terça-feira, 16 de julho de 2019

Adolescentes mais pobres estão mais obesos, mas ainda desnutridos, indica pesquisa da Fiocruz

A investigação é a primeira no Brasil que observa fatores socioeconômicos associados a desnutrição e obesidade.

Mesmo obesos, adolescentes brasileiros ainda possuem traços de desnutrição, conforme mostra um estudo publicado na edição mais recente da revista PLOS One, uma das mais renomadas na área de saúde do mundo. Os pesquisadores encontraram a presença das duas condições especialmente nos estudantes de escola pública, que ainda apresentaram um aumento dos índices de excesso de peso nos últimos anos. A investigação, realizada por pesquisadores da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), é a primeira no Brasil que observa fatores socioeconômicos associados a desnutrição e obesidade. “Poucos são os estudos que trazem estes desfechos nutricionais apresentados de forma simultânea”, enfatizou a pesquisadora Júlia Uzêda.

A dupla carga de má nutrição, quando a desnutrição e obesidade se apresentam simultaneamente, afeta uma parcela pequena dos estudantes (menos de 1%). No entanto, a condição demonstra que nem sempre uma melhoria nas condições socioeconômicas de vida vem acompanhada de maior qualidade nutricional.

“Nas últimas décadas, inclusive em economias em desenvolvimento, como o Brasil, formas de má nutrição aparentemente antagônicas, como a desnutrição e a obesidade, têm passado a coexistir no mesmo indivíduo. A dupla carga é um evento raro e ainda pouco investigado, sendo este o primeiro estudo a avaliar sua prevalência e fatores socioeconômicos associados em um subgrupo da população brasileira”, explica pesquisador do Cidacs Natanael Silva, também integrante do estudo.

Sobrepeso

De acordo com os pesquisadores, houve aumento de sobrepeso entre os adolescentes de todos os níveis socioeconômicos e, ao mesmo tempo, também aparece nesses estudantes a desnutrição, revelada pela baixa estatura. Segundo o estudo, os adolescentes oriundos de escolas privadas têm maior chance de desenvolver excesso de peso em relação aos estudantes da escola pública. No entanto, explica Uzêda, “essa diferença entre os grupos foi sendo reduzida”. Entre 2009 e 2015, enquanto o índice de adolescentes com excesso de peso na rede privada permaneceu inalterável (28,7%), a taxa entre os da rede pública aumentou de 19% para 23,1%.

A pesquisa utilizou dados da primeira (2009) e da mais recente (2015) edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), inquérito que investiga doenças crônicas não transmissíveis entre adolescentes escolares brasileiros. O grupo comparou os índices nutricionais de estudantes de 13 a 17 anos, separando entre aqueles que apresentam somente sobrepeso ou baixa estatura e aqueles que apresentam as duas condições.

Números

Para esta investigação, foram selecionadas informações socioeconômicas desses adolescentes, como escolaridade da mãe, raça, sexo e tipo de unidade escolar dos adolescentes. Em 2009, responderam ao Pense 31.823 meninas e 27.814 meninos. Já em 2015, o Pense trouxe 5.317 meninas e 5.453 meninos. No primeiro momento, 140 garotas (0,5%), apresentavam tanto sobrepeso quanto desnutrição, entre os meninos essa taxa foi de 0,3% (74 indivíduos).

Ainda em 2009, quando separado o grupo que apresentou os dois desfechos de saúde, de forma indistinta do sexo, e diferenciando entre estudantes de escola pública e privada, essa simultaneidade aparece em 29 estudantes do ensino particular (0,2%) contra 185 do público (0,4%). Isto é, a dupla carga é maior entre estudantes da rede pública. Em 2015, a taxa de dupla carga aumentou entre os estudantes de escola privada enquanto os de escola pública continuou estável – foram encontrados 7 alunos da rede privada (0,3%) e 30 da rede pública (0,4%) com essa condição. E com relação ao sexo, as meninas ainda são maioria: 0,4% (20) apresentaram a condição contra 0,3% (17) do sexo masculino.

Fatores

“Esses achados demonstram que a obesidade tem crescido e vem atingindo cada vez mais a população menos favorecida socioeconomicamente”, comenta o pesquisador Natanael Silva. “O aumento do excesso de peso nesse grupo deve-se provavelmente a melhora das condições socioeconômicas e especialmente a fatores, como o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e a maior exposição a ambientes obesogênicos”.

Um dos fatores que foi associado à dupla carga de má nutrição é escolaridade da mãe dos estudantes. Os filhos de mulheres que completaram a educação primária revelaram melhores índices de nutrição, apresentando a metade da taxa de dupla carga do que os estudantes cujas mães não finalizaram essa etapa.

Uzêda frisa que “existem fatores que não foram analisados neste estudo, como o consumo alimentar e, principalmente, a qualidade dos alimentos ingeridos”, mas que as informações encontradas já podem servir para que políticas públicas se foquem na qualidade da nutrição

Para especialistas, investir em agricultura urbana melhoraria a alimentação e reduziria a poluição

Para especialistas, investir em agricultura urbana melhoraria a alimentação e reduziria a poluição, já que com alimentos sendo produzidos mais próximos dos consumidores a logística de transporte e do consumo de combustíveis mudaria drasticamente

As primeiras cidades surgiram, entre outros motivos, por causa da produção de alimentos. Foi o excedente dessa produção que deu origem às grandes civilizações antigas. Entretanto, conforme as cidades foram se modernizando, a agricultura passou a se afastar cada vez mais dos grandes centros urbanos.

Para entender como isso afeta as grandes cidades ainda hoje, e como a produção local de alimentos pode melhorar a vida urbana, o Momento Cidade reuniu especialistas para responder à pergunta: Como é possível produzir alimentos na cidade?

Conforme explica André Biazoti, formado em Gestão Ambiental pela USP em Piracicaba e pesquisador na área, a “agricultura urbana é um conceito multidimensional que envolve diversas realidades, diversas práticas, diversas formas de se conceber uma agricultura dentro de um espaço urbano”.

De acordo com Biazoti, atualmente a produção que pode ser feita nas áreas da cidade é bem diversa, indo desde a produção alimentar e a produção animal até a produção de flores, de plantas ornamentais ou mesmo de madeira.

Para Gustavo Nagib, doutorando da pós-graduação em Geografia Humana da USP e autor do livro Agricultura Urbana como Ativismo na Cidade de São Paulo, publicado em 2018 pela Annablume Editora, é preciso diferenciar os diferentes tipos de agricultura que existem na cidade.

“Existe a agricultura que é voltada para a produção, geração de renda, abastecimento e a agricultura que é voltada para a socialização, a pedagogia, no sentido da sensibilização da educação ambiental na cidade, da reocupação dos espaços públicos da cidade; a produção agrícola é importante como ferramenta de socialização e reocupação do espaço público”, esclarece Nagib.

Para ambos os especialistas, é crucial que instituições como as universidades pesquisem o assunto e entendam o impacto da agricultura urbana nas grandes cidades.

Já para Thais Mauad, professora da Faculdade de Medicina (FM) da USP e coordenadora do Grupo de Estudos de Agricultura Urbana do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, investir em agricultura urbana traria diversas vantagens para a população que vão desde a melhoria na alimentação até a redução da poluição, já que com alimentos sendo produzidos mais próximos dos consumidores a logística de transporte e, consequentemente, o consumo de combustíveis, mudariam drasticamente.

Para ela, a Prefeitura pode ajudar a incentivar os trabalhadores que já produzem na cidade. “Um dos problemas que essas pessoas têm é falta de apoio técnico, e a Prefeitura tem poucos agrônomos. Outra coisa, por exemplo, é que a Prefeitura pode disponibilizar terrenos (para plantio)”, explica a docente.

Dentre as inúmeras vantagens de se incentivar a produção local de alimentos, os pesquisadores destacam que um maior número de áreas verdes nas cidades ajudaria no controle do aumento da temperatura, da umidade e resultaria também na melhora da qualidade do ar.

Substâncias presentes nas comidas prejudicam a absorção de medicamentos

Alguns alimentos, quando ingeridos durante tratamento com determinados medicamentos, podem oferecer riscos à efetividade do fármaco e à saúde do paciente. Moacyr Luiz Aizenstein, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, explica que tal interferência está diretamente ligada à absorção do remédio, já que há substâncias em certas comidas que prejudicam esse processo.

Para evitar tais riscos, deve-se tomar os medicamentos sempre em jejum, ou seja, uma hora antes ou após as refeições, com exceção apenas de remédios danosos para a mucosa gástrica, como anti-inflamatórios. Entre os exemplos dados pelo pesquisador, há o uso de antibióticos junto ao leite. O cálcio pode interferir no formato da tetraciclina e bloquear sua absorção no organismo.

Aizenstein também comenta sobre o efeito do consumo de bebidas alcoólicas com a medicação. O álcool pode deprimir o sistema imunológico e retardar a reação de combate do corpo. Além disso, o professor alerta para a importância dos profissionais de saúde instruírem seus pacientes, o que auxiliaria no tratamento final.

Obesidade infantil: medidas drásticas são necessárias para conter a ingestão de refrigerantes

Duas das principais entidades médicas americanas reivindicam impostos mais altos para os refrigerantes e a proibição de publicidade da bebida, na esperança de desencorajar as crianças a consumi-los.

Em um comunicado conjunto, a Academia Americana de Pediatria e a Associação Americana de Cardiologia endossaram uma série de recomendações que, segundo as entidades médicas, poderão ajudar a reduzir as taxas de diabetes tipo 2 e de doenças cardiovasculares, bem como a crescente epidemia de obesidade.

Segundo os autores do comunicado, “os profissionais de saúde vêm tentando e fracassando no intento de restringir a ingestão de refrigerantes, apenas por meio da educação e das escolhas individuais.  Assim como as mudanças nas políticas públicas foram necessárias e eficazes na redução do consumo de tabaco e álcool, precisamos de mudanças nas políticas públicas que ajudem a reduzir o consumo de refrigerantes entre crianças e adolescentes”.

