domingo, 17 de fevereiro de 2013

Agrotóxicos e a poluição das águas


A utilização de agrotóxicos é a 2ª maior causa de contaminação dos rios no Brasil, perdendo apenas para o esgoto doméstico, segundo dados do IBGE. Considerando que a agricultura é o setor que mais consome água doce no Brasil, cerca de 70%, segundo o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), pode-se dizer que além de sérios problemas para a saúde, os agrotóxicos também se transformaram em um grave problema ambiental no país.
De acordo com o engenheiro agrônomo e professor da Universidade Estadual de Campinas, Mohamed Habib, “hoje o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo, embora não seja o maior produtor”. Atualmente o Brasil utiliza 19% de todo defensivo agrícola produzido no planeta, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Além disso, mais de 99% dos venenos aplicados na lavoura não atingem a praga alvo. Então, pode-se dizer que mais de 99% dos agrotóxicos vão para os rios, para o solo, para o ar e para a água subterrânea”, afirma Habib.
Para o especialista em instrumentação ambiental e hidrológica, Mauro Banderali, “Embora a disponibilidade de água no Brasil seja imensa, é preciso garantir sua qualidade para as gerações futuras. Por isso, ao detectar o aparecimento de resíduos de agrotóxicos nas reservas de água subterrânea e superficial, é necessário tomar medidas para evitar o agravamento do problema. Quando a água é contaminada por defensivos agrícolas, sua detecção e descontaminação é mais difícil e custosa. De modo geral, esses químicos raramente são analisados ou removidos das águas, tornando-se uma ameaça à saúde de todos que a ingerem, particularmente para substâncias cumulativas”.
Consequências para a vida aquática
A água poluída com agrotóxicos irá prejudicar diretamente a fauna e a flora aquática. “A contaminação das águas pelos agrotóxicos tem efeito direto nos seres vivos que vivem na água, a biota de um modo geral. Se o veneno que chega nas águas for o herbicida, o efeito é direto e pode, por exemplo, matar as plantas aquáticas. Se o rio for contaminado por um veneno que mata animais, pode ocorrer a morte de algumas espécies de peixes menores”, explica o professor.
Além dos efeitos diretos, o carregamento de agrotóxicos pelos rios e lagos, também traz alguns efeitos indiretos para a biota aquática e para a saúde humana. “Alguns peixes armazenam os agrotóxicos no tecido adiposo e por isso, não sofrem danos diretamente. No entanto, quando nós compramos esse peixe contaminado com veneno e o ingerimos, algumas pessoas podem passar mal e sofrer algum tipo de intoxicação (envenenamento). Tem muita gente que compra peixes pequenos para dar para seu gato de estimação e o animal chega até a morrer”, alerta Habib.
Os compostos orgânicos, ao entrar em contato com a água, provocam um aumento no número de microrganismos decompositores. De acordo com o especialista Mauro Banderali, “além de estarmos criando um ambiente de restrição da vida, ainda criamos uma armadilha para as populações que se utilizam desta água, em razão de inúmeros defensivos agrícolas utilizarem em sua formulação compostos orgânicos altamente estáveis e lipossolúveis, depositando-se preferencialmente nas gorduras dos animais. Por ingestão da água ou de animais que dela dependem, estamos acumulando estes defensivos em gorduras do corpo que jamais serão eliminadas em vida”.
Ao serem carregados pelas águas superficiais, os agrotóxicos passam a fazer parte do do ciclo natural da natureza. Segundo o professor da Unicamp, “quando se trata de água corrente, o veneno vai fazer parte de um ciclo e um dia vai chegar ao oceano. Ainda hoje, análises nas geleiras polares mostram que naquele gelo existe DDT, um veneno proibido há muitos anos. Isso é pra se ter uma ideia do processo: saiu da lavoura através da chuva, passou pelos rios e mar e através das correntes marítimas, chegou às geleiras”, comenta Mohamed Habib.
O Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) foi o primeiro veneno moderno, sintetizado em 1874 e utilizado como pesticida a partir de 1939. Após a Segunda Guerra Mundial, foi usado em larga escala para combater os mosquitos da malária. O DDT foi banido de vários países na década de 70, após estudos comprovarem sua relação com casos de câncer. No Brasil, seu uso foi proibido na agricultura em 1984, porém sua produção em larga escala, uso como medicamento e exportação foram permitidos até 2009 ,conforme lei federal nº. 11.936 de 14 de maio de 2009. De acordo com o professor Mohamed Habib, “alguns tipos de venenos como é o caso dos organoclorados, venenos utilizados antigamente por produtores rurais, apesar de serem proibidos, continuam sendo aplicados e usados ilegalmente”. Os organoclorados são os inseticidas que mais persistem no meio ambiente, chegando a permanecer por até 30 anos.
Segundo o especialista em instrumentação ambiental, Mauro Banderali, é preciso conhecer a qualidade das águas nas regiões influenciadas pela agricultura. “Uma das maneiras de avaliar os impactos dos defensivos agrícolas nos recursos hídricos consiste no monitoramento desses resíduos. Atualmente, já existem tecnologias que monitoram e mensuram parâmetros físico-químicos na água e são aplicados no monitoramento geral da sua qualidade, porém moléculas químicas específicas, se faz necessário o apoio de laboratórios especializados para sua detecção.
Problema brasileiro
Para Mohamed, o Brasil é um país sem conscientização do problema em relação aos demais. “Estamos falando de países com uma situação melhor que a nossa: Europa, América do Norte e alguns países asiáticos como o Japão. Esses países têm consumidores muito mais conscientes em relação à utilização de agrotóxicos que cobram essa postura de seus governos. Portanto, os governos também são mais conscientes, não formam lobbys como no Brasil. O setor industrial também é mais consciente, não é como o Brasil que faz de conta que não está acontecendo nada e continua abusando da utilização dos agrotóxicos”, comenta o professor.
Segundo Habib, a utilização de agrotóxicos hoje é uma prática condenada, “porque a ciência coloca à disposição vários outros métodos de produção. Basta investir. Basta a sociedade humana valorizar um pouco mais a vida, pois hoje estamos pagando muito caro pelas irresponsabilidades do passado”.
Ingestão de agrotóxicos e saúde
Pela água ou através do próprio consumo de alimentos, a ingestão de venenos agrícolas pode ocasionar diversos tipos de doenças, seja ela em grandes ou pequenas quantidades. Conforme explica o professor da Unicamp e engenheiro agrônomo, Mohamed Habib, “dependendo do tipo de veneno, os efeitos para a saúde humana são morte, envenenamento estomacal, problemas no sistema nervoso, convulsões, lesões nos rins e cânceres. Esse efeito pode ser agudo, imediato ou crônico, a curto, médio ou longo prazo. As consequências podem aparecer também nos filhos e netos dessa pessoa, principalmente quando se trata das doenças cancerígenas e tumores”.
Fonte: Redação Ag Solve, por Larissa Stracci

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Suplementos alimentares ‘emagrecedores’: Por trás da promessa de milagre, o pesadelo


