segunda-feira, 2 de outubro de 2023

A obesidade é transmissível através da microbiota intestinal

Desde a descoberta de organismos microscópicos em 1600, os cientistas têm investigado a relação entre a nossa saúde e os micróbios que nos rodeiam e habitam. 

Hoje em dia, reconhecemos que alguns micróbios são inerentemente patogênicos, mas também que outros vivem mutuamente nos nossos corpos e contribuem para manter o nosso bem-estar. No entanto, permanece um desafio importante: ultrapassar de forma convincente a mera associação e provar a causalidade. As nossas microbiotas têm sido cada vez mais associadas a várias doenças, incluindo a obesidade, mas demonstrar uma relação entre causa e efeito é essencial – particularmente para o desenvolvimento de terapêuticas específicas.

Há dez anos, foi estabelecido um padrão ouro para a traduzibilidade no campo da pesquisa sobre microbiota e metabolismo. Através do uso meticuloso de metodologias-chave, Ridaura e colegas demonstraram de forma reprodutível que as comunidades microbianas dentro do nosso intestino podem influenciar diretamente o metabolismo do hospedeiro e a obesidade.

Usando amostras fecais de pares de gêmeos monozigóticos e dizigóticos discordantes para obesidade, os autores transferiram com sucesso os fenótipos dos gêmeos para camundongos livres de germes. 

Camundongos que receberam microbiota fecal de doadores gêmeos com obesidade (camundongos Ob) ganharam peso aumentando sua massa de tecido adiposo, enquanto camundongos que receberam microbiota fecal de doadores gêmeos magros (camundongos Ln) mantiveram um peso estável antes e depois da colonização microbiana. 

Assim, uma relação causal entre o aumento da adiposidade e a microbiota intestinal fecal na doença metabólica foi elegantemente demonstrada. 

Resultados semelhantes foram obtidos quando os autores transferiram coleções de amostras fecais de pares gêmeos cultivadas ou não cultivadas para camundongos livres de germes, fortalecendo a noção de um papel causal para a microbiota fecal associada à obesidade.

As alterações observadas na adiposidade não foram atribuídas a diferenças na ingestão de alimentos, mas sim a mudanças na paisagem funcional e metabólica da microbiota doadora: os micróbios dos camundongos Ob eram funcionalmente diferentes daqueles dos camundongos Ln, tanto em termos de funções enzimáticas como os metabólitos que foram produzidos. 

Os microbiomas dos camundongos Ln apresentaram maior capacidade de fermentação de fibras e produziram níveis mais elevados de ácidos graxos de cadeia curta, enquanto os dos camundongos Ob apresentaram maior capacidade de desintoxicação, biossíntese de vitamina B12 e metabolismo de aminoácidos, acompanhados por aumento dos níveis circulantes de aminoácidos de cadeia ramificada. 

Notavelmente, a presença de aminoácidos de cadeia ramificada e a extensão do aumento em ratos Ob foram visivelmente semelhantes às alterações relatadas em pessoas que vivem com obesidade e resistência à insulina, em comparação com indivíduos magros e sensíveis à insulina.

Os autores exploraram então a natureza coprofágica dos ratos para apresentar uma linha adicional de evidências. 

A coabitação de camundongos Ln com camundongos Ob evitou o desenvolvimento de aumento de adiposidade nos camundongos Ob por meio da invasão bem-sucedida de seu intestino por bactérias dos camundongos Ln. No entanto, a microbiota de ratos Ob não conseguiu invadir o intestino de ratos Ln, que permaneceram magros – indicando assim uma ligação robusta entre a transmissão de micróbios intestinais e a adiposidade.

Curiosamente, esta dicotomia dependia da dieta. Usando dietas humanizadas, Ridaura e colegas mostraram que camundongos Ob coalojados com camundongos Ln estavam protegidos contra o aumento da adiposidade apenas quando mantidos em uma dieta saudável, com baixo teor de gordura e rica em fibras. 

Quando os ratos Ob foram mantidos com uma dieta obesogênica, rica em gordura e pobre em fibras, os membros microbianos da microbiota magra não conseguiram colonizar os intestinos dos ratos Ob; conseqüentemente, esses ratos desenvolveram aumento da adiposidade.

Assim, estas descobertas sublinham conexões intrincadas entre dieta, micróbios intestinais e fenótipo metabólico do hospedeiro. Uma década após o estudo principal, dois estudos consecutivos sobre micróbios intestinais cimentam as descobertas pioneiras de resultados metabólicos dependentes da dieta descritos por Ridaura et al., relatando que o fenótipo metabólico após a suplementação de probióticos é dependente da dieta tanto em ratos como em humanos. 

O trabalho seminal de 2013 utilizou uma série de experimentos reprodutíveis cuidadosamente planejados e bem projetados que implantaram metodologias de última geração apropriadas à época para provar a causalidade entre a microbiota intestinal e o metabolismo do hospedeiro. 

Apesar da disponibilidade de tecnologias avançadas de sequenciação e de pipelines de bioinformática, muitos estudos atuais ainda relatam apenas associações entre alterações microbianas intestinais (“disbiose”) extrapoladas a partir da sequenciação 16S microbiana e vários contextos de doenças. 

Embora possam ser necessários maior complexidade e custos para ir além do ponto de associação, o estabelecimento de causalidade deve tornar-se uma prática padrão ao investigar um papel potencial da microbiota na doença. 

Os investigadores podem utilizar uma série de abordagens para demonstrar a causalidade entre micróbios intestinais específicos e um fenótipo hospedeiro associado: transplante de microbiota; análise e suplementação com metabólitos bacterianos; suplementação com bactérias individuais, probióticos, componentes bacterianos ou comunidades microbianas minimamente definidas; ratos com microbiota esgotada; e/ou randomização mendeliana. Várias destas técnicas foram utilizadas por Ridaura et al., e porque, ainda hoje, não é prática padrão integrar muitas destas ferramentas num único estudo, ainda podemos aprender com esta investigação chave.