A taxa de obesidade infantil triplicou desde a década de 1970, afetando uma em cada cinco crianças nos EUA, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças. A obesidade infantil é hoje a principal preocupação de saúde entre os pais, nos EUA, superando o abuso de drogas e o tabagismo. E após a infância, a obesidade continua a atormentar mais de um terço dos adultos norte-americanos. Os especialistas alertam que essa proporção só crescerá entre as gerações mais jovens, pois muitos fatores contribuem para isso: pouca atividade física e aumento no consumo de junk food e de refrigerantes.

“O consumo de muito açúcar tem sido associado a vários problemas de saúde como asma, cáries, aumento dos níveis de colesterol ruim (LDL) e aumento do risco de pressão alta e doenças cardíacas”, explica o pediatra e homeopata, Moises Chencinski.

Nos EUA, as crianças consomem uma média de 30 litros de refrigerantes por ano, o equivalente a cerca de meia banheira cheia de açúcar. Embora o consumo de refrigerante tenha diminuído no país, crianças e adolescentes ainda somam às suas dietas cerca de 143 calorias por dia, provenientes dos refrigerantes.

A Associação Americana de Cardiologia recomenda que as crianças não consumam mais do que seis colheres de chá de açúcar ou 100 calorias por dia. “Para as crianças, a maior fonte de açúcar adicionado frequentemente não é o que comem, é o que bebem. Como pediatra, sei bem que os refrigerantes representem riscos reais e evitáveis ​​à saúde das crianças, incluindo cárie dentária, diabetes, obesidade e doenças cardíacas”, diz o pediatra.

É por isso que, entre muitas recomendações, as duas entidades médicas americanas pedem que os legisladores aumentem o preço dos refrigerantes em nível local, estadual e federal, via cobrança de impostos.

Em março de 2015, Berkeley, na Califórnia, tornou-se a primeira cidade do país a impor um imposto de 1% sobre os refrigerantes. Um ano após a introdução do imposto, as vendas caíram 9,6%, enquanto as vendas nas áreas vizinhas aumentaram 6,9%, segundo um estudo de 2017. As vendas de água aumentaram 15,6%, após o aumento dos impostos e as vendas de outras bebidas não tributadas, como chás sem açúcar, leite e sucos de frutas também aumentaram.

Desde então, várias cidades dos EUA estão seguindo esse exemplo, incluindo São Francisco, Oakland e Albany, na Califórnia; Filadélfia, Pensilvânia; Boulder, Colorado; Condado de Cook, Illinois; Portland, Oregon; e Seattle, Washington. Segundos os autores do estudo, o aumento de impostos é uma ótima medida, pois ele realmente diminui o consumo de refrigerantes.

A indústria dos refrigerantes

A indústria de refrigerantes gastou bilhões de dólares fazendo campanha contra os impostos e tentando influenciar a pesquisa a ser mais favorável aos refrigerantes. “Apoiamos pais que querem menos açúcar nas dietas de seus filhos, produzindo mais bebidas com menos ou nenhum açúcar. Hoje, 50% de todas as bebidas vendidas contêm zero açúcar. Buscamos, ainda, reduzir as calorias em 20% até 2025″, diz o comunicado da Associação Americana de Bebidas.

Restrições e proibições

Mas as entidades médicas querem muito mais. No comunicado conjunto, elas também incluíram a exigência de que a quantidade de açúcar adicionada aos refrigerantes seja exibida nos rótulos nutricionais e cardápios dos restaurantes, e que o leite e a água sejam as opções padrão de bebidas nos cardápios infantis. Também estão pedindo regulamentações federais que reduzam a quantidade de publicidade de junk food na TV, on-line e em outdoors.

Vários estudos mostram que crianças negras e hispânicas veem uma parcela desproporcional de anúncios de refrigerantes em comparação com seus pares brancos. Enquanto isso, 26% dos jovens hispânicos e 22% dos jovens negros são obesos, em comparação com 14% dos jovens brancos.

Alguns profissionais de saúde reivindicam proibições generalizadas semelhantes à forma como os anúncios de cigarro foram banidos do rádio e da televisão, em 1971, enquanto outros propuseram legislação para acabar com a dedução fiscal federal do refrigerante para crianças.

A declaração conjunta vem na esteira de um estudo divulgado pela Escola de Saúde Pública de Harvard, que descobriu que o consumo de refrigerantes e bebidas esportivas estava associado a um risco 30% maior de morte prematura entre adultos dos EUA.

“Beber água no lugar de refrigerante é uma escolha saudável que pode contribuir para a longevidade. O refrigerante diet pode ser usado para ajudar os consumidores frequentes de bebidas açucaradas e os diabéticos a reduzirem seu consumo, mas a água é a melhor e mais saudável escolha”, orienta Moises Chencinski.

Materiais de plástico e restos de cigarro representam mais de 90% dos resíduos encontrados no ambiente marinho brasileiro

Vale a pena ler a reportagem em: https://www.ecodebate.com.br/2019/07/08/materiais-de-plastico-e-restos-de-cigarro-representam-mais-de-90-dos-residuos-encontrados-no-ambiente-marinho-brasileiro/

terça-feira, 9 de julho de 2019

Estudo da USP mostra a importância de manter massa muscular para longevidade

Pesquisadores da USP analisaram dados de 839 idosos com 65 anos ou mais para analisar como a quantidade de músculos influencia na longevidade de cada um. Eles concluíram que o risco de mortalidade foi quase 63 vezes maior entre as mulheres com pouca massa muscular. Entre os homens com menos massa muscular, a chance de morrer foi 11,4 vezes maior.

As primeiras medidas foram anotadas entre 2005 e 2007. Quatro anos depois, 132 dos voluntários haviam morrido. Desses, 43,2% faleceram por problemas no coração . Entre os homens, 20% morreram, enquanto entre as mulheres, 13%. De modo geral, os participantes que morreram eram mais velhos, faziam menos exercícios , tinham diabetes e doenças do coração.

— Quando a gente viu as causas de morte, cerca de 40% foram devido a doenças cardiovasculares , por insuficiência cardíaca. Há dois fatores por trás disso. O primeiro é que o sujeito que vai ter uma doença cardíaca tem menos músculos porque qualquer doença crônica é uma inflamação. E a inflamação diminui a produção muscular— explica Rosa Maria Rodrigues Pereira, professora da Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora da pesquisa. — Em qualquer doença crônica você acaba produzindo menos músculos. Isso acontece também em doenças reumatológicas e diabetes, por exemplo. O segundo fator é que a atividade física é boa para a atividade cardiovascular.

Alimentação: carne, feijão e grão de bico ajudam a manter a massa muscular
A médica explica que a perda de massa muscular acontece naturalmente após os 40 anos, e pode passar despercebida com o ganho de peso de gordura. Estima-se que,  após os 50 anos, entre 1% e 2% da massa muscular seja perdida anualmente. Entre os fatores que podem acelerar o fenômeno estão sedentarismo , dieta pobre em proteínas , doenças crônicas e hospitalização.

Para recuperar a massa muscular perdida, a médica Maria Rodrigues indica uma rotina de exercícios físicos e uma dieta rica em proteínas .

— Não estamos falando aqui de dietas “low carb”, em que a pessoa aumenta demais o consumo de carne. O importante é que você tenha uma boa ingestão de proteínas, que podem ser tanto de origem animal quanto vegetal. É importante, a partir dos 60 anos, continuar comendo peixe, ovo, carne e frango. Ou proteínas de origem vegetal: feijão, grão de bico, lentilha e amêndoas, por exemplo. E a atividade física, com musculação, com pesos, que é uma coisa boa para aumentar a massa muscular.

Quase metade dos brasileiros perde músculos a partir dos 80 anos
O estudo foi feito na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP). Os cientistas avaliaram a quantidade de músculos que cada pessoa tinha nos braços e nas pernas, além da quantidade de gordura nas camadas abaixo da pele e entre os órgãos vitais. 

O grupo desenvolveu uma equação para determinar, com base nas características estatísticas da população estudada, quais indivíduos poderiam ser considerados com massa muscular abaixo da média. Cerca de 20% das pessoas que participaram da pesquisa tinham massa muscular abaixo da média.

A perda músculos associada ao envelhecimento é conhecida como sarcopenia. Dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia indicam que 46% dos brasileiros acima de 80 anos sofrem disso.

Os voluntários que participaram da pesquisa da USP foram examinados por uma técnica conhecida como densitometria por emissão de raios X de dupla energia. Rápido e indolor, o exame não requer nenhum preparo especial e é realizado com baixa intensidade de exposição aos raios X. Esse tipo de densitometria fornece as informações de massa óssea, magra e de gordura do corpo inteiro ou de partes específicas, expressas em porcentagem da massa total. O equipamento foi adquirido com auxílio da Fapesp.

Ministério da Agricultura proíbe venda de seis marcas de azeite

Azeite de oliva de seis marcas foram proibidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de serem vendidos no Brasil, após a fiscalização encontrar produtos fraudados e impróprios ao consumo. Os produtos das marcas Oliveiras do Conde, Quinta Lusitana, Quinta D’Oro, Évora, Costanera e Olivais do Porto devem ter os produtos recolhidos dos supermercados de todo o país até a próxima segunda-feira.

Caso a medida não seja cumprida, os comerciantes serão advertidos e posteriormente denunciados ao Ministério Público Federal, para eventual responsabilização criminal. Eles também podem receber multas de R$ 5 mil por ocorrência com acréscimo de 400% sobre o valor comercial dos azeites. 

As fraudes foram encontradas em oito estados, como Alagoas e Santa Catarina. Foram analisadas 19 amostras do Oliveiras do Conde; oito do Quinta Lusitana e duas da marca Évora. Da Costanera e Olivais do Porto, foram encontrados rótulos em uma fábrica clandestina, em Guarulhos, São Paulo. Os responsáveis pelas marcas são Rhaiza do Brasil Ltda, Mundial Distribuidora e Comercial Quinta da Serra Ltda.

Segundo o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) do Ministério, Glauco Bertoldo, a proibição aconteceu após uma operação realizada no início de maio, pela Delegacia de Polícia de Guarulhos (Demacro – PC/SP), que descobriu uma fábrica clandestina de azeites falsificados.
No local, os policiais encontraram uma mistura de óleos, sem a presença de azeite de oliva. “Atualmente, o azeite de oliva é o segundo produto alimentar mais fraudado do mundo, perdendo apenas para o pescado”, alerta o diretor. Glauco Bertoldo adverte que a adulteração e falsificação de azeite de oliva, além de ser fraude ao consumidor, é crime contra a saúde pública.

