliar no controle do quadro inflamatório da doença e das complicações da própria terapêutica. Tendo em vista que o risco cardiovascular parece ser aumentado em pacientes com LES devido à maior frequência de condições associadas à aterosclerose, como dislipidemia, diabetes mellitus (DM), síndrome metabólica (SM) e obesidade, a orientação dietética surge como um importante meio para minimizar essas complicações da doença.

A autoimunidade e o processo inflamatório do LES estão diretamente relacionados a alterações do perfil lipídico e ao metabolismo de lipoproteínas na doença. O padrão de dislipoproteinemia, próprio do LES, é caracterizado por maiores níveis de triglicerídeos (TG) e de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) associado a menores níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL).

Pacientes tanto com doença ativa quanto inativa apresentam essas alterações lipídicas, mas elas são agravadas pela maior atividade inflamatória da doença, o que demonstra que o LES, por si só, promove um perfil de lipoproteínas pró-aterogênico. Uma redução da atividade enzimática da lipase lipoprotéica é responsável por determinar uma dislipoproteinemia própria da doença, pois esta promove menor catabolismo de lipoproteínas ricas em TG (quilomícrons e VLDL) devido à presença de anticorpos antilipase lipoprotéica (anti-LPL) ou por ação do fator-α de necrose tumoral (TNF-α).

Vários medicamentos utilizados no LES promovem alterações deletérias no perfil lipídico previamente alterado pela própria doença, com importância particular para o efeito dos corticosteroides. Seu uso crônico no LES está associado ao aumento do colesterol total e de suas frações e dos TG, que pode ser observado após um período de 1-2 meses de uso.

Sabe-se ainda que para cada aumento de 10 mg/dia na dose de prednisona observa-se uma elevação de 7,5 mg% do colesterol total. Além disso, os corticosteroides induzem o aparecimento de outros fatores de risco, como obesidade, hipertensão arterial sistêmica (HAS), hiperinsulinemia e resistência insulínica.

A hiperinsulinemia aumenta o estresse oxidativo, que é considerado um importante mecanismo fisiopatológico para o desenvolvimento da aterosclerose. Alguns estudos revelam que o DM é significativamente mais comum em pacientes com LES que na população em geral, devido à redução da sensibilidade à insulina, e que aproximadamente 18%-38% dos pacientes apresentam SM.

Importante notar que mais da metade dos pacientes com LES apresentam três ou mais fatores de risco para doença cardiovascular, particularmente obesidade, HAS e dislipidemias, sugerindo que são realmente mais suscetíveis à SM.

Uma avaliação brasileira do estado nutricional com 170 pacientes com LES verificou prevalência de magreza grau I de 1,2% e de excesso de peso de 64,2% (35,9% de sobrepeso; 21,8% de obesidade grau I; 4,1% de obesidade grau II; 2,4% de obesidade grau III).

A eutrofia, segundo o Índice de Massa Corporal (IMC), foi verificada em apenas 34,7% dos pacientes avaliados, e conclui-se que o excesso de peso é um distúrbio frequente durante o seguimento de pacientes com LES. Nesse sentido, é de suma importância estabelecer estratégias, como programas de incentivo à prática de atividade física para redução do peso corporal e aconselhamento nutricional a fim de reduzir os riscos da síndrome.

Acrescenta-se o fato de que a dieta hiperlipídica (rica em colesterol e gordura saturada) é um dos principais fatores para a manutenção da dislipidemia na doença, fazendo perpetuar e agravar as alterações do perfil lipídico.

Em contrapartida, nutrientes antioxidantes como β-caroteno, α-tocoferol, ácido ascórbico e selênio são conhecidos como protetores contra danos tissulares por meio da ativação de macrófagos, monócitos e granulócitos, assim como pela supressão da atividade das citocinas e do TNF-α.

Uma promissora forma de abordagem do LES é a nutroterapia combinada com tratamento reumatológico. Na nutroterapia indicamos uma alimentação rica em vitaminas, minerais (principalmente os antioxidantes) e ácidos graxos mono/poli-insaturados e moderado consumo energético.

O objetivo principal da Nutroterapia visa:

Redução dos marcadores inflamatórios;
Auxílio no tratamento das comorbidades e das reações adversas aos medicamentos (a corticoterapia reduz algumas vitaminas), bem como a alguns imunosupressores.
Carne vermelha x branca: Algumas lúpicas relatam melhora com a troca da carne vermelha pela branca. Vale ressaltar que não há respaldo cientifico para tal troca e como o teor de ferro em carne branca é menor e muitas das portadores de LES possuem baixos níveis de ferro com anemia, tal troca pode ser prejudicial. Se optar continuar com a carne vermelha: evite carnes gorduras, retire a gordura ao máximo, pois ela tem ação pro-inflamatória.  Evite totalmente a gordura trans.

Fontes de cálcio: os corticóides podem favorecer osteoporose e, portanto, um bom aporte de cálcio e de vitamina D é desejável. Os alimentos ricos em cálcio são: leite desnatado, queijo, iogurte, folhas verdes escuras (como espinafre e brócolis).

L-canavanina: A alfafa é um alimento que as lúpicas devem evitar, pois esses brotos contêm um aminoácido chamado L-canavanina, que pode aumentar os sintomas de lúpus, de acordo com a Lupus Foundation of America. Pessoas que comeram alfafa reagiram com dor muscular e fadiga, e seus médicos notaram mudanças em seus resultados de teste de sangue.

Evite Legumes da Família da Solanáceas: Embora não haja qualquer evidência científica para provar isso, algumas pessoas com lúpus acham que são sensíveis aos vegetais da família da solanáceas. Isso inclui batatas brancas, tomates, pimentas doces e ardidas, e berinjela.

Cuidado com o álcool: Um copo de vinho tinto ou cerveja ocasional não é restrito. No entanto, o álcool pode interagir com alguns dos medicamentos que você toma para controlar a sua doença. Beber enquanto tomar remédios como o ibuprofeno (Motrin) ou naproxeno (Naprosyn), por exemplo, pode aumentar o risco de sangramento no estômago ou úlceras. O álcool também pode reduzir a eficácia da varfarina (Coumadin) e metotrexato.

Evite Sal: Deixe o saleiro de lado e comece a encomendar suas refeições sem o sódio em restaurantes. De acordo com o Lupus Centro Johns Hopkins, comer muito sal pode elevar a pressão arterial e aumentar o risco de doença cardíaca. O Lupus já o coloca em maior risco de desenvolver doenças cardíacas. Substitua outros temperos como limão, alho, pimenta e curry em pó para realçar o sabor dos alimentos.

Fontes:

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Dez ações que podem nos auxiliar a enfrentar a crise climática

Todos podem ajudar a limitar as mudanças climáticas. Nós podemos fazer a diferença por meio da forma que nos locomovemos, do tipo de fonte energética que usamos e da comida que comemos.
Comece com estas dez ações para ajudar a enfrentar a crise climática.

Economize energia em casa: Muita da eletricidade e do aquecimento são produzidos através do carvão, petróleo e gás. Use menos energia diminuindo aquecedor e ar-condicionado, troque para as lâmpadas de LED e para aparelhos elétricos com consumo eficiente de energia, lave a roupa com água fria e pendure as roupas no varal em vez de usar secadora.

Caminhe, use bicicleta ou transporte público: Em todo o mundo as estradas estão congestionadas com veículos, a maioria movida a diesel ou gasolina. Caminhar ou andar de bicicleta ao invés de dirigir reduz a emissão de gases de efeito estufa, além de contribuir com a sua saúde e bem-estar. Para longas distâncias, considere os transportes públicos ou carona, sempre que possível.

Coma mais vegetais: Comer mais vegetais, legumes, frutas, grãos integrais, sementes e nozes e menos carne e laticínios pode diminuir significativamente seu impacto ambiental. A produção de alimentos derivados de plantas geralmente emite menos gases de efeito estufa e requer menos energia, terra e água.

Considere seu transporte: Aviões queimam uma grande quantidade de combustíveis fósseis, emitindo significativos gases de efeito estufa. Por isso, ao andar menos de avião, você reduz rapidamente o seu impacto no meio ambiente. Quando puder, faça encontros virtuais, vá de trem e evite viagens de longa distância.

Jogue menos comida fora: Quando você joga comida fora, você também está desperdiçando recursos e energia usados no cultivo, produção, embalagem e transporte do alimento. E, quando a comida apodrece em aterros sanitários, ela produz metano, um potente gás de efeito estufa. Então, use aquilo que você compra e faça a compostagem das sobras.