Pessoas que consumiram produtos vetados no Brasil, como OxyElite Pro, Jack 3D e Lipo-6 Black, atestam as consequências nocivas à saúde que esses compostos provocam, como taquicardia, hipertensão e dependência. Em Recife, um jovem morreu. Matéria de Mariana Labossière e Adriana Bernardes, no Correio Braziliense, socializada pelo ClippingMP.
Um corpo perfeito em doses homeopáticas. Apenas alguns gramas para um dia inteiro de disposição. As promessas impressas nos rótulos de suplementos alimentares, como OxyElite Pro, Jack 3D e Lipo-6 Black, vetados no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), jogam para escanteio os riscos devastadores dessas substâncias. Os danos ao metabolismo são apenas um detalhe diante da perda irreparável de um ente querido. Por trás da obsessão por resultados estéticos, o Correio desvenda histórias de pessoas que sentiram na pele os efeitos colaterais do consumo (Leia depoimentos).
A secretária Adriana Martins, 42 anos, comprou o OxyElite na esperança de emagrecer. Foram 15 dias de uso, horas de malhação pesada e cinco quilos a menos. “Eu não ficava cansada. Em um sábado, passei a manhã toda me exercitando. Cheguei na academia às 7h e saí ao meio-dia”, relata. A sensação de atingir o objetivo, entretanto, mascarou os perigos do composto. “Os sinais estavam todos ali. Tinha fortes dores na nuca que se transformavam em dores de cabeça, além de taquicardia. A agitação acabava me deixando nervosa, mas só depois descobri que estava tomando uma verdadeira bomba”, acrescenta.
O sinal vermelho veio com uma alteração repentina da pressão. Adriana resolveu buscar um especialista. Ela descobriu que estava hipertensa. Nos seis meses seguintes, teve de ser acompanhada por um cardiologista e um endocrinologista. “Eu não tinha nenhum histórico, por isso, os médicos disseram que o problema foi desencadeado pelo OxyElite”, explica.
E essa não foi a única consequência. Após interromper o uso do composto, Adriana, que pesava 78 kg antes das cápsulas, viu a balança marcar 12 quilos a mais. “Ele causa esse efeito sanfona, pelo que me explicaram. Na hora da empolgação, você não pensa nisso. Fiquei com muito medo de ter problemas para o resto da vida. Confesso ter me arrependido”, expõe. Embora não tenha perdido o peso extra, depois de um longo tratamento, afirma ter voltado à vida normal.
Diante do susto, a secretária, mãe de três filhos, um deles adepto à suplementação, faz reuniões frequentes com a família. Segundo ela, o intuito é alertá-los sobre os malefícios de alguns produtos. “Eu nunca iria deixar um filho meu passar por algo parecido. Num primeiro momento, parece ser sonho, mas você acorda num pesadelo.”
Para a família Sampaio, a tragédia chegou primeiro que o alerta. “Antes de você ligar, estava olhando as fotos dele”. A voz carregada de saudades, do outro lado da linha, é de uma mãe. Em maio próximo, completam dois anos desde a morte do filho, que aconteceu em maio de 2011. Wilson Sampaio Júnior tinha 18 anos quando foi encontrado sem vida pelos pais dentro do banheiro de casa, em Recife (PE). O casal atribui o episódio ao consumo do Jack 3D, vendido ao rapaz por um instrutor de academia.
Gás
O professor de musculação Vitor Ferreira dos Santos, 29 anos, admite que o consumo dos produtos é arriscado. Ele diz já ter usado tanto o Jack 3D como o OxyElite Pro e o Lipo-6 Black. Todos eles antes do veto do órgão sanitário. Com o primeiro, conseguiu perder 2 quilos de gordura em duas semanas e, com o segundo, chegou ao limite da resistência. “Todos me deram mais gás para malhar, mas eu fazia acompanhamento. Era tudo certinho. Agora, a maioria das pessoas não sabe administrar o produto e acaba abusando na dosagem. Já vi pessoas tomando mais de seis cápsulas por dia. Não tem como não passar mal desse jeito”, pontua. “É perigoso porque todos aumentam o batimento cardíaco. Além disso, pode causar dependência”, completa. Santos afirma ter abandonado o consumo desses suplementos. Hoje, o profissional diz optar por produtos similares, inclusive de marcas nacionais.
A professora de dança Júlia Satiê, 29 anos, foi apresentada ao OxyElite pelo namorado. Para aguentar mais de 12 horas de serviço, começou a tomar o composto por conta própria. “Fiquei antenada, trabalhava sem cansaço. A minha parte sensorial também ficou muito aguçada. Em contrapartida, andava nervosa e ele me causou uma certa dependência psicológica, pois andava com o suplemento na bolsa, para ter segurança”, revelou. O uso frequente, no entanto, foi interrompido depois de uma aluna mencionar a possibilidade de o suplemento causar falência renal. “Fui pesquisar sobre o assunto e descobri que ele estava proibido. Tomei um susto. Fiquei com medo e hoje busco meios mais naturais de melhorar meu desempenho”, garante. Os depoimentos reforçam o perigo dos produtos, mostrado pelo Correio em uma série de reportagens sobre o assunto iniciada há uma semana.
Sonho destruído de um atleta
Wilsinho, como era carinhosamente chamado pela família, sonhava em ser jogador de futebol profissional. Durante 10 anos, batalhou pelo sonho. Chegou a jogar pelo juvenil do Sport Club, em Recife, e estava prestes a ingressar no time juniores do Santa Cruz. O esforço que durou uma década, no entanto, acabou em apenas uma mês de uso de suplementação. “Ficamos cego. Não acreditamos que algo recomendado por um pessoa em uma academia poderia fazer mal. Infelizmente, só percebemos tarde demais”, desabafou a mãe de Wilsinho, a funcionária pública Marcelle Sampaio, 42 anos. Desde a morte do filho, tanto ela quanto o pai do menino, o dentista Wilson Sampaio, 50, lutam em Pernambuco para que outros jovens não passem pela mesma situação.
Para Marcelle, o consumo de suplementos deve ser observado de perto pelos pais. Ela ressalta ainda a importância de um acompanhamento especializado por parte do nutricionista. “À época, ficamos preocupados, pois sabíamos o que meu filho estava fazendo, mas não tínhamos ideia do que poderia acontecer. O rótulo do produto ainda estava em inglês, não conseguíamos ler”, mencionou. “Os pais devem ir nas academias e verificar os profissionais que acompanham os filhos e também o suplemento que eles irão tomar. Às vezes, até o que é vendido na farmácia não está correto”, completou a mãe, que mora em Recife.
Indiciamento
O professor estagiário José Dorgival Cavalcanti Júnior foi indiciado pela Delegacia do Consumidor de Pernambuco por comercializar o Jack 3D. Além responder pela venda, ele poderá cumprir pena por crime contra a saúde pública e pegar até 15 anos de prisão. Por ora, está solto. Para Marcelle, a falta de tecnologia suficiente no Brasil impediu que fosse possível identificar a substância do suplemento alimentar no corpo do filho. Com isso, Cavalcanti acabou não respondendo por homicídio culposo — quando há intenção de matar. A mãe ainda tem esperança de que a comprovação aconteça em laboratório estrangeiro. “Quero provar para o Brasil todo que meu filho morreu por isso.” (ML)
Legislação
Por conta do caso de Wilson, uma lei sancionada em abril de 2012 determina que as academias do estado de Pernambuco exibam avisos sobre o risco do uso de suplementos alimentares sem consulta médica. No Distrito Federal, existe uma lei similar que trata sobre anabolizantes, mas ainda falta ser regulamentada.
Depoimentos
Lojas continuam oferecendo”
“A procura pelo OxyElite sempre foi grande na loja onde eu trabalho. Com a proibição, no entanto, as lojas continuaram oferecendo o suplemento alimentar, mas de forma camuflada. Com isso, os prejuízos foram incalculáveis, pois era grande a saída desse produto. Até hoje, as pessoas ligam querendo, perguntando se funciona, mas optamos por vender similares, que não têm as substâncias proibidas. Procurávamos indicar o OxyElite para pessoas com boa saúde. Sempre perguntávamos o histórico dela antes, pois claro que não iríamos vender para um hipertenso, mas isso não acontecia em todas as lojas.” Sócio-proprietário de uma loja de suplementos, que preferiu ter a identidade preservada
Tem efeitos colaterais”
“Consegui perder dois quilos em duas semanas, mas não achei legal. Foi muito rápido e temi os riscos. Além disso, tem todos os efeitos colaterais, o coração acelerado, dá gastrite também. Eu tomava uma cápsula apenas e meu intuito era perder peso, mas também malhava, fazia uma dieta. A gente sabe, entretanto, que nem todas as pessoas fazem isso. De toda forma, o OxyElite, assim como qualquer outra substância em excesso, faz mal.” Paulo Henrique Açunção Leal, 24 anos, professor de educação física
EcoDebate, 21/01/2013

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Na contramão das atitudes sustentáveis: a obsolescência programada, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira


Obsolescência programada é um conceito que preconiza diminuir a vida útil de um produto para “forçar” o consumo de versões mais recentes ou modernas, estimulando assim o consumismo, descartando, com isso, o conserto. Esse termo é originário do processo de “descartalização” criado a partir da década de 1930 por algumas economias capitalistas europeias no intuito de movimentar a “máquina econômica” com mais produção, uma vez que o estoque de produtos que se encontrava totalmente parado nas fábricas e, principalmente, nos portos, devido à Grande Depressão Econômica de 1929, fez travar o giro da economia.

O produto mais ilustrativo dessa prática (e dessa época) foi a lâmpada. Nos anos 1920, uma simples lâmpada durava mais de 2500 horas. Percebendo, nesse caso, que as vendas seriam bem menores dada a elevada durabilidade do produto, os fabricantes rapidamente trataram de dar uma vida útil bem baixa a esse produto. Pouco tempo depois, o ciclo de vida desse produto caia para menos de 1000 horas.

De acordo com o documentário The Lightbulb Conspiracy (A Conspiração da Lâmpada) dirigido por Cosima Dannoritzer, fabricantes de lâmpadas se reuniram para definir padrões de produção que aumentariam o consumo. Empresas de variados segmentos produtivos descartaram projetos cujo foco era a durabilidade; designers criaram (e ainda criam; vide os celulares e os notebooks, por exemplo) produtos que ficariam defasados em curto espaço de tempo e chips foram colocados em impressoras para contar o número de impressões, dimimuindo-as para pouco tempo. Aos poucos, além das lâmpadas e impressoras outros produtos foram ganhando essa mesma tendência; em especial, os eletroeletrônicos e suas múltiplas versões e a indústria de confecção que “força” uma nova moda e tendência (incluindo estilos e, principalmente, cores de roupas) a cada estação do ano.

Na verdade, a prática da obsolescência programada (proposital curta vida útil) se configura numa maquiavélica estratégia de mercado, tendo em vista que em alguns casos o conserto, propositadamente, é mais caro, o que inevitavelmente faz com que os consumidores não tenham alternativas, a não ser partir para uma nova compra. Isso nada mais é do que uma manipulação das indústrias em prol do ato de consumir. Em outras palavras, é andar na contramão das atitudes sustentáveis, enaltecendo assim um profundo desrespeito das indústrias para com os consumidores, com o planeta e com a natureza.

Na prática, alguns segmentos produtivos que ainda adotam esse procedimento incorrem na “necessidade” de forçar mais produção e, portanto, mais poluição, tanto no ato da produção quanto no descarte. É a economia que não quer parar de crescer, trazendo em seu rastro dilapidação ambiental. Essa prática nada recomendável embute um desajuste sobre a atividade econômica que resvala sobremaneira na capacidade do planeta em suportar produções em escalas cada vez mais alucinantes. Nesse pormenor, é importante lembrar que a humanidade já está consumindo 30% a mais do que o planeta é capaz de repor e é preciso que haja uma redução em até 40% nas emissões de gases de efeito estufa para que a temperatura não suba mais do que 2º C.

O forte apelo ao consumo se concentra basicamente nas mãos de 20% da humanidade que “engole” 80% de tudo o que é produzido no planeta, demandando recursos naturais que a natureza não é capaz de prover. Lamentavelmente, a obsolescência programada tem contribuído muito para isso.

Marcus Eduardo de Oliveira, Articulista do Portal EcoDebate, é Economista e Professor. Mestre pela USP em Integração da América Latina. prof.marcuseduardo@bol.com.br

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/01/31/na-contramao-das-atitudes-sustentaveis-a-obsolescencia-programada-artigo-de-marcus-eduardo-de-oliveira/

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Estudo indica responsabilidade parcial de pesticidas na queda da população de anfíbios


A queda importante na população mundial de rãs e sapos pode ser parcialmente atribuída ao uso de pesticidas, alertaram esta quinta-feira cientistas na Alemanha. Matéria da AFP, noYahoo Notícias.
Testes com fungicidas e inseticidas, quando usados nas proporções recomendadas, mataram 40% das rãs após sete dias e, em um caso, 100% dos anfíbios após apenas uma hora, afirmaram.
Os experimentos, realizados com apenas um pequeno número de animais, foram feitos por uma equipe chefiada por Carsten Bruehl, da Universidade de Coblenz-Landau, na Alemanha.
Eles capturaram 150 exemplares jovens de rã comum da Europa (“Rana temporaria”) e os expuseram a sete produtos agrícolas, com o objetivo de reproduzir em laboratório as condições encontradas no campo.
As rãs foram mantidas em grandes contêineres, com solo cultivado com cevada. O produto químico foi espargido uma vez, em uma quantidade que os cientistas dizem ser igual àquela que cairia em uma área similar de uma lavoura.
Foram aplicadas três tipos de doses: concentrações recomendadas, um décimo das concentrações recomendadas e 10 vezes as concentrações recomendadas.
A substância mais tóxica, segundo o estudo, foi o fungicida Headline, usada para evitar fungos em cultivos de soja e trigo. Na dose recomendada, ela matou todas as rãs usadas no teste no intervalo de uma hora.
Apenas 5 rãs foram usadas em cada experimento e os animais foram usados cuidadosamente, obedecendo a critérios éticos.
Em cada experimento, apenas três rãs foram inicialmente expostas à substância e se elas sobrevivessem por 24 horas, as outras duas eram incluídas no experimento. Se as três morressem antes de 24 horas, as outras duas não eram inseridas.
Segundo a respeitada “Lista Vermelha” da biodiversidade ameaçada, 41% das espécies de rãs e sapos estão em risco de extinção.
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que compila a lista, culpa a perda de hábitat, a poluição, incêndios, as mudanças climáticas, doenças e a superexploração da terra.
Mas o novo estudo, publicado na revista Scientific Reports, destacou que o dano colateral dos pesticidas não foi considerado.
Segundo a pesquisa, os anfíbios são especialmente vulneráveis a estes produtos químicos porque sua pele é altamente permeável.
“A toxicidade demonstrada é alarmante e um efeito negativo em larga escala da exposição terrestre a pesticidas nas populações de anfíbios parece provável”, alertou o artigo

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Cientistas investigam impacto de plástico que se degrada nos oceanos


Uma equipe da BBC que fazia um documentário no ano passado sobre vida marinha encontrou lixo plástico que viajou milhares de quilômetros pelo oceano até parar no outro lado do planeta, em uma ilha remota a noroeste do Havaí.