O Ministério alerta para que o consumidor desconfie de azeites mais baratos, pois podem ser fruto de fraudes. Glauco ressalta, ainda, que o verdadeiro azeite de oliva tem preço a partir de R$ 17, enquanto os falsificados custam em média entre R$ 7 e R$ 10.

Reducitarianismo: uma opção para quem deseja reduzir o consumo de carne vermelha

Estados Unidos provavelmente banirão agrotóxico com ação neurotóxica e é um dos mais vendidos no Brasil

Clorpirifós, inseticida de uso caseiro e em plantações diversas, tem riscos neurológicos comprovados; corte americana determinou que agência reguladora dos EUA proíba o uso. Para ler mais acesse: 

terça-feira, 2 de julho de 2019

Amazônia: garimpos jogam ‘uma Brumadinho’ a cada 20 meses no Tapajós

Já faz alguns anos que a Amazônia passa por mais uma corrida do ouro, só que desta vez “moderna”, como dizem os locais pró-garimpo. Não pelas preocupações socioambientais crescentes, mas pelo uso de máquinas que substituem parte daquele formigueiro de gente que víamos no passado por um formigueiro mecanizado. São os chamados “PCs”, retroescavadeiras hidráulicas que avançam de forma insana e avassaladora abrindo crateras sobre a floresta.

O artigo é de Caetano Scannavino, Empreendedor social, morador da Amazônia e coordenador do Projeto Saúde e Alegria.

No mais, os garimpos continuam como nos tempos do Velho Oeste, mercuriais e febris por ouro, com governos coniventes, leis próprias, sempre em nome do desenvolvimento como única alternativa para sobrevivência econômica, pouco importando se estão em áreas proibidas como terras indígenas (TIs) ou unidades de conservação (UCs).

Só no território Yanomami são mais de 10 mil garimpeiros cavando a floresta, assoreando rios, contaminando águas, corrompendo indígenas, chamando violência, prostituição, armas e drogas.

Já na bacia do Tapajós, vindos dos garimpos ilegais dentro das Flonas (Florestas Nacionais) e Terras Munduruku, são despejados por ano mais de 7 milhões de toneladas de sedimentos – o equivalente a um Brumadinho a cada 20 meses.

O mercúrio é um desses rejeitos. Ele é metilado no fundo dos rios, quando então pode ser dissolvido nas células dos peixes que vão alimentar as pessoas. Segundo o Dr. Erik Jennings, médico neurologista que atua no Tapajós, existem vários estudos que apontam níveis mercuriais bastante altos nos índios Munduruku (medidos através do cabelo).

“Disso não temos mais dúvidas. O que falta agora são os estudos clínicos, examinando bem a parte neurológica das pessoas, para se ver a consequência que eles já estão tendo. A intoxicação mercurial atinge o sistema nervoso deixando as pessoas sem concentração, reduz a memória, a coordenação, causa déficit de inteligência e tremores incontroláveis. E as crianças geradas por mães contaminadas também terão consequências devastadoras em seus cérebros. Então, temos um grave problema social aí. Sem plena capacidade cognitiva, o mercúrio tira das pessoas a capacidade de competir e sobreviver numa sociedade de forma justa.”

Se já estava ruim nos governos anteriores, tende a piorar ainda mais com um presidente que quer liberar o garimpo em terras indígenas. A tática é deixar os índios à mercê dos garimpeiros ilegais, sem as devidas medidas protetivas ao mesmo tempo que fecham as torneiras dos serviços assistenciais, colapsando a atenção básica, a segurança alimentar… Sem opções, alguns indígenas acabam induzidos a buscar apoio junto aos próprios garimpeiros, estabelecendo acordos e/ou se envolvendo diretamente nas atividades extrativas. Com isso, pressionam para dividi-los, abrindo as portas para a entrada de novos invasores. É perverso.

Até agora, pouco se ouviu sobre políticas que diversifiquem as cadeias produtivas, reduzam a dependência do ouro e incentivem a transição para economia da floresta em pé. Ao invés de premiar a garimpagem legal coibindo as ilegalidades para que as boas práticas predominem, o governo quer acabar com elas legalizando-as. O discurso presidencial é pelo alívio da fiscalização e multas por crimes ambientais – isso no país onde já reina a impunidade com menos de 5% delas quitadas.

E assim será enquanto continuarmos com a visão estreita de progresso e desenvolvimento, literalmente entregando o ouro, se contentando com pouco quando se poderia ganhar muito mais, em todos os sentidos.

A cultura econômica que se criou é de país vira-lata, com alguns poucos se apropriando da riqueza que é de todos, cometendo crimes ambientais em cascata, lucrando sem pagar impostos, inclusive quebrando quem quer fazer a coisa certa, sufocados pela concorrência desleal. E ainda deixam a conta do estrago para o Estado, ou seja, para você pagar.

Toda essa ilegalidade acontece a vista de todos, Ibama, ICMBio, Funai, PF… E até de quem aqui me lê, se assim desejar, bastando uma visita ao Google Maps.

O ouro continua falando mais alto do que a fiscalização e a punição. Anos e anos de exploração tornaram os municípios dourados reféns de uma economia movida por práticas predatórias e pela “livre negociação armada”, onde o garimpo elege e governa, em todas as esferas.

Projetos de mineração estão sendo liberados dentro de UCs pela ANM (Agência Nacional de Mineração) em conluio com as Secretarias Municipais de Meio Ambiente. Além de proibidos, não contam com estudos sérios de impacto e os devidos processos de licenciamento ambiental. Só nas Flonas de Itaituba 1 e 2, região do Tapajós que se sobrepõe às terras Munduruku, há 11 lavras já para exploração (mais 166 requerimentos) e 20 autorizações para pesquisa (mais 30 pedidos) – apenas em 2015, para Itaituba 2, a ANM concedeu 6 autorizações para garimpos de diamante e ouro.

“Para cada quilo legal, 10 saem ilegais”, disse Eugenio Viana, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia de Itaituba/PA, em reportagem para a Agência Pública.

Questionar isso não é ser contra o desenvolvimento, mas contra esse modelo que compromete tudo e todos para favorecer só alguns. Se fosse bom, depois de tanto ouro extraído, municípios áureos como Itaituba ou Jacareacanga já deveriam ter asfalto 100%, rede de esgotos, água tratada, energia estável, internet banda larga, escolas e hospitais de primeira.

Só que não, por exemplo, dentre os nossos 5,5 mil municípios, Itaituba está no andar de baixo, ocupando o 4377º lugar no ranking IFDM, enquanto Jacareacanga é o 7º pior e menos desenvolvido do país (IFDM – Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal).

Isso não é legal…

Produto químico (triclosam) em pastas dentais ligado a osteoporose em mulheres

Um produto químico denominado Triclosan,  utilizado como agente antibacteriano em vários produtos de higiene pessoal, há algum tempo vem sendo taxado de disruptor endócrino. Ou seja, uma substância com potencial para desregular o sistema endócrino.

Este químico pode ser encontrado em diversos produtos de higiene pessoal como sabonetes, pasta de dentes, desinfetantes para as mãos e colutórios. A exposição ao triclosan pode ainda suceder através de água contaminada.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Escola de Saúde Pública de Hangzhou, na China, propôs-se analisar a associação entre as concentrações de triclosan na urina e a densidade mineral óssea e osteoporose em mulheres adultas. Para isso, analisaram dados recolhidos de uma sondagem à saúde e nutrição nos EUA, entre 2005 e 2010, e que incluía 1.848 mulheres com 20 ou mais anos de idade.

Foi observado que a presença de concentrações de triclosan na urina está negativamente associada à densidade mineral óssea e positivamente associada à prevalência de osteoporose. A evidência foi mais forte em mulheres na pós-menopausa do que nas que se encontravam na pré-menopausa.

“Estudos em laboratório demonstraram que o triclosan poderá ter potencial para afetar a densidade mineral óssea negativamente em linhas celulares ou em animais. Contudo, pouco se sabe sobre a relação entre o triclosan e a saúde óssea humana”, comentou Yingjun Li, autor correspondente do estudo.

Fonte: https://www.medscape.com/viewarticle/914888?src=soc_fb_190627_mscpedt_news_mdscp_triclosan&faf=1

75% dos casos dos transtornos psiquiátricos em adultos começam na infância

Um estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com escolas públicas de São Paulo e do Rio Grande do Sul, mostra que 80% dos estudantes com algum transtorno mental — como por exemplo ansiedade, fobias, déficit de atenção, hiperatividade ou esquizofrenia — não recebem tratamento médico nem psicológico. Os pesquisadores realizaram uma série de exames de neuroimagem, além de avaliações genéticas e psiquiátricas em 2.511 alunos com idades entre seis e 12 anos. Destes, 652 apresentaram pelo menos um transtorno mental, mas apenas 20% haviam recebido algum tipo de tratamento.

O psiquiatra Guilherme Polanczyk, um dos responsáveis pelo estudo, diz ser uma ameaça silenciosa, embora o tratamento primário (sem a necessidade de um especialista) baste na maioria dos quadros. A atenção é necessária de qualquer maneira, pois grande parte das condições é crônica, em 75% dos casos persistem até a vida adulta. “As instituições de ensino têm um papel-chave na identificação e intervenção quando há transtornos mentais. Nessa fase, a criança desenvolve habilidades sociais, empatia, capacidade de resolver problemas, autocontrole, cruciais para a vida adulta”, argumenta o pesquisador do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) para o Jornal da USP no Ar.

Recursos no Brasil são escassos na educação, bem como no atendimento psicológico, segundo Polanczyk. “Nos Estados Unidos e na Europa, serviços de saúde mental estão na escola, assim os sintomas são encontrados com prontidão”, diz o psiquiatra. “Os transtornos podem se apresentar em diferentes condições: ansiedade, medo, fobia, ataques de pânico, depressão. E em outras formas menos frequentes, apesar de encontrados em amostras de adolescentes, como déficit de atenção, transtornos comportamentais, bipolar, obsessivo-compulsivo e esquizofrenia”, aponta. Os colégios deveriam não apenas trabalhar na prevenção, como promover a saúde mental.