É hora de reavaliar a nossa abordagem à investigação do microbioma. Até agora, a microbiota fecal tem sido objeto da maioria das investigações devido à sua acessibilidade bastante simples para amostragem. No entanto, após mais de duas décadas de intensa investigação, poderá agora ser relevante direcionar o foco para a microbiota do intestino delgado, cuja estrutura anatômica pode facilitar interações mais diretas entre hospedeiro e micróbio do que o cólon. 

Fazer isso será de grande importância para o campo. Aplicar o rigor científico, a traduzibilidade e o rigor demonstrados no passado como uma estrutura para pesquisas futuras será imperativo para compreender os efeitos causais de nichos microbianos intestinais pouco estudados na saúde do hospedeiro.

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domingo, 1 de outubro de 2023

“Medicamentos anti-obesidade” ou “medicamentos para tratar a obesidade” em vez de “remédios para perda de peso” – por que a linguagem importa

“Medicamentos anti-obesidade” ou “medicamentos para tratar a obesidade” em vez de “remédios para perda de peso” – por que a linguagem importa – uma declaração oficial da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM)

ABSTRATO

A obesidade é em grande parte subtratada, em parte devido ao estigma que envolve a doença e o seu tratamento. A utilização do termo “remédios para emagrecer” para se referir a medicamentos para o tratamento da obesidade pode contribuir para esse estigma, levando à ideia de que qualquer pessoa que queira perder peso poderia utilizá-los e que o uso em curto prazo, apenas na forma ativa fase de perda de peso seria suficiente. Pelo contrário, a utilização de termos como “medicamentos para tratar a obesidade” ou “medicamentos anti-obesidade” transmite a ideia de que o tratamento é dirigido à doença e não ao sintoma. Este comunicado conjunto da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM) pretende alertar a imprensa, os profissionais de saúde e a comunidade científica sobre a importância do uso adequado da linguagem, com o objetivo de melhorar o tratamento da obesidade.

INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença crónica comum associada a diversas comorbilidades, incapacidade e mortalidade, bem como baixa qualidade de vida; no entanto, ainda é amplamente subdiagnosticada e subtratada.

O estigma da obesidade é altamente prevalente, assim como o estigma contra o seu tratamento, seja ele médico ou cirúrgico.

Há alguns anos, um editorial da Expert Opinion on Drug Safety discutiu algumas das razões pelas quais a farmacoterapia da obesidade é estigmatizada.

Parte das razões pode ser atribuída à ideia generalizada de que, em vez de tratarem a obesidade em si, esses medicamentos são “medicamentos para perder peso”; como tal, vistos como medicamentos que devem ser usados ​​em curto prazo, apenas durante o período agudo de perda de peso.

Além disso, quando nos referimos a esses medicamentos como “remédios para emagrecer”, contribuímos para a ideia de que seu uso tem objetivo estético e pode ser consumido por qualquer pessoa que deseje emagrecer. 

Neste pequeno artigo, gostaríamos de enfatizar porque a comunidade científica, assim como a mídia, deveriam definitivamente parar de usar o termo “medicamentos para perder peso” e passar a usar “medicamentos para tratar a obesidade”, “medicamentos anti-obesidade” ou alguns termos semelhantes que enfatizam que o tratamento visa uma doença e não um sintoma.

• O estigma da farmacoterapia da obesidade

Apesar do conhecido fardo econômico e de saúde da obesidade, o tratamento farmacológico é amplamente subutilizado.

Em 2015, nos EUA, apenas um em cada 50 pacientes com obesidade recebeu prescrição.

Uma análise mais recente sugeriu um ligeiro aumento nas prescrições, atingindo 3% de adultos com obesidade em 2019.

Em 2016, o número de prescrições dispensadas para diabetes (excluindo insulina) foi 15 vezes superior ao número de prescrições para tratamento da obesidade.

Mesmo quando se consideram programas focados na perda de peso para indivíduos com obesidade, quase toda a atenção é dada às mudanças no estilo de vida.

Num programa de controle de peso denominado MOVE!, centrado em veteranos norte-americanos com excesso de peso ou obesidade, apenas 1,1% recebeu prescrição de medicação para obesidade, sendo o orlistat o medicamento mais prescrito, atingindo 70% do total de medicamentos prescritos.

Além disso, um recente estudo de mercado sugeriu que 50% dos pacientes com obesidade nunca receberam prescrição de medicamentos anti-obesidade e, quando prescritos, a manutenção do tratamento após 12 meses foi tão baixa quanto 2%.

Além disso, mesmo quando se toma medicação antiobesidade, a persistência é baixa.

No estudo ACTION-IO, que revelou pensamentos e percepções tanto de profissionais de saúde (HCPs) quanto de pacientes que vivem com obesidade (PcO), apenas 40% dos PcO consideraram os medicamentos uma opção eficaz em comparação com 30% dos HCPs; além disso, os medicamentos foram discutidos em apenas 18% das consultas.

No entanto, as modificações no estilo de vida por si só foram consideradas eficazes por quase 80% tanto das PcO como dos profissionais de saúde, apesar de as evidências apontarem para um efeito limitado destas intervenções isoladamente.

Como exemplo, uma meta-análise altamente citada e bem conduzida mostrou que a perda média de peso a médio e longo prazo alcançada com programas abrangentes de modificação do estilo de vida é de cerca de 3 kg.

Outros estudos mostram que apenas 10% dos pacientes são capazes de perder e manter uma perda de peso de 10% após um a dois anos em programas intensivos, mas a sua combinação com medicamentos pode melhorar significativamente os resultados, como vários ensaios clínicos randomizados (ECR) bem conduzidos. concluíram.