O grupo de documentaristas e biólogos encontrou tartarugas que faziam ninhos no meio de garrafas plásticas, isqueiros e brinquedos. E descobriu filhotes de albatrozes mortos ou à beira da morte porque seus pais os haviam alimentado com plástico.

Alguns dos filhotes morrem quando objetos pontiagudos perfuram seus corpos, outros por fome, com seus estômagos cheios de plástico que não conseguem digerir.

Sabemos há algum tempo que o plástico é uma ameaça aos albatrozes, mas quão perigoso é o lixo plástico para outras espécies – inclusive o homem?

Parte do plástico encontrado nos nossos oceanos foi jogada no mar ilegalmente. Uma outra porção é lixo da pesca, mas a maioria vem da terra, de lixões mal administrados e de lixo industrial.

O lixo que flutua nos mares é carregado por grandes sistemas de correntes marítimas rotativas, como grandes redemoinhos, impulsionados pelo movimento de rotação da Terra e os ventos.

O arquipélago do Havaí está situado no meio de um desses sistemas, conhecido como o Giro do Pacífico Norte – um entre cinco sistemas interconectados de correntes oceânicas.

Cada um desses sistemas forma uma espiral, girando em torno de um ponto central, levando detritos para o seu interior.

Essas espirais também podem expelir materiais em direção aos continentes Ártico e Antártico, espalhando o plástico por todo o planeta.

O plástico é feito para durar, por isso, se degrada muito lentamente nos mares, despedaçando-se em fragmentos cada vez menores. Esses pedaços minúsculos de plástico são conhecidos como microplástico.

Mudanças hormonais

Fragmento de plástico encontrado no mar; material causa perigo ao ecossistema

Para demonstrar o que acontece com o plástico que se degrada no oceano, o especialista em poluição marinha Simon Boxall, do Centro Nacional de Oceanografia britânico em Southampton, na costa sul da Grã-Bretanha, filtrou 400 toneladas de água do mar e levou os detritos para análise em seu laboratório.

A olho nu, era possível ver lama, galhos e penas. Mas observada ao microscópio, a amostra continha pequenas partículas de plástico.

Havia pedaços de cordas plásticas, sacolas e fragmentos coloridos, alguns com forma pontiaguda. Algumas das partículas tinham menos de um milímetro de espessura, o mesmo tamanho de organismos vivos presentes na amostra – fitoplâncton (organismos vegetais) e zooplâncton (organismos animais).

“Tem havido muita pesquisa nos Estados Unidos para investigar como o plástico entra na cadeia alimentar”, diz Boxall. “Certamente foi demonstrado que ele entra nos bivalves, moluscos e ostras no fundo do mar, e exerce um efeito sobre eles.”

“Eles acumulam biologicamente o plástico na medida em que filtram a água. Isso concentra o plástico e efetivamente transforma alguns dos moluscos em hermafroditas”, afirma. “Há alguns anos, achávamos que aquilo era só fibra, e que não havia grande impacto, mas sabemos agora que essas partículas muito pequenas podem imitar coisas como o estrogênio.”

O pesquisador acrescenta, no entanto, que o efeito verdadeiro ainda não é conhecido.

“Essas partículas plásticas são como esponjas, são ímãs que atraem contaminação, coisas como o tributilestanho (substância extremamente tóxica, usada em pinturas de barcos). As minúsculas partículas absorvem esses materiais e efetivamente se tornam muito tóxicas”, descreve Boxall.

“Não sabemos ainda se isso depois tem impacto sobre a cadeia alimentar. Ainda é cedo para saber quão longe na cadeia alimentar essas partículas plásticas penetram.”

Efeito desconhecido

Muitos albatrozes morrem após a ingestão de plástico

Especialistas do centro de Ecologia e Biologia Marinha da Universidade de Plymouth, na Grã-Bretanha, estudam o impacto de poluentes sobre oceanos e rios e sobre as criaturas que os habitam. O cientista Richard Thompson, que trabalha no centro, foi o primeiro a descrever os minúsculos fragmentos de plástico como ‘microplásticos’, já em 2004.

“Há duas preocupações do ponto de vista toxicológico”, diz Thompson. “Há o fato de que plásticos são conhecidos por absorver e concentrar substâncias químicas da água do mar.”

“E a segunda questão diz respeito a substâncias químicas que foram introduzidas nos plásticos desde o momento da fabricação para a obtenção de qualidades específicas, como flexibilidade, ou substâncias retardadoras de chama e antimicrobianas.”

Com o plástico disperso na natureza em pequenos fragmentos, resta saber se existe a possibilidade de que essas substâncias químicas também sejam liberadas no meio ambiente.

E a resposta, segundo Thompson, é que são necessárias mais pesquisas sobre o assunto.

A equipe do especialista examinou peixes encontrados no Canal da Mancha, cerca de 500 indivíduos de dez espécies diferentes, entre eles, a cavala e o poor cod (peixe da família do bacalhau). Os resultados do estudo foram publicados no Marine Pollution Bulletin (Lusher et al, MPB, December 2012).

“Encontramos plástico microscópico nas vísceras de todas as espécies, mas em quantidades relativamente baixas – uma ou duas partículas por peixe – então certamente não há um risco do ponto de vista da população humana que consome esses peixes porque normalmente não comemos as vísceras”, afirma Thompson.

Mas se o plástico em si não é consumido por humanos, haveria perigo de contaminação da carne do peixe pelas substâncias tóxicas contidas no plástico, e por consequência, do homem que come o peixe?

Thompson diz que ainda não é possível saber. “As quantidades de plástico que estamos encontrando são tão pequenas que qualquer risco do ponto de vista do consumo humano é inexistente, ao menos pelo que sabemos no momento”, diz o pesquisador. “Obviamente, isso é algo que precisamos pesquisar mais.”

O especialista acrescenta, no entanto, que a equipe quer saber se o plástico representa um perigo para os animais que o ingerem, tanto por sua presença em seus organismos como pela possibilidade de que ele transporte consigo substâncias químicas nocivas.

Portanto, se por um lado o impacto do alastramento do lixo plástico pelos mares pode ser avaliado por especialistas que estudam a vida marinha em lugares remotos como o Havaí, o efeito do plástico “oculto” espalhado pelos oceanos é mais difícil de avaliar.

 Matéria de Susan Watts, Editora de Ciência do Newsnight, BBC News, reproduzida pelo EcoDebate, 04/02/2013

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/02/04/cientistas-investigam-impacto-de-plastico-que-se-degrada-nos-oceanos/

Sobre milho transgênico, câncer e festinhas


A sisuda revista norte-americana Food and Chemical Toxicology, uma referência em toxicologia de alimentos, publicou nesta semana os resultados de um estudo ( http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278691512005637 )  realizado pela equipe do francês Gilles-Éric Séralini, professor de biologia molecular na Universidade de Caen (França), que coloca em xeque a segurança dos alimentos transgênicos.

Os pesquisadores observaram, durante dois anos, 200 ratos alimentados com milho transgênico OGM NK603 e água contendo o herbicida Roundup, ambos produzidos pela empresa Monsanto, e mediram mais de cem parâmetros diferentes. Foi a primeira vez que uma equipe de pesquisa acompanhou efeitos de transgênicos por um período tão longo – algo bem diferente do que os estudos de três meses realizados pelos próprios fabricantes para atestar a inocuidade de seus produtos e obter autorização de comercialização por parte das agências reguladoras.

Os 200 ratos foram divididos em 10 grupos de 10 fêmeas e 10 machos cada. Seis dos grupos receberam diferentes doses (11% a 33%) do milho desenvolvido pela Monsanto para ser resistente ao herbicida Roundup. O milho oferecido a alguns dos grupos havia também sido pulverizado com Roundup no campo. Três outros grupos receberam água com diferentes doses de Roundup, sendo a menor delas compatível com a concentração do composto presente na água de torneira nos Estados Unidos, segundo os autores do trabalho. O grupo controle e natureba recebia água potável sem Roundup e comia milho não transgênico.

Todos os ratos expostos ao herbicida e/ou ao milho transgênico começaram a desenvolver pesadas patologias a partir do 13º mês da experiência e morreram mais cedo que os ratos do grupo controle. Nas fêmeas, apareceram tumores mamários em cadeia que chegavam a atingir 25% do peso corporal. Já nos machos, foram órgãos como fígado e rins que apresentaram anomalias facilmente notadas ou severas, cuja frequência foi 2 a 5 vezes maior que nos ratos submetidos ao regime natureba.

No 24º mês, ou seja, no fim da vida dos ratos, de 50% a 80% das fêmeas expostas ao milho transgênico apresentaram tumores, contra apenas 30% das fêmeas não expostas. Um ano de vida de um rato equivale a cerca de quarenta anos da vida de um humano. Portanto, é como se um estudo com 200 humanos tivesse sido realizado do nascimento aos 80 anos.

O problema é o ‘se’. Não há qualquer estudo dessa natureza e duração com humanos. A rigor, os ratos deveriam então ficar mais preocupados do que nós, certo? Há controvérsias. Afinal, se não há estudo controlado, independente e de longa duração que comprove a segurança dos transgênicos para os humanos, então somos todos ratos. Sem ofensa – digo ratos no sentido de ‘cobaias’. Já estamos consumindo alimentos transgênicos há algum tempo, e a rotulagem (ou não) e visibilidade (ou não) do logo na embalagem, indicando a presença de transgênicos no produto, foi e continua sendo objeto de cruentas batalhas judiciais.

Questionamentos

A revista Food and Chemical Toxicology é indexada em inúmeras bases de dados bibliográficos e os trabalhos ali publicados são previamente submetidos ao crivo de revisores anônimos, que são cientistas do ramo e declaram não ter conflito de interesses na questão ou relação próxima com os autores. Suponho que, nesse caso, devido à inevitável exposição midiática que o tema suscitaria (leia matérias publicadas no Le Monde, Le Nouvel Observateur, The New York Times e The Scientist), três a quatro revisores tenham sido requisitados.