O docente comenta que não existem dados representativos da população brasileira, mas que a pesquisa indica uma importante pista. Ele diz que “13% das crianças apresentaram transtorno clínico, outras 20% subclínico, que acontece quando há sintoma, no entanto, não ultrapassam a barreira diagnóstica, e 80% daquelas com o problema não receberam nenhum tratamento”. Um indicativo preocupante, já que a amostragem do ensaio está localizada em São Paulo e Porto Alegre — dois ricos centros urbanos. “No interior e estados mais pobres, as taxas de tratamento devem ser ainda menores”, estima Polanczyk.

O especialista estuda esse problema no Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Infância e Adolescência (INPD), cujo  site pode ser acessado neste link. “ Lá, cientistas de várias universidades, USP e Unifesp entre elas, desenvolvem projetos de pesquisa e transmissão do conhecimento para a comunidade. Muita coisa já poderia e deveria ser aplicada, inclusive”, finaliza

Comissão Nacional Especializada de Climatério da Febrasgo se posiciona sobre implante de gestrinona (chip da beleza)


A Comissão Nacional Especializada de Climatério da Febrasgo entende que não há dados publicados na literatura médica a respeito da eficácia e da segurança do implante em questão. No presente momento, não há, disponível no mercado brasileiro, implante hormonal aprovado pela Anvisa, exceto o implante anticoncepcional composto por etonogestrel. A Comissão Nacional Especializada em Climatério da Febrasgo desaconselha o uso de quaisquer tratamentos, hormonais ou não, que não possuam aprovação pela Anvisa.

A gestrinona foi estudada sob administração por via oral e para tratamento da endometriose, portanto, não existindo estudos referentes ao seu uso parenteral, em especial, por meio de implantes. Pela ausência de estudos de longa duração no tocante à sua real eficácia e, em especial, no que tange à sua segurança, ainda, não havendo estudos ou citações na literatura científica sobre uso da gestrinona como Terapia hormonal do Climatério, a Comissão não pode recomendar o uso de tais implantes.

Várias entidades médicas desaprovam o emprego de medicações feitas em farmácias de manipulação, sem aprovação de órgãos reguladores – como FDA (americano), EMEA (europeu), ANVISA. Sobre o uso de medicamentos manipulados (como é o caso deste implante), a Sociedade Internacional de Menopausa (IMS), deste modo, posicionou-se em 2016: 

“A prescrição de terapia hormonal manipulada não é recomendada devido à falta de controle de qualidade e supervisão regulatória associada a esses produtos, juntamente com a falta de evidência de segurança e eficácia.

As mulheres que solicitam terapia hormonal manipulada devem ser encorajadas a considerar produtos regulados contendo hormônios estruturalmente idênticos aos produzidos no corpo. Estes estão disponíveis em uma ampla gama de doses e vias de administração”.

A Sociedade Americana de Menopausa (NAMS), no ano de 2017, emitiu, em sua última declaração sobre medicamentos manipulados, o que segue:

“Terapias hormonais manipuladas são preparadas por um farmacêutico usando a prescrição de um provedor e podem combinar múltiplos hormônios (estradiol, estrona, estriol, de-hidroepiandrosterona [DHEA], testosterona, progesterona), usar combinações ou formulações não testadas e não aprovadas, ou serem administradas em vias de administração não padronizadas (não testadas), como implantes subdérmicos”.

 Esse é o caso do implante da gestrinona, como segue:

"O hormônio manipulado apresenta problemas de segurança, como regulamentação e monitoramento governamentais mínimos, superdosagem ou subdosagem, presença de impurezas ou falta de esterilidade, falta de eficácia científica e dados de segurança, e falta de um rótulo descrevendo os riscos!".

Também, em 2017, a Endocrine Society (Sociedade de Endocrinologia Americana) publicou seu posicionamento em atinência aos hormônios manipulados:

“A Endocrine Society está preocupada com o fato de os pacientes estarem recebendo informações potencialmente enganosas ou falsas sobre os benefícios e riscos dos hormônios manipulados. Portanto, a Sociedade apoia a regulamentação e supervisão da FDA de todos os hormônios, independentemente da estrutura química ou do método de fabricação. Isso deve incluir, mas não se limitar:

  • Pesquisas de pureza e precisão de dosagem.
  • Notificação obrigatória por fabricantes de medicamentos de eventos adversos.
  • Um registro de eventos adversos relacionados ao uso de preparações hormonais.
  • Inclusão de informações uniformes para os pacientes, como advertências e precauções, no acondicionamento de produtos hormonais”.

Dessa maneira, o implante de gestrinona não é uma opção recomendada pela Comissão Nacional Especializada de Climatério da Febrasgo por não obedecer a padronização de medicamentos hormonais comercializados no Brasil, por não ter aprovação pela ANVISA e, ainda, por não haver publicações de dados referentes à sua eficácia e segurança na literatura científica médica. 

Referências

  1. Baber RJ, Panay N, Fenton the IMS Writing Group. 2016 IMS Recommendations on women’s midlife health and menopause hormone therapy,Climacteric2016;19(2):109-50,DOI:3109/13697137.2015.1129166
  2. The 2017 hormone therapy position statement of The North American
  3. Menopause Society Menopause: The Journal of The North American Menopause Society 2017; 24(7):728-53DOI: 10.1097/GME.0000000000000921 ß 2017 by The North American Menopause Society
  4. Huntley AL. Compounded or confused? Bioidentical hormones and menopausal health. Menopause Int. 2011;17:16-18.
  5. Bhavnani BR, Stanczyk FZ. Misconception and concerns about bioidentical hormones used for custom-compounded hormone therapy. J Clin Endocrinol Metab 2012;97:756-9.
  6. Endocrine Society – Position Statement, 2017. Available https://www.endocrine.org/-/media/endosociety/files/advocacy-and-outreach/position-statements/2017/position_statement_compound_bioidentical_hormone_therapy.pdf?la=en


Pós-graduação não confere título de especialistas


segunda-feira, 24 de junho de 2019

Ministério da Agricultura divulga registro de 42 agrotóxicos

O Ministério da Agricultura divulgou nesta segunda-feira (24), que 42 agrotóxicos foram registrados. Desse total, apenas um produto traz um ingrediente ativo novo, os demais são produtos genéricos que já estavam presentes em outros produtos existentes no mercado.

A decisão está publicada no Diário Oficial da União (DOU), por meio do Ato número 42, do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária.

Segundo o ministério, da lista de registros, 29 são produtos técnicos equivalentes, ou seja, genéricos de princípios ativos já autorizados no País, para uso industrial.

Outros 12 registros (10 de origem química e dois de origem microbiológica) são produtos genéricos que já estão prontos para serem usados no controle de pragas na agricultura brasileira.

Também está na lista o registro do produto técnico à base do ingrediente ativo Florpirauxifen-benzil, que é o primeiro ingrediente ativo novo aprovado em 2019.

Ele apresenta alta eficiência contra a infestação de diversas plantas daninhas para as quais hoje o produtor rural tem muitas dificuldades para controlar.

O Ministério da Agricultura ressalta que o objetivo da aprovação de produtos genéricos é baratear o preço dos defensivos, o que faz cair o custo de produção e, consequentemente, os preços dos alimentos para o consumidor brasileiro.

Já a aprovação de novos produtos tem como objetivo disponibilizar novas alternativas de controle mais eficientes e com menor impacto ao meio ambiente e à saúde humana.

Fonte: https://exame.abril.com.br/brasil/ministerio-da-agricultura-divulga-registro-de-42-agrotoxicos/

terça-feira, 21 de maio de 2019

Embrapa lança primeiro livro sobre controle não químico de plantas daninhas

“Controle de plantas daninhas: métodos físico, mecânico, cultural, biológico e alelopatia” é o título do livro lançado pela Embrapa e que está disponível para download gratuito na seção “Publicações” do Portal da Empresa. 

Manutenção do peso perdido por Dr. Bruno Halpern


Sempre que discuto manutenção de peso com meus pacientes, tento fazer uma analogia com subir uma escada rolante ao contrário. Para se manter parado na mesma altura, é preciso fazer esforços contínuos.

Ou seja, não é porque você chegou num peso adequado, que o tratamento acabou. O nosso hipotálamo, que é o centro da fome e do controle energético, fará o possível para nos levar de novo ao peso inicial, aumentado o apetite e reduzindo o gasto energético.

Algumas pesquisas sugerem que a cada quilo que perdemos, aumentamos nosso apetite em 100 kcal e reduzimos o gasto energético em 30 kcal.

Ou seja, não é fácil. Ao entender que o tratamento é crônico, aumenta-se a chance de sucesso a longo prazo. Por isso é importante sempre discutir para o paciente que o tratamento não acaba quando você atinge o peso perdido.

Há estratégias que podem ajudar (exemplo: muito exercício, vigilância com pesagens frequentes, entre outras).

Não falo isso para desanimar, mas inclusive pra pacientes que já tiveram efeito sanfona no passado entendam que a recuperação de peso é um processo fisiológico e não uma “falta de força de vontade” ou um desleixo com a saúde!

Ref: Polidori, er al. How strongly does appetite counter weight loss? Obesity 2016 #obesidadeeutratocomrespeito #obesidadedoençacronica #manutencaodepeso #obesidade #emagrecer #dietas #efeitosanfona

Paciente é troféu ?

Fiz essa pergunta nas minhas redes sociais e uma grande maioria concordou que comigo. Paciente não é troféu. O que me preocupa são os 10% que defendem que não é anti-ético expor pacientes redes sociais. E vocês, seguidores aqui do blog, o que acham ?

Lembrando que postar foto com paciente é infração ética. Mesmo que seja com autorização do paciente. Mesmo que seja repostando o que o paciente postou. 



Acupuntura no pronto-socorro: uma opção viável e benéfica para tratar a dor sem opioides

 acupuntura feita no pronto-socorro (PS) é uma opção viável e benéfica para tratar a dor sem opioides nem medicamentos, sugere nova pesquisa

O estudo de viabilidade e melhora da qualidade foi feito com mais de 700 pacientes com dor aguda atendidos no pronto-socorro do Aurora West Allis, em Milwaukee, Wisconsin, para os quais foi oferecida uma sessão de acupuntura.