Reduza, reuse, repare e recicle: Eletrônicos, roupas e outros itens que compramos causam emissão de carbono em todos os momentos da produção, desde a extração do material bruto até a fabricação e o transporte dos bens até o mercado. Para proteger o clima, compre menos coisas, compre de segunda mão, conserte o que puder e recicle.

Mude a fonte de energia da sua casa: Pergunte ao fornecedor se a energia que chega na sua casa vem do petróleo, do carvão ou do gás. Se possível, veja se pode trocar para fontes renováveis, como eólica ou solar. Ou instale painéis solares no telhado para gerar energia para sua casa.

Troque o seu carro, se possível, por um carro elétrico: Se você planeja comprar um carro, considere os elétricos, há mais modelos baratos chegando ao mercado. Mesmo que eles funcionem a partir de eletricidade produzida com combustíveis fósseis, carros elétricos ajudam a reduzir a poluição do ar e emitem menos gases de efeito estufa do que veículos movidos a gasolina ou diesel.

Escolha produtos ecologicamente corretos: Tudo que compramos afeta o planeta. Você tem o poder de escolher qual produto ou serviço apoia. Para reduzir seu impacto ambiental, compre em mercados locais e alimentos da estação, e escolha produtos que venham de empresas que usam recursos responsavelmente e comprometidas com a redução da emissão de gases e do desperdício.

Manifeste-se: Manifeste-se e reúna outras pessoas para ação conjunta. Essa é uma das formas mais rápidas e eficientes de fazer a diferença. Fale com vizinhos, colegas, amigos e familiares. Informe donos de negócios que você apoia mudanças ousadas. Apele a líderes locais e mundiais para que ajam agora.


quarta-feira, 26 de abril de 2023

26 de Abril - Dia Mundial de combate à Hipertensão arterial sistêmica


Comemoramos no dia 26 de Abril o Dia Mundial de Combate à Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). De acordo com a Organização Mundial de saúde (OMS), a HAS é o principal fator de risco de doenças cardiovasculares. Por ser uma doença silenciosa, grande parte dos pacientes não sabe que possuem.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão, uma em cada 4 pessoas adultas tem HAS. Assim, estima-se que a doença atinja, no mínimo, 25% da população brasileira adulta, chegando a mais de 50% após os 60 anos.

Ela é a responsável por 40% dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficiência renal terminal. As graves consequências da HAS podem ser evitadas, desde que os hipertensos conheçam sua condição e mantenham-se em tratamento com adequado controle da pressão.

O que pode auxiliar na prevenção ou redução da HAS:

1) Aferir a pressão pelo menos uma vez por ano. Se tem fatores de risco como diabetes, obesidade, tabagismo, recomenda-se aferir com mais frequência. 

2) Praticar atividades físicas regularmente e se possível ir aumentando a intensidade gradativamente.

3) Manter o peso ideal, já que a obesidade é um dos fatores de risco para a HAS. Se está acima do peso, a recomendação é o emagrecimento. 

4) Adotar a dieta DASH caso tenha história familiar de HAS.

5) Evitar o consumo regular de álcool.

6) Cessar o tabagismo

7) Procurar estratégias para manejo do estresse e ansiedade. Psicoterapia é importante e/ou consulta com médico psiquiatra.

Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH) é um padrão alimentar que incentiva o consumo de certos alimentos e exerce um importante impacto na redução da pressão arterial. Ajuda a controlar o colesterol e sua grande vantagem é que não exclui nenhum grupo alimentar.

Estudos mostram que a adesão a esse estilo alimentar reduz em 14% o desenvolvimento de hipertensão, funcionando positivamente na prevenção de doença cardiovascular. A dieta DASH é rica em fibras e nos minerais potássio, cálcio e magnésio, e esses micronutrientes trazem benefícios sobre a pressão arterial. Orientações da DASH:

1- Escolher alimentos que possuam pouca gordura saturada, colesterol e gordura total. Por exemplo, carne magra, aves e peixes, utilizando-os em pequena quantidade.

2- Comer muitas frutas e hortaliças, aproximadamente de oito a dez porções por dia (uma porção é igual a uma concha média). 3- Incluir duas ou três porções de laticínios desnatados ou semidesnatados por dia.

4- Preferir os alimentos integrais, como pães, cereais e massas integrais ou de trigo integral.

5- Comer oleaginosas (castanhas), sementes e grãos, de quatro a cinco porções por semana (uma porção é igual a ⅓ de xícara ou 40 gramas de castanhas, duas colheres de sopa ou 14 gramas de sementes, ou ½ xícara de feijões ou ervilhas cozidas e secas).

6- Reduzir as gorduras saturadas . Utilizar óleos vegetais insaturados (como azeite, soja, milho).

7- Evitar o sal. Evitar também molhos e caldos prontos, além de produtos industrializados.

8- Diminuir ou evitar o consumo de doces e bebidas com açúcar.

Autor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica especialista em Clínica médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351 

terça-feira, 25 de abril de 2023

Menopausa: Estratégias nutricionais contribuem para reduzir sintomas

 A menopausa é o termo utilizado para definir o término permanente dos ciclos menstruais, após a perda da atividade folicular ovariana. Geralmente, inicia-se entre os 45 aos 55 anos, e é caracterizada por diversos sintomas que podem afetar o dia-a-dia das mulheres de meia-idade.

Como forma de tratamento, a terapia de reposição hormonal (TRH) pode ajudar a controlar os sintomas, mas nem toda mulher opta por esse caminho. Como alternativa, algumas estratégias nutricionais são eficazes para reduzir os problemas causados pela menopausa. Continue lendo para conhecê-las.

O que acontece com o corpo quando entra na menopausa?

A menopausa está associada a diversas alterações no corpo feminino, como aumento da obesidade, doenças cardiovasculares e osteoporose. E por que isso acontece? Basicamente, por conta da diminuição dos hormônios sexuais, estrogênio e progesterona.

Em primeiro lugar, a redução dos níveis de estrógeno diminui a massa magra e aumenta a massa gorda. Assim, mais gordura passa a se acumular nos depósitos centrais, e ocorre um aumento do IMC e da adiposidade central.

A privação do estrogênio também provoca aumento do tônus vascular e prejudica a vasodilatação, aumentando a pressão arterial. Além disso, a sensibilidade ao sódio aumenta durante a transição para a menopausa, levando à retenção de líquidos. Esses mecanismos contribuem para um maior risco cardiovascular.

Por fim, o declínio dos hormônios reprodutivos também diminui a densidade mineral óssea, fator de risco para o desenvolvimento da osteoporose.

Quais são os sintomas da menopausa?

A partir do climatério (período que antecede a menopausa), muitos sinais podem começar a aparecer. Eles podem durar ou vários anos, sendo que a quantidade e a intensidade varia de mulher para mulher.

Em suma, os principais sinais e sintomas da menopausa são:
  • Menstruação irregular e/ou abundante;
  • Ganho de peso;
  • Ondas de calor;
  • Suor noturno;
  • Irritabilidade/mau humor;
  • Falta de concentração e memória prejudicada;
  • Aumento da pressão arterial;
  • Alterações no perfil lipídico (aumento no LDL-colesterol e triglicerídeos, diminuição do HDL-colesterol);
  • Dor de cabeça;
  • Dores nas articulações;
  • Dificuldade para dormir;
  • Baixa libido;
  • Secura vaginal;
  • Relação sexual dolorosa.
Como a alimentação pode ajudar na menopausa?

Uma dieta saudável pode ajudar a reduzir a gravidade dos sintomas da menopausa. Além disso, também protege contra problemas de saúde associados a esta fase.

Assim, algumas estratégias nutricionais são defendidas pela ciência como forma de contrabalancear os efeitos negativos do declínio dos hormônios sexuais. Veja a seguir.

Fitoestrógenos: Os fitoestrogênios são muito semelhantes ao estrogênio humano. Se ingeridos regularmente e em quantidades suficientes, eles podem começar a ter efeitos levemente semelhantes ao estrogênio – o que é útil quando os níveis de estrogênio diminuem. Além disso, também são benéficos para o coração.

As fontes de fitoestrógenos (isoflavonas ou lignanas) incluem:
  • Soja;
  • Tofu;
  • Linhaça;
  • Edamame;
  • Vagem;
  • Lentilha;
  • Grão-de-bico.
Para que os benefícios dos fitoestrógenos sejam notados, pode levar de dois a três meses. É mais interessante consumi-los várias vezes ao dia, do que em uma única grande dose.

Dieta mediterrânea: Na menopausa, a adoção de um padrão de dieta mediterrânea pode trazer inúmeros benefícios. Por atuar diretamente nos fatores de risco para o catabolismo muscular (estresse oxidativo, inflamação e resistência à insulina), os componentes da dieta mediterrânea têm sido associados a melhores medidas musculares em mulheres na pós-menopausa. De fato, em um estudo transversal com 176 mulheres na perimenopausa, a maior adesão à dieta mediterrânea foi associada à menor gordura corporal. Além disso, essa padrão dietético também está positivamente associado à densidade mineral óssea em mulheres pós-menopausa. Estes benefícios podem ser resultado do alto conteúdo de carotenóides, vitamina K e vitamina C.

Por fim, a dieta mediterrânea também reduz os riscos cardiovasculares, com diminuição na pressão arterial e nos níveis de colesterol. Apesar disso, mais evidências são necessárias.

Dieta cardioprotetora: Como visto anteriormente, a menopausa aumenta o risco de problemas cardiovasculares. Sendo assim, uma boa estratégia é adotar um padrão alimentar cardioprotetor, constituído por padrões alimentares que protegem a saúde do coração.

Para adotar uma dieta cardioprotetora, é importante:
  • Preferir gordura insaturada ao invés de saturada. Reduzir o consumo de carne vermelha, preferir laticínios baixos em gorduras, evitar frituras, etc.
  • Fazer dos grãos integrais a principal fonte de carboidrato. A American Heart Association (AHA) sugere 3 ou mais porções/dia de grãos como feijões, lentilha, aveia, arroz e pão integral.
  • Incluir frutas e vegetais diariamente. Esses alimentos fornecem vitaminas, minerais, fibra e antioxidantes que protegem o coração. A recomendação é de 5 porções/dia.
  • Consumir ômega-3. Há evidências substanciais de que fontes de ômega-3, como peixes oleosos e nozes, diminuem os riscos cardiovasculares.
Restrição calórica: Durante a transição para a menopausa, há uma tendência de ganho de peso e aumento da adiposidade central. Sendo assim, mulheres com sobrepeso ou obesidade podem se beneficiar de dietas com restrição calórica, de modo a prevenir alterações metabólicas e doenças associadas ao peso. A melhor dieta para perda de peso ainda é discutível. No entanto, autoridades em nutrição como a Obesity Society recomendam um déficit calórico de 500 a 750 kcal/dia, resultando em uma perda de peso de 0.5 a 0.75 kg/semana.

Junto à restrição calórica, a atividade física também é muito importante, especialmente para construir/preservar a massa muscular.

Cálcio e vitamina D: Com vistas a preservar a densidade mineral óssea e prevenir a osteoporose, a ingestão adequada de cálcio e vitamina D é essencial. A North American Menopause Society recomenda a ingestão de 1000 a 15000 mg/dia de cálcio para mulheres na pós-menopausa. Para isso, indica-se a ingestão de laticínios, sardinha, salmão, vegetais de folhas verdes, etc. Já em relação à vitamina D, a exposição diária ao sol garante a produção deste nutriente. Entretanto, em alguns casos a suplementação pode ser necessária, na ordem de 400 a 800 UI/dia.

Proteínas: O envelhecimento aumenta as necessidades de proteína dietética, porque os músculos esqueléticos reduzem sua capacidade de ativar a síntese proteica. De fato, alguns estudos indicam que uma maior ingestão proteica (1.6 g/kg/dia) está associada a uma maior massa magra em mulheres na pós-menopausa. Entretanto, os resultados são controversos; ao que parece, a dose diária recomendada (0.8 g/kg/peso) é suficiente para manter a massa magra em mulheres mais velhas.

Quais alimentos evitar na menopausa?

Enquanto alguns alimentos ajudam nos sintomas da menopausa, outros podem piorá-los. A cafeína e o álcool, por exemplo, exacerbam as ondas de calor e os suores noturnos. Junto com as comidas picantes, esses alimentos também podem ser gatilhos para as mudanças de humor. Além disso, o álcool também é fator de risco para osteoporose.

Ademais, uma má alimentação favorece o desenvolvimento dos problemas de saúde comuns na menopausa. Por isso, é recomendado evitar ou diminuir:
  • Alimento ultraprocessados;
  • Frituras;
  • Carnes vermelhas e processadas;
  • Ingestão de sal (não deve ser superior a 5 g/dia);
  • Carboidratos refinados e alimentos açucarados.

Em resumo: Alguns alimentos, nutrientes ou padrões alimentares são benéficos para a menopausa, sendo eles: fitoestrógenos, cálcio, vitamina D, ingestão proteica adequada, dieta mediterrânea e alimentação cardioprotetora. A manutenção do peso ideal também é importante para as mulheres mais velhas.

Junto às mudanças na dieta, outras alterações de estilo de vida também são bem-vindas, como a atividade física regular e cessar o tabagismo.

Referências:
BDA The Assocciation of UK Dietetics. Menopause and diet: Food Fact Sheet.
FLOR-ALEMANY, M. et al. Mediterranean diet, tobacco consumption and body composition during perimenopause. The FLAMENCO project. Maturitas, v. 137, p. 30-36, 2020.
NSH Cambridge University Hospitals. Menopause: A healthy lifestyle guide.
SILVA, Thais R. et al. Nutrition in menopausal women: a narrative review. Nutrients, v. 13, n. 7, p. 2149, 2021.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Alerta para os crescentes impactos da desertificação e secas

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Doença Inflamatória Intestinal – Diretrizes ESPEN sobre o cuidado nutricional

A doença inflamatória intestinal (DII) é classificada como distúrbio inflamatório crônico do trato digestivo. O termo engloba dois ramos da ciência médica: doença de Crohn (DC) e a colite ulcerativa (CU).

Tratamento Nutricional Doença Inflamatória Intestinal

Acerca deste tema, visando uma melhoria e extensão da diretriz científica ESPEN, foi elaborada a atualização com novas recomendações, inclusão de capítulo sobre modulação da microbiota como nova opção no tratamento da DII, abordagem dos aspectos gerais do cuidado em pacientes com DII e aspectos específicos durante a doença ativa e em remissão.

Prevenção da DII

Para prevenção da DII, a diretriz propõe recomendações dietéticas específicas. Uma dieta rica em frutas e vegetais, ácidos graxos n-3 e pobre em ácidos graxos n-6 está associada a um risco reduzido de desenvolver DII. Enquanto o consumo de alimentos ultraprocessados e emulsificantes dietéticos podem estar associados a um risco aumentado de DII e neste caso recomenda-se a exclusão.

O aleitamento materno também se mostrou eficiente na redução do risco de DII.

Aspectos gerais da nutrição na DII

Pacientes com DII são considerados em classe de risco, portanto, necessitam de monitoramento regular, principalmente no que diz respeito à desnutrição.

A desnutrição é uma deficiência nutricional que pode acometer pacientes tanto na colite ulcerativa como na doença de Crohn, embora com maior prevalência na DC, devido à capacidade de afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, enquanto na CU é restrita ao cólon e tem poucos efeitos diretos de má absorção.

O monitoramento para pacientes com DII é fundamental no momento do diagnóstico e depois, de forma regular, estando relacionada com a atividade, duração, extensão da doença e principalmente, a magnitude da resposta inflamatória que impulsiona o catabolismo.

O tratamento da desnutrição diagnosticada deve ser iniciado imediatamente, evitando uma piora no prognóstico, complicações, mortalidade e promovendo a qualidade de vida.

O papel dos profissionais de saúde

Buscando uma evolução na terapia nutricional e evitando episódios de desnutrição nos pacientes, a equipe multidisciplinar deve se preocupar em prestar suporte, aconselhando-os individualmente, bem como contribuindo na triagem nutricional e manejo dietético.

Necessidades energéticas

Em geral, as recomendações de necessidades energéticas totais dos pacientes com DII são semelhantes às da população saudável, ou seja, de 30 a 35 kcal/kg/dia.

Em alguns casos, dependendo do estado da doença, existe uma demanda de necessidades energéticas específicas, sendo necessário a determinação com base na calorimetria indireta e fator de atividade física individual.

  • Macronutrientes: a diretriz recomenda maior ingestão de proteína na DII ativa, que deve ser de 1,2 e 1,5 g/kg/d em adultos, enquanto na DII em remissão o fornecimento deve ser semelhante em relação à recomendação na população em geral (cerca de 1 g/kg/d em adultos).
  • Micronutrientes: recomenda-se o acompanhamento regular e correção de déficits específicos.
  • Ferro: recomenda-se a suplementação quando detectada anemia por deficiência deste nutriente, podendo ser utilizado como tratamento em pacientes com doença clinicamente inativa (tolerantes ao ferro oral) ou ativa (com intolerância ao ferro oral, hemoglobina abaixo de 100g/L ou que precisem de estimuladores de eritropoiese).
Recomendações dietéticas na doença ativa

De uma forma geral, a diretriz não discrimina recomendações de dietas específicas para remissão de pacientes com DII, entretanto o acompanhamento nutricional pode avaliar má absorção ou má digestão em casos isolados:

  • Pacientes com doença de Crohn: apresentando estenoses intestinais e sintomas obstrutivos, recomenda-se uma dieta com textura adaptada ou nutrição exclusiva via enteral (finalizado distalmente à obstrução).
  • Pacientes com DII (adultos e crianças): sob tratamento com corticosteroides ou suspeita de hipovitaminose D, recomenda-se monitoramento do nível sérico de 25(OH) vitamina D e, em alguns casos, a suplementação de cálcio, prevenindo baixa densidade mineral óssea. Já em pacientes que apresentem hiperoxalúria, recomenda-se monitoramento devido à má absorção de gordura.
Terapia nutricional em DII ativa

A indicação de terapia nutricional engloba algumas etapas, sendo a suplementação nutricional oral a primeira delas, garantindo um suporte à alimentação normal.

Embora seja o meio mais recomendado, alguns pacientes não de adaptam somente com a alimentação oral, recomendando-se a nutrição enteral ou nutrição parenteral, em último caso ou em casos específicos, como: obstrução ou falha intestinal ou complicações (vazamento de anastomose ou fístula intestinal de alto débito).

A administração da NE em DII deve ser feita através de sondas nasais ou acesso percutâneo, sendo preferencialmente administrada por bomba de alimentação enteral.

Como terapia nutricional primária e de suporte em DII ativa, recomenda-se dieta polimérica com teor moderado de gordura (NE padrão).

A diretriz aponta uma eficácia da nutrição enteral exclusiva, podendo ser recomendada no tratamento de remissão em crianças e adolescentes com doença de Crohn ativa leve, evitando-se apenas em casos de colite ulcerativa em adultos ou crianças.

Pacientes que apresentem diarreia grave devem ser monitorados em relação à débito de fluidos e sódio urinário e em casos de estomas contínuos de alto débito, podem ser necessárias infusões parenterais (fluidos e eletrólitos).

Em pacientes com DII, todo esforço deve ser feito para evitar a desidratação:
  • Pacientes com DC e com fístula distal e baixo débito: geralmente podem receber todo o suporte de NE, já em pacientes com DII com déficits nutricionais, devem ser implementadas intervenções para prevenir a síndrome de realimentação (de fosfato e tiamina principalmente).
  • Pacientes com CU grave: a NE pode ser recomendada como terapia de suporte, em contrapartida, deve-se evitar a NP (a menos que o paciente não possa ser alimentado de outra forma).

Aspectos cirúrgicos da nutrição na DII

Fase pré-operatório: Recomenda-se avaliar o estado nutricional e realizar intervenções dietéticas em pacientes com desnutrição ou com risco nutricional, enquanto pacientes submetidos à cirurgia eletiva, podem ser tratados seguindo o protocolo de recuperação aprimorada (ERAS). Recomenda-se ainda a exclusão do jejum pré-operatório a partir da meia-noite.

Fase perioperatório: Em pacientes cirúrgicos que apresentem desnutrição no momento da cirurgia ou que não estiverem aptos a reiniciar a dieta oral adequadamente dentro de sete dias no pós-operatório., deve-se iniciar a administração da terapia nutricional médica imediatamente, recomendando ainda:

  • A suplementação nutricional oral: quando impossibilitados de ingerir suas necessidades energéticas/proteicas apenas com alimentação normal.
  • A combinação de NE e NP: quando impossibilitados de atender a <50% das necessidades de energia/nutrientes somente com ingestão oral e enteral por mais de sete dias.
  • Lembrando que diagnosticada a desnutrição perioperatória, a cirurgia deve ser adiada por 7 a 14 dias, recomendando-se início imediato da terapia nutricional (suplemento oral, NE ou NP).
  • Pacientes cirúrgicos com doença de Crohn devem obter suporte nutricional precoce, a fim de evitar possíveis riscos de complicações pós-operatórias, e em particular, aqueles que apresentem insuficiência gastrointestinal prolongada, deve-se optar obrigatoriamente à administração da NP.
  • Pacientes com colite ulcerativa devem receber uma estratégia nutricional individualizada, considerando estado nutricional e gravidade da doença.

Fase pós-operatório: A ingestão alimentar normal, suplementação ou nutrição enteral deve ser iniciada logo após a cirurgia, optando pela administração de água e eletrólitos de acordo com as necessidades individuais, garantindo estabilidade hemodinâmica.

Modulação da microbiota

Probióticos: de uma forma geral, os probióticos não devem ser recomendados para tratamento da DC, seja na fase ativa ou para prevenção na fase de remissão e recorrência pós-operatória da doença. Por outro lado, servem como alternativa para pacientes com CU (submetidos à terapia com ácido 5-aminossalicílico) e na prevenção de pouchite.

Prebióticos: a terapia prebiótica não deve ser recomendada para tratamento nas DC e CU, na doença ativa ou manutenção da remissão, não havendo recomendações também na pouchite.

Antibióticos: não há recomendação de administração de antibióticos para o manejo da DC. Porém, são indicados na CU (incluindo doença aguda grave), tanto na fase ativa como na manutenção da remissão, podendo ser utilizados somente como terapia inicial na puchite aguda (ciprofloxacina e metronidazol).

Transplante de microbiota fecal: não há recomendação para transplante de microbiota fecal na DII.
Recomendações dietéticas e outras específicas para a fase de remissão

Nesta fase de remissão, a dieta enteral e parenteral não devem ser consideradas terapias primárias, recomendando-se priorizar padrões alimentares saudáveis, evitando gatilhos nutricionais individuais (neste caso, a dieta deve ser ajustada).

Em geral, a suplementação também não é indicada (principalmente de ácidos graxos n-3), embora casos pontuais exijam a administração de alguns tipos de vitaminas:
  • Vitamina B12: quando há queixa de íleo ressecado ou diagnóstico de deficiência de vitamina B12.
  • Vitamina B9: pacientes tratados com sulfassalazina e metotrexato.
Suplementações ou dieta enteral: para pacientes diagnosticados com desnutrição, impossibilitado de seguir aconselhamento dietético.

A prática de atividade física adaptada (principalmente treinos de resistência) deve ser encorajada em todos os casos, com o objetivo de recuperação da massa muscular e melhora no desempenho.

A diretriz propõe recomendações específicas para pacientes com DII, em alguns casos:
  • Obesidade: monitoramento, sendo recomendado a redução do peso nesta fase de remissão (se estável) e aconselhamento para seguir as diretrizes atuais de obesidade.
  • Gestação: monitoramento do estado de ferro e níveis de vitamina B9 e se diagnosticado a deficiência, deve-se suplementar adicionalmente.
  • Lactação: monitoramento do estado nutricional e suplementação, se necessário.

Referência: BISCHOFF, A. S.; BAGER, B. P.; ESCHER, C. J.; et al. ESPEN guideline on Clinical Nutrition in inflammatory bowel disease. Clinical Nutrition Journal, vol. 42, Mar. 2023

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Tratamento medicamentoso para obesidade ainda é um privilégio

Tempos atrás fiz um texto falando sobre o tratamento de emagrecimento ideal. Obviamente recebi uma enxurrada de mensagens de leitores que falavam da baixa acessibilidade ao tratamento para boa parte da população. 

Infelizmente, existem diversos fatores que podem atrapalhar o acesso à medicação para emagrecimento em pacientes portadores de obesidade, incluindo:
  • Regulamentações governamentais: muitos países têm regulamentações rigorosas sobre o uso de medicamentos para emagrecimento, especialmente aqueles que têm sido associados a efeitos colaterais graves. Isso pode dificultar o acesso a esses medicamentos para pacientes que poderiam se beneficiar deles. Por outro lado, essa proibição visa proteger a saúde da população. Para algumas drogas como a sibutramina, alguns agências reguladoras entendem que os riscos não se sobressaem aos benefícios. A mesma coisa os noradrenérgicos (anfetaminas). Agrega-se a isso uma farmacofobia por parte de alguns profissionais que estão à frente dessas agências e ministérios. Algo complexo mas que tende a melhorar com as novas classes de medicamentos, como os análogos de glp1.
  • Custos alto: alguns medicamentos para emagrecimento podem ser bastante caros (podendo ultrapassar no Brasil os 2 mil reais mensais), e muitos pacientes portadores de obesidade podem não ter acesso a eles devido ao valor das medicações. Isso pode ser particularmente problemático para pacientes que não têm seguro de saúde ou que têm cobertura limitada. Na minha opinião é o principal fator limitador. Existe a ciência, existe aquilo que teoricamente seria o ideal baseado nas pesquisas, mas existe o mundo real. Em um país que o salário mínimo é R$ 1320,00, pagar R$960 em uma caixa de remédio é para uma parcela ínfima da população. 
  • Barreiras de acesso ao sistema de saúde: muitos pacientes obesos podem ter dificuldade em acessar o sistema único de saúde devido a barreiras como falta de transporte, falta de tempo ou incapacidade de pagar um plano de saúde. 
  • Estigma e discriminação: pacientes portadores de obesidade frequentemente enfrentam estigma e discriminação na sociedade e principalmente na área da saúde, o que pode dificultar o acesso a tratamentos e medicamentos apropriados para a obesidade. Tem um trabalho de 2017, publicado no Journal of the American Board of Family Medicine evidenciando que os pacientes portadores de obesidade levaram em média cerca de 6 anos para buscar tratamento para sua obesidade. Outro estudo de 2019 publicado no periódico Obesity descobriu que pacientes obesos levaram em média cerca de 4 anos para buscar tratamento para sua obesidade. Esses trabalhos mostram a importância de identificar e tratar a obesidade o mais precoce possível. Isso pode melhorar significativamente a saúde e a qualidade de vida desses pacientes. A obesidade é uma condição crônica e progressiva, e quanto mais tempo um paciente passa sem tratamento, maiores são os riscos de complicações de saúde associadas à obesidade. É importante que profissionais de saúde, familiares e amigos incentivem e apoiem as pessoas com obesidade a buscar tratamento o mais cedo possível, e que os sistemas de saúde estejam preparados para oferecer tratamentos eficazes e acessíveis para essa condição.
  • Contraindicações médicas: algumas medicações para emagrecimento são contraindicadas em certas condições médicas, o que pode restringir o uso dessas medicações em pacientes obesos com condições médicas pré-existentes. Principalmente medicações que tem que podem levar a efeitos colaterais como: piora da ansiedade, insônia, aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca. Infelizmente no tratamento da obesidade, as vezes "vestimos um santo e desvestimos outro". 
  • Falta de consciência sobre opções de tratamento: muitos pacientes obesos podem não estar cientes das opções de tratamento disponíveis para a obesidade, incluindo medicações para emagrecimento, cirurgia bariátrica, psicoterapia. Puro desconhecimento. 
  • Falta de prescrição médica: alguns médicos podem não estar familiarizados com as opções de medicação para emagrecimento ou podem ter reservas sobre prescrevê-las devido a preocupações com efeitos colaterais ou contraindicações médicas. Associa-se a isso a farmacofobia dos médicos e dos pacientes. Emagrecer só com foco e força de vontade acontece? Após atender quase 12 mil pacientes e estar a frente do maior ambulatório de Nutrologia do estado, afirmo sem pestanejar: É raríssimo. Mais raro ainda é a sustentação dessa perda de peso após 5 anos. O tratamento medicamentoso salva vidas e deve ser utilizado com mais ciência. 

Infelizmente, o acesso a medicamentos para emagrecimento ainda é um privilégio para aqueles que têm condições financeiras boas. Isso ocorre porque muitas das medicações para emagrecimento são caras e não são cobertas por muitos planos de saúde, o que significa que os pacientes precisam pagar por elas integralmente.

Autor: Dr. Frederico Lobo
Médico Nutrólogo
CRM-GO 13192 - RQE 11915
CRM-SC 32949 - RQE 22416

quarta-feira, 19 de abril de 2023

O movimento Nutrologia Brasil

Fundado em 24/10/2014 pelo médico Nutrólogo Dr. Frederico Lobo, inicialmente era apenas um grupo de whatsApp que visava reunir alunos do Curso Nacional de Nutrologia (CNNUTRO) da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Com o passar dos anos o movimento vem crescendo e reunindo cada vez mais médicos com ideais parecidos:

  1. Luta árdua e intensa pela moralização da especialidade, pois, infelizmente nos deparamos com o preconceito que os demais médicos possuem com relação à Nutrologia;
  2. Esclarecimento sobre práticas não reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela ABRAN, práticas estas que muitos médicos utilizam e induzem os pacientes a acreditarem que fazem parte da Nutrologia;
  3. Divulgação da especialidade para profissionais da área da saúde e para leigos, com a finalidade de esclarecer o que é a real Nutrologia ensinada pela ABRAN;
  4. Educação continuada através de aulas online, ministradas pelos próprios membros do movimento, a fim de trocar experiência clínica;
  5. Necessidade de levar aos acadêmicos de Medicina a verdadeira Nutrologia, visto que a maioria das faculdades ainda não possuem o ensino da Nutrologia na grade;
  6. Auxílio mútuo entre os membros, com o objetivo de fortalecer a especialidade;
  7. Suporte às ligas acadêmicas de Nutrologia de todo o território Nacional.
Composição

No momento o movimento conta com mais de 127 profissionais médicos, a maioria médicos titulados em Nutrologia, coordenadores de residências de Nutrologia, pós-graduações, professores e speakers, além de residentes de Nutrologia. Temos também Endocrinologistas, Especialistas em Clinica Médica, Gastroenterologistas, Intensivistas, Médicos do esporte, Nutricionistas. 

Frentes de atuação

Contamos com 7 frentes de atuação/interação:

1) Grupo Nutrologia Brasil (WhatsApp)
2) Grupo Nutrologia Brasil acad (WhatsApp)
3) Grupo NUTRO PDFs  (Telegram), para compartilhamento de artigos
4) Curso de Nutrologia para acadêmicos de Medicina – Online e com duração de 2 anos. 100% gratuito, via plataforma google meet
5) Instagram: @nutrologiabrasil e @cursodenutrologia e o instagram das regionais do movimento
6) Site: Movimento Nutrologia Brasil, no qual fazemos divulgação de eventos da área e listamos profissionais titulados que atuam em todo o território nacional.
7) E-mail: dúvidas, sugestões, recomendações: menutrologia@gmail.com

O que defendemos

1) O combate a práticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina: Exemplo Terapia antienvelhecimento, modulação hormonal: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2012/1999_2012.pdf
2) A não prescrição de Dieta HCG para fins de emagrecimento, bem como de métodos sem validação científica. Entendemos que a obesidade deve ser tratada com respeito e à luz das evidências científicas;
3) A não aprovação da prescrição de hormônios para fins estéticos ou para situações em que não há respaldo na literatura. O uso de hormônios deve ser feito somente quando há real déficit laboratorial; http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2012/1999_2012.pdf
4) A não prescrição de Implantes hormonais, assim como de soroterapia fora do contexto da terapia nutricional parenteral;
5) A não publicação de antes e depois de pacientes em redes sociais, já que na nossa visão o paciente não é troféu para ser exposto e tal prática é vedada pelo CFM;
6) A solicitação racional e bem indicada de exames laboratoriais. Devendo essa ser feita de forma complementar à consulta e jamais previamente. Além disso entendemos que o paciente tem liberdade para escolher onde deseja realizar os próprios exames. Ou seja, abominamos conchavos com laboratórios;
7) Manutenção dos princípios éticos e morais ensinados pelos pioneiros da Nutrologia no Brasil;
8) A responsável pela especialidade Nutrologia no Brasil é a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Ou seja, ela que nos representa e é a ela que levamos nossas demandas.

O que não endossamos

E considerando que,
1) Segundo parecer recente da ABRAN: a prática de modulação hormonal não faz parte do rol de procedimentos Nutrológicos. http://abran.org.br/2018/03/04/posicionamento-sobre-a-modulacao-hormonal/
2) A própria ABRAN já se posicionou que algumas práticas não fazem parte do rol de procedimentos Nutrológicos: https://abran.org.br/2018/03/14/rol-de-procedimentos/
3) Segundo decisão recente do Tribunal Regional Federal 5: a justiça reconhece a resolução do Conselho Federal de Medicina que proíbe a Prática de Modulação hormonal: https://www.endocrino.org.br/terapias-hormonais-trf5-reconhece-resolucao-do-cfm/
4) Segundo resolução Resolução nº 2.333/23 do CFM, que proíbe a prescrição de hormônios para fins estéticos, ganho de massa e melhora de performance;

Decidimos que tais práticas não são endossadas pelo movimento Nutrologia Brasil e nem devem ser atreladas à prática nutrológica. O membro que compactuar com tais práticas é automaticamente desfiliado do movimento de forma perpétua. Não podendo comparecer às reuniões, encontros, eventos científicos organizados pelo movimento.

Filiação

Para o médico adentrar ao movimento Nutrologia Brasil deve:
1) Preferencialmente ser titulado ou ter feito residência de Nutrologia
2) Concordar com todos os ideais defendidos pelo movimento e não endossar as práticas que não concordamos
3) Ser indicado por no mínimo 5 profissionais que sejam membros do movimento.
4) Preencher a pré-seleção e fazer as postagens nas redes sociais deixando claro que endossa o que o movimento defende
5) Estar ciente que caso infrinja as regras do movimento, o nome estará na sessão de “Desfiliados” desse site. 

Assinam esse texto:

Dra. Brenda Bráz
Médica Nutróloga e presidente do Movimento Nutrologia Brasil
Dr. Pedro Dal Bello
Médico Nutrólogo e vice-presidente do Movimento Nutrologia Brasil

















Aspectos nutricionais da doença de Parkinson

O Parkinson ou Doença de Parkinson (DP) é a segunda patologia neurodegenerativa mais comum na Neurologia. Em primeiro lugar é a Doença de Alzheimer (DA).

Estima-se que 1% da população acima dos 60 anos possua DP cuja prevalência aumenta conforme o decorrer da idade. Com causas multifatoriais, numerosos estudos examinaram o impacto de fatores ambientais no risco de DP, incluindo fatores dietéticos. Neste artigo, veremos os principais cuidados nutricionais que devem ser oferecidos para prevenir ou tratar o paciente com Parkinson.

Doença de Parkinson: fisiopatologia e sintomas

Em termos fisiopatológicos, a DP é caracterizada pela perda progressiva de neurônios produtores de dopamina na substância negra do cérebro. Como consequência, há uma progressão sequencial de danos neuronais em todo o sistema nervoso.

A deficiência da dopamina está associada à sintomas que envolvem o controle motor, tais como tremores, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural. Além disso, o Parkinson também pode ocasionar sintomas não motores, como distúrbios do sono, anosmia, depressão e ansiedade.

Supõe-se que as manifestações iniciais da doença de Parkinson podem estar localizadas no intestino, e só depois afetam o cérebro. Evidências crescentes apontam para um fenótipo de inflamação intestinal de baixo grau em indivíduos com DP, com ruptura das junções intestinais e redução da permeabilidade intestinal.

De fato, o supercrescimento bacteriano do intestino delgado – que aumenta a densidade bacteriana e a disbiose – foi relatado como mais prevalente no Parkinson do que em indivíduos saudáveis.

Como deve ser a alimentação de quem tem Parkinson?

Sabendo da relação entre o desequilíbrio intestinal e a neurodegeneração, algumas estratégias dietéticas podem influenciar o risco de Parkinson ou modificar seu curso.

Embora o papel de alimentos probióticos não tenha sido totalmente elucidado, outros alimentos, nutrientes ou padrões alimentares são associados com a prevenção e melhora da doença. Veja a seguir os principais cuidados nutricionais a serem oferecidos para o paciente com Parkinson.

Vitaminas e minerais da Doença de Parkinson
O estresse oxidativo desempenha um papel importante na doença de Parkinson. Sendo assim, a ingestão adequada de vitaminas e minerais antioxidantes pode reduzir os danos celulares causados pelos radicais livres.

As vitaminas do complexo B, por exemplo, são grandes conhecidas pelo seu papel antioxidante e anti-inflamatório. Particularmente, um risco reduzido de Parkinson foi relatado com uma maior ingestão de vitamina B6. Esta vitamina também é capaz de reduzir os níveis de homocisteína, que pode estar aumentada em pacientes com DP.

Em um estudo de coorte com mais de 120.000 indivíduos, a ingestão moderada de vitamina E (tocoferol) também reduziu o risco de Parkinson. Além disso, níveis baixos de vitamina D podem explicar parcialmente a pior saúde musculoesquelética destes pacientes.

Em contrapartida, a ingestão de ferro não-heme foi associada a uma maior risco de doença de Parkinson, mas somente em pacientes com baixa ingestão de vitamina C.

Compostos bioativos

Alguns compostos bioativos também exercem um papel positivo na doença de Parkinson.

Os polifenóis, por exemplo, são elementos com possíveis efeitos neuroprotetores, devido ao efeito antioxidantes, quelantes de ferro e modulação das vias de sinalização intracelular.

Em um estudo de coorte com 130.000 indivíduos, a ingestão dos polifenóis flavonóides (presentes em chás, frutas, maçãs, vinho tinto e suco de laranja) diminuiu em 40% o risco de homens desenvolverem a doença de Parkinson.

PUFAs e peixes

Os ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) de cadeia longa são nutrientes essenciais no desenvolvimento e funcionamento do cérebro. Em idosos, os PUFA podem atuar como mediadores neuroprotetores, e intervirem nos mecanismos que resultam em comprometimento cognitivo.

Por exemplo, o ácido docosahexaenóico (DHA) atua como um fator neurotrófico, aumentando o nível do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) – que pode estar diminuído em pacientes com Parkinson. Além disso, em modelos experimentais, a suplementação de DHA protegeu os neurônios dopaminérgicos.

As evidências sobre a ingestão de PUFA em pacientes com doença de Parkinson são limitadas e inconclusivas. Entretanto, pode-se recomendar um aumento da ingestão de peixes gordurosos, cuja indicação é de ao menos 2 porções/semana, segundo os órgãos de nutrição.

Cafeína

A cafeína é um estimulante do SNC, atuando por meio de um bloqueio reversível dos receptores de adenosina. Sendo assim, algumas evidências sugerem que o consumo de cafeína pode retardar a taxa de progressão da doença de Parkinson, com efeitos neuroprotetores.

Em um estudo prospectivo com mais de 8.000 indivíduos por 30 anos, a ingestão de cafeína proveniente de várias fontes (café, chá verde, chá preto e outros) reduziu a incidência de DP, mesmo após o ajuste para fatores de confusão (tabagismo e idade).

Dieta mediterrânea

A dieta mediterrânea tradicional é definida pelo alto consumo de azeite, leguminosas, hortaliças e frutas, juntamente com o menor consumo de carnes, aves e gorduras animais.

Este padrão alimentar já foi associado à redução da atrofia cerebral em idosos. Além disso, em uma população grega, a adesão à dieta mediterrânea melhorou o desempenho cognitivo e as taxas de demência, além de reduzi sintomas precursores de doença de Parkinson.

Sendo assim, aderir à dieta mediterrânea, ou a um padrão semelhante, pode ser uma boa estratégia para promover o cuidado nutricional do paciente com Parkinson.

Investigações sobre o papel da dieta cetogênica, vegetariana e vegana também são conduzidas. Entretanto, as evidências são limitadas.

Conclusão
Embora importante, a nutrição é um fator muitas vezes negligenciado no manejo da doença de Parkinson. Para o cuidado nutricional destes pacientes, um padrão alimentar diverso deve ser indicado, e a dieta mediterrânea pode servir de exemplo.

Apesar disso, as evidências sobre a relação entre a alimentação e a doença de Parkinson são limitadas. Mais estudos ainda são necessários para confirmar o papel benéfico de nutrientes e alimentos na DP. Deste modo, será possível melhorar os sintomas daqueles que lidam com esta enfermidade complexa e multifatorial.

Referências:

Breasail, M. Ó., Smith, M. D., Tenison, E., Henderson, E. J., & Lithander, F. E. (2022). Parkinson’s disease: the nutrition perspective. Proceedings of the Nutrition Society, 81(1), 12-26.

Erro, R., Brigo, F., Tamburin, S., Zamboni, M., Antonini, A., & Tinazzi, M. (2018). Nutritional habits, risk, and progression of Parkinson disease. Journal of neurology, 265, 12-23.

Ross, G. W., Abbott, R. D., Petrovitch, H., Morens, D. M., Grandinetti, A., Tung, K. H., … & White, L. R. (2000). Association of coffee and caffeine intake with the risk of Parkinson disease. Jama, 283(20), 2674-2679.

Umeno, A., Horie, M., Murotomi, K., Nakajima, Y., & Yoshida, Y. (2016). Antioxidative and antidiabetic effects of natural polyphenols and isoflavones. Molecules, 21(6), 708.

Zhang, S. M., Hernan, M. A., Chen, H., Spiegelman, D., Willett, W. C., & Ascherio, A. (2002). Intakes of vitamins E and C, carotenoids, vitamin supplements, and PD risk. Neurology, 59(8), 1161-1169.

terça-feira, 18 de abril de 2023

O que comemos pode alterar o nosso DNA?

Seja de forma direta ou indireta, os nutrientes da alimentação podem afetar a expressão dos nossos genes — e isso reflete no aparecimento de doenças.

Nas últimas décadas, com o maior entendimento da genética humana, surgiu uma nova ciência que busca investigar o papel da alimentação no DNA, ou seja, na expressão gênica: a nutrigenômica.

No artigo de hoje, com ajuda da nutricionista Priscila Sala, doutora pela USP e professora do Centro Universitário São Camilo, iremos desvendar essa ciência, e entender qual é a influência dos nutrientes na expressão dos nossos genes. Vamos lá?

Nutrigenômica: o que é?

A nutrigenômica é a ciência que estuda o papel dos nutrientes e compostos bioativos de diferentes alimentos na expressão dos nossos genes, e como eles regulam o nosso organismo.

Essa é uma área interdisciplinar da nutrição e da genética, que estuda a interação entre a dieta e os genes, e como essa interação pode afetar a saúde, influenciando o risco de doenças crônicas (como câncer, doenças cardiovasculares e diabetes).

A nutrigenômica também busca desenvolver dietas personalizadas baseadas nas características genéticas individuais de cada pessoa, para melhorar a saúde e prevenir ou tratar doenças.

Mas afinal…

Qual a influência dos nutrientes na expressão dos genes?

A dieta e a disponibilidade de nutrientes podem influenciar a expressão de genes de diversas maneiras.

Alguns nutrientes podem afetar a atividade de fatores de transcrição de determinados genes, a partir de uma atuação direta. As vitaminas A e D, por exemplo, se enquadram neste grupo.

A carência de nutrientes também pode ter um impacto na expressão gênica. A falta de vitaminas e minerais específicos pode afetar a atividade de enzimas e proteínas envolvidas na regulação da transcrição, levando a alterações na expressão de determinados genes.

Por outro lado, certos nutrientes podem atuar de forma indireta como moléculas sinalizadoras, ativando ou inibindo vias de sinalização celular que afetam a expressão gênica.

O açúcar e os ácidos graxos, por exemplo, podem ativar vias de sinalização intracelulares que regulam a expressão de genes envolvidos na resposta ao estresse celular e na homeostase do metabolismo. Outros nutrientes que atuam de forma indireta incluem: o resveratrol (vinho tinto), as catequinas (chá verde) e a genisteína (soja).

Em resumo, a dieta e a disponibilidade de nutrientes podem ser fatores importantes na regulação da expressão gênica e desempenhar um papel fundamental na manutenção da saúde celular e do organismo como um todo. É por isso que a nutrigenômica vem sendo estudada cada vez mais.

Por que estudar genômica nutricional?

Como vimos neste artigo, o estudo da genômica nutricional ajuda a entender como o alimento pode modificar a expressão dos nossos genes, alterando nosso fenótipo e influenciando o risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs).

Sabemos que a nutrição é o principal fator de risco modificável no desenvolvimento de DCNTs. Sendo assim, investir na prevenção de doenças é fundamental para garantir uma vida saudável e promover o bem-estar.

A nutrigenômica vem ganhando cada vez mais destaque entre profissionais que atuam em consultório, já que possibilita com o objetivo de permitir uma prescrição de dieta personalizada, baseada nas características genéticas individuais para melhorar a saúde.

Referências: Koromina M, Konstantinidou V, Georgaka M, Innocenti F, Patrinos GP. Nutrigenetics and nutrigenomics: ready for clinical use or still a way to go?. Per Med. 2020;17(3):171-173.

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Conservação do solo e degradação ambiental

 “A degradação do solo devido às mudanças climáticas e à expansão da agricultura, das cidades e das infraestruturas prejudica o bem-estar de 3,2 bilhões de pessoas. É prejudicial à biodiversidade e possibilita o surgimento de doenças infecciosas, como a Covid-19. Restaurar terras degradadas removeria o carbono da atmosfera. Ajudaria as comunidades vulneráveis a adaptarem-se às mudanças climáticas. E poderia gerar US $ 1,4 trilhão de dólares extras na produção agrícola a cada ano”. António Guterres. Secretário-geral da ONU, 17/6/2021, por ocasião da celebração do Dia Mundial de combate à desertificação e `as secas.

Por iniciativa do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) no dia 13 de Novembro de 1986, através da Lei 7.876, foi aprovada a criação do DIA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DO SOLO, a ser celebrado anualmente no dia 15 de Abril, com o objetivo de despertar a consciência nacional, principalmente por parte de governantes, da população em geral e dos setores agropecuário, florestal e de mineração, quanto `a necessidade de que o uso e ocupação do solo, principalmente rural, seja feita com sustentabilidade, justiça ambiental e justiça inter-geracional.

Só por ocasião da Assembleia Geral da ONU, em dezembro de 2013, que foi aprovada a criação do DIA MUNDIAL DE CONSERVAÇÃO DO SOLO, a ser comemorado anualmente, no dia 05 de Dezembro, a partir de 2014.

A preocupação com a conservação do solo, na verdade tem origem no mundo logo após o final da II Guerra, para enfrentar o problema da fome e no Brasil nos anos sessenta no bojo da chamada revolução verde, quando muitos cientistas passaram a demonstrar que é muito mais racional e saudável para o planeta e para o meio ambiente, elevar a produtividade por área ocupada do que promover a expansão das fronteiras agrícolas, que incentiva o desmatamento, as queimadas e a degradação dos solos e dos mananciais, cujas consequências são a erosão, a desertificação, a perda da fertilidade dos solos e o encarecimento dos alimentos, principalmente.

Para entender bem este binômio conservação do solo x degradação ambiental é fundamental colocá-lo em um contexto histórico, cultural e dos diversos sistemas produtivos e também das relações de trabalho e produção. Afinal, todos sabemos e entendemos o que significa a exortação do Papa Francisco quando afirma que “tudo está interligado”.

Assim, ao longo de séculos e milênios a relação da humanidade com a natureza foi muito mais de dominação e destruição do que de cuidado, respeito e racionalidade. Ao imaginar que a natureza poderia ser usada a bel prazer, ao longo de sucessivos estágios históricos e sistemas econômicos de produção e de relações de trabalho, de uma forma direta ou indireta o que movia o ser humano no planeta era a ganância e a busca de lucro fácil e rápido, pouco se importando com o rastro de destruição, o que hoje é denominado de “pegada ecológica”.

Neste processo irracional de exploração dos recursos naturais parece que ninguém imaginava e, lamentavelmente ainda muitos continuam utilizando esses mesmos modelos econômicos e sociais que deixam apenas destruição da biodiversidade, poluição das águas, dos mananciais, do ar e também dos solos e do subsolo, pouco se importando com as próximas gerações.

Falar para essas pessoas que imaginam que proteger o meio ambiente, a natureza, os territórios indígenas, as florestas são formas contrárias ao que definem como “progresso”, mas que na verdade são crimes ambientais e, de acordo com o Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si, “um pecado ecológico”, tem se tornado quase que uma “pregação no deserto”.

Pior em tudo isso é quando autoridades e organismos públicos, que deveriam zelar pela saúde do planeta, em seus respectivos territórios, sejam países, estados, regiões ou municípios, simplesmente se omitem e compactuam com crimes ambientais, não agem para definirem políticas públicas, estratégias, planos, programas e ações que a um só tempo possam reduzir ou “mitigar” os efeitos deste processo de degradação ambiental e, também, recuperar o que foi destruído, se bem que isto além dos custos elevadíssimos ainda tem o aspecto de que as espécies vegetais , animais ou mesmo humanas (como diversos povos primitivos no Brasil) foram extintos jamais poderão retornar.

A preocupação com a questão de buscar um equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade, em todas as dimensões como a produção de alimentos para uma população mundial ainda em expansão, a questão da energia que ainda está baseada fundamentalmente em fontes sujas e altamente poluentes que são os combustíveis fósseis, o uso intenso dos solos e subsolo, destruindo recursos não renováveis ou com custos bilionários para sua recuperação, repito, esta preocupação com tais desafios é coisa relativamente recente, datam do início da década de 1970, quando da primeira Conferência Mundial sobre desenvolvimento e Meio ambiente, em 1972.

Foi a partir desta primeira conferência que o “alerta”, quanto aos danos que esses modelos econômicos estão produzindo sobre a saúde do Planeta Terra, que dezenas de milhares de cientistas passaram a ter vozes mais ativas, com suas descobertas quanto aos riscos que todas as formas de vida, inclusive a vida humano estão correndo.

Mesmo antes da publicação da Encíclica Laudato Si, quando o Papa Francisco unifica o pensamento da Igreja Católica quanto `a necessidade de todas as religiões e as demais organização tanto públicas quanto da sociedade civil organizada, já havia um certo consenso de que “tudo está interligado, nesta Casa Comum”, que é o planeta terra.

Sob a liderança da ONU, que, pelo menos teoricamente, representa todos os 197 países e territórios que congregam a população mundial, tem havido um esforço internacional, em alguns países e continentes de forma mais efetiva e em outros, como no Brasil, muito mais em discursos e no papel, para confrontar esses desafios.

Hoje, mais do que nunca, é perfeitamente conhecido que o desmatamento e as queimadas, enfim, a destruição das florestas, principalmente das florestas tropicais como na Pan Amazônia (e não apenas na Amazônia brasileira), na África e na Ásia, produzem um impacto no regime de chuvas e no clima ao redor do mundo; que a poluição urbana e industrial produzida pela China e demais países asiáticos, pelos países da União Europeia e outros países da Europa, da mesma forma que a degradação ambiental nos EUA, no Oriente Médio, na África, na Oceania ou da América Latina tem impactos globais e afetam o mundo todo, pouco importa a cor da pele, as religiões, o gênero das pessoas, os regimes políticos, das ideologias, pouco importa se democracias ou ditaduras, civis, militares ou religiosas, as consequências recairão sobre toda a humanidade.

E isto também é verdadeiro quando se refere `a questão da necessidade de conservação do solo ou seja, que os sistemas agropecuários, florestais ou de mineração precisam respeitar os limites da natureza, caso contrário o processo de degradação ambiental será cada vez pior e seus impactos devastadores tanto para a produção de alimentos e outras matérias primas necessárias `a produção de bens e serviços, para atender as necessidades e aspirações de uma população mundial ainda crescente que atualmente (2023) já supera mais de oito bilhões de pessoas e que em 2030 será de 8,5 bilhões de habitantes e em 2050 em torno de 9,7 bilhões e dentro  de    décadas, em 2080, deverá atingir 10,4 bilhões de pessoas.

Todavia, por mais que o crescimento demográfico pressione os sistemas produtivos, nada justifica que esses sistemas ignorem os limites do planeta e os riscos que formas irracionais de relações do ser humano com a natureza podem provocar, tornando a vida humana extremamente complicada, como o que está previsto em relação ao aquecimento global e `as mudanças climáticas.

Ao longo das últimas sete décadas, desde a 1ª. Conferência Mundial do Desenvolvimento e meio ambiente, em 1972 em Estocolmo, na Suécia, passando pela ECO-92, no Rio de Janeiro, depois a RIO +20, todas as Conferências Mundiais do Clima, a Carta da Terra, os Acordos de Kyoto e de Paris, a ONU tem feito um grande esforço para que todos os países e territórios pautem os processos de desenvolvimento pela sustentabilidade, pela justiça social, por relações de trabalho que respeitem os direitos dos trabalhadores e pelo respeito `a natureza.

Foi com esta preocupação que a ONU também estabeleceu os Objetivos do Milênio, que vigoraram do ano 2000 ate 2015, quando foram expandidos e substituídos pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a vigorarem até 2030, marco este denominado de Agenda 2030.

Além disso, também a ONU aprovou que entre 2011 e 2020 fosse a Década da Biodiversidade, incluindo também um Plano Estratégico de Ações para a referida década; que 211 fosse o Ano Internacional das Florestas; que 2015 (ano da aprovação do Acordo de Paris) seria o Ano Internacional dos Solos e por ocasião do Dia Mundial de combate `a desertificação e `as secas, foi aprovada a Convenção Internacional para o combate a essas duas formas de degradação ambiental e dos solos.

Bem mais recente, por ocasião das comemorações do Dia Internacional do Meio ambiente em 2021, foi aprovada a DÉCADA DA RESTAURAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS DEGRADADOS, a vigorar de 2021 até 2030, com uma meta ambiciosa de recuperar 350 milhões de hectares (ha) de áreas degradadas, de um total de mais de dois bilhões de ha de áreas degradadas ao redor do mundo, dos quais 140 milhões de ha estão no Brasil.

Desde o início de 2000, todos os países, inclusive o Brasil vem se comprometendo com a ONU, por ocasião de conferências mundiais, fóruns e convenções internacionais a cuidarem melhor do meio ambiente, em todas as suas dimensões, estabelecendo objetivos e metas nacionais, que passam a ser incluídos/incluídas em seus planos nacionais de desenvolvimento.

Desnecessário se torna dizer que a maior parte desses compromissos fica só no papel, nos discursos e cerimônias oficiais, algumas com muita pompa, mas longe de serem inseridos nos planos e orçamentos nacionais, regionais e locais e, enquanto isso, a degradação ambiental, a poluição, o desmatamento, as queimadas, as erosões, a contaminação das águas, o uso abusivo dos agrotóxicos continuam presentes no dia a dia ao redor do mundo.

Dados de diversas instituições de pesquisa como a FAO, a Embrapa e universidades ao redor do mundo, tem demonstrado que a erosão elimina entre 25 a 40 bilhões de toneladas de solos férteis por ano, reduzindo sensivelmente a produtividade agropecuária e aumentando consideravelmente os custos de produção e os preços dos alimentos.

A erosão afeta 68 milhões de ha anualmente no mundo, o que representa 4% dos solos férteis do planeta. Se nada for feito e, com urgência, dentro de 3 ou 4 décadas a produção de alimentos será afetada de forma muito grave, inclusive no Brasil, principalmente na Amazônia que é caracterizada por solos extremamente frágeis.

Relatório do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, por ocasião do 9º Simpósio de Recuperação de áreas degradas em nosso país, em 2015, estimava que essas áreas representam 140 milhões de ha, das quais 69 milhões de ha eram de pastagens degradadas. Esses dados podem ser projetado como tendo aumentado em, pelo menos, mais 10% ou 15%, o que demonstra que estamos diante de um enorme desafio e de uma catástrofe anunciada.

O Brasil tem uma área de solos degradados maior do que toda a área ocupada com lavoura em 2022/2023 que, segundo a CONAB é de 77 milhões de ha nesta safra de 2022/2023, ou seja, as terras degradadas no Brasil representam praticamente toda a área agrícola ocupada, enquanto á area de pastagens é de 159 milhões de ha, das quais 69 milhões de ha eram degradas em 2015, podendo chegar a 80 milhões na atualidade.

Portanto, poderíamos o resto deste ano para refletirmos o que tudo isso significa e buscarmos novos modelos mais racionais de produção que respeitem e conservem melhor os solos.

Se nada disso for feito, este será mais um capítulo do processo de degradação ambiental que está ferindo de morte o Planeta terra, onde e no qual o Brasil ocupa um lugar de destaque, lamentavelmente.

Autor: JUACY DA SILVA, professor universitário titular e aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista. Email profjuacy@yahoo.com.br Instagram @profjuacy