Ok, a revista é séria e o estudo foi longo. Mas é um só e, como qualquer estudo, não é inquestionável. E os questionamentos chegaram em velocidade recorde: a linhagem de ratos utilizada seria mais suscetível a desenvolver tumores que as demais; a estatística teria deixado a desejar; não teriam sido medidos todos os parâmetros relevantes; se transgênicos fossem tão perigosos, os norte-americanos já deveriam todos ter caído fulminados; e por aí vai.

Outra questão é que deveria haver também uma clara relação entre as doses de Roundup consumidas e seus efeitos, o que não ocorreu, já que o estudo mostrou nesse caso que o fator determinante foi a exposição ou não ao herbicida e que as baixas doses provocavam efeitos semelhantes aos das altas doses. Os próprios autores concordam que essa relação entre dose e efeito é o que se espera de substâncias que são disruptores endócrinos, como sugerido pelo tipo de efeito observado no estudo.

Mas esse padrão esperado também não condiz com o aparecimento dos efeitos a partir da exposição isolada ao milho transgênico. Segundo os pesquisadores, a explicação para esse fato é que a construção genética dessa variedade patenteada de milho reduziria a produção de uma enzima responsável pela síntese de aminoácidos aromáticos que têm efeito protetor contra a cancerização.

Sigilo total

A história da pesquisa é digna de um filme de suspense e se desenrolou de forma tortuosa. As espigas do milho transgênico patenteado NK603 foram obtidas numa escola agrícola canadense em 2007 e exportadas para a França como sacos de juta. A preparação da comida dos ratos correu em total segredo e os próprios técnicos envolvidos nessa e em outras etapas do estudo não conheciam o verdadeiro objeto da pesquisa.

O projeto foi chamado de In vivo. Os e-mails trocados pelos pesquisadores entre si eram tão criptografados quanto os do Pentágono, não havia conversas telefônicas sobre a pesquisa e, para desviar a atenção, ainda anunciaram um estudo fajuto sobre tema correlato – assim como fazem os peões pantaneiros, que lançam um boi velho às piranhas enquanto o resto da manada cruza a água em segurança.

Os cuidados se justificavam pelo arsenal que a indústria da biotecnologia agrícola exibe para calar vozes dissonantes. Basta lembrar que o nosso Ministério da Agricultura(!) já processou o nosso Ministério da Saúde(!) para impedir que este realizasse testes toxicológicos com pesticidas proibidos na maioria dos países civilizados mas ainda em uso no Brasil.

O estudo francês também sofreu críticas por sua divulgação coincidir com o lançamento – previsto para 26/9 – do livro Todos cobaias, escrito pelo principal autor da pesquisa, e ainda de um filme de mesmo nome dirigido por Jean-Paul Jaud, que já havia realizado outro filme sobre o tema, Nossos filhos nos acusarão.

Bruce M. Chassy, professor emérito em ciência de alimentos na Universidade de Illinois (Estados Unidos), declarou por e-mail: “Isso não é uma inocente publicação científica, é um evento midiático bem planejado e espertamente orquestrado”.

É verdade, professor, não existem publicações inocentes, nem cientistas inocentes. A não ser, talvez, aqueles que creem que as indústrias nos contam tudo sobre seus produtos, não compram apoios científicos, políticos e midiáticos e não tentam calar os eventuais dissidentes, estejam onde estiverem. (Para apimentar esse debate, recomendo o imperdível livro O mundo segundo a Monsanto, de Marie-Monique Robin.)

O estudo da equipe do prof. Séralini custou a bagatela de 3 milhões de euros e foi financiado pela Fundação Charles-Léopold Mayer (Suíça), pela associação Ceres (que reúne notadamente as grandes redes francesas de varejo alimentar como Carrefour e Auchan – que interessante), pelo ministério francês de pesquisa e pelo Comitê de Pesquisa e de Informação Independentes sobre Engenharia Genética (Criigen), entidade francesa que milita contra as biotecnologias.

O estudo torpedeia uma verdade oficial: a segurança do milho e outros alimentos geneticamente modificados
Seja como for, o estudo é uma bomba de fragmentação política, científica, sanitária e industrial. Torpedeia uma verdade oficial: a segurança do milho e outros alimentos geneticamente modificados. E reacende desde já a briga entre os defensores e os detratores dos transgênicos, que doravante se dividirá nos períodos pré e pós estudo da equipe do prof. Séralini.

Em tempo: entrevistado pelo jornal Frances Le Monde, o prof. Séralini afirmou que, ao contrário do que ocorre com os dados brutos de estudos dos fabricantes, protegidos por conveniente segredo industrial, aqueles de sua pesquisa serão colocados à disposição da comunidade científica, dando assim a todos, incluindo os críticos do estudo, a oportunidade de analisá-los a seu bel prazer.

Não sei se o prof. Séralini é culpado de algo ou não, mas com certeza ele não é um inocente.

Talvez você esteja se perguntando: e as tais festinhas do título? São as viagens luxuosas, as recepções e os banquetes para os quais o prof. Séralini não era convidado. E continuará não sendo.

Autor: Jean Remy Davée Guimarães - Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho - Universidade Federal do Rio de Janeiro

Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/terra-em-transe/sobre-milho-transgenico-cancer-e-festinhas

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

OMS atualiza recomendação para ingestão de sal e potássio


Sal no corpo humano

Uma pesquisa divulgada ontem em primeira mão pelo Diário da Saúde mostrou que os cientistas agora compreendem um pouco mais o que acontece com o sal no corpo humano.

Logo a seguir, sem alegar conexão com a pesquisa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu uma nota alterando as orientações para a ingestão de sal e potássio por adultos e crianças.

Segundo as novas orientações, os adultos devem consumir menos de 2.000 miligramas (mg) de sódio - equivalente a 5 gramas de sal de cozinha -, e pelo menos 3.510 mg de potássio por dia.

Você sabe a diferença entre sal e sódio?

Atualmente, segundo a OMS, a maioria das pessoas consome muito sódio e pouco potássio.

Uma pessoa com níveis de sódio elevados ou com baixos níveis de potássio tem uma maior probabilidade de aumento da pressão arterial - hipertensão -, que por sua vez aumenta o risco de doenças cardíacas e acidente vascular cerebral.

Sódio e potássio nos alimentos

O sódio é encontrado naturalmente em uma grande variedade de alimentos, incluindo leite (aproximadamente 50 mg de sódio a cada 100 g de leite) e ovos (cerca de 80 mg/100 g).

Mas ele é encontrado em quantidades muito mais elevadas em alimentos industrializados, como bacon (cerca de 1.500 mg/100 g), salgadinhos, biscoitos e pipoca (aproximadamente 1.500 mg/100 g), assim como em condimentos tais como molho de soja (cerca de 7.000 mg/100 g) e caldo de carne (aproximadamente 20.000 mg/100 g).

Os alimentos ricos em potássio são: feijão e ervilha (cerca de 1.300 mg de potássio para cada 100 g), nozes (cerca de 600 mg/100 g), legumes, como couve, espinafre e salsa (cerca de 550 mg/100 g) e frutas como bananas, mamões e tâmaras (cerca de 300 mg/100 g).

O processamento reduz a quantidade de potássio em vários alimentos.

Fonte: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=recomendacao-ingestao-sal-potassio&id=8546

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Manter as florestas tropicais pode ser essencial para a circulação atmosférica no planeta


O que ‘cria’ o vento? Alguém vai dizer que as diferenças de temperatura são fundamentais. O ar quente sobe e é substituído por um ar mais fresco surgindo em baixo. Só que, talvez, a explicação encontrada em nos livros pode ser simplista.

E se, em vez disso, os ventos que impulsionam a circulação atmosférica forem criados principalmente pela condensação de umidade? Muito disso ocorre sobre as florestas tropicais, com a água que evapora ou é transpirada das árvores (evapotranspiração). Os físicos e engenheiros florestais por trás dessa ideia controversa dizem que a derrubada das florestas tropicais podem reduzir os ventos e, por consequência, as chuvas.

O processo físico em si não está em discussão. Sempre que o vapor de água condensa-se para formar gotas, o seu volume é reduzido, diminuindo a pressão. Ar se move, criando vento.

Os cientistas do clima sempre consideraram isso como um efeito trivial. Esta é crítica principal a esta teoria, desde que foi apresentada pela primeira vez há quatro anos . “Este não é um efeito misterioso. Ele é pequeno e incluído em alguns modelos atmosféricos”, diz Isaac Held do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), em Princeton, Nova Jersey.

Mas Anastassia Makarieva, da Universidade de São Petersburgo, na Rússia, diz que os gradientes de pressão “nunca ter receram uma investigação teórica”. Seus cálculos sugerem que a condensação de bilhões de litros de água acima de florestas gigantes produzem um efeito gigante ( Atmospheric Chemistry and Physics , doi.org / KBX ).

O co-autor Douglas Sheil, da Southern Cross University ,em Lismore, Austrália, diz que os críticos ainda têm de explicar por que eles acham que Makarieva está errado. Até por que, ele disse, “isso parece um poderoso mecanismo que rege os padrões climáticos ao redor do mundo”.

Judith Curry, do Instituto de Tecnologia da Geórgia, um dos autores do livro didático ‘Thermodynamics of Atmospheres and Oceans’ , é encorajador. “O processo que descreve é fisicamente correto”, disse ela. “A questão principal é a sua magnitude relativa em comparação com outros processos.”

Ninguém duvida que as florestas ‘reciclam’ a chuva através da evaporação e transpiração. Mas esta é a primeira sugestão de que este processo de reciclagem também influencia até os ventos que sugam o ar úmido do oceano entre os continentes.

As implicações são enormes. “Nas teorias padrão, se perdermos as florestas, a precipitação nos interiores continentais geralmente declina de 10 a 30 por cento. Em nossa teoria, é provável um declínio de 90 por cento ou mais”, diz Sheil.

Mas não são apenas más notícias. Se as florestas derrubadas forem replantadas, a teoria sugere, então, que os ventos que geram chuva podem voltar até mesmo para as terras mais áridas. Afinal, o Saara era um pantanal exuberante 6000 anos atrás.

Where do winds come from? A new theory on how water vapor condensation influences atmospheric pressure and dynamics

A. M. Makarieva1,2, V. G. Gorshkov1,2, D. Sheil3,4,5, A. D. Nobre6,7, and B.-L. Li2
1Theoretical Physics Division, Petersburg Nuclear Physics Institute, 188300, Gatchina, St. Petersburg, Russia
2XIEG-UCR International Center for Arid Land Ecology, University of California, Riverside, CA 92521, USA
3School of Environment, Science and Engineering, Southern Cross University, P.O. Box 157, Lismore, NSW 2480, Australia
4Institute of Tropical Forest Conservation, Mbarara University of Science and Technology, Kabale, Uganda
5Center for International Forestry Research, P.O. Box 0113 BOCBD, Bogor 16000, Indonesia
6Centro de Ciência do Sistema Terrestre INPE, São José dos Campos SP 12227-010, Brazil
7Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus AM 69060-001, Brazil

Abstract. Phase transitions of atmospheric water play a ubiquitous role in the Earth’s climate system, but their direct impact on atmospheric dynamics has escaped wide attention. Here we examine and advance a theory as to how condensation influences atmospheric pressure through the mass removal of water from the gas phase with a simultaneous account of the latent heat release. Building from fundamental physical principles we show that condensation is associated with a decline in air pressure in the lower atmosphere. This decline occurs up to a certain height, which ranges from 3 to 4 km for surface temperatures from 10 to 30 °C. We then estimate the horizontal pressure differences associated with water vapor condensation and find that these are comparable in magnitude with the pressure differences driving observed circulation patterns. The water vapor delivered to the atmosphere via evaporation represents a store of potential energy available to accelerate air and thus drive winds. Our estimates suggest that the global mean power at which this potential energy is released by condensation is around one per cent of the global solar power – this is similar to the known stationary dissipative power of general atmospheric circulation. We conclude that condensation and evaporation merit attention as major, if previously overlooked, factors in driving atmospheric dynamic

Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/02/04/manter-as-florestas-tropicais-pode-ser-essencial-para-a-circulacao-atmosferica-no-planeta/

sábado, 9 de fevereiro de 2013

"Desintoxicação é mudar a consciência sobre o que se come", diz médico alemão


Formado em medicina pela Freie Universitat de Berlim, o alemão Matthias Girke é especialista em diabetes e medicina interna --área dedicada à atenção integral do paciente, focalizada no diagnóstico e no tratamento não cirúrgico das doenças.

Fundador e diretor médico do Hospital Havelhoe, na capital da Alemanha, Girke faz parte da Sociedade Alemã de Médicos Antroposóficos, prática que busca tratar o homem em seus aspectos físicos, psíquicos e espirituais.

Ele, no entanto, não vê conflito entre as práticas convencionais e a antroposofia. "Não é 'alternativa'. A antroposofia faz as mesmas coisas que a medicina convencional, mas integra outros níveis no tratamento das pessoas", afirma.

Girke veio ao Brasil para um seminário médico na Associação Brasileira de Medicina Antroposófica organizado pela Weleda, marca de remédios e cosméticos naturais. Na ocasião, falou à Folha sobre a visão antroposófica das dietas de desintoxicação.

Folha - Como é um programa de desintoxicação do organismo segundo os princípios da antroposofia?

Matthias Girke - A antroposofia trabalha em quatro níveis. O primeiro é o físico, em que podem ser usados os mesmos recursos da medicina convencional; o segundo é o sistema imunológico, o uso dos recursos do próprio corpo para a cura; o terceiro é o nível da alma, ou o bem-estar psíquico; e o quarto é a biografia da pessoa, o que aconteceu com ela nos ciclos de desenvolvimento: do nascimento aos 21 anos, dos 22 anos aos 42 anos etc.

Então, é preciso analisar, no nível físico, quais são as reações de cada organismo em relação às toxinas presentes nos alimentos, no ar que respiramos etc. No nível imunológico, procurar reforçar os sistemas corporais que ajudam na eliminação dessas toxinas. Pode ser por meio da alimentação ou exercícios, por exemplo. No nível psíquico, a redução do estresse, que faz o próprio organismo produzir substâncias inflamatórias e tóxicas.

E no nível biográfico?

O ideal seria que, desde pequenas, as pessoas comessem alimentos sem corantes artificiais, agrotóxicos e outros produtos químicos. Mas, se não foi assim que ela cresceu, pode rever a educação alimentar que teve na vida e mudar seus conceitos. Desintoxicação é mudar a consciência sobre o que se come.

Há alimentos que ajudam o organismo a eliminar toxinas?

A associação entre um alimento e a desintoxicação é muito simplista. É possível reforçar os mecanismos do próprio corpo para eliminação de toxinas com alguns chás, como o de bétula, mas o principal é diminuir a ingestão de alguns alimentos.

Quais alimentos é preciso evitar?

Atualmente, há muita comida com alta concentração de fosfato: carnes vermelhas, embutidos, refrigerantes. É bom evitá-las para desintoxicar o organismo. Também é bom reduzir o consumo de alimentos enriquecidos com iodo e com flúor.

No Brasil, a água do abastecimento é fluoretada...

É mesmo? Não é assim na Alemanha. Bem, não dá para mudar o sistema de abastecimento de água, mas é possível mudar nossas escolhas alimentares. Isso já faz diferenç

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1222457-desintoxicacao-e-mudar-a-consciencia-sobre-o-que-se-come-diz-medico-alemao.shtml

Decisão do STJ afasta temor de que Código Florestal irá anistiar proprietários rurais


O entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) afasta qualquer temor de que o novo Código Florestal pudesse anistiar proprietários rurais que desmataram áreas de preservação permamente, reserva legal ou áreas de uso restrito É a avaliação do procurador chefe nacional do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e integrante da Advocacia-Geral da União (AGU), Henrique Varejão de Andrade.

“A decisão do STJ não contradiz a lógica que foi concebida pelos diversos setores que construíram o novo Código Florestal”, disse. Segundo Varejão, está lógica prevê que as autuações aplicadas até 2008, quando foi publicado o decreto anterior à atual legislação, podem ser convertidas em serviços de melhoria de proteção e conservação ambiental.

A Segunda Turma do STJ, em julgamento do ano passado, decidiu que multas aplicadas a proprietários rurais que desrespeitaram o Código Florestal de 1965 não são automaticamente anuladas com a nova lei, de 2012. Os ministros entenderam que a multa aplicada não é anistiada, e sim revertida em outras obrigações administrativas que precisam ser cumpridas pelo proprietário. Entre elas, a inscrição do imóvel no Cadastro Ambiental Rural (CAR), a assinatura de termo de compromisso e a abertura de procedimento administrativo no programa de regularização ambiental.

“O MMA [Ministério do Meio Ambiente] deve publicar uma portaria criando o cadastro ambiental rural que vai ter informações sobre o que é e como estão as APPs [áreas de preservação permanente], reservas legais e áreas de uso restrito. Todas as situações de irregularidade vão ficar claras. O Executivo federal e estatual percisa criar programas de recuperação”, disse Varejão.

Com esta regra, segundo ele, os prorpietários que assinarem termos em que se comprometem a recuperar áreas podem ter o valor da multa substituído. “Enquanto eles estiverem cumprindo a obrigação, o auto da multa vai ser suspenso, e quando concluir a recuperação, o valor será extinto. Com isto, fica claro que o temor da anistia é infundado”, disse

Gilman Viana, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Confederação da Agricultura do Brasil (CNA), a decisão do STJ, baseada em um processo de um produtor do Paraná que pedia anulação de uma multa, deve ainda ser considerada em um posicionamento nacional da Justiça. “A Procuradoria-Geral da República apresentou ação no STF [Supremo Tribunal Federal] defendendo que as multas não podem ser negociáveis, mas o pedido ainda não foi acolhido”, disse.

Para Viana, o cenário não mudou com a decisão do STJ, mas deixou uma interrogação. “A CNA entende que o texto do novo código ainda precisa avançar. É mais avançado que o código antigo, mas depois de aplicar regras vamos ter que examinar e aplicar novas exigências”, concluiu.

Hábito de comer fora de casa aumenta risco de excesso de peso e hipertensão


Entre os paulistanos, quem tem o hábito de comer fora de casa tem também maior risco de estar acima do peso. Essa é a conclusão de um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), que também mostrou que a variedade de alimentos consumidos em restaurantes e lanchonetes, mais ricos em gordura, está associada a um maior índice de hipertensão.

O estudo se baseou em dados do Inquérito de Saúde de Base Populacional no Município de São Paulo (ISA-Capital), feito entre 2008 e 2009 e financiado pela Secretaria Municipal da Saúde. Foram 834 pessoas entrevistadas, entre adolescentes, adultos e idosos, das quais 32% afirmaram fazer pelo menos uma refeição fora de casa por dia.

Segundo os resultados da pesquisa, 59% dos frequentadores de restaurantes apresentam excesso de peso ou obesidade. Já na população geral adulta da cidade de São Paulo 47,9% se enquadra na categoria de excesso de peso, de acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2011. Ainda segundo o estudo, 26% dos que comem fora têm hipertensão. Na população geral, de acordo com a Vigitel, esse índice é de 22,5%.

As refeições mais frequentemente realizadas fora são as intermediárias, como o lanche da manhã ou o lanche da tarde: 45% dos que comem fora afirmaram ter consumido essas refeições em estabelecimentos comerciais; 30% consomem o almoço; 15% consomem o café da manhã e 10% consomem o jantar. A média de calorias consumidas fora de casa por refeição foi de 628 calorias.

Gordura

Segundo a autora do estudo, a nutricionista Bartira Gorgulho, o consumo de alimentos gordurosos é facilitado em restaurantes e lanchonetes. "De maneira geral, as pessoas comem mal independentemente do lugar. Observamos que, quando comem fora de casa, há um consumo maior de gordura. A oferta de gordura é maior e as pessoas procuram comer o que não têm tanta oportunidade de comer dentro de casa, como uma variedade maior de carnes e frituras", observa.

Bartira acrescenta que é perfeitamente possível ter uma alimentação saudável fora de casa sem gastar muito com isso. Restaurantes por quilo, por exemplo, geralmente oferecem várias opções de verduras e legumes.

Na opinião do médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), quem come fora de casa não costuma observar o tamanho das porções e, com isso, corre o risco de exagerar. Ele observa que pratos maiores oferecidos pelos restaurantes podem induzir as pessoas a pegar mais comida.

"A comida por quilo é uma grande invenção, mas é preciso refletir o que vai escolher", diz o nutrólogo. Um dos erros mais comuns, segundo ele, é servir-se de vários tipos de carboidratos - juntando num mesmo prato arroz, purê de batata e macarrão, por exemplo - ou vários tipos de proteína, como carne bovina, linguiça e frango. "Por outro lado, o espaço para salada geralmente é pequeno. As pessoas não dão muito esse direcionamento. É o erro mais comum", aponta Ribas Filho.

Para a nutricionista Ariana Fernandes, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), um dos motivos que elevam a quantidade de calorias das refeições feitas fora de casa é a falta de tempo. "Muitas vezes, as pessoas optam por um lanche rápido, que quase sempre é bem mais calórico que uma refeição balanceada."

Desafio diário

Para quem tem de comer fora todo dia, manter uma dieta balanceada é um desafio. A assistente de marketing Karla Ikeda, de 25 anos, conta que a alimentação diária acaba variando conforme a companhia que ela escolhe. "Às vezes, se saio com o pessoal que come besteira, acabo comendo também. Mas, sempre que posso, tento comer em restaurante por quilo", conta.

A estratégia para balancear o cardápio, segundo Karla, é preencher metade do prato com salada e a outra metade com arroz, carne e algum legume cozido.