"Descobrimos que mais de 50% dos pacientes para os quais os médicos e os acupunturistas concordaram com a indicação, aceitaram fazer acupuntura no PS; e, dentre os que aceitaram, vimos até 50% de redução da dor e até 60% de redução do estresse e da ansiedade", disse ao Medscape o primeiro autor John Burns, fisioterapeuta com especialização em medicina oriental e acupunturista do Departamento de Medicina Integrativa do Aurora Health Center, em Milwaukee.

"Estes são resultados descritos pelos próprios pacientes, mas o que queremos é informação para potencialmente levar à realização de ensaios clínicos randomizados controlados mais rigorosos – comparando a acupuntura a alguns de nossos métodos tradicionais de tratar a dor, como os narcóticos", acrescentou o autor.

John observou que esses resultados positivos ocorreram após uma única sessão de acupuntura no pronto-socorro, e os pacientes receberam informações sobre onde e como dar sequência ao tratamento. "Não tem diferença nenhuma de quando o paciente recebe um medicamento durante um atendimento no pronto-socorro", acrescentou o pesquisador.

"O fato de informarem melhora com a acupuntura é compreender que os pacientes podem se beneficiar de um tratamento de acupuntura de modo semelhante ao benefício que obtêm com os medicamentos, mas sem o risco de efeitos adversos", disse John.

Os resultados foram apresentados na reunião de 2019 da American Pain Society (APS).

Ceticismo inicial

Com a pressão da Joint Commission e de outras importantes organizações e agências hospitalares internacionais para a promoção de métodos não farmacológicos para o tratamento da dor, a acupuntura conquistou a aceitação em áreas que vão da ortopedia à dor do câncer.

O estudo em tela foi projetado para se alinhar às recomendações da Joint Commission, disse John.

"Tivemos de capacitar o acupunturista para prepará-lo acerca do que iria encontrar no pronto-socorro", explicou. "Nós também o apresentamos aos médicos e à equipe do pronto-socorro, para que soubessem o que estávamos planejando e comprassem a nossa ideia".

Como era de se esperar, em um primeiro momento houve ceticismo, disse John.

"Inicialmente o ceticismo foi grande e, naturalmente, todos deveríamos ter um certo grau de ceticismo saudável diante de novidades", observou. "Meu trabalho foi esclarecer, dar informações, fazer uma introdução, explicar as evidências que têm sido obtidas de vários tipos de pacientes. E, depois de cerca de um mês, a equipe começou a ver os benefícios nos próprios pacientes. Então agora o ambiente é de aceitação".

Para o estudo em tela, foi oferecido tratamento com acupuntura para 706 pacientes com dor aguda por indicação do médico emergencista. Entre esses pacientes, 379 (53,7%) concordaram em fazer este tratamento.

Os pacientes considerados mais adequados para a sessão de acupuntura foram aqueles com uma pontuação de três a cinco pelo índice de gravidade de urgência, que é considerada uma dor de menor intensidade do que a da pontuação um ou dois.

"Mais de 60% dos pacientes que procuram o pronto-socorro têm uma pontuação ≥ 3, de modo que estes foram a maioria dos que aceitaram a acupuntura", disse John. Os quadros clínicos dos pacientes foram variados, "de lombalgia a migrânea, e até mesmo um paciente com retenção urinária", observou o pesquisador.

Redução significativa da dor

Para os pacientes que fizeram acupuntura, a média da pontuação da dor diminuiu significativamente de 6,5 para 3,4 em uma escala de 0 (ausência de dor) a 10 (pior dor possível; P < 0,001).

Também foram observadas reduções significativas na média dos níveis de estresse, ansiedade e náuseas (todos P < 0,001). A média da pontuação de ansiedade diminuiu de 4,8 no início do estudo para 1,6; a média da pontuação de náuseas diminuiu de 1,6 para 0,6. Também houve boa aceitação da abordagem pela equipe.

Não houve diferenças significativas entre aqueles que fizeram e os que não fizeram acupuntura em termos de duração da permanência no pronto-socorro ou do uso de medicamentos ou opioides.

Pelo tratamento convencional, os pacientes que procuram o pronto-socorro com dor tipicamente recebem medicamentos controlados. Pesquisas feitas anteriormente sugerem que até 17% dos pacientes que nunca tinham tomado opioides ao receber sua primeira prescrição da classe ainda usavam esses medicamentos um ano depois da consulta na qual os medicamentos foram prescritos pela primeira vez, escreveram os pesquisadores do estudo em tela.

As sessões de acupuntura no estudo foram cobertas pelo hospital e não custaram nada para os pacientes, informou John. Ele disse não conhecer nenhum plano de saúde que reembolse a acupuntura no pronto-socorro.

O programa está em andamento e atualmente está no seu terceiro ano no centro, observou John. Embora a intervenção só esteja disponível atualmente em um centro, esse sistema hospitalar tem cinco centros e "esperamos conseguir implementar essa prática nos outros centros", disse o pesquisador.

"Já apareceram outras pessoas interessadas no nosso sistema", acrescentou John.

O encaminhamento médico é importante

Uma análise mais ampla, com 1.161 pacientes que fizeram acupuntura no Aurora Health Center entre 2005 e 2016, também foi apresentada na reunião da APS – e reforçou a importância do encaminhamento médico para o tratamento com acupuntura.

Os resultados mostraram que entre os pacientes encaminhados para o tratamento, 87,7% tiveram mais probabilidade de fazer novas sessões em comparação a 75,7% dos pacientes com demanda espontânea.

Os pacientes encaminhados também tiveram um número maior de sessões do que os pacientes com demanda espontânea (quatro a sete sessões em comparação a apenas uma a três, respectivamente). "Os resultados mostram que os pacientes encaminhados são mais propensos a continuar as sessões se tiverem o apoio do seu médico", disse ao Medscape a primeira autora, Dra. Carolita Heritage, médica do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Aurora Sinai Medical Center.

A grande maioria da população do estudo (N = 1.057) foi atendida com queixa de dor, e mais de 70% dos pacientes referiram melhora da dor após a acupuntura.

A Dra. Carolita fez a importante ressalva de que a cobertura da acupuntura pelos planos de saúde não é sistemática, e que o custo pode ser um problema para muitos pacientes.

"Apesar do aumento da aceitação, ainda é difícil obter cobertura; mas é por isso que precisamos de mais dados mostrando que a acupuntura é viável e proveitosa", disse a Dra. Carolita.

"Não desanime"

Comentando os resultados para o Medscape, a especialista em medicina da dor Dra. Lucy Chen, médica e professora associada de anestesiologia na Harvard Medical School, em Boston, e pesquisadora responsável do Mass General Center for Translational Pain Research do Massachusetts General Hospital, disse que embora o estudo sobre o uso da acupuntura no pronto-socorro sugira melhora da dor com apenas uma sessão, a maioria das evidências mostra ser necessário um tratamento mais prolongado.

"Você realmente precisa fazer seis ou sete sessões antes de definir se a acupuntura foi ou não bem-sucedida. De modo que é importante recomendar ao paciente que faça várias sessões", explicou a especialista.


"Se o paciente não perceber nenhum resultado após uma ou duas sessões, é importante dizer para que ele não desista", acrescentou. A Dra. Lucy, que não participou da pesquisa, disse que a acupuntura é oferecida atualmente no seu centro de tratamento da dor e em vários departamentos do Massachusetts General Hospital. No entanto, a médica sonha com um centro de saúde integrado mais centralizado, oferecendo a acupuntura e outras abordagens não farmacológicas para o tratamento da dor em todas as especialidades.

"A acupuntura está distribuída em diferentes departamentos do Massachusetts General Hospital. É oferecida no centro de tratamento da dor, no centro oncológico e em outros departamentos; mas estou pensando em criar um centro integrado para desempenhar um papel mais relevante", disse a especialista.

A Dra. Lucy concordou que os médicos não devem deixar de encaminhar os pacientes com dor para a acupuntura, acrescentando que a pesquisa mostrou que têm sido observadas reduções mensuráveis da dor até mesmo no mais cético dos pacientes.

"Na verdade, a questão são os dados – gosto de promover a pesquisa científica. Essa é a forma de avançar", disse Dra. Lucy.

Os autores do estudo e a Dra. Lucy Chen informaram não ter conflitos de interesse relevantes.

American Pain Society Annual Meeting: Abstract 361;794:362. Apresentado de 04 a 05 de abril de 2019.

Retrocesso ambiental pode custar US$ 5 tri ao Brasil até 2050, diz estudo

Excelente reportagem publicada pela revista Valor: https://www.valor.com.br/brasil/5647915/retrocesso-ambiental-pode-custar-us-5-tri-ao-brasil-ate-2050-diz-estudo?fbclid=IwAR0NQSZE3razJnDYh5x-2xrVtyKSeA-_VvOR4ot3fZf3gRNH73EIJ0u6qus

Teste genético para obesidade - Por Dr. Bruno Halpern

Muitos pacientes me perguntam qual a validade e utilidade de diversos testes genéticos disponíveis hoje, que avaliam o risco de obesidade, a resposta a uma dieta ou a outra, intolerâncias alimentares e assim por diante.

E a resposta é: até o momento nenhuma.

Veja: não há dúvidas que a obesidade tem um imenso componente genético (ao redor de 70%), porém o número de genes associados é enorme e cada um, isoladamente, aumenta o reduz muito pouco sua chance de se tornar obeso ou responder a uma dieta ou outra. Ou seja, o real risco de alguém só poderia ser calculado juntando todos esses genes e as interações são complexas. Além do mais, para um escore genético ser válido, eu preciso de um estudo que demonstre que, sabendo a história genética de alguém, eu mudaria uma conduta e essa mudança levaria a um resultado diferente do que eu teria originalmente. E não existe nenhum estudo assim. Um grande estudo de dietas, chamado DIETFITS demonstrou que a carga genética dos pacientes não diferenciou aqueles que respondiam a low carb ou low fat, ou seja, fazer o teste não foi útil.

Isso não quer dizer que algum dia eles não venham a ter utilidade, mas as interpretações atuais de estudos como esse podem ser totalmente erradas. Por exemplo, aumentar 50% a chance de responder a uma dieta pode parecer muito: mas se minha chance sem o teste era de 20%, com o teste passou a ser 30 %. Ou seja, ainda é mais provável eu não responder, mas com o resultado na mão você acha que responderá!
Para dietas, o maior preditor de resposta é a sua adesão.