É digno de nota, no entanto, que as respostas ACTION-IO dos profissionais de saúde apontam claramente que evidências de alto nível dos ensaios clínicos randomizados não estão sendo usadas para orientar as decisões dos profissionais de saúde sobre a obesidade.

• Algumas razões para o uso limitado da farmacoterapia para obesidade e sua estigmatização

No referido editorial de 2015, Halpern e Halpern discutiram diversas razões pelas quais existe estigma em torno dos medicamentos antiobesidade por parte de médicos, pacientes, agentes de saúde pública, partes interessadas e até agências reguladoras.

Foram elas: 1) a já citada ideia de que a obesidade não é uma doença, mas principalmente uma “escolha”; 2) o ganho de peso ocorre após a interrupção do tratamento; 3) a perda de peso é menor do que o previsto pelos pacientes e médicos; 4) drogas são comumente utilizadas por razões estéticas; 5) existe a percepção de que estão associados a muitos efeitos secundários e riscos graves (e, de fato, vários medicamentos foram retirados do mercado nas últimas décadas por razões de segurança); 6) como doença comum, a obesidade é geralmente tratada na atenção primária, onde o treinamento dos profissionais de saúde quanto ao seu tratamento é muitas vezes deficiente.

O custo também é uma razão importante para o baixo uso de medicamentos em geral e, na obesidade, pode ser um grande desafio para a adesão a longo prazo.

Isto é particularmente verdadeiro no Brasil, onde quase 100% dos medicamentos antiobesidade são pagos do próprio bolso, uma vez que não existem medicamentos antiobesidade gratuitos oferecidos pelo sistema público de saúde e os seguros de saúde geralmente não cobrem medicamentos ambulatoriais; na verdade, este cenário de baixa cobertura medicamentosa para a obesidade também é regra em vários outros países.

As discussões sobre a disponibilidade de alguns desses medicamentos no serviço público têm levado à inação, uma vez que o estigma é predominante. 

Deve-se considerar também que os custos de incorporação podem ser muito elevados, devido à elevada prevalência de obesidade na população adulta.

Contudo, como a obesidade está associada a maior morbidade e mortalidade, pode-se argumentar que tratá-la poderia reduzir custos diretos e indiretos.

Além disso, mesmo com a disponibilidade de alguns medicamentos, a falta de treinamento sobre obesidade nas escolas médicas poderia resultar no seu uso incorreto.

Uma pesquisa recente nos EUA descobriu que menos de 10% dos médicos utilizam diretrizes sobre obesidade para fundamentar suas decisões de tratamento.

Não há dúvida, porém, de que a principal razão para a rejeição de medicamentos antiobesidade é o estigma da própria obesidade.

• Estigma de peso e a importância da linguagem

O estigma na saúde é muito comum em diversos cenários e populações, como em indivíduos com doenças infecciosas, deficiências, doenças mentais, entre outros.

O estigma do peso, definido como atitudes e ações negativas em relação às pessoas com sobrepeso ou obesidade, prejudica a saúde e o bem-estar e é percebido em ambientes como no local de trabalho, na escola, em casa e até mesmo em ambientes de saúde.

Em pesquisa brasileira on-line patrocinada pelas sociedades ABESO e SBEM, constatou-se que entre os indivíduos com obesidade 72% sofreram constrangimento em casa por parte de familiares, 60% em unidades de saúde e 55% no trabalho.

Esse número é maior em indivíduos com IMC mais elevados e, naqueles com IMC acima de 40 kg/m2, 98% já passaram por algum constrangimento em algum momento e 25% relataram constrangimento diário.

Entre as diversas consequências de tais atitudes negativas está a internalização do estigma do peso.

O estigma de peso internalizado (IWS) refere-se a atitudes e pensamentos negativos sobre si mesmo (autoestigma), nos quais as pessoas com obesidade acreditam e agem como se esses estereótipos estivessem corretos. 

Indivíduos com maior IWS correm risco de compulsão alimentar e emocional, maior ganho de peso e diversas complicações de saúde.

Como tal, os profissionais de saúde devem reconhecer que também estão sujeitos a preconceitos de peso e que a forma como comunicam com os pacientes pode ter um efeito profundo nos resultados relacionados com a saúde.

Além disso, o estigma relacionado com o peso, ao contrário de outros estigmas, não parece estar diminuindo, e como a obesidade é normalmente vista como culpa do indivíduo, isto poderia levar à inação por parte dos governos e de outras partes interessadas, tanto nas estratégias de prevenção como no tratamento.

Na verdade, a retirada de alguns medicamentos pelas agências reguladoras pode ter sido, pelo menos parcialmente, influenciada pelo estigma do peso, e o fato de muitos medicamentos terem sido retirados no passado tem impacto directo no investimento em novos medicamentos.

A importância da linguagem tem sido destacada no esforço atual para reduzir o estigma relacionado ao peso, e tem sido um tema em diversas revistas sobre obesidade e diabetes, em diretrizes, bem como em publicações intersetoriais. reuniões, documentos e até um livro inteiro no Brasil.

Surgem várias questões sobre como comunicar corretamente com os pacientes – evitando o uso de palavras de julgamento, por exemplo.

Um dos pontos mais críticos é a promoção do uso da linguagem “as pessoas em primeiro lugar”.

O entendimento é que um indivíduo não deve ser definido pela sua doença (como pelo uso dos termos “obeso” ou “diabético”), mas sim conviver com essa doença (“indivíduo com obesidade” ou “com diabetes”).

Um aspecto particular das doenças crônicas como a obesidade é que, embora não tenham cura, podem ser controladas.

Dessa forma, um indivíduo que apresentou índice de massa corporal (IMC) elevado e perdeu peso considerável, apesar de não se enquadrar na classificação de obesidade pelo IMC, ainda deveria ter a obesidade (ainda que controlada) como um de seus diagnósticos.