O brasileiro come fora cada vez mais. A Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) aponta que, em 2003, os gastos com alimentação fora do domicílio entre a população urbana representava 25,7% dos gastos totais com alimentação. Em 2009, essa parcela subiu para 33,1%.

Fonte: http://www.medicando.com.br/conteudo/noticia/habito-de-comer-fora-de-casa-aumenta-risco-de-excesso-de-peso-e-hipertensao

Vitamina D e obesidade por Dr. Alexandre Ferreira



Vitamina D ajuda você a ter ossos fortes, limar gordura e peso, turbina seu coração e as defesas do organismo e mais…

Pesquisa no periódico internacional Clinical Nutrition, afirmou que um café da manhã farto em vitamina D e cálcio ajuda seu corpo a regular o gasto energético e o apetite nas 24 horas seguintes. Quando possui bom nível de vitamina D, o corpo libera mais leptina. Esse hormônio manda mensagens ao cérebro informando que você já está cheio, não precisa mais comer. A leptina é um regulador do apetite. Vitamina D em baixa no organismo significa menos leptina e pratos mais cheios. A deficiência do nutriente também está ligada à resistência à insulina, o que em geral leva à fome excessiva.

Se houver concentração de vitamina D satisfatória no seu organismo, você também tende a produzir e estocar menos gordura. Quando há deficiência de vitamina D, os níveis de paratormônio (PTH) e calcitrol se elevam. E isso é ruim. Faz seu organismo estocar gordura em vez de queimá-la. Pesquisas recentes apontam que níveis elevados de PTH aumentam em 40% os riscos de o homem ficar acima do peso. A vitamina D facilita sua convivência com a balança.

A Vitamina D ainda detona aquelas saliências estacionadas no seu abdome. Trabalhos da Universidade de Minnesota (EUA) e da Universidade Laval (Canadá) revelaram que vitamina D reduz as medidas da sua pança. O nutriente pode agir em parceria com o cálcio para reduzir a produção de cortisol, o hormônio do estresse que favorece a formação da gordura corporal.

Uma alimentação repleta de vitamina D e cálcio favorece perder 70% mais peso do que uma dieta com teor calórico igual, mas isenta de boas doses desses nutrientes.

A vitamina D atua como um hormônio acumulando múltiplas tarefas. Nos últimos 20 anos, foram descobertos receptores de vitamina D em mais de 40 diferentes tecidos do corpo, incluindo coração e músculos. Sendo assim, a deficiência de vitamina D pode estar relacionada a diversos males cardiovasculares, no sistema imunológico, nos ossos até alguns tipos de cânceres. Taxa de Vitamina D em ordem no organismo faz bem ao coração como exercícios físicos. Bateu pressão alta? O nutriente auxilia você a mantê-la sob medida salubre. Tem tendência genética a desenvolver diabetes? Estudos mostraram que vitamina D também pode ser parceira para evitar esse diagnóstico. Quer mais? Há. O nutriente entra no grupo dos agentes que defendem você contra o câncer de próstata. Até a perda de memória aumenta a lista dos males que podem ser prevenidos se você não deixar seu tanque de vitamina na seca.

Peixes

Invista nos tipos gordurosos: salmão, cavala, atum e sardinha, chegam a ter quatro vezes mais vitamina D que os chamados peixes magros: linguado, cação e robalo. Os “gordos” ainda oferecem altas quantidades de ômega 3, ácido graxo que age junto com a vitamina D na promoção da sua perda e na sua inibição do crescimento de células cancerígenas no corpo. Além disso, ao consumir peixes você também aproveita o benefício da proteína que favorece o controle do apetite.

Ovos

Assim como os peixes gordurosos, os ovos contêm vitamina D, ômega-3 e proteína. Numa dieta de baixa caloria, coma-os com gema já no café da manhã e aumente sua perda de peso em até 65%, indica estudo da Universidade de Saint Louis (Estados Unidos).

Sol na pele

A vitamina D está em diversos alimentos, mas é a exposição solar que dispara os efeitos dela no corpo. Porém, você não precisa passar horas se esturricando. Para evitar a deficiência de vitamina D, deve-se reservar de 10 a 15 min. De exposição solar, em horários em que a radiação não é intensa, antes de 10h e após 16h, no mínimo três vezes por semana. Basta expor braços e pernas ao sol (mas sem protetor solar).

Até mais!

Autor: Dr. Alexandre (CRM 108116) é graduado em Medicina pela Universidade do Oeste Paulista. Possui 4 especializações, sendo elas em: Clínica Médica, Endocrinologia, Nutrologia e Nutrição Esportiva. Autor de capítulos dos livros Abordagem Farmacológica no Diabetes, Emergências no Diabetes e, também coordenador do departamento de Endocrinologia do Hospital Geral do Pirajussara.

Fonte: http://www.educacaoemdiabetes.com.br/2013/01/16/como-a-vitamina-d-ajuda-emagrecer/

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Dossiê virtual: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde





Nos últimos três anos o Brasil vem ocupando o lugar de maior consumidor de agrotóxicos no mundo.

Os impactos à saúde pública são amplos porque atingem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais como trabalhadores em diversos ramos de atividades, moradores do entorno de fábricas e fazendas, além de todos nós que consumimos alimentos contaminados.

 Tais impactos são associados ao nosso atual modelo de desenvolvimento, voltado prioritariamente para a produção de bens primários para exportação.

Nos recentes eventos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), como o I Simpósio Brasileiro de Saúde Ambiental e o V Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, foram aprovadas moções sugerindo um maior envolvimento de nossa entidade com essas questões, principalmente as relacionadas aos agrotóxicos.

O Grupo técnico de Saúde e Ambiente da ABRASCO tem produzido várias reflexões sobre esse tema e, em sua oficina realizada no VIII Congresso Brasileiro de Epidemiologia, decidiu contribuir com a iniciativa de construir, junto com os GTs, Comissões e associados da ABRASCO, um Dossiê sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde no Brasil.

Esse Dossiê visa alertar, por meio de evidências científicas, as autoridades públicas nacionais, internacionais e a sociedade em geral para a construção de políticas públicas que possam proteger e promover a saúde humana e dos ecossistemas impactados pelos agrotóxicos.

Para fazer o download de cada um deles basta clicar:


Dossiê Parte 1 – Agrotóxicos, segurança alimentar e nutricional e saúde

Dossiê Parte 2 – Agrotóxicos, saúde, ambiente e sustentabilidade

Dossiê Parte 3 – Agrotóxicos, conhecimento científico e popular: construindo a ecologia de saberes

Fonte: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio /Fiocruz

Existe uma associação entre mortalidade por câncer e uso de agrotóxicos? Uma contribuição ao debate


Is there an association between cancer mortality and agrotoxics use? A contribution to the debate
Paulo Fernandes Costa JobimI; Luciana Neves Nunes II; Roberto GiuglianiI,IV; Ivana Beatrice Manica da CruzIII
IPrograma de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rua Ramiro Barcelos 2400, Bairro Santana. 90035-003 Porto Alegre RS. pjobim@uol.com.br
IIDepartamento de Estatística, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
IIIDepartamento de Morfologia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Maria
IVDepartamento de Genética, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul



RESUMO
O uso crônico de agrotóxicos em regiões rurais no Estado do Rio Grande do Sul (RS) tem sido tentativamente relacionado a um possível aumento na incidência de câncer nos trabalhadores rurais. Foi realizado um estudo ecológico de série temporal (1979 a 2003) na microrregião (MI) de Ijuí, no Estado do Rio Grande do Sul e no Brasil, com dados anuais do Sistema do Departamento de Estatística do Sistema Único de Saúde (DATASUS), para avaliar o comportamento do coeficiente de mortalidade por câncer, padronizado por idade e sexo. Utilizou-se um modelo de regressão linear simples e múltipla para estimar, respectivamente, as taxas de mortalidade e as diferenças entre as três regiões estudadas. A MI e o RS apresentam maior taxa média de mortalidade tanto em homens quanto em mulheres, sendo significativamente diferentes das observadas para o Brasil como um todo.
Palavras-chave: Agrotóxicos, Câncer, Agricultura, Medicina do trabalho, Riscos ocupacionais

ABSTRACT
The chronic use of agrotoxics in rural regions of Rio Grande do Sul State (RS) has been tentatively associated to a possible increase in the incidence of cancer in rural areas. A time-trend ecological study was performed in the micro region of Ijuí County (MI), in RS and Brazil, with data of the 1979 to 2003 period. Data was collected from the Mortality Information System, Brazilian Ministry of Health (DATASUS), to evaluate the cancer mortality rate, standardized by gender and age – corrected mortality ratios. Linear regression for mortality time-trend analysis and multiple regressions for mortality differences among three regions were calculated. The highest average mortality rate in men and also women were observed in RS and MI and they were significantly higher
Key words: Agrotoxics, Cancer, Agriculture, Occupational medicine, Occupational risks