Acabou de ser publicado um artigo no New England, maior revista médica do mundo, que discute exatamente isso: como os escores de risco genético para doenças multifatoriais ainda não entregaram grandes vantagens do que simplesmente um bom questionário e consulta médica.

Ref: Gardner, Dietfits JAMA 2018; Hunter. Has the genome granted our wish yet? NEJM 2019 #genes #dietas #genetica #obesidade #testegenetico #perdadepeso #obesidadeeutratocomrespeito

O preconceito contra o obeso por profissionais da área da saúde

Vale muitoa a pena assistir ao vídeo: https://vimeo.com/17559178?fbclid=IwAR2bktolEPskFp2EI5JwWJ3fVAlLmqRe4fpQbQL5VfimOZ9e6elfsFfVHYY

quarta-feira, 17 de abril de 2019

“Coquetel” com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios – consulte o seu

Um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Nesse período, as empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram todos os 27 pesticidas que são obrigados por lei a testar. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Entre os locais com contaminação múltipla estão as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas.

Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento.

Os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017. Nesse ritmo, em alguns anos, pode ficar difícil encontrar água sem agrotóxico nas torneiras do país.

Embora se trate de informação pública, os testes não são divulgados de forma compreensível para a população, deixando os brasileiros no escuro sobre os riscos que correm ao beber um copo d’água. Em um esforço conjunto, a Repórter Brasil, a Agência Pública e a organização suíça Public Eye fizeram um mapa interativo com os agrotóxicos encontrados em cada cidade. O mapa revela ainda quais estão acima do limite de segurança de acordo com a lei do Brasil e pela regulação europeia, onde fica a Public Eye.






domingo, 14 de abril de 2019

Atividades ao ar livre, em contato com a natureza, trazem benefícios para saúde e bem-estar

O agito dos grandes centros urbanos prejudica a saúde física e mental. As poluições sonora, visual e atmosférica somadas ao enclausuramento do dia a dia contribuem com o desencadeamento de problemas pulmonares, cardíacos e emocionais. Diante deste contexto, a ciência vem mostrando que praticar atividades ao ar livre, em contato com a natureza, é o que precisa ser incorporado na rotina das pessoas como forma de tratamento preventivo.

Pesquisadores da Universidade de Chiba, no Japão, reuniram 168 voluntários e colocaram metade para passear em florestas e o grupo restante para andar nos centros urbanos. As pessoas que tiveram contato com a natureza mostraram em geral uma diminuição de 16% no cortisol (hormônio do estresse), 4% na frequência cardíaca e 2% na pressão arterial.

Para o neurologista e psicoterapeuta cognitivo Mário Negrão, é possível notar uma melhora significativa no aparelho digestivo, nas alergias e na resistência à bactérias e infecções, mas o mais importante é a sensação de bem-estar. “Quando você coloca um indivíduo em uma cidade sem muita natureza, você está colocando-o em um ecossistema hostil, onde tudo que o rodeia é artificial. É comprovado que isso gera um impacto imenso na saúde”, relata.

Na Austrália, um estudo produzido na Universidade Deakin mostra que a natureza oferece às pessoas momentos de liberdade e relaxamento, impactando positivamente o estado mental dos indivíduos e reduzindo sintomas de ansiedade e depressão. Na Holanda, pesquisadores do Centro Médico Universitário de Amsterdã constataram que pessoas que vivem próximas da natureza reduzem em 21% as chances de desenvolverem depressão. Os benefícios também envolvem uma melhora na qualidade do sono, no desenvolvimento cognitivo, na imunidade, nos problemas cardíacos e pulmonares, além de uma redução na ansiedade, na tensão muscular e na possibilidade de desenvolver doenças como obesidade e diabetes.

Para a doutora em Ciências Florestais e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Teresa Magro, a sensação de bem-estar está relacionada também ao que fazemos no ambiente natural. “Só o fato de olhar uma paisagem, fazer um passeio em um parque ou em uma área com menos barulho, já nos dá uma sensação de relaxamento”, afirma.

No país com a mais rica biodiversidade do mundo, o contato com a natureza pode ocorrer em diferentes espaços, como parques, praças, cachoeiras e ambientes costeiros e marinhos. “Os benefícios fornecidos pela natureza – como ar puro, água, regulação microclimática, redução de partículas poluentes, relaxamento mental e físico, entre outros – e sua conexão com a saúde das pessoas devem ser vistos pela sociedade e pelo poder público como uma prioridade. Ter espaços verdes acessíveis e bem cuidados próximos da população estimula a visitação e a prática de atividades, o que resulta em indivíduos mais relaxados e produtivos”, completa a gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Leide Takahashi.

Exposição a metais pesados e riscos de doenças cardiovasculares; Centro da Unesp alerta população vulnerável após rompimento da barragem em Brumadinho-MG

O rompimento da barragem ocorrido em Brumadinho/MG desencadeou gravíssimos prejuízos para diversas famílias. De acordo com uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, a área das populações afetadas abrange dezenas de quilômetros no raio do Rio Paraopeba. A possibilidade de um surto de doenças já foi levantada, incluindo febre amarela, dengue, leptospirose e esquistossomose.  Ademais, os efeitos em curto prazo da exposição aos metais pesados (alumínio, manganês, ferro, por exemplo) têm relação com sintomas como tontura, diarreia e vômito, devido ao impacto no sistema nervoso central.

Dentro desse contexto, o Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo, grupo de pesquisa cadastrado no CNPq vinculado à Unesp em Marília, levantou estudos que investigaram a relação da exposição aos metais pesados com riscos de doenças cardiovasculares. A intenção é alertar a população que foi e que está sendo exposta aos metais pesados oriundos do rompimento da barragem em Brumadinho-MG. É importante destacar que moradores, trabalhadores, sobreviventes, bombeiros e equipe de imprensa que se deslocaram para a região de Brumadinho se encontram nessa condição.

A exposição aos metais pesados pode ocorrer de duas maneiras: 1) Ingestão por via oral; 2) Exposição por via respiratória, pela cavidade nasal.

Por via oral, os metais pesados chegam até a corrente sanguínea após passar pelo trato gastrointestinal. Quando a exposição é por via respiratória, os metais pesados entram na corrente sanguínea por meio do contato dos alvéolos com os vasos sanguíneos, de modo que os metais pesados são depositados no sangue.

Dentro da corrente sanguínea, os metais pesados causam aumento do estresse oxidativo e peroxidação lipídica em nível celular. Deste modo, a exposição aos metais pesados afeta negativamente importantes órgãos do corpo humano.

Um grupo de pesquisadores do Japão já havia evidenciado que a exposição aos metais pesados é responsável por respostas fisiopatológicas maléficas para a célula. Dentre esses efeitos, foram observados comprometimentos da musculatura lisa dos vasos sanguíneos, facilitando o desenvolvimento de doenças vasculares.

Outra pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que os vasos sanguíneos são um alvo crítico da toxicidade da exposição ao metal pesado. Além disso, foi reforçado que as ações dos metais pesados sobre os vasos sanguíneos podem desempenhar funções importantes na mediação dos efeitos fisiopatológicos em diferentes órgãos, como rins, pulmões e fígado. Essa exposição compromete significativamente o funcionamento desses órgãos.

Em 2014, dados levantados pelo Houston Methodist Research Institute apontaram que existem evidências convincentes ligando a toxicidade do metal pesado à disfunção neuronal. Nesse sentido, o comprometimento dos neurônios influencia os reflexos cardiovasculares, colaborando para o desenvolvimento de doenças como hipertensão, arritmias e acidente vascular encefálico.

Por último, mais recentemente, pesquisadores da NC State University, também dos Estados Unidos, levantaram 36 estudos epidemiológicos e indicaram o impacto negativo da exposição aos metais pesados no desenvolvimento da síndrome metabólica, que abrange quadros como diabetes, dislipidemia, obesidade e hipertensão.

Em suma, as pesquisas levantadas indicam alto grau de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares em indivíduos expostos aos metais pesados na região de Brumadinho e ao redor do Rio Paraopeba. Portanto, é muito importante que a saúde de pessoas nessas condições seja monitorada constantemente.

* Vitor Engrácia Valenti é coordenador do Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo, cujo foco é o estudo dos aspectos fisiológicos envolvidos com a regulação do ritmo cardíaco. E-mail: vitor.valenti@unesp.br


domingo, 7 de abril de 2019

Grupos de médicos pedem impostos e regulamentos sobre o acesso das crianças a bebidas açucaradas

Os grupos de médicos há muito tempo tomam uma posição contra o alto consumo de bebidas açucaradas nos Estados Unidos – e agora eles estão pedindo várias políticas para limitar o acesso a bebidas açucaradas entre crianças e adolescentes.

A Academia Americana de Pediatria e a American Heart Association divulgaram recomendações de políticas na segunda-feira dirigidas a legisladores federais, estaduais e municipais, incentivando-os a implementar políticas que reduziriam o consumo infantil de bebidas açucaradas, como refrigerantes, bebidas esportivas e sucos.

A declaração de política é a primeira vez que a AAP recomenda impostos sobre bebidas açucaradas, disse.

Eu falo com meus pacientes e suas famílias o tempo todo sobre os danos à saúde das bebidas açucaradas e a vantagem de beber principalmente água e leite. Mas ainda assim, as bebidas açucaradas são a base da dieta de muitas crianças. Elas são baratas, fáceis de encontrar muito comercializado e com sabor doce, para que crianças gostem deles “, disse a médica Natalie Muth, pediatra e nutricionista em Carlsbad, Califórnia, que foi a principal autora da declaração de política, publicada na revista Pediatrics.

“Ao mesmo tempo, os pediatras estão diagnosticando diabetes tipo 2, doença hepática gordurosa e colesterol alto em nossos pacientes jovens. São problemas de saúde que raramente observamos em crianças no passado. São problemas de saúde associados à alta ingestão de açúcar”. Muth disse.

“Tentamos, e fracassamos, restringir a ingestão de bebidas açucaradas apenas por meio da educação e das escolhas individuais”, disse ela. “Assim como as mudanças políticas foram necessárias e eficazes na redução do consumo de tabaco e álcool, precisamos de mudanças políticas que ajudem a reduzir o consumo de bebidas açucaradas em crianças e adolescentes”.