Recentemente, a ABESO e a SBEM divulgaram uma proposta de nova classificação da obesidade baseada na trajetória do peso que destaca esses pontos e que, na opinião de ambas as sociedades, ajuda a reduzir o estigma ao destacar que a “normalização” do IMC não é o objetivo de um tratamento da obesidade , e que as metas de peso devem ser individualizadas.

Em conjunto, acreditamos que o uso comum do termo “medicamentos para perder peso” pela mídia e pelo público em geral, bem como pelos médicos e pela comunidade científica, contribui para o estigma e, certamente, que “a linguagem é importante”.

Como tal, propomos que façamos um esforço para abandonar o uso de “medicamentos para perder peso” nas publicações científicas, mas sobretudo, nos meios de comunicação social (visto que o seu uso é mais difundido).

• “Medicamentos para tratar a obesidade” ou “medicamentos anti-obesidade” são extremamente diferentes de “medicamentos para perder peso”

Numa simples pesquisa no Google até junho de 2023, o termo “medicamentos para perder peso” leva a 2.200.000 resultados e “medicamentos para perder peso”, a mais 630.000 resultados. Por outro lado, uma pesquisa por “medicamentos anti-obesidade”, “medicamentos anti-obesidade” ou “medicamentos (ou medicamentos) para tratar a obesidade”, leva a apenas 428.000 resultados, ou 14% da primeira pesquisa. 

“Medicamentos (ou drogas) para obesidade” leva a 170.000 resultados extras, mas o termo pode ser enganoso. 

É claro que existem diferenças de interpretação entre termos em diferentes línguas, mas esta pesquisa é um bom exemplo dos termos mais comuns utilizados numa base de dados pública. 

Nas bases de dados acadêmicas, felizmente, o cenário muda um pouco.

O PubMed usa, em seu banco de dados Medical Subject Headings (Mesh), o termo “agentes anti-obesidade”, no qual aparecem mais de 19.000 resultados, e “medicamentos/agentes/medicamentos para perda de peso” no PubMed leva a muito menos resultados (menos de 500). 

Assim, pode-se concluir que o meio acadêmico está mais consciente desta diferença (embora medicamentos para emagrecer seja um termo geralmente ouvido em conferências e comunicações médicas), mas existe uma lacuna entre a produção científica de conhecimento nesta área e a como é traduzido para o público em geral, especialmente na mídia. 

Como tal, é importante que a comunidade acadêmica esteja consciente desta diferença e aumente os seus esforços para melhorar a linguagem, colmatar esta lacuna e reduzir o estigma. 

Mas por que isso importa e não é simplesmente uma questão semântica?

Em primeiro lugar, a perda de peso é apenas uma pequena parte do tratamento da obesidade em si.

Geralmente, após um curto período de perda de peso, o peso atinge um patamar, e se a perda de peso alcançada for considerada adequada, o tratamento da obesidade continua numa fase de manutenção do peso.

A retirada de medicamentos nesse período – o que é muito comum, por iniciativa do próprio paciente ou por recomendação médica – leva ao reganho de peso, como devemos esperar de qualquer doença crônica.

O fato de a suspensão de medicamentos para diabetes ou hipertensão poder levar ao comprometimento do controle glicêmico e da pressão arterial não surpreende ninguém. 

Apesar disso, com a obesidade existe um equívoco comum de que a recuperação do peso é uma falha do tratamento, e não uma recorrência esperada de uma doença crônica não tratada.

Se usarmos o termo “medicamentos para perda de peso”, a recuperação do peso após a retirada é um argumento justo contra o seu uso.

No entanto, o entendimento por parte dos profissionais de saúde e das PCO de que os medicamentos são úteis tanto para a redução como para a manutenção do peso pode ajudar muito na adesão a longo prazo.

O principal objetivo do tratamento da obesidade não é “normalizar o IMC”, mas sim melhorar a saúde e a qualidade de vida, o que pode ser alcançado através de uma perda de peso de 5%-15%, e esse conceito é destacado na recente proposta da SBEM e da ABESO de uma nova classificação de obesidade.

Quando a “normalização” do IMC é o único objetivo do tratamento, há grande probabilidade de frustração do paciente quando o peso atinge um platô, levando à ideia de que a medicação não funciona mais e deve ser interrompida.

Na verdade, no patamar de peso, a medicação atingiu o seu efeito máximo na redução de peso e a manutenção do peso durante o tratamento é um sinal de que ainda está funcionando.

Além disso, o termo “medicamentos para perda de peso” não distingue quem deve ser tratado e o tratamento da obesidade pode ser confundido com o tratamento do “desejo social de perda de peso” que é difundido na sociedade.

Isto contribui para a ideia de que os medicamentos são utilizados principalmente por razões estéticas (e por muitas pessoas que não precisam deles) e não para tratar uma doença associada a problemas de saúde e psicológicos.

Além disso, não devemos esquecer que tratar a obesidade é mais do que apenas controlar o peso, tal como endossado pelas Directrizes de Prática Clínica Canadianas, que tiveram múltiplas revisões positivas.

O foco na saúde mental, a redução do estigma internalizado, o tratamento de comorbidades, a promoção do exercício físico (que melhora a saúde independentemente da própria perda de peso), o estabelecimento de metas e objetivos de longo prazo, entre outros, são partes essenciais do tratamento.

Sendo assim, os medicamentos são apenas uma das diversas estratégias para o enfrentamento de uma doença crônica, podendo também ajudar a reduzir episódios de compulsão alimentar ou perda de controle alimentar, além de controlar a fome e aumentar a saciedade, e ainda melhorar marcadores metabólicos e comorbidades, independentemente de perda de peso.

Na verdade, existem boas evidências de que pelo menos alguns destes medicamentos são capazes de reduzir os marcadores de risco cardiovascular e melhorar as doenças relacionadas com a obesidade, embora exista uma grande variabilidade de efeitos dependendo dos mecanismos de ação de cada medicamento.

Infelizmente, não temos evidências diretas de que esses medicamentos reduzam os resultados cardiovasculares ou outros resultados graves na PcO, mas isso pode mudar no futuro, à medida que estudos mais recentes visam responder a essas questões.

Finalmente, devemos diferenciar os medicamentos aprovados pelas agências reguladoras dos medicamentos e suplementos vendidos sem receita médica, que são frequentemente vendidos como “agentes para perda de peso” e são responsáveis ​​por uma taxa inaceitavelmente elevada de consultas de emergência.

A utilização da “farmacoterapia anti-obesidade” pode ajudar a desfazer este equívoco, lembrando-nos que um medicamento a ser utilizado continuamente para tratar uma doença crônica deve ser submetido a um elevado nível de escrutínio de segurança, tal como quando aprovado pelas agências reguladoras.

Uma desvantagem potencial de enfatizar “medicamentos para obesidade” é a sua compreensão no contexto de indivíduos com excesso de peso que, no entanto, também podem se beneficiar do tratamento. 

As diretrizes e indicações nos rótulos variam de acordo com o medicamento e o país, mas indivíduos com mais de 25 ou 27 kg/m² com doenças relacionadas à obesidade são candidatos a medicamentos antiobesidade, apesar de não serem afetados pela obesidade pelos critérios de IMC.

No entanto, embora a obesidade ainda seja diagnosticada pelo IMC, várias diretrizes apontam que o IMC tem muitas limitações numa base individual, e a obesidade deve ser definida pelo seu impacto na saúde.

Na verdade, a obesidade foi definida pela Organização Mundial de Saúde como uma “acumulação excessiva de gordura que prejudica a saúde”.

Assim, utilizando esse conceito, um indivíduo com excesso de peso e com comorbidades pode ser considerado como portador de obesidade clínica, e a indicação de uso prolongado de medicamentos, neste caso, é semelhante à de um indivíduo com IMC mais elevado. 

Uma comissão foi recentemente criada pela Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos e pelo Colégio Americano de Endocrinologia para definir a obesidade e estabelecer o seu diagnóstico independentemente de limites rigorosos de IMC.

Em relação a outras doenças crônicas, como a diabetes, a hipertensão ou a hiperlipidemia, surgem também diferentes formas de nomear os medicamentos, mas estas são geralmente condições menos estigmatizadas, em que a nomenclatura pode ser menos importante para a percepção do tratamento. 

No entanto, na hipertensão, “medicamentos anti-hipertensivos” são mais utilizados do que “medicamentos para redução da pressão arterial”, e “medicamentos hipotensores” raramente são usados; no diabetes, “antidiabético” ainda é mais comum do que “redutor de glicose” ou “anti-hiperglicêmico”. 

Uma exceção é a hipercolesterolemia, na qual “medicamentos hipolipemiantes” é um termo comum e amplamente utilizado, embora no banco de dados Mesh o termo correto seja “agentes anticolesterolêmicos”. 

Porém, a estigmatização da hiperlipidemia é quase inexistente.

Curiosamente, é comum a não adesão aos agentes anticolesterolêmicos, bem como a sua interrupção após a queda do colesterol no sangue, e é possível que apontar a importância a longo prazo não apenas da redução do colesterol em si, mas também da prevenção de doenças cardiovasculares doença, pode contribuir para maior adesão ao tratamento.

Assim, embora esta discussão sobre a obesidade pareça mais urgente para melhorar as percepções sobre o tratamento e reduzir o estigma, isso não implica que a linguagem não esteja interferindo também no tratamento de outras doenças. 

Em cada caso, é necessária uma reflexão crítica sobre as razões da escolha de termos específicos em detrimento de outros.

Na Tabela 1 resumimos os principais argumentos para o uso correto da linguagem neste contexto.

Concluindo, na obesidade, as palavras são importantes e a forma como disseminamos as mensagens pode ajudar os indivíduos que procuram apoio ou perpetuar o estigma. 

Além disso, a forma como nomeamos as coisas leva a enormes diferenças na forma como elas são percebidas e pode mudar a nossa perspectiva. 

Acreditamos que é um “apelo à ação” para divulgar a importância de evitar o termo “medicamentos para perda de peso” nos meios de comunicação e publicações científicas, e o uso generalizado de “medicamentos anti-obesidade”, ou “medicamentos para tratar a obesidade” é essencial para ajudar a reduzir o estigma e melhorar a adesão e persistência no tratamento da obesidade.

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sábado, 30 de setembro de 2023

Preciso tirar os carboidratos para emagrecer?

Na avaliação nutricional do paciente, o recordatório alimentar é uma ferramenta extremamente importante para que possamos avaliar sua ingestão habitual, possíveis déficits nutricionais e onde na rotina alimentar é mais provável que esteja presente o consumo calórico excessivo.

E durante esse recordatório, ao longo dos anos, percebi um comportamento bem comum entre vários pacientes... Quando pergunto sobre as grandes refeições, é corriqueiro que haja uma pausa e um certo "freio" na hora de relatar a porção do arroz e, até mesmo, alguns pacientes já relatam antes "o arroz eu como pouquíssimo", como se existisse algum problema sobre a presença desse alimento no cardápio. 

Essa pausa reflete e reforça o MITO de que o arroz seria um "vilão" e um dificultador dos resultados do processo de emagrecimento, o que cada dia mais tenho certeza de que se trata de uma visão distorcida sobre este cereal.

E nesses anos de atendimento em que fiz o acompanhamento de mais de 2.000 pacientes, não me lembro ao me os um paciente em que o consumo de arroz realmente fosse um problema ou um dos possíveis favorecedores do ganho de gordura corporal. E não tenho a menor dúvida em reforçar que, aqueles que acompanho o histórico da evolução do peso corporal, que retiraram por conta própria o arroz da dieta, acabam reganhando o peso e sofrendo com efeito sanfona em longo prazo (claro que esse efeito não é devido exclusivamente da retirada do arroz, mas sim pelo desconhecimento e falta de orientação profissional que dificulta o paciente em enxergar onde realmente está o comportamento/hábito problemático).

Sempre que o paciente exclui o arroz das grandes refeições, alimento esse que possui um importante aspecto cultural e sabor insubstituível para muitos, ele acaba reduzindo o volume alimentar de um alimento que não possui uma alta densidade energética. Por exemplo, 100g de arroz cozido (4 colheres de sopa ou 2 de servir) possui aproximadamente 125kcal, densidade bem inferior a de um pão de queijo médio que pode apresentar até 150kcal em uma única unidade.

Essa restrição desse alimento pode fazer com que a refeição principal não dê saciedade e satisfação suficiente, favorecendo o aumento do apetite no período da tarde e jantar. Esse aumento do apetite pode reduzir de forma bem significativa a qualidade das escolhas alimentares e, inclusive, favorecer o aumento do consumo de quitandas, alimentos industrializados e outras opções que são hipercalóricas, resultando no ganho de peso ao longo das semanas.

Então, é muito mais interessante que esse paciente receba a informação correta e mantenha uma porção adequada de arroz nas suas refeições, cuja quantidade dependerá das suas individualidades, do que excluir esse alimento e aumentar o risco de compensações posteriores que serão ruins ao seu estado nutricional.

E lembre-se: se você anda excluindo o arroz para emagrecer, que tal preencher um recordatório alimentar por pelo menos 20 dias, incluindo os finais de semana? Você perceberá que os erros alimentares não estarão nesses alimentos mais naturais, mas sim em outras escolhas comuns feitas em aplicativos de comida, ingestão de bebidas alcoólicas, alimentos industrializados e perda de rotina aos finais de semana.

Autores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica especialista em Clínica médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351 

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Low carb regada a carne vermelha e embutidos: é uma boa estratégia?

 

A estratégia low carb ganhou fama e notoriedade nos últimos anos e, inclusive, é difícil ter alguma semana em que não atendo algum paciente que já não tenha seguido essa estratégia ao menos uma vez ao longo do seu processo de mudança alimentar. E existe uma forte onda de divulgação de informações DETURPADAS e MITOS por aí de que as carnes poderiam ser consumidas à vontade ao longo do dia, já que na nossa evolução, nosso corpo só teria benefícios desse hábito que existe desde a era paleolítica. 

Segundo esse MITO, o amido foi reintroduzido de forma "recente" evolutivamente falando e, segundo ele, consumir carboidratos é prejudicial quando comparado ao consumo de carnes.

No entanto, antes de responder a pergunta do tema desse texto, é importante ressaltar que existem estudos que confirmam a presença de AMIDO em ossaturas estudadas que são da era paleolítica. Ou seja, o amido já está inserido na nossa alimentação há milhares de anos e a informação propagada dos que são adeptos a dieta low carb de forma extremista, ou a dieta carnívora e outras estratégias excessivas, estão ERRADAS. 

E agora respondendo a pergunta: fazer dieta LOW CARB regada a carne vermelha e embutidos é uma estratégia PÉSSIMA quando o objetivo é a melhora do estado nutricional e a redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis. E eu me arrisco a dizer ainda que, essa estratégia é uma das piores que existem quando o assunto é saúde e cuidados com o meio ambiente.

Já por outro lado, uma LOW CARB bem feita, prescrita corretamente pelo Nutricionista, controlando o consumo das gorduras saturadas e se preocupando com a ingestão de fibras, proteínas e calorias no total, pode trazer resultados excepcionais para muitos casos.

Portanto, caso você se sinta mais apto a fazer a dieta LOW CARB, procure o nutricionista para que seja feita corretamente. O consumo excessivo de carnes vermelhas e embutidos está associado ao um maior risco de doenças crônicas não transmissíveis, inclusive o câncer de cólon (dobra o risco absoluto do surgimento da doença).

E mais, esse tipo de dieta visando o emagrecimento parece não ser nada interessante, já que tem estudos comparando dietas com equivalência de calorias e proteínas, mas com diferença nos tipos de gorduras (saturadas ou mono e poli-insaturadas), mostrando que as dietas ricas em gorduras saturadas (carnes e embutidos em excesso) estão associadas a uma pior resposta na perda de gordura corporal.

Inclusive, a dieta mediterrânea, que é a dieta que mostra melhores resultados com relação a parâmetros metabólicos, possui quantidades pequenas de carne vermelha e menos ainda de embutidos e outros alimentos ultra processados.

Portanto, se você se sentir tentado a seguir uma low carb regada a carnes e embutidos, principalmente se for por seguir perfis ou indivíduos que fomentem esse tipo de estratégia, solicite as evidências científicas que demonstram o que eles propagam por aí. É bem provável que você não receba nenhum trabalho de qualidade mostrando tais benefícios.

Procure um Nutricionista sério e que siga a ciência da nutrição.

Autor:
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisor:
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915, CRM-SC 32.949, RQE 22.416

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Falta de vitaminas e minerais pode levar a queda de cabelo

Uma das queixas que mais escutamos no nosso consultório de Nutrologia/Nutrição e que mais traz preocupação com relação à autoestima e aflição é a alteração na saúde capilar. Queda de cabelo, o tormento das mulheres e de alguns homens. 

Muitas mulheres chegam à consulta apresentando medo de perderem todo o cabelo, já que relatam que o chão da casa fica cheio de fios e que os travesseiros formam "perucas" diariamente. O marido reclama do excesso de tufos no ralo do banheiro. 

Por fim, por estar no imaginário popular que a queda de cabelo é por falta de nutrientes ou por estresse, agendam consulta com o Nutrólogo ou Nutricionista. Muitas dessas pacientes relatam que querem dosar os nutrientes e melhorar a dieta para que os cabelos fiquem mais fortes e a queda pare. Uma boa parte já vem com autosuplementação, doses cavalares de nutrientes, as vezes "gominhas para crescer cabelo". Então aqui fazemos uma apelo: Não autosuplemente. Isso pode ser deletério. Os nutrientes possuem um fino equilíbrio entre si. 

Mas será que os nutrientes podem levar a queda de cabelo, quando deficientes? Sim, o seu cabelo pode SIM estar caindo por falta de vitaminas e minerais! Assim como por falta de proteínas, estresse, dietas, restritivas e muitos outros fatores. O Nutrólogo até pode detectar o déficit desses nutrientes e suplementar, mas o mais correto é passar em consulta com um dermatologista. 

Algumas deficiências nutricionais favorecem a queda e outras alterações nos cabelos, principalmente nas mulheres. E os nutrientes mais comuns e estudados que podem estar relacionados a essas alterações são:
  1. Ferro, 
  2. Zinco, 
  3. Selênio, 
  4. Vitamina A, 
  5. Vitamina D,
  6. Vitaminas do complexo B (incluindo a biotina),
  7. Silício
Contudo, mesmo sendo nutrientes importantes para a saúde dos cabelos, não é válido sair suplementando todos de forma aleatória, já que existem algumas causas que não são dependentes da nutrição, ocorrendo a possibilidade de se piorar a saúde dos cabelos quando houver excesso de nutrientes (selenose, hipervitaminose A). 

É muito importante o acompanhamento interdisciplinar com nutricionista e médico, para avaliar os possíveis déficits por meio de exames laboratoriais/recordatórios alimentares, histórico das alterações e através das avaliações físicas (afastando outras doenças como as tireoidopatias e as alopécias androgenética, areata, dentre outras).

E ainda, muita gente não se lembra, mas o consumo adequado de proteínas também é um dos pilares mais importantes quando o assunto é saúde capilar, já que esse nutriente muitas vezes é negligenciado e pode ser uma das causas das alterações relacionadas a queda e lentificação do crescimento. Por sua vez, é importante ressaltar o cuidado quanto a ingestão calórica do cardápio, já que a restrição excessiva de calorias por um período longo pode favorecer também alterações significativas (comum na cirurgia bariátrica, que pode ser devido a vários fatores desses descritos acima).


Autores
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915, CRM-SC 32.949, RQE 22.416
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física

Troquei o arroz branco pelo integral, isso vai me ajudar a emagrecer mais rápido?

Você provavelmente já deve ter sido orientado (a) a substituir o arroz branco da sua dieta pelo arroz integral e, inclusive, essa orientação é acompanhada da afirmação de que essa troca é altamente eficaz para você conseguir emagrecer. 

Mas, será que essa orientação é válida e o arroz integral, consumido em quantidades semelhantes ao branco, é mesmo capaz de favorecer o emagrecimento?

A resposta é: NÃO! Com relação a quantidade de CALORIAS por porção, substituir o arroz branco pelo arroz integral NÃO faz muita diferença no processo de emagrecimento, já que ambos os tipos possuem cerca de 120-130kcal a cada 100g. Ou seja, a densidade calórica é semelhante e se o consumo do arroz integral não proporcionar melhores respostas nas suas escolhas alimentares ao longo do dia, é bem provável que os resultados de emagrecimento não mudem muito.

Contudo, é importante ressaltar que o arroz integral tem uma característica nutricional superior ao arroz branco, apresentando uma maior quantidade de fibras, minerais e vitaminas por porção ingerida. Ou seja, ele pode ter um efeito superior, quando comparado ao  branco, nos quesitos de controle glicêmico do paciente ("níveis de açúcar no sangue"), perfil lipídico (colesterol, triglicérides), regularização do funcionamento intestinal e na percepção de saciedade do indivíduo (menor consumo e maior sensação de saciedade).

E devido a esses possíveis efeitos, ele pode sim ser um coadjuvante no processo de emagrecimento. Mas o mais importante é o seu efeito frente ao quadro metabólico do paciente como um todo, podendo melhorar alguns parâmetros que estão associados com maior mortalidade (perfil lipídico/glicêmico). E se consumir o arroz integral como substituto ao branco te proporciona maior saciedade ao longo do dia, é possível que você melhore suas escolhas alimentares e diminua o consumo calórico total diário, consequentemente, perdendo mais peso em médio/longo prazo.

Sendo assim, vale muito a pena inserir o arroz integral no seu cardápio, pelo menos alguns dias da semana, principalmente se você possui uma baixa ingestão de fibras ao longo do dia.

Autores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416
Revisores: 
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição.
Dra. Edite Melo Magalhães - Médica especialista em Clínica médica - CRM-PE 23994 - RQE 9351 

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Preciso cortar arroz para emagrecer?

Quando o assunto é emagrecimento, arroz é um dos alimentos mais "temidos", tanto que é bastante comum nos atendimentos relatos como "já cortei totalmente o arroz e mesmo assim não estou emagrecendo".

Contudo, será mesmo que o arroz é um grande vilão durante o processo de perda de peso?

A resposta é: na maioria dos casos, NÃO!

Para que você tenha uma ideia, segundo a Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos (TACO), cada 100g de arroz branco cozido possui aproximadamente 128kcal, o que não é uma densidade calórica excessiva como muitos acreditam. 

Veja bem, caso você consuma 100g de arroz no almoço e 100g de arroz no jantar, somará um total de 256kcal, o que representa aproximadamente 13% da necessidade calórica diária de alguém que precise ingerir 2.000kcal.

Com isso você deve pensar: "mas o arroz possui alto índice glicêmico"!

Sim, é verdade! Porém, há estudos demonstrando que a resposta glicêmica aos alimentos pode variar MUITO, entre os indivíduos. Além disso, raramente alguém ingere o arroz sozinho.