Introdução
De acordo com a Organização das Nações Unidas, o número de pessoas, em 2025, dependentes de alimentos provenientes do meio rural no mundo será de 7,9 bilhões1. Esta necessidade crescente faz com que o processo de produção agrícola esteja sendo, cada vez mais, submetido a fortes mudanças tecnológicas e organizacionais, visando à produtividade2.
No Brasil, parte da agricultura passa por um processo contínuo de modernização, via incorporação de novas tecnologias, com a perspectiva de aumentar a competitividade no mercado internacional3. A “modernização agrícola”, se por um lado gera crescimento econômico, por outro tem riscos potenciais ao ambiente e à saúde humana. Entre esses riscos, se incluem efeitos prejudiciais associados ao uso massivo e crônico de agrotóxicos, como são chamadas as substâncias químicas que têm por finalidade controlar ou eliminar plantas e animais (conhecidos como pragas) prejudiciais à agricultura4.
A cultura do uso de agrotóxicos no Brasil começou partir da década de sessenta, quando o chamado Plano Nacional do Desenvolvimento (PND) adotado pelo governo obrigou os agricultores a comprar uma cota definida de agrotóxicos para que pudessem obter crédito rural. Com essa obrigatoriedade, a utilização de agrotóxicos aumentou de modo exponencial, contribuindo para a quase extinção de práticas alternativas e ecologicamente saudáveis de manejo de pragas5.
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população rural corresponde a quase 32 milhões de pessoas e a população rural economicamente ativa, a 12 milhões de pessoas6. Por ano, são produzidos no mundo 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos, sendo 39% de herbicidas, 33% de inseticidas, 22% de fungicidas e 6% de outros grupos químicos. No Brasil, a produção de agrotóxicos é de 250 mil toneladas por ano, sendo nosso país o oitavo consumidor de agrotóxicos do mundo7.
Cada vez mais casos de pessoas contaminadas diretamente por agrotóxicos no meio rural são relatados. Entretanto, moradores de áreas próximas e, eventualmente, pessoas do meio urbano também se encontram sob risco, devido à contaminação dos alimentos como carne, peixe, laticínios, frutas e vegetais, tornando assim a exposição crônica8. Desta forma, os riscos à saúde humana associados ao uso e à exposição crônica a agrotóxicos têm sido objeto de grande interesse científico.
Em termos populacionais, os efeitos crônicos podem ser tão prejudiciais quanto os agudos, uma vez que existem sugestões fortemente apoiadas por evidências que apontam consequências deletérias na fertilidade, na etiologia de danos neurológicos e possivelmente no aumento da suscetibilidade a neoplasias9. Assim, indivíduos que participam da produção industrial ou aplicação em larga escala destes compostos podem estar sujeitos a uma maior contaminação do que a população em geral.
O efeito crônico ocorre principalmente porque existem três principais vias de absorção de agrotóxicos (dérmica, digestiva e respiratória), o que aumenta a área biológica de exposição a estes agentes químicos. Adicionalmente, alguns pesticidas permanecem armazenados nos tecidos de organismos vegetais e animais, incluindo o homem, como é o caso dos agrotóxicos que usam organoclorados. Tais pesticidas são lipossolúveis e têm grande estabilidade, o que os torna geralmente resistentes à degradação biótica ou abiótica10.
Alguns estudos vêm demonstrando que tais agentes podem realmente estar relacionados com o desenvolvimento de morbidades crônico não-transmissíveis, como as neoplasias9,11,12.
Entretanto, sob o ponto de vista epidemiológico, a avaliação do potencial carcinogênico dos agrotóxicos com organoclorados e demais agrotóxicos com o câncer é extremamente complexa. As dificuldades são inúmeras, face à heterogeneidade dos compostos utilizados, à diversidade de métodos de aplicação e à ausência de dados adequados sobre a natureza da exposição. Além do que, o nível de exposição a agrotóxicos estimados em estudos epidemiológicos nem sempre representa a sua intensidade real. Como a abordagem quantitativa precisa é difícil de ser realizada, acabam sendo utilizadas medidas subjetivas como, por exemplo, tempo de exposição, área geográfica ou frequência de uso13.
Apesar de existirem áreas do território brasileiro que são fortemente voltadas a agricultura há mais de quarenta anos, o número de estudos que identifiquem ou acompanhem populações cronicamente expostas a defensivos agrícolas é muito incipiente. Uma vez que, demograficamente, o Brasil está envelhecendo e isto significa aumento de indivíduos idosos e de doenças crônico não-transmissíveis associadas, investigações relacionadas a fatores de risco e proteção destas doenças são de grande interesse para a saúde pública. A identificação de grupos suscetíveis, e seus fatores etiológicos principais, permite a criação de programas de saúde voltados a sua prevenção.
Neste sentido, o presente artigo tem como finalidade contribuir para o debate de quanto as áreas cronicamente expostas a agrotóxicos poderiam apresentar uma prevalência maior de neoplasias e se, com os dados governamentais hoje disponíveis, esta relação pode ser de fato sugerida. Para tanto, o trabalho utilizou como referência de área geográfica agrícola a Região Noroeste Colonial do Estado do Rio Grande do Sul, que historicamente concentra sua economia na produção da monocultura da soja.

Métodos
Um estudo ecológico foi conduzido comparando-se as taxas de mortalidade do Brasil, Rio Grande do Sul e da microrregião de Ijuí, que está localizada na Região Noroeste Colonial (RS). O período de análise foi de 1979 a 2003. As principais características demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas dos quinze municípios que compõe a MI são apresentadas na Tabela 1, incluindo a percentagem estimada de área geográfica que é utilizada no plantio de soja.


Em termos geográficos, a Região Noroeste Colonial é um extenso planalto, que se inclina, num plano, para o rio Uruguai, que, por sua vez, recorta o estado ao norte e ao oeste, na fronteira com a Argentina. Esta região concentra uma área extensa de plantio de soja. Considerando-se a produção média de 2001 a 2003, o Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de soja do Brasil, com 16,8% do total produzido, média semelhante a do período de 1998 a 2000, que era de 16,5%. Esta região produz soja intensivamente e outras culturas agrícolas, com destaque ao trigo e milho. A intensificação do modelo de monocultura baseado em métodos convencionais de cultivo que inclui o uso de agrotóxicos começou durante a década de setenta e se estende até os dias de hoje14.
Esta região foi escolhida porque, segundo resultados apresentados no Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul15, organizado e publicado pelo Governo do Estado, e disponível via Internet, além de ser produtora agrícola (Tabelas 1 e 2), em termos epidemiológicos, a mesma apresenta alta prevalência de neoplasias. Esta sugestão foi oriunda da análise da proporção de óbitos por neoplasias, baseada no ano de 2002, tendo como fonte de dados o DATASUS.

Os resultados mostraram que existem quatro áreas geográficas organizadas por Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS), que apresentam uma prevalência de morte por neoplasias mais alta que as demais regiões do estado (entre 20,1 a 23,2%): a 7ª CRS, cuja coordenação é localizada no município de Bagé, a 5ª CRS, no município de Caxias do Sul, a 6ª CRS, no município de Passo Fundo e a 17ª CRS, no município de Ijuí. Porque então se optou por estudar a microrregião de Ijuí como um possível local que apresente maior susceptibilidade a neoplasias associada ao uso crônico de agrotóxicos?
Responder esta questão é metodologicamente importante para o estudo uma vez que:
(1) A alta prevalência observada poderia ser consequência de uma proporção maior de indivíduos idosos na população em relação aos grupos etários mais jovens, causado principalmente pela migração continuada de adultos produtivos da região para outras, com maior oferta de emprego. Esta condição explicaria o maior número proporcional de mortes por neoplasias. Para minimizar este problema, o estudo realizou as análises comparativas entre o padrão de mortalidade por neoplasias da MI, do RS e do Brasil, utilizando a padronização dos dados etários baseada em uma população padronizada proposta pela Organização Mundial de Saúde (Word Health Organization (OMS) Standard Population), cujo referencial está baseado em Ahmad et al.16. Optou-se por eliminar o viés da idade em vez de se realizar uma análise multivariada incluindo a idade, pelo número populacional relativamente baixo da MI (Tabela 1), o que limitaria os testes estatísticos relacionados. Adicionalmente, uma comparação entre a distribuição etária da MI com a do RS e do Brasil, utilizando dados censitários do IBGE para 1996 e 2000 mostrou tendência similar;
(2) Outro possível efeito relacionado com uma taxa mais elevada de óbitos por neoplasia poderia ser o desenvolvimento regional. Dados epidemiológicos têm mostrado uma tendência de ocorrer aumento na prevalência da mortalidade por neoplasias em países altamente desenvolvidos, como é o caso do Japão17. Uma vez que o Rio Grande do Sul apresenta características similares a países desenvolvidos, estas regiões, incluindo a MI, poderiam apresentar esta tendência em relação a outras regiões do próprio estado e do país. A OMS, a fim de comparar os países quanto ao seu desenvolvimento, criou um índice conhecido Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)18. Baseado neste índice, a Fundação de Economia Estatística do Estado do Rio Grande do Sul (FEE) organizou o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico para o Rio Grande do Sul (IDESE). Segundo a FEE, IDESE é um índice sintético, inspirado no IDH, que abrange um conjunto amplo de indicadores sociais e econômicos classificados em quatro blocos temáticos: Educação; Renda; Saneamento e Domicílios e Saúde. Ele tem por objetivo mensurar e acompanhar o nível de desenvolvimento do Estado, de seus municípios e Coredes, informando a sociedade e orientando os governos (municipais e estadual) nas suas políticas socioeconômicas.
O IDESE varia de zero a um e, assim como o IDH, permite que se classifique o Estado, os municípios ou os Coredes em três níveis de desenvolvimento: baixo (índices até 0,499), médio (entre 0,500 e 0,799) ou alto (maiores ou iguais que 0,800)19. Optou-se pelo uso do IDESE para responder a questão se a área apresentaria maior desenvolvimento do que outras regiões, uma vez que o IDH é usado para o estado como um todo. A comparação do IDESE da microrregião de Ijuí com a do estado (Tabela 3) e com as demais regiões mostrou que esta apresentou o índice mais baixo que as demais (Caxias = 0,801, Passo Fundo= 0.779 e Bagé=0,751), o que não corrobora esta hipótese;
(3) Diferenças étnicas inter-regionais, ou mesmo fortemente associadas a determinados grupos étnicos específicos, poderiam também influenciar a taxa de mortalidade por neoplasias. Esta condição parece ser improvável, uma vez que na MI, ainda que exista uma contribuição européia significativa em relação à indígena e africana, a mesma foi originada a partir de diferentes etnias. Isto porque as levas migratórias européias que povoaram o Rio Grande do Sul tenderam a formar, no final do século XVIII, os chamados “núcleos étnicos puros”, que dificultavam a integração estadual. Assim, com a intenção de misturar imigrantes de várias etnias, para não causar conflitos nas colônias, foram enviados para a MI diversos grupos étnicos. Neste período, historiadores chegaram a detectar dezenove idiomas entre italianos, alemães, poloneses, letos, austríacos, holandeses, suecos, espanhóis, libaneses, árabes, lituanos, rutenos, checos, finlandeses e até gregos. Apesar da predominância de alemães e italianos, a MI ainda hoje é conhecida como a Europa do Rio Grande do Sul. Apesar da resistência inicial à miscigenação, hoje a tendência de casamentos interétnicos é uma realidade20.
Caracterizada a área do estudo e resolvida às questões pertinentes relacionadas, a seguir foram coletados dados anuais de óbitos por câncer do Sistema do Departamento de Estatística do Sistema Único de Saúde (DATASUS)21, para o período entre 1979 e 2003, do Brasil, do estado do RS e MI. Foram calculadas as taxas de mortalidade por 100 mil habitantes por ano para cada região, separadas por sexo. Essas taxas foram padronizadas por faixas etárias, pelo método direto22, utilizando-se como referência os dados de população residente em cada região, sendo estes obtidos através de pesquisa do DATASUS, referentes ao Censo 2000. Foram utilizadas seis faixas etárias, sendo a primeira 20-29 anos e a última 60-79 anos. Para a análise estatística, foi utilizado modelo de regressão linear simples, a fim de estimar os coeficientes das taxas de mortalidade padronizadas em cada uma dos locais, separados por sexo. A fim de comparar as diferenças entre os três locais, utilizou-se um modelo de regressão linear múltipla, em que se considerou como variável dependente a taxa de mortalidade padronizada e como variáveis independentes, o tempo e os locais. O modelo utilizado teve a seguinte expressão:
Para todos os modelos, foram feitos diagnósticos através da análise de resíduos. Os dados obtidos foram tratados nos programas Microsoft Excel 2000 e SPSS 13.0. Para as análises estatísticas, o nível de significância utilizado foi de 5%. As análises foram realizadas separadamente por gênero. Não foram realizadas análises separadas segundo o tipo de neoplasia, por ser uma população pequena.
A seguir, buscou-se identificar indicadores de exposição e contaminação por agrotóxicos que poderiam influenciar os resultados obtidos. Para tanto, foram realizadas consultas nos bancos de dados de instituições governamentais como o IBGE, DATASUS e FEE sem que se encontrassem dados quantitativos sobre quantidade de defensivos comercializados nas regiões estudadas ao longo da série histórica. Adicionalmente, foram realizados contatos com a Secretaria de Agricultura, Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), sem que se conseguisse documentação apropriada para a coleta destas informações. Deste modo, optou-se por realizar um estudo indireto a partir de resultados e tabela de dados disponíveis no Censo Agropecuário do IBGE. A realização do Censo Agropecuário 1995-1996 teve como referência o período de 01.08.1995 a 31.07.1996 e as datas de 31.12.1995 e 31.07.1996. As seguintes informações foram utilizadas, nas quais a conceituação proposta pelo IBGE foi mantida:
(1) Área total – compreendeu a totalidade das terras que formavam cada município, considerada a situação existente na data do censo;
(2) Área de lavouras (temporárias e permanentes);
(3) Número de estabelecimentos que usavam agrotóxicos;
(4) Relação entre a população ocupada na atividade agrícola e população total das áreas investigadas;
(5) Quantidade de hectares para cada um dos principais tipos de culturas plantadas, (milho, soja e trigo), destacando a proporção da área plantada de soja em relação à área total.
Estes resultados foram expressos em hectares (ha). Os dados foram coletados para cada município, MI, RS e Brasil.

Resultados
Tabela 2 mostra os dados das populações masculinas, femininas e taxas médias de mortalidade padronizadas por idade para as áreas selecionadas: Brasil, RS e MI, sendo que nos dados do Brasil foram excluídos os dados do RS e nos dados do RS foram excluídos os dados da MI.
Na Figura 1, estão apresentados os dados das taxas de mortalidade por câncer para os homens. Pode-se perceber que o RS e MI apresentam maior taxa de mortalidade padronizada em todos os anos investigados, quando comparados com o Brasil. Provavelmente porque a Região Sul exibe altos níveis de industrialização e sua população revela os melhores indicadores de qualidade de vida do país, sendo o RS o estado brasileiro com maior expectativa de vida (73,4 anos), superior à média brasileira de 69,0 anos. Os idosos (360 anos) representam aproximadamente 10% da população19. Já a MI tem as taxas de mortalidade abaixo das taxas do RS até metade da década de noventa, quando se torna semelhante, e a partir de 2000 passa a ter taxa mais alta que a do Rio Grande do Sul. Também pode ser observado que a tendência dos três locais é o aumento da taxa de mortalidade. Em todos os modelos de regressão simples ajustados, a variável tempo foi significativa (p<0 ajustes="" bastante="" bons="" coeficientes="" de="" determina="" foram="" o="" os="" quando="" se="" style="margin: 0px; padding: 0px;" sup="" verifica="">2
), sendo estes 0,973, 0,988 e 0,825, respectivamente, para Brasil, RS e MI. Na Figura 2, são apresentados os dados das taxas de mortalidade por câncer para as mulheres. Pode-se perceber que o RS e MI apresentam maior taxa de mortalidade padronizada em todos os anos investigados, quando comparados com o Brasil. Já a MI tem as taxas de mortalidade abaixo das taxas do RS até o início da década de noventa (1992), quando rapidamente torna-se maior que a do RS. Também pode ser observado que a tendência dos três locais é o aumento da taxa de mortalidade. Em todos os modelos de regressão simples ajustados, a variável tempo foi significativa, sendo estes 0,976, 0,988 e 0,899, respectivamente, para Brasil, RS e MI.




Também foram ajustados dois modelos de regressão simples (para sexo masculino e sexo feminino), considerando como variável dependente a taxa de mortalidade padronizada e como variável independente o tempo. Tais modelos apresentaram R2 de 0,977 e 0,979, indicando bons ajustes. Para o sexo masculino, o modelo teve a expressão taxa=55,25+2,89 ano e para o sexo feminino, taxa=41,33+2,41 ano, sendo que “ano” foi significativo em ambos modelos (p<0 span="">
Nos modelos de regressão múltipla ajustados para sexo separadamente (Tabela 2), é possível se verificar que as interações tempo e local foram significativas.
A seguir, alguns indicadores indiretos de exposição e contaminação foram avaliados. Os resultados são descritos na Tabela 3. Como pode ser observado, cerca de 2/3 da área da MI é ocupada pela agricultura. No caso, Chiapetta chegou a apresentar mais de 80% da sua área destinada à produção agrícola. Estes valores foram extremamente elevados quando se compara esta área com o Rio Grande do Sul e o Brasil, do qual menos de 3% das suas áreas estão comprometidas com a agricultura. O número de estabelecimentos que afirmam utilizar defensivos agrícolas também pareceu ser relativamente grande. Em termos populacionais, 24% da população da MI está ocupada com atividades agrícolas, sendo que esta proporção cai para 14 a 11% no RS e Brasil. Dos três produtos principais que são cultivados, a soja aparece em destaque, sendo utilizado quase o dobro de hectares plantados por soja na MI em relação ao RS. Chama a atenção que 80% da área plantada de Coronel Barros está destinada à soja.

Discussão
Os resultados sugerem que existe maior prevalência de mortalidade por neoplasias na microrregião de Ijuí em comparação ao RS e Brasil. Na ordem em que os mesmos são apresentados, os homens têm uma mortalidade média por câncer maior do que as mulheres no Brasil, RS e MI. Considerando que este gênero possui uma exposição ocupacional maior do que a mulher no que diz respeito ao trabalho na agricultura (plantio, aplicação de defensivos, adubos, etc.), tal resultado seria esperado.
Pode-se perceber que o Rio Grande do Sul e a MI apresentam maior taxa de mortalidade padronizadas, tanto em homens quanto em mulheres, em todos os anos investigados, quando comparados com o Brasil. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de que a Região Sul exibe altos níveis de industrialização e sua população revela os melhores indicadores de qualidade de vida do país. O RS é o estado brasileiro com maior expectativa de vida (73,4 anos), superior à média brasileira de 69,0 anos. Os idosos (360 anos) representam aproximadamente 10% da população. Quanto às taxas de mortalidade da MI estarem abaixo das taxas do RS até metade da década de noventa e, a partir de 2000, passar a ter taxa mais alta que a do RS, pode estar associado ao aumento significativo na demanda de alimentos, fazendo com que a produção aumente também. Quando foram vistos separadamente os sexos, as interações tempo e local, o sexo masculino diferiu do Brasil quanto à taxa de mortalidade por câncer no RS e na MI pela semelhança demográfica epidemiológica do RS com países desenvolvidos.
É importante ressaltar que, neste estudo, o RS, apesar de partir de um patamar mais elevado, apresenta uma taxa média de mortalidade para homens e mulheres, respectivamente 47,7 e 38,2, sendo significativamente maior que os outros dois estados.
Apesar de serem indicativos leves, a comparação da área plantada, o número de estabelecimentos que usam defensivos e a proporção da população ocupada na agricultura, quando comparados entre a MI e as outras áreas, revelam uma situação na qual não se descarta uma possível influência da exposição/contaminação crônica aos defensivos agrícolas na maior prevalência de mortalidade de neoplasias observada. Neste caso, os resultados obtidos apontam para a necessidade da realização de estudos adicionais que aprofundem esta perspectiva e caracterizem os grupos com maior risco. Inicialmente, um estudo que mereceria ser conduzido é a comparação da morbimortalidade relacionada a intoxicações agudas por agrotóxicos entre todas as microrregiões do RS e o Brasil. É claro que tal estudo também apresenta limitações, mas serviria como um indicativo mais robusto da exposição aos agrotóxicos.
É importante comentar que o presente estudo é preliminar, uma vez que está calcado em um estudo ecológico, limitado a dados de grupo que não permitem análises mais aprofundadas de correlação. Entretanto, tais estudos geralmente são empregados para averiguar se existe uma indicação de associação entre causa e morbidade. Esta estratégia (a de se realizar inicialmente uma investigação ecológica) está condicionada à minimização dos esforços de tempo e recursos humanos, necessários para a realização de investigações com metodologias mais robustas. Por outro lado, trabalhar dentro da perspectiva de que somente tais estudos seriam cientificamente válidos acaba se tornando reducionista e impedindo o reconhecimento de grupos populacionais que podem estar sendo expostos a riscos crônicos e de interesse em saúde pública. Neste sentido, acredita-se que os resultados aqui descritos fornecem os subsídios iniciais para que investigações adicionais, mais aprofundadas e metodologicamente mais robustas, sejam posteriormente realizadas.
Um outro aspecto limitante do estudo diz respeito à própria condição etiológica do grupo de doenças conhecido como “neoplasias”. Neoplasias são morbidades multifatoriais, em que interações gene-ambiente estão presentes em maior ou menor grau, o que influi tanto no seu estabelecimento, quanto no tempo de duração pré-clínico e clínico. Esta heterogeneidade dificulta os estudos populacionais associativos por que indivíduos podem estar expostos a um agente carcinogênico em um dado período de tempo e esta morbidade se manifestar em diferentes períodos conforme o modo de vida e material genético da pessoa afetada. Neste sentido, estudos experimentais, principalmente que envolvem aspectos nutrigenômicos, do envelhecimento, da interação entre fatores protetores e ambientais, de desenvolvimento de marcadores diagnósticos de suscetibilidade, etc., estão cada vez mais sendo produzidos. Por outro lado, há também que se intensificar os estudos das variáveis ambientais, como é o caso da ação crônica de defensivos agrícolas, uma vez que, em nível de saúde pública, é o conjunto de evidências produzidas que permite o reconhecimento de grupos suscetíveis.

Conclusão
Apesar das limitações metodológicas relacionadas a estudos ecológicos, os resultados obtidos não descartam a influência de exposição de agrotóxicos como um fator contribuinte a maior taxa de mortalidade de neoplasias observadas na microrregião de Ijuí em relação ao Rio Grande do Sul e ao Brasil. Estudos adicionais necessitam ser conduzidos para corroborar esta hipótese.

Colaboradores
PFC Jobim coordenou a confecção do artigo, buscando os dados para a análise, fazendo a revisão da literatura e colocando nos moldes para publicação, além de revisar. LN Nunes realizou as análises estatísticas e confecção dos resultados. R Giugliani auxiliou na revisão do artigo. IBM Cruz coordenou a confecção do artigo, revisando periodicamente o trabalho do primeiro autor e auxiliando na revisão.

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Ciência & Saúde Coletiva
versão impressa ISSN 1413-8123
Ciênc. saúde coletiva vol.15 no.1 Rio de Janeiro jan. 2010
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232010000100033