A declaração de política exige especificamente:

•um imposto sobre consumo de bebidas açucaradas;

•governos federal e estaduais para apoiar uma diminuição na comercialização de bebidas açucaradas para crianças e adolescentes;

• programas federais de assistência nutricional para garantir o acesso a alimentos saudáveis ​​e desestimular o consumo de bebidas açucaradas;

• regulamentos que exigem que o conteúdo adicionado de açúcares seja incluído nos rótulos nutricionais, nos cardápios dos restaurantes e nas propagandas;
fazer bebidas saudáveis, como leite e água, o padrão dos menus infantis;

•e a implementação de políticas em hospitais para limitar ou desincentivar a compra de bebidas açucaradas.

De todas essas recomendações políticas, Muth disse que um imposto sobre consumo de bebidas açucaradas tem a maior “evidência e precedente” para ser mais impactante.

“Sabemos que um aumento no preço leva a uma diminuição no consumo”, disse ela. “Nós sabemos dos exemplos de comunidades onde um imposto açucarado já foi implementado”, como o México e Berkeley, na Califórnia.

Em resposta à declaração de política, “as empresas de bebidas americanas acreditam que há uma maneira melhor de ajudar a reduzir a quantidade de açúcar que os consumidores obtêm das bebidas e inclui colocar os pais no banco do motorista para decidir o que é melhor para seus filhos”, disse William Dermody para a American Beverage Association , que representa a indústria de bebidas não-alcoólicas, disse em um comunicado.

A associação argumenta que as bebidas não são condutores únicos de taxas de obesidade e doenças relacionadas à obesidade nos Estados Unidos, já que as taxas de obesidade vêm aumentando, enquanto as taxas de consumo de refrigerante vêm caindo.

“Estamos apoiando pais que querem menos açúcar nas dietas de seus filhos, criando mais bebidas do que nunca com menos ou nenhum açúcar, bem como tamanhos de porções menores e apoiando esforços para tornar a água, o leite ou o suco a 100 por cento das bebidas padrão que os restaurantes servem com refeições infantis “, acrescentou. “Hoje, 50% de todas as bebidas vendidas contêm zero de açúcar, à medida que buscamos reduzir as calorias de bebidas consumidas em 20% até 2025”.

Esforços para tornar a água ou o leite padrão bebidas servido em menus infantis estavam entre as recomendações políticas apresentadas na nova declaração de política da Academia Americana de Pediatria e American Heart Association.

A nova declaração política vem na esteira de um estudo separado, publicado na semana passada na revista Circulation , que encontrou uma associação positiva entre o consumo a longo prazo de bebidas açucaradas e morte prematura em adultos nos Estados Unidos.

“A maior parte do meu trabalho se concentrou em adultos e mostramos que, além do ganho de peso, o consumo regular de bebidas açucaradas está associado a um maior risco de diabetes tipo 2, doença cardíaca, acidente vascular cerebral, hipertensão, alguns tipos de câncer e morte prematura”. disse Vasanti Malik, cientista pesquisador do Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública TH Chan de Harvard , que não esteve envolvido na nova declaração de política, mas conduziu esse estudo separado.

Ela também elogiou a nova declaração de política.

“Eu pensei que a declaração conjunta forneceu um bom resumo de algumas estratégias políticas fundamentais para apoiar uma redução na ingestão de bebidas açucaradas para crianças e adultos”, disse Malik sobre a declaração de política. “A razão para este apelo à ação é por causa da forte e consistente evidência que liga o consumo de bebidas açucaradas a resultados adversos à saúde”.

“Compartilhar é se importar”
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Autor: Dr. Alberto Dias Filho - Médico endocrinologista em Goiânia e idealizador do EndoNews

Como o horário das refeições afeta seu peso

Beber uma garrafa de vinho por semana pode ser como fumar cinco a 10 cigarros no mesmo período de tempo, em termos de risco de câncer, de acordo com um novo estudo do Reino Unido.

O estudo, publicado hoje (28 de março) na revista BMC Public Health , é o primeiro a estimar o “equivalente de cigarro” do álcool, no que diz respeito ao risco de câncer.

Os pesquisadores descobriram que o aumento do risco de câncer ligado a beber uma garrafa de vinho por semana é equivalente a fumar cinco cigarros por semana para homens e 10 cigarros por semana para mulheres.

O objetivo da pesquisa é transmitir melhor os riscos de câncer que estão ligados ao consumo moderado de álcool, que geralmente é considerado menos prejudicial do que fumar cigarros.

De fato, estudos nos EUA e no Reino Unido descobriram que muitas pessoas não estão cientes da relação do álcool com o câncer.

Por exemplo, uma pesquisa de 2017 da Sociedade Americana de Oncologia Clínica descobriu que 70% dos americanos não sabiam que o consumo de álcool é um fator de risco para o câncer .

“Nossa estimativa de um equivalente de cigarro para álcool fornece uma medida útil para comunicar possíveis riscos de câncer que exploram mensagens históricas bem-sucedidas sobre o fumo”, disse a autora do estudo, Theresa Hydes, do Departamento de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital Universitário Southampton, disse em um comunicado . “Esperamos que, ao usar o cigarro como comparador, possamos comunicar essa mensagem de forma mais eficaz para ajudar os indivíduos a fazer escolhas de estilo de vida mais informadas.”

O Dr. Richard Saitz, especialista em medicina do vício e presidente do Departamento de Ciências da Saúde Comunitária da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, disse que a comparação do estudo faz sentido.

“Acho que é hora de comunicarmos os riscos de câncer do álcool – está realmente fora do radar [e] desta forma é uma boa maneira de fazê-lo”, disse Saitz, que não esteve envolvido no estudo.

Ainda assim, os pesquisadores ressaltam que o estudo não está dizendo que o consumo moderado de álcool é o mesmo que fumar. O estudo considerou apenas o risco de câncer, e não os riscos de outras condições de saúde, como doenças cardíacas. Além disso, o estudo analisou o risco de câncer ao longo da vida na população em geral, que pode diferir do risco de câncer de um indivíduo de fumar ou álcool, disseram os autores.

Álcool versus cigarros
Quando jovens começam a universidade, frequentemente ganham peso. Nos Estados Unidos, existe um nome para esse fenômeno: o “calouro 7”, referindo-se aos 7 quilos tipicamente ganhos durante o primeiro ano de vida dos alunos fora de casa.

Em parte, esse ganho de peso pode ser explicado pela substituição de refeições caseiras por comida pronta e fast food, combinada à redução da atividade física.

Cada vez mais, no entanto, os cientistas estão culpando um outro fator: a ruptura do círculo circadiano, provocada por uma cultura de comer tarde, beber e por padrões inconsistentes de sono.

Por décadas, nos foi dito que o ganho de peso, juntamente com as consequentes doenças, como diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, estavam relacionadas exclusivamente à quantidade e ao tipo de alimentos que consumimos, em consonância com o número de calorias que gastamos fazendo exercícios físicos.

Mas evidências crescentes sugerem que o horário também é importante: não é apenas o que você come, mas quando você come, que importa.

A ideia de que nossa resposta biológica aos alimentos varia ao longo do dia é antiga. Médicos chineses acreditavam que a energia fluía em torno do corpo em sintonia com o movimento solar, e que as nossas refeições deveriam ser realizadas de acordo: 7h-9h da manhã era a hora do estômago, momento em que a maior refeição do dia deveria ser feita; 9h-11h da manhã centrada no pâncreas e no baço; 11h-13h a hora do coração, e assim por diante. O jantar, eles acreditavam que deveria ser algo leve, consumido entre 17h e 19h, quando a função renal predominava.

Embora a explicação seja diferente, a ciência moderna sugere que há muita verdade nessa antiga sabedoria.

Vamos às dietas. A maioria delas gira em torno da redução do número total de calorias consumidas – mas e se o horário também determinasse seus benefícios?

Quando mulheres com sobrepeso e obesas foram submetidas a uma dieta para emagrecer por três meses, aquelas que consumiram a maior parte das calorias no café da manhã perderam duas vezes e meia mais peso do que as que tomaram um café da manhã leve e comeram a maior parte das calorias no jantar. Mesmo consumindo o mesmo número total de calorias.

Muitas pessoas pensam que a razão pela qual você ganha mais peso se comer tarde da noite é porque tem menos oportunidades de queimar essas calorias, mas essa é uma visão simplista.

“As pessoas às vezes supõem que nossos corpos param durante o sono, mas isso não é verdade”, diz Jonathan Johnston, da Universidade de Surrey, no Reino Unido, que estuda como nossos relógios biológicos interagem com os alimentos.

Então, o que mais poderia estar acontecendo? Algumas evidências preliminares sugerem que uma quantidade maior de energia é usada para processar uma refeição pela manhã, em comparação com o final do dia.

Você queima, portanto, um pouco mais de calorias se comer mais cedo. No entanto, ainda não está claro o quanto isso faz diferença no seu peso total.

Outra possibilidade é que ao comer muito tarde nós ampliamos o período do dia durante o qual consumimos alimentos.

Isso dá ao nosso sistema digestivo menos tempo para se recuperar e reduz a oportunidade de nosso corpo queimar gordura – a queima de gordura só ocorre quando nossos órgãos percebem que não há mais comida chegando.

Antes da invenção da luz elétrica, os seres humanos acordavam com os primeiros raios de sol e dormiam logo após ele se pôr. Sendo assim, quase todos os alimentos eram consumidos diurnamente.

“A menos que tenhamos acesso à luz, temos dificuldade para ficar acordados e comer na hora errada”, diz Satchin Panda, biólogo circadiano do Instituto Salk, em La Jolla, Califórnia, nos Estados Unidos, e autor de The Circadian Code (O Código Circadiano, em tradução livre).

Sua pesquisa revelou que a maioria dos americanos come durante um período de 15 ou mais horas por dia, com mais de um terço das calorias diárias sendo consumidas após as 18h, o que é muito diferente de como nossos ancestrais provavelmente viviam.

Agora, considere esses universitários, comendo e bebendo até tarde da noite. “Um estudante universitário típico raramente dorme antes da meia-noite e também costuma comer até a meia-noite”, diz Panda.

No entanto, muitos estudantes ainda precisarão acordar cedo para as aulas no dia seguinte, o que – supondo que eles tomem o café da manhã – reduz a duração do jejum noturno ainda mais.