Geralmente é refogado com algum tipo e óleo (isso já muda a carga glicêmica da refeição) e pra completar a falácia do índice glicêmico, ele acaba sendo comumente consumido com carnes, leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico) e saladas/vegetais (abundância em fibras), o que muda totalmente o índice glicêmico, reduzindo-o significativamente (na prática consideramos a carga glicêmica da refeição).

Portanto, caso você queira emagrecer, procure o auxílio de um Nutrólogo e posteriormente de um Nutricionista para te auxiliarem na mudança de hábitos. Não saia cortando e eliminando os alimentos habituais da sua dieta de forma aleatória, pois essa ação pode dificultar a perda de peso e gerar transtornos alimentares no futuro. 


Autores: 
Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Dr, Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM 13192 - RQE 11915
Márcio José de Souza - Profissional de Educação física e Graduando em Nutrição. 

Tirzepatida e seu impacto no peso - Por. Dra. Lia Bataglini

 

Transtorno de compulsão alimentar

 

Efeito rebote da Semaglutida (Ozempic), isso existe? Por Dra. Natália Jatene

 

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

A frutose das frutas é um problema? Causa esteatose hepática? Engorda?


Vários trabalhos já demonstraram que o consumo EXCESSIVO de frutose pode ter a sua metabolização um pouco problemática, com consequente aumento do risco da elevação do triglicérides, ácido úrico, piora da resistência à ação da insulina e maior risco de esteatose hepática (gordura no fígado). Em ratos principalmente isso ocorre, mas os estudos em humanos não mostram isso, principalmente quando se trata de consumo de frutas. 

E devido a essa questão, muitas pessoas tem reduzido o consumo das frutas com medo da frutose presente nesse grupo de alimentos.

Mas, a frutose da fruta é mesmo um problema?

A resposta é: NÃO! O problema da frutose está ligado somente devido ao seu consumo através de produtos processados e ultraprocessados, ou seja, aqueles que são adicionados de xaropes diversos (xarope de glicose, xarope de agave, xarope de milho). O consumo de frutas NÃO está associado com os problemas que relatei acima, muito pelo contrário, as frutas exercem papel PROTETOR com relação ao perfil lipídico, gordura no fígado e ação da insulina. A fruta geralmente tem fibra na composição, sendo uma das principais fontes de fibras da nossa alimentação.

Uma banana ou uma maçã, por exemplo, possuem entre 4 a 7g de frutose por unidade, sendo fonte de vitaminas, minerais e fibras que são importantes para a manutenção da saúde. Por outro lado, alguns alimentos ultraprocessados adicionados de xaropes podem conter 30g a 40g de frutose por unidade/porção, com pouca ou nenhuma fibra, além de serem nutricionalmente bem pobres. Esses sim podem trazer consequências negativas se forem frequentes na dieta.

Portanto, comam mais frutas e reduza o consumo de alimentos enriquecidos com xaropes/açúcares.

Autor: Dr. Rodrigo Lamonier - Nutricionista e Profissional da Educação física
Revisor: Dr. Frederico Lobo - Médico Nutrólogo - CRM-GO 13192 - RQE 11915 / CRM-SC 32949 - RQE 22416

Quem se identifica com os sintomas de TDAH? Por Dr. Murilo Caetano - Médico Psiquiatra em Goiânia

 Abaixo um vídeo muito interessante de um amigo psiquiatra.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

O impacto do câncer na vida das mulheres

Quando consideramos o impacto social ou econômico da morte de uma mulher com câncer, devemos reconhecer que muito mais de um problema pessoal ou familiar estamos frente a uma catástrofe social. Por todas suas consequências, a influência desproporcional que traz o câncer na vida das mulheres merece maior atenção.

O câncer de mama é o mais comum entre todos os tumores e sua incidência deve aumentar nas próximas décadas, assim como sua mortalidade. O câncer de colo de útero mata 300.000 mulheres em todo o mundo a cada ano, 90% delas em países em desenvolvimento. Dados das Nações Unidas indicam que mais de 4 milhões de mulheres morrem por câncer anualmente, deixando mais de 1 milhão de órfãos. O impacto é maior em países de baixos recursos, onde o diagnóstico precoce e o tratamento mais eficaz estão mal distribuídos ou não são acessíveis particularmente em populações marginalizadas. Existe uma associação entre a morte de uma mãe e mortalidade infantil. A estimativa é que para cada 100 mulheres que morrem por câncer em países africanos, 14-30 crianças morrem como consequência.

Mulheres dedicam 2 a 10 vezes mais tempo em trabalho não remunerado do que homens e reconhecidamente têm um papel fundamental e pouco valorizado no funcionamento social. Sociedades que cuidam de suas mulheres são mais saudáveis e têm um futuro mais próspero e produtivo.

O aumento na incidência e na mortalidade por câncer não é inevitável. Obesidade, álcool e sedentarismo, entre outros fatores de risco, podem e devem ser alvo de estratégias preventivas. Temos que enfrentar o estigma e os mitos associados com a doença e que resultam em diagnósticos tardios. De acordo com a OMS, detectar tumores de mama com menos de 2 cm aumenta as chances de cura e resulta numa diminuição progressiva da mortalidade. Devemos identificar iniquidades e corrigi-las, educar a sociedade e mudar nossa percepção com relação ao câncer na mulher e a profundidade de suas consequências, para todos. Mulheres mais cuidadas e com mais saúde representam um futuro melhor para todos nós. 

Fonte: http://sissaude.com.br/sis/inicial.php?case=2&idnot=37911

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Comparação entre 04 suplementos proteicos: Whey, caseína, proteína da soja e colágeno - Por Dra. Lia Bataglini

 

A verdade que não te contaram sobre os Implantes hormonais - Por Dra. Natália Jatene