Isso também significa que eles estão diminuindo as horas de sono, e assim ficam mais propensos a ganhar peso. Uma noite de sono ruim dificulta a tomada de decisões e o autocontrole, levando potencialmente a más escolhas alimentares. Além disso, prejudica os níveis dos “hormônios da fome”, leptina e grelina, aumentando o apetite.

Está cada vez claro que nossos ritmos circadianos estão intimamente ligados à nossa digestão e metabolismo de muitas formas, como através dos complexos sistemas de sinalização do corpo – um novo entendimento que poderia explicar os efeitos a longo prazo do jetlag e do trabalho em turnos.

Dentro de cada célula do nosso corpo existe um relógio molecular que regula praticamente todos os processos e comportamentos fisiológicos, desde a liberação de hormônios e neurotransmissores, passando pela pressão sanguínea e pela atividade de nossas células imunológicas, até quando nos sentimos mais sonolentos, alertas ou deprimidos.

Esses relógios são mantidos em sincronia entre si e com a hora do dia por um grupo de neurônios do hipotálamo medial chamado núcleo supraquiasmático (NSQ). Sua interação como mundo exterior é feita através de um subconjunto de células sensíveis à luz na parte de trás do olho chamadas células ganglionares da retina intrinsicamente fotossensíveis (CGRif).

O objetivo de todos esses relógios “circadianos” é antecipar e preparar o corpo para eventos regulares em nosso ambiente, como quando vamos nos alimentar. Isso significa que diferentes reações bioquímicas são favorecidas em diferentes momentos do dia, permitindo que nossos órgãos internos mudem de tarefa e se recuperem.

Quando viajamos para o exterior, nosso tempo de exposição à luz muda e nossos relógios biológicos são empurrados na mesma direção – embora o relógio de cada órgão e tecido se adapte em ritmo diferente. O resultado é o jetlag, que não só nos deixa sonolentos ou acordados nos momentos errados, mas também pode desencadear problemas digestivos e mal-estar geral.

No entanto, a luz não é a única coisa que pode afetar nossos relógios biológicos. O horário em que comemos nossas refeições também modifica nossos relógios do fígado e sistema digestivo, mesmo que nosso relógio cerebral não seja afetado. Evidências recentes também sugerem que o horário das atividades físicas pode ajustar os relógios em nossas células musculares.

Quando voamos de um fuso horário para outro, ou comemos, dormimos e nos exercitamos em horários irregulares, os diferentes relógios em nossos órgãos e tecidos saem de sincronia. É improvável que isso seja um problema se você se deitar tarde uma única vez ou se tiver uma refeição tardia, mas se isso acontecer de forma regular, pode acarretar consequências para sua saúde no longo prazo.

Processos complexos, como o metabolismo de gorduras ou de carboidratos, exigem o trabalho conjunto de numerosos outros processos que ocorrem no intestino, fígado, pâncreas, músculo e tecido adiposo. Se o diálogo entre eles fica desregulado, se tornam menos eficientes, o que no longo prazo pode aumentar o risco de várias doenças.

Em um estudo recente, pesquisadores compararam os efeitos físicos de um sono de cinco horas por noite durante oito dias seguidos, com a mesma quantidade de sono, mas em momentos espaçados.

Em ambos os grupos, a sensibilidade das pessoas ao hormônio insulina diminuiu e a inflamação sistêmica aumentou, e com isso o risco de desenvolver diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. No entanto, esses efeitos foram ainda maiores naqueles que estavam dormindo em horários irregulares (e cujos ritmos circadianos estavam, portanto, desalinhados): nos homens, a redução na sensibilidade à insulina e o aumento da inflamação dobraram.

Isso pode ser um problema para os passageiros aéreos frequentes, os estudantes que dormem de maneira não regular ou funcionários que trabalham em turnos.

De acordo com pesquisas na Europa e na América do Norte, cerca de 15% a 30% da população ativa está empregada em trabalhos divididos por turnos, o que muitas vezes equivale a comer ou estar ativo quando o corpo não está esperando. O trabalho por turno tem sido associado a uma série de condições, incluindo doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade e depressão. O distúrbio circadiano causado por essa irregularidade é um dos principais suspeitos.

No entanto, somos todos trabalhadores por turnos pelo menos em parte do tempo, diz Panda.

Estima-se que 87% da população mantêm um horário de sono diferente nos dias de semana, em comparação com os fins de semana, resultando em uma espécie de jetlag social. As pessoas também tendem a tomar o café da manhã pelo menos uma hora mais tarde nos fins de semana, o que pode resultar no chamado jetlag metabólico.

Não é apenas a consistência no horário das refeições, mas também a quantidade de comida que comemos em cada refeição que parece ser importante.

Gerda Pot é uma pesquisadora de nutrição da Universidade King’s College, em Londres, no Reino Unido. Ela pesquisa como a irregularidade cotidiana na ingestão de energia afeta nossa saúde a longo prazo.

Pot diz ter se inspirado em sua avó, Hammy Timmerman, que era rigorosa com a rotina. Todo dia, ela tomava café da manhã às 7h da manhã; almoçava às 12h30 e jantava às 18h00. Até mesmo o horário de seus lanches era rígido: café às 11h30; chá às 15h da tarde. Quando Pot foi visitá-la, logo descobriu que dormir até tarde era um erro: “Se eu acordasse às 10h, ela ainda insistiria que eu comesse o café da manhã, e tomasse café com biscoitos meia hora depois”, diz ela. Porém, está cada vez mais convencida de que a rotina rígida de sua avó ajudou a mantê-la em boa forma até quase seus 95 anos.

Existem algumas razões para isso. Nossa sensibilidade ao hormônio insulina, que permite que a glicose dos alimentos ingeridos entre em nossas células seja usada como combustível, é maior durante a manhã do que à noite.

Quando nos alimentamos tarde (como Hammy Timmerman nunca fez), a glicose permanece no sangue por mais tempo, o que no longo prazo pode aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo 2, quando o pâncreas não produz insulina suficiente.

Também pode danificar outros tipos de tecidos, como vasos sanguíneos ou nervos dos olhos e nos pés. Nos piores casos, pode causar cegueira ou até mesmo amputações.

Usando dados de uma pesquisa nacional do Reino Unido que rastreou a saúde de mais de 5 mil pessoas por mais de 70 anos, Pot descobriu que, apesar de consumirem menos calorias em geral, as pessoas que tinham uma rotina de refeições mais irregular tinham maior risco de desenvolver síndrome metabólica – um conjunto de condições, incluindo hipertensão arterial, níveis elevados de açúcar no sangue, excesso de gordura na cintura e níveis anormais de gordura e colesterol no sangue, que juntos aumentam o risco de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.

ENTÃO, O QUE DEVEMOS FAZER?

Esforçar-se por uma maior consistência no tempo de sono e refeições é um bom primeiro passo e, idealmente, todos os nossos relógios internos devem estar operando no mesmo fuso horário.

Quando abrimos as cortinas e vemos a luz forte de manhã, isso reinicia o relógio principal no nosso cérebro. Portanto, ao tomar o café da manhã logo em seguida, isso reforça a mensagem da manhã para os relógios do fígado e sistema digestivo. Comer um bom café da manhã pode, portanto, ser essencial para manter nossos relógios circadianos funcionando em sincronia.

Um estudo recente envolvendo 18 indivíduos saudáveis, e 18 com diabetes tipo 2, descobriu que pular o café da manhã ocasiona ritmos circadianos alterados em ambos os grupos, bem como picos maiores nos níveis de glicose no sangue quando eles finalmente se alimentavam.

No entanto, regular nossos horários internos não deve ser feito às custas de menos horas de sono. Apesar de ser improvável que dormir tarde ocasionalmente cause algum mal, geralmente devemos nos esforçar para ir para a cama em um horário que nos permita dormir o suficiente – a quantidade recomendada é de sete a oito horas para a maioria dos adultos – todos os dias da semana. Aqui, a exposição à luz poderia ajudar.

Diminuindo as luzes à noite e aumentando a exposição à luz intensa durante o dia mostrou que a hora do relógio principal no cérebro (o SQN) mudou várias horas antes, tornando as pessoas mais bem-humoradas.

Alguns defendem jejuar por pelo menos 12 horas, e possivelmente por até 14-16 horas durante a noite. Em um estudo histórico publicado em 2012, Panda e seus colegas compararam um grupo de ratos que tinha acesso a alimentos gordurosos e açucarados a qualquer hora do dia ou da noite, com outro grupo que só consumia esses alimentos em uma janela de oito a 12 horas durante o “dia”.

Mesmo consumindo o mesmo número de calorias, os camundongos cuja janela de alimentação era restrita pareciam estar completamente imunes às doenças que começaram a afligir o outro grupo: obesidade, diabetes, doenças cardíacas e problemas no fígado.

No entanto, ao serem colocados em um cronograma de restrição de tempo, os ratos com essas doenças ficaram bem novamente.

“Quase todos os animais, incluindo nós, evoluíram neste planeta com um ritmo muito forte de 24 horas, entre luz e escuridão, e os ritmos associados em comer e jejuar”, explica Panda.

“Achamos que uma das principais funções [desses ciclos] é permitir a recuperação e o rejuvenescimento a cada noite. Você não pode consertar uma rodovia quando o tráfego ainda está em movimento.”

Testes em humanos com restrição de tempo alimentar estão apenas começando, mas alguns dos primeiros resultados parecem promissores – pelo menos em alguns grupos. Por exemplo, quando oito homens com pré-diabetes foram induzidos a comer todas as suas refeições entre 8h e 15h, sua sensibilidade à insulina melhorou e sua pressão caiu em média 10 a 11 pontos, em comparação a quando eles consumiram as mesmas refeições em um intervalo de 12 horas.

O que tudo isso significa para o resto de nós ainda não está claro, mas o ditado de que você deveria tomar café da manhã como um rei, almoçar como um príncipe e jantar como um mendigo nunca fez tanto sentido. E é quase certeza que vale a pena colocar um cadeado na geladeira durante a noite.

“Compartilhar é se importar”
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Fonte: https://f5.folha.uol.com.br/viva-bem/2019/03/como-o-horario-das-refeicoes-afeta-a-sua-cintura